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Unidade 1 Noções Gerais do Mercado Imobiliário Caroline Teixeira Barbosa Mercado Imobiliário Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor CAROLINE TEIXEIRA BARBOSA A AUTORA Caroline Teixeira Barbosa Olá! Meu nome é Caroline Teixeira Barbosa. Sou formada em Direito e Mestre em Ciências Jurídico-Políticas, com uma experiência técnico-profissional na área de Direito do Trabalho e Direito Civil de mais de 4 anos. Antes de iniciar a vida profissional como advogada, já havia atuado como estagiária em alguns órgãos, como a Procuradoria Geral do Município, Procon Municipal e Defensoria Pública do Estado da Paraíba, oportunidades em que obtive uma bagagem significativa de experiência. Na advocacia, passei pelo escritório David Diniz (ADD), escritório responsável por engrandecer ainda mais minha paixão pela profissão. Sou apaixonada pelo que faço, motivo pelo qual busquei no Mestrado aprimorar meus conhecimentos para que, assim, pudesse compartilhar com outras pessoas. A interação com o outro sempre me fascinou, seja como advogada ou dentro da sala de aula. Poder transmitir experiências àqueles que estão iniciando suas profissões se torna um desafio ainda mais cativante quando se trata de uma editora sempre empenhada em oferecer o seu melhor para os alunos, como é o caso da Editora Telesapiens. Assim, fui convidada a integrar seu elenco de autores independentes e me sinto feliz e lisonjeada em poder colaborar e ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Principais aspectos do mercado imobiliário .................................. 10 Conceito de mercado ................................................................................................................. 10 Sobre o mercado imobiliário ................................................................................................. 14 Linguagem que compõe o mercado imobiliário .................................................... 15 Contexto histórico do mercado imobiliário brasileiro ................. 19 Histórico do mercado imobiliário no Brasil ................................................................. 19 Importância do SFH .....................................................................................................................23 Sobre o SFI ...........................................................................................................................................27 Evolução do mercado imobiliário no Brasil ....................................30 O caso brasileiro ............................................................................................................................ 30 A crise financeira de 2008 .......................................................................................................34 Cenário após a crise de 2008 ................................................................................................37 Regulamentação legal do mercado imobiliário ............................39 Lei nº 8.245/1991 – Lei do Inquilinato ............................................................................ 39 Lei nº 10.257/01 – Estatuto da Cidade ............................................................................44 Lei nº 13.786/2018 – Lei do Distrato ................................................................................47 7 NOÇÕES GERAIS DO MERCADO IMOBILIÁRIO UNIDADE 01 Mercado Imobiliário 8 INTRODUÇÃO Você sabe dizer quais os principais aspectos do mercado imobiliário? O que se entende por mercado? E qual o contexto histórico do mercado imobiliário brasileiro? De que maneira ele evoluiu? Quais os marcos importantes para tal desenvolvimento e evolução? Quais as principais regulamentações legais que tratam da matéria? Pois é, para entender um pouco mais das principais noções gerais do mercado imobiliário, iremos nos debruçar um pouco sobre como esse setor evoluiu e se desenvolveu com o passar do tempo, analisando suas principais características. Ainda, iremos analisar como algumas legislações que tratam da matéria foram importantes para tal evolução, apresentando o porquê de terem contribuído de maneira tão efetiva para o desenvolvimento do tema no âmbito do setor imobiliário. Além disso, vamos conhecer um pouco da linguagem que compõe o mercado imobiliário, como uma forma de nos familiarizarmos ainda mais com o tema. Vamos voltar um pouquinho no tempo e entender um pouco mais sobre o mercado imobiliário e desde quando esse tipo de mercado faz parte do nosso dia a dia? Está pronto? Vamos juntos! Mercado Imobiliário 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Sintetizar os principais aspectos do mercado imobiliário. 2. Discutir o contexto histórico do mercado imobiliário brasileiro. 3. Compreender como se deu a evolução do mercado imobiliário no Brasil. 4. Analisar qual a regulamentação legal do mercado imobiliário. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Mercado Imobiliário 10 Principais aspectos do mercado imobiliário INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender os principais aspectos do mercado imobiliário. Para isso, iremos compreender um pouco mais do que se entende por mercado, para, só depois, visualizar a forma como o mercado imobiliário se apresenta em nossa sociedade. Analisaremos, inclusive, alguns dos termos comumente utilizados nessa área, levando em consideração que há uma linguagem característica relativa ao mercado imobiliário. E então? Motivado para conhecer um pouco mais dos principais aspectos do mercado imobiliário? Vamos lá! Conceito de mercado Antes de estudarmos especificamente o que se entende por mercado imobiliário, iremos nos debruçar um pouco, ainda que rapidamente, no que se entende por mercado de uma maneira geral. Assim, temos diversas definições para o que pode ser entendido como mercado. Contudo, iremos nos ater àquelas definições que melhor se adequam ao tema de estudo. DEFINIÇÃO De acordo com o dicionário (DICIO, 2020, on-line), podemos entender como mercado um “lugar público, ao ar livre ou em recinto fechado, onde se vendem e onde se compram mercadorias”, “referência convencional em relação à compra e venda”, “designação que se dá à oferta e à procura de mercadorias”, “conjunto de consumidores, encarados como futuros compradores de uma mercadoria ou beneficiários de um serviço”. Mercado Imobiliário 11 Assim, considerando alguns dos significados acima elencadosacerca do que pode ser considerado mercado, resta evidente que todos giram em torno do fato de que o mercado é um local de negociações, onde pessoas compram e vendem produtos e serviços, acordando preços e negociando o que mais for necessário durante a realização dessa relação de consumo. Nessa perspectiva, o termo mercado vai justamente se referir a um local onde ocorre, diariamente, diversas transações econômicas, na medida em que as pessoas estão a todo momento realizando troca de bens e serviços, seja entre particulares ou entre empresas, por exemplo. Assim, é inegável que a presença de mercados sirva como uma forma de aquecer a economia e, principalmente, fazer com que essa economia se desenvolva. Mas, quando falamos no conceito de mercado, é imprescindível ressaltar que tais mercados não são algo apenas dos dias atuais. Pelo contrário, os mercados fazem parte da história da humanidade desde o tempo das cavernas. Ora, ainda que de maneira um pouco diferente, já naquele período o homem primitivo buscava negociar suas caças, por exemplo, de maneira que esse tipo de negociação se encaixa no discutido por nós sobre mercado. E essas negociações, com o tempo, foram se desenvolvendo cada vez mais, fazendo com que a troca de mercadorias ficasse cada vez mais intensa. Dessa forma, é perceptível que o comércio foi se expandindo e evoluindo cada vez mais, oportunidade na qual, inclusive, as pessoas começaram a migrar do campo para as cidades, onde havia mais mercados e uma variedade maior de mercadorias para serem trocadas, vendidas e/ou negociadas. Assim, o conceito de mercado já existia nos primórdios da civilização, posto que, desde aquele período, já ocorriam trocas de mercadorias, transferência dessas mercadorias por meio da compra e venda, entre outros. Ou seja, podemos visualizar que o conceito de mercado está muito associado a situações consumeristas, na medida em que as trocas que ocorriam nada mais eram do que situações nas quais as relações de consumo poderiam ser vislumbradas, ainda que timidamente. Mercado Imobiliário 12 Ainda no que se refere ao mercado, podemos destacar alguns tipos de mercado existentes, variedades essas que merecem atenção considerando as características próprias a cada tipo de mercado. Nesse ponto, com relação aos tipos de mercado, podemos destacar os seguintes: • Mercado de concorrência perfeita: há uma liberdade maior nesse tipo de mercado, pois estamos diante da existência de vários compradores e vários vendedores, sem que as mercadorias tenham seus preços elevados em virtude de uma concorrência desleal, por exemplo. • Mercado de concorrência imperfeita: nesse tipo de mercado, geralmente há pelo menos uma empresa ou consumidor que pode ter poder suficiente para influenciar o preço de mercado, fazendo com que o mercado acabe ficando dividido. • Mercado de oligopólio: no oligopólio, há um pequeno número de produtores que acabam ficando responsáveis por controlar a oferta, existindo poucos vendedores e muitos compradores. Isso faz com que os vendedores detenham um poder maior sobre o preço do produto final, já que há muitos compradores para poucos produtos. • Mercado oligopsônio: aqui, temos o inverso, na medida em que há muitos vendedores para poucos compradores. Assim, quem detém o poder e o controle sobre o preço do produto final são os compradores, pois estão em maioria e os vendedores buscam a todo custo não ficarem no prejuízo. • Mercado de monopólio: como o próprio nome sugere, há uma posse exclusiva. Por isso, aqui estamos diante de um tipo de mercado em que há apenas um vendedor, vendedor esse que define o preço e a quantidade, considerando que não há concorrência ou sequer um produto substituto. Por isso, ele detém o poder de controlar e definir o preço do produto em questão, pois está na posse exclusiva desse único vendedor. • Mercado monopsônio: temos aqui o inverso, com a presença de um único comprador para vários vendedores de produtos e/ Mercado Imobiliário 13 ou serviços. Assim, o comprador acaba por conseguir negociar melhor levando em consideração que a oferta é grande e que há uma variedade de produtos e serviços, o que acaba barateando o valor final do produto. Nessa perspectiva, é possível compreender que os primeiros mercados que apareceram na história da humanidade funcionavam por meio da troca. Com o passar do tempo, foi surgindo a moeda e as trocas comerciais foram se desenvolvendo cada vez mais. Contudo, a espinha dorsal do mercado continua sendo a troca de bens e serviços, seja a troca ocorrida ainda nos primórdios da humanidade ou as trocas de bens e serviços que visualizamos nos dias atuais. Assim, a partir do momento que temos compradores e vendedores interagindo entre si na busca por comprar ou vender seus produtos e serviços, estaremos diante de um mercado. E o que irá equilibrar esse mercado será justamente a lei da oferta e da procura. Ora, se temos uma quantidade grande de produtos sendo ofertados para uma pequena quantidade de compradores, haverá uma chance muito maior de conseguir negociar o preço desse produto levando em consideração a lei da oferta e da procura. Da mesma forma, se tivéssemos a situação contrária, em que houvesse uma grande quantidade de compradores para uma pequena quantidade disponível de produtos, o preço de tal produto poderia se elevar considerando a lei da oferta e da procura. O mercado tem, portanto, se desenvolvido cada vez mais e se adequado às novas necessidades dos vendedores e compradores dos dias atuais, de maneira que a globalização e as tecnologias têm aperfeiçoado o que se entende por mercado e, sobretudo, a forma como o mercado tem se apresentado para a sociedade, tendo em vista que, cada vez mais, as necessidades das pessoas têm aumentado e, consequentemente, aumentam-se também os riscos das atividades, bem como a complexidade da forma como tais produtos e serviços são negociados. O mercado tem, cada vez mais, sentido a necessidade de estar em equilíbrio e acompanhando todas as transformações pelas quais tem passado a sociedade. Mercado Imobiliário 14 Sobre o mercado imobiliário Depois de analisado um pouco mais o que se trata o mercado de maneira geral, iremos agora estudar especificamente aspectos importantes e que caracterizam e definem o mercado imobiliário. Restou claro que o mercado, genericamente falando, diz respeito a uma interação entre compradores e vendedores, em que há essa troca de produtos e serviços entre eles, seja essa troca por dinheiro ou por outros bens, por exemplo. Nessa perspectiva, relacionando com o conceito apresentado sobre mercado, o mercado imobiliário atua justamente em questões em que são negociados bens imóveis. Ou seja, faz parte de um setor da economia no qual as negociações ocorridas de compra e venda, por exemplo, dizem respeito a bens imóveis, como representado na Figura 1 abaixo destacada. Figura 1 – Representação do objeto do mercado imobiliário Fonte: Freepik Nesse aspecto, quando falamos que as negociações que envolvem o mercado imobiliário dizem respeito a bens imóveis, precisamos estar atentos que esses bens imóveis irão englobar tanto um terreno, por exemplo, como a área construída sobre ele. Dessa informação, podemos tirar algumas conclusões, quais sejam: o próprio terreno pode ser objeto Mercado Imobiliário 15 desse tipo de negociação; as edificações construídas sobre esse terreno pode ser objeto desse tipo de negociação; qualquer outra produção que venha a ser trabalhada nesse terreno, como uma plantação, pode ser objeto desse tipo de negociação. Ou seja, esses são apenas alguns exemplos do que pode ser objeto do mercado imobiliário e, consequentemente, das negociações oriundas desse tipo de mercado. Assim, quando determinada pessoa compra, vende ou aluga um terreno ou um prédio construídosobre o supracitado terreno, essa pessoa estará se valendo de uma negociação no mercado imobiliário. É bem verdade que o mercado imobiliário acaba atuando de maneira muito mais ativa nas grandes cidades, na medida em que essas grandes cidades estão sendo cada vez mais ocupadas por novas edificações, casas e construções, fazendo com que as negociações envolvendo o mercado imobiliário sejam cada vez maiores nesses locais. Dessa forma, iremos nos debruçar durante todas as demais unidades justamente sobre esse tipo de mercado, que envolve a compra e venda de bens imóveis e trata de negociações envolvendo edificações, construções, terrenos, casas, escritórios, entre outros. É um mercado que vem crescendo cada vez mais não apenas no Brasil, mas no mundo todo, motivo pelo qual se torna ainda mais necessário e importante o aprofundamento em um tema tão completo, que abarca tantas variáveis e que, a cada dia, tem sido cada vez mais valorizado, sendo perceptível a sua aplicação em nosso dia a dia, levando em consideração que diariamente estamos transacionando e/ou negociando de alguma maneira dentro do mercado imobiliário. Linguagem que compõe o mercado imobiliário Dando continuidade ao estudo de alguns aspectos importantes do mercado imobiliário, há de se destacar que tal mercado possui uma linguagem característica, tendo em vista que se torna cada vez mais importante entender a linguagem do mercado imobiliário. Mercado Imobiliário 16 É bem verdade que, quando falamos em “linguagem” do mercado imobiliário, não necessariamente queremos dizer que é uma linguagem que só pode ou deve ser utilizada pelos profissionais da área. Pelo contrário, com o avanço e a evolução dos meios de comunicação e das tecnologias, cada vez mais as pessoas possuem acesso a assuntos que não teriam em outro período, de maneira que, nos dias atuais, as pessoas estão cada vez mais antenadas ao mercado imobiliário e, consequentemente, com conhecimento de expressões e termos específicos da área. E não é apenas pelo avanço dos meios de comunicação e evolução das tecnologias que esse tipo de linguagem tem ficado mais acessível. Convém ressaltar que, quando falamos em mercado imobiliário, todos nós, em algum momento, já fizemos algum tipo de negociação que envolvesse uma venda ou compra de determinado imóvel. Ou seja, é extremamente necessário estarmos atentos a alguns termos que são parte integrante desse mercado. Assim, estar antenado a esse tipo de informação não apenas lhe garante uma melhor segurança quando da negociação de alguma compra de imóvel, por exemplo, como também melhora consideravelmente a comunicação durante sobredita negociação, na medida em que você sabe do que se trata determinados termos e, consequentemente, consegue dar uma maior agilidade a transação imobiliária em questão. Vamos, assim, à explicação, ainda que introdutória, de alguns dos termos mais utilizados no mercado imobiliário. • Acabamento: quando ouvimos que determinada construção está, por exemplo, em fase de acabamento, estamos nos referindo a uma fase de finalização de determinada obra. Ou seja, os acabamentos incluem uma fase na qual há um incremento de detalhes que já se enquadram em uma fase final dessa obra. • Alvará: refere-se a um tipo de documento que, obrigatoriamente, é emitido por um órgão público para que alguém esteja autorizado a praticar determinado ato. Relativamente ao mercado imobiliário, é muito comum ouvirmos por aí que determinada empresa está aguardando um alvará para que determinada obra possa, finalmente, ser iniciada. É o alvará que irá autorizar esse início e, Mercado Imobiliário 17 portanto, é de suma importância que você compreenda do que se trata. • Área comum: é uma expressão comumente utilizada quando estamos negociando alguma compra e venda de determinado prédio, por exemplo, considerando que a área comum é o espaço compartilhado por todos os condôminos. Podemos citar como exemplos de áreas comuns o hall de entrada e os espaços de lazer. Pode parecer óbvio, mas, quando estamos negociando determinado apartamento, por exemplo, termos como área comum, área privativa, total e útil são extremamente importantes, pois farão toda a diferença quando consideramos que referidas áreas irão fazer parte da negociação, valorizando ou não determinado imóvel. • Caução: é um tipo de garantia que visa garantir que certas obrigações sejam cumpridas e, dessa forma, colocam valores monetários em jogo. Podemos citar como exemplo quando determinada pessoa vai alugar um imóvel por alguns dias e, como garantia, o dono do imóvel pede o pagamento de um valor como caução para que, ao final do período contratado para aluguel, ele verifique se o apartamento foi deixado em condições, pois, caso contrário, esse valor da caução ficará retido como forma de “punir” no caso de o apartamento ter sido danificado. • Fiador: quando falamos da figura do fiador, estamos nos referindo a um tipo de pessoa que fica responsável pela fiança, ou seja, se responsabiliza pelo cumprimento das obrigações de determinada pessoa caso ela não o faça. Convém ressaltar que não é qualquer pessoa que pode ser fiadora de outra. Para que seja possível ser fiador, é necessário ser uma pessoa idônea e que tenha condições financeiras de arcar com possíveis descumprimentos por parte da pessoa a quem está se comprometendo a ser fiador. • Crédito imobiliário: quando falamos em crédito imobiliário, estamos nos referindo a um tipo de empréstimo específico, concedido por instituições financeiras a pessoas que queiram adquirir um imóvel por meio de um financiamento habitacional. Mercado Imobiliário 18 Esses são apenas alguns dos termos comumente utilizados no âmbito do mercado imobiliário, mas que não foram apresentados de maneira taxativa, considerando que não se esgotam por aqui. Há, ainda, inúmeros outros termos que fazem parte da linguagem do mercado imobiliário e que, com o decorrer dos estudos, vamos nos familiarizando a eles. RESUMINDO E então? Gostou do que viu até aqui? Espero que tenha sido possível compreender o que se entende por mercado, de uma forma mais genérica, e de que maneira o mercado está presente na nossa sociedade desde muito tempo. Isso é importante porque, para entender o mercado imobiliário, é necessário entender o que originou esse tipo de mercado. Assim, traçar um panorama do que se entende por mercado para, só depois, adentrar um pouco mais especificamente no mercado imobiliário é de suma importância para que não reste dúvidas do âmbito de abordagem desse tipo de mercado. Por fim, espero que tenha sido possível entender a importância de estarmos sempre antenados a alguns dos termos mais utilizados no mercado imobiliário, considerando que, diariamente, estamos diante de alguma negociação dentro do mercado imobiliário, seja de maneira direta ou indireta. Vamos continuar aprendendo um pouco mais a respeito do mercado imobiliário e de sua evolução aqui no Brasil? Avante! Mercado Imobiliário 19 Contexto histórico do mercado imobiliário brasileiro INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender de que maneira se deu o contexto histórico do mercado imobiliário no Brasil, analisando alguns marcos importantes que se destacaram na época. Ainda, será possível entender de que maneira o Sistema Financeiro de Habitação e o Sistema de Financiamento Imobiliário contribuíam para o mercado imobiliário, apresentando alguns aspectos importantes dos referidos sistemas. Motivado para conhecer um pouco mais do contexto no qual está inserido o desenvolvimento do mercado imobiliário brasileiro? Vamos lá! Histórico do mercado imobiliário no Brasil Depois de estudar um pouco sobre aspectos importantes do mercado imobiliário de maneira geral, iremos entender um pouco como esse mercado evoluiu e avançou no Brasil. Para isso,será preciso voltar um pouco no tempo e entender o histórico do mercado imobiliário no Brasil. O caso brasileiro remonta ao período em que estávamos diante de um país que, do início do século XX, ainda era predominantemente rural. Como vimos no capítulo anterior, o desenvolvimento das cidades fez com que, consequentemente, o mercado imobiliário também se desenvolvesse. É nesse contexto que, a partir do final da década de 1950, com a construção de Brasília, que pôde se observar um fluxo maior de migração da área rural para a área urbana, fazendo com que as cidades começassem a se desenvolver cada vez mais. Mercado Imobiliário 20 SAIBA MAIS Para complementar o que vem sendo estudado e entender ainda mais a importância da construção de Brasília não somente para o mercado imobiliário, mas para o país como um todo, há um documentário intitulado Brasília 60 anos, que conta a história da capital justamente considerando o ponto de vista dos primeiros empreendedores que fizeram parte dessa obra. Assim, o documentário tem como base os depoimentos dos personagens que foram marcantes e essenciais para a construção de Brasília, de maneira que é possível entender o porquê dessa cidade ter chamado tanta atenção das pessoas. Os empreendedores que serviram como base para os depoimentos que são retratados no documentário são empreendedores dos mais diversos ramos, a exemplo de empresários da construção civil, da educação e do setor de alimentos, por exemplo. Dessa forma, são diferentes pontos de vista a fim de que a história de Brasília seja passada para os demais. Vale a pena conferir! O link do trailer do referido documentário pode ser acessado por meio do seguinte link: https://bit.ly/39VITLr. É importante ressaltar que o referido fluxo migratório não foi apenas da área rural para a área urbana, mas sobretudo entre as diferentes regiões do país. Vamos explicar melhor. Foi também nesse período que começou a acontecer uma maior migração de cidadãos das regiões Norte e Nordeste, por exemplo, para as cidades da região Sudeste, na busca por encontrar melhores condições de vida em Brasília, nomeadamente porque a necessidade de mão de obra para a construção de Brasília fez surgir muitos empregos naquele período, bem como em razão do processo de industrialização desenvolvido naquela época. Inclusive, corroborando com o acima exposto, a migração se intensificou tanto na região Sudeste que, no período compreendido entre 1960 e 1970, a população do Distrito Federal quase quadruplicou, recebendo um fluxo migratório de aproximadamente 30 mil pessoas por ano (FRANCISCO, 2020). Mercado Imobiliário 21 Você sabia? De acordo com a análise realizada pela Companhia de Planejamento (Codeplan), os nordestinos são a maioria dos imigrantes que vivem no Distrito Federal. O estudo mostrou que, em 2011, “51,8% da população brasiliense era formada por imigrantes e, desses, 51,1% eram oriundos da Região Nordeste” (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2014, on-line). É um dado que reflete a maneira como, desde o final da década de 1950, com a construção de Brasília, o fluxo de migrantes se intensificou, sobretudo da região Nordeste para a região Sudeste, como já anteriormente debatido por nós. Nesse contexto, criou-se a Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, que: [...] institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional de Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanos e dá outras providências. (BRASIL, 1964, on-line) Assim, referida lei contribuiu de maneira significativa para a evolução do mercado imobiliário no Brasil, tendo como um dos seus objetivos incentivar a construção e aquisição da casa própria no Brasil, como bem dispõe o art. 1° da lei em comento. Vejamos: Art. 1° O Governo Federal, por meio do Ministro de Planejamento, formulará a política nacional de habitação e de planejamento territorial, coordenando a ação dos órgãos públicos e orientando a iniciativa privada no sentido de estimular a construção de habitações de interesse social e o financiamento da aquisição da casa própria, especialmente pelas classes da população de menor renda. (BRASIL, 1964, on-line) Convém ressaltar, ainda, que referida lei apresentou outra contribuição muito significativa no que diz respeito ao mercado imobiliário, pois foi responsável por um instrumento de suma importância, qual seja, a correção monetária, apresentada no art. 5° da Lei n° 4.380/64. Vejamos: Mercado Imobiliário 22 CAPÍTULO II Da Correção Monetária dos Contratos Imobiliários Art. 5º Observado o disposto na presente lei, os contratos de vendas ou construção de habitações para pagamento a prazo ou de empréstimos para aquisição ou construção de habitações poderão prever o reajustamento das prestações mensais de amortização e juros, com a consequente correção do valor monetário da dívida toda a vez que o salário mínimo legal for alterado. (BRASIL, 1964, on-line) DEFINIÇÃO Como vimos no capítulo anterior, há alguns termos que são bastante comuns no âmbito do mercado imobiliário, e o termo “correção monetária” também é. Considerando o significado de correção monetária apresentado pelo dicionário (DICIO, 2020, on-line), temos que se trata de “um ajuste contábil de valores nominais (preços, depósitos) em função da inflação, de forma a tentar manter ou repor o poder de compra”1. Trazendo para a realidade do mercado imobiliário, a função da correção monetária é justamente fazer a atualização do bem para recuperar os efeitos da inflação. 1 Significado de correção monetária. Disponível em: https://www.dicio.com.br/correcao- monetaria/. Acesso em: 08 dez. 2020. Mercado Imobiliário 23 IMPORTANTE Merece destaque o fato de que o período que se deu a criação da lei acima destacada, sobre o Sistema Financeiro de Habitação, foi em um momento um tanto quanto delicado para o Brasil: o da ditadura militar. Foi nesse mesmo período que o então presidente Jango foi deposto do cargo, assumindo em seu lugar o Marechal Castelo Branco. Dessa forma, durante tal período, estávamos diante de um país que vivia um momento de inflação elevada e um desequilíbrio socioeconômico. Assim, durante o governo Castelo Branco, foi criado um programa no intuito de equilibrar as contas públicas e controlar a inflação, batizado de Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), sendo responsável por reformas fiscais, tributárias e financeiras. Por esse motivo, é importante fazer essa ponte com a importância da correção monetária presente na lei que tratava do Sistema Financeiro de Habitação em virtude do momento pelo qual o país estava passando, corroborando ainda mais com o fato de que referida lei veio a somar não somente economicamente falando, mas no âmbito do mercado imobiliário também. Importância do SFH Como debatido no tópico anterior, ainda que de maneira introdutória, o Sistema Financeiro de Habitação foi uma lei muito importante para aquele período, motivo pelo qual dedicaremos um tópico específico para nos aprofundarmos um pouco mais e entender quais as contribuições da referida lei para o setor da economia e, sobretudo, do mercado imobiliário. Assim, como comentado anteriormente, a referida lei tratou da correção monetária, como também possibilitava um financiamento de longo prazo. A questão do financiamento é muito importante, sobretudo porque, antes da correção monetária, esse financiamento só poderia ser realizado pela Caixa Econômica Federal e por Institutos de Previdência, de maneira que tal financiamento não alcançava um grande número de pessoas. Mercado Imobiliário 24 Nesse contexto, após a Lei do Sistema Financeiro de Habitação, houve uma maior facilidade na oferta de crédito imobiliário e a criação de outros instrumentos que poderiamser responsáveis pela obtenção de recursos de longo prazo, depósitos em poupança e do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Surgem, então, as Sociedades de Crédito Imobiliário e as Associações de Poupança e Empréstimo, que vieram a formar o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), sendo caracterizadas por serem instituições financeiras especializadas na concessão de créditos habitacionais. Como podemos observar no art. 2° da Lei nº 4.380/64 abaixo destacado, o governo federal intervia no setor habitacional justamente por intermédio, também, do Banco Nacional de Habitação (BNH). Assim, os recursos que mantinham essas instituições financeiras especializadas na concessão de créditos habitacionais vinham justamente da caderneta de poupança e do FGTS, que eram repassados pelo Banco Nacional de Habitação. Dessa forma, o Banco Nacional de Habitação possuía uma contribuição relevante, já que não apenas administrava o FGTS como também regulava e fiscalizava o Sistema Financeiro de Habitação e as instituições que compunham o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Art. 2º O Governo Federal intervirá no setor habitacional por intermédio: I - do Banco Nacional da Habitação; II - do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo; III - das Caixas Econômicas Federais, IPASE, das Caixas Militares, dos órgãos federais de desenvolvimento regional e das sociedades de economia mista. (BRASIL, 1964, on-line) Mercado Imobiliário 25 VOCÊ SABIA? O Sistema Financeiro da Habitação, como já tratado, foi criado em 1964. Desde o período da sua criação até o início da década de 1970, foi uma fase bastante promissora para o referido sistema, a exemplo das contribuições acima apresentadas. Entretanto, o Sistema Financeiro de Habitação passou por um período de dificuldades, considerando que, no final da década de 1970, a crise do petróleo e a dívida externa brasileira fizeram com que houvesse uma aceleração da inflação, causando, assim, uma crise no sistema de financiamento imobiliário. SAIBA MAIS O Brasil, entre o final da década de 1970 e início da década de 1980, já era um dos países que possuía um alto nível de endividamento externo. Aliado a essa dívida externa, em 1973 ocorreu a “crise do petróleo”, fazendo com que o Brasil tivesse que recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI surgiu na Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, justamente com o objetivo de garantir uma maior estabilidade ao comércio internacional, tanto por meio de suporte técnico quanto pela ajuda financeira aos países que fosse membros do FMI. Assim, o FMI atua emprestando dinheiro quando um dos seus países-membros precisam desses recursos, seja para saldar uma dívida existente ou equilibrar a balança comercial. Nesse contexto, durante a “crise do petróleo”, o Brasil precisou recorrer ao FMI com o intuito de tentar amenizar os efeitos da crise econômica que havia se instalado, tanto em virtude da crise do petróleo quanto da alta dívida externa já existente. Corroborando com o que foi até então aqui explanado, de acordo com a ABECIP (2015), o Sistema Financeiro de Habitação foi bastante prejudicado em virtude dos acontecimentos acima mencionados. Vejamos: Entretanto, ao final dos anos setenta, com o advento da segunda crise do petróleo e em seguida o da dívida externa, Mercado Imobiliário 26 a inflação disparou no Brasil. As ações judiciais promovidas pelos mutuários se multiplicaram, visando compatibilizar as prestações de casa própria com a evolução do salário dos mutuários. Ambos resultaram em um aumento brutal do descasamento entre os índices de correção dos saldos devedores já concedidos - que seguiam indiretamente os índices de inflação - e o das prestações desses financiamentos - muitos dos quais atrelados à evolução dos salários. As diversas tentativas do governo de reduzir a inflação por meio de medidas heterodoxas, como aplicação de tablitas às prestações (no Plano Cruzado) e congelamentos, na segunda metade da década de oitenta, só agravaram a situação. As Associações de Poupança e Empréstimo e as Sociedades de Crédito Imobiliário foram gradativamente substituídas, ainda na primeira metade da década de oitenta, pelos bancos múltiplos na concessão de novos financiamentos. O Banco Nacional de Habitação foi extinto em 1986 e suas atribuições passaram a ser desenvolvidas pelo Banco Central do Brasil, pela Caixa Econômica Federal e pelo Ministério da Fazenda. (ABECIP, 2015, s.p.)2 Nessa perspectiva, a inflação não parava de crescer e, aliado ao Plano Collor de 1990, o Sistema Financeiro de Habitação se viu duramente prejudicado. Convém destacar que o Plano Collor bloqueou todos os ativos financeiros do sistema nacional, assim, os valores destinados ao crédito imobiliário foram bloqueados pelo Banco Central, fazendo com que as pessoas não conseguissem saldar com suas dívidas e arcar com as despesas. Isso acabou gerando um alto número de inadimplentes, afetando de maneira significativa o setor de crédito imobiliário. E foi diante de tantos problemas enfrentados pelo Sistema de Financeiro de Habitação que surgiu a necessidade de aprimorar o referido sistema como forma de diminuir os prejuízos. Criou-se, assim, o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), como veremos com mais detalhes no tópico a seguir. 2 Origem do Sistema Financeiro de Habitação. Disponível em: https://www.abecip.org.br/ credito-imobiliario/historia. Acesso em: 08 dez. 2020. Mercado Imobiliário 27 Sobre o SFI O Sistema de Financiamento Imobiliário foi criado por meio da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997, no intuito de incentivar e promover o financiamento imobiliário, garantindo uma maior segurança jurídica e buscando amenizar os prejuízos que foram causados pelas dificuldades enfrentadas pelo Sistema Financeiro de Habitação. De acordo com a ABECIP (2015, on-line), o SFI teve como origem e objetivo o seguinte: A instituição do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), em 1997, criou as condições necessárias para uma nova e importante fase do financiamento imobiliário no Brasil. A partir de meados da década de 80 ficaram claras as dificuldades do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), nos moldes em que foi desenhado, para atendimento da demanda de crédito habitacional. A análise da experiência de vários países mostra que o crescimento do financiamento habitacional está intimamente ligado à existência de garantias efetivas de retorno dos recursos aplicados, autonomia na contratação das operações e um mercado de crédito imobiliário capaz de captar recursos de longo prazo, principalmente junto a grandes investidores. Desta forma, o SFI foi criado pela Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997, segundo modelo delineado a partir dos mais modernos mercados de financiamento imobiliário, inclusive latino-americanos, inspirados no modelo norte- americano, tendo por princípio a integração das operações imobiliárias com o mercado de capitais, viabilizando o mercado secundário de títulos imobiliários. Assim, o Sistema de Financiamento Imobiliário tem grande impacto no mercado imobiliário, tornando-se uma opção interessante para aqueles que não pudessem ou não quisessem usar os recursos da poupança, como era no Sistema Financeiro de Habitação. Aqui, há a possibilidade de que os recursos para o financiamento imobiliário sejam de investidores do mercado, e não necessariamente apenas de recursos da poupança. Vale ressaltar que, para que as operações de financiamento imobiliário Mercado Imobiliário 28 pudessem ser acordadas, há condições que, obrigatoriamente, precisam ser observadas, como disposto nos arts. 4° e 5° da Lei do SFI. Vejamos: Do financiamento imobiliário Art. 4º As operações de financiamento imobiliário em geral serão livremente efetuadas pelas entidades autorizadas a operar no SFI, segundo condiçõesde mercado e observadas as prescrições legais. Parágrafo único. Nas operações de que trata este artigo, poderão ser empregados recursos provenientes da captação nos mercados financeiro e de valores mobiliários, de acordo com a legislação pertinente. Art. 5º As operações de financiamento imobiliário em geral, no âmbito do SFI, serão livremente pactuadas pelas partes, observadas as seguintes condições essenciais: I - reposição integral do valor emprestado e respectivo reajuste; II - remuneração do capital emprestado às taxas convencionadas no contrato; III - capitalização dos juros; IV - contratação, pelos tomadores de financiamento, de seguros contra os riscos de morte e invalidez permanente. (BRASIL, 1997, on-line) Resta claro, portanto, que o SFI possibilitou uma maior facilidade no financiamento imobiliário, tornando-se uma boa opção no mercado imobiliário, garantindo que as pessoas consigam financiar seus imóveis sem necessariamente utilizarem tão somente os recursos da poupança, por exemplo. Inclusive, justamente pelo fato de os recursos para o financiamento imobiliário poderem vir de outros investidores do mercado, o SFI é utilizado como uma boa opção para financiamento de imóveis por parte das pessoas de classe média, enquanto o SFH, por utilizar apenas os recursos da poupança e do FGTS, acaba agradando mais àquelas pessoas que possuem uma renda um pouco mais baixa. Mercado Imobiliário 29 RESUMINDO A análise do contexto histórico do mercado imobiliário brasileiro fez com que fosse necessário voltar um pouquinho no tempo e entender alguns momentos históricos nos quais o mercado imobiliário já começou a se destacar. A construção de Brasília teve um impacto significativo não apenas para a migração de pessoas para essa região, fazendo com que o mercado imobiliário ganhasse mais destaque, mas também fez com que esse tipo de mercado passasse a ser visto com outros olhos. Nesse contexto, entender a importância de algumas leis que foram criadas à época permite uma melhor compreensão de como o contexto histórico influenciou no crescimento e desenvolvimento do mercado imobiliário brasileiro. Espero que tenha sido possível compreender o papel do Sistema Financeiro de Habitação, bem como do Sistema de Financiamento Imobiliário, de maneira que se visualize as contribuições dos referidos sistemas para o mercado imobiliário. Mas o estudo não para por aqui. Temos, ainda, um estudo acerca da evolução do mercado imobiliário no Brasil. Está pronto? Avancemos juntos! Mercado Imobiliário 30 Evolução do mercado imobiliário no Brasil INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender o contexto histórico no qual se insere a evolução do mercado imobiliário no Brasil. Iremos estudar alguns períodos importantes que fazem parte da linha do tempo no âmbito do desenvolvimento da economia e, sobretudo, do setor imobiliário. Para isso, analisaremos também de que maneira a crise de 2008 influenciou e impactou não apenas os Estados Unidos, mas, sobretudo, o Brasil. Iremos entender melhor o que foi a crise de 2008 e quais os reflexos dessa crise para o nosso país. Preparado? Vamos juntos! O caso brasileiro Já vimos anteriormente que o Brasil, no início do século XX, era um país predominantemente rural. Vimos, também, como a construção de Brasília influenciou para que esse cenário começasse a ser alterado, com uma migração elevada de pessoas que saíam da zona rural para as cidades em busca de melhores condições de vida e, sobretudo, por empregos. De maneira contínua, observamos que a criação do Sistema Financeiro de Habitação influenciou ainda mais um maior incentivo na aquisição da casa própria, fazendo com que o cenário de um país predominantemente rural passasse a mudar cada vez mais, com o avanço para as áreas urbanas e a busca cada vez maior por construir e morar nas cidades. Nesse contexto, observamos ainda que o período no qual o Sistema Financeiro de Habitação foi criado, a época da ditadura militar, fez com que referido sistema passasse por algumas dificuldades em virtude de desequilíbrios econômicos oriundos de uma alta inflação. Contudo, apesar das adversidades, o SFH contribuiu de maneira significativa no que Mercado Imobiliário 31 diz respeito ao âmbito do mercado imobiliário, bem como abriu portas para que novos investimentos pudessem ser realizados. Assim, abordaremos agora alguns outros momentos importantes que fizeram toda a diferença naquele período no que se refere à evolução do mercado imobiliário brasileiro. Podemos começar citando o período compreendido entre 1967 e 1973, considerado um período de “milagre” econômico brasileiro. Foi durante esse período que o Brasil teve uma alta nas suas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), bem como uma diminuição da inflação, fazendo com que o setor imobiliário tivesse bons resultados, com uma procura considerável de habitação, beneficiada, inclusive, pelas facilidades ofertadas pela concessão de crédito por parte do Banco Nacional de Habitação. Assim, foi um período no qual houve um crescimento considerável de financiamento por meio do Banco Nacional de Habitação, como veremos mais detalhadamente a seguir. Dessa forma, o período compreendido entre 1967 e 1973 representou um bom momento para o mercado imobiliário, pois, como podemos observar na Figura 2 abaixo destacada, a taxa de crescimento do PIB foi de 9,8% em 1968 para 14% em 1973, enquanto a inflação teve uma queda de 25,5% em 1968 para 15,6% em 1973. Tabela 1 – Dados relativos aos indicadores macroeconômicos Fonte: Veloso, Vilella e Giambiagi, 2008. Assim, podemos destacar que alguns fatores foram determinantes para que, durante esse período, tivéssemos um avanço e crescimento do setor imobiliário, bem como dados animadores como os apresentados na figura acima. Como primeiro fator, podemos citar o fato de que, durante esse período, a política econômica foi um diferencial, já que se tinha uma política monetária favorável e uma política creditícia que buscava expandir o fornecimento de créditos para habitação. Além disso, Mercado Imobiliário 32 tínhamos um grande incentivo às exportações, oriundos de um estímulo do governo que permitia que as empresas pudessem ter mais facilidades para importar e, consequentemente, investir nas exportações. SAIBA MAIS Dentre os incentivos às exportações estimulados pelo governo, estava a criação da Comissão para Concessão de Incentivos Fiscais e Programas Especiais de Exportação (Befiex), criado a partir do art. 6° do Decreto-Lei nº 1.219, de 15 de maio de 1972. Tal programa consistia na concessão de isenção dos impostos incidentes sobre os insumos importados e que compunham a produção destinada ao mercado interno. Assim, tinha-se menores custos de produção, bem como importação com algumas isenções de tributos especificadas pela legislação que tratava da matéria. Assim, a Befiex atuou como uma importante contribuição no que se refere aos incentivos às exportações observados nesse período de bom desempenho do setor econômico e, consequentemente, do setor imobiliário. Para além desse fator, há a questão de que, naquele período, o ambiente externo estava mais favorável, considerando que a economia internacional possibilitava uma maior abertura de trocas favoráveis, uma expansão considerável no volume de comércio internacional diante das facilidades oriundas das baixas taxas de juros, bem como de uma disponibilidade de crédito que também atraía uma expansão desse mercado externo. Assim, apesar de o Brasil, naquele período, já possuir um valor de endividamento perante o comércio externo, a disponibilidade de crédito também permitiu que houvesse um maior equilíbrio, fazendo com que o país usufruísse de alguns benefícios que garantiam esse equilíbrio. Posto isso, resta claro que esses fatores contribuíram de maneira positivapara que o cenário permitisse um maior crescimento no setor imobiliário, garantindo que o país vislumbrasse um avanço nesse setor. Como mencionado anteriormente, o Banco Nacional de Habitação também contribuiu para esse período de crescimento ocorrido no Brasil. Foi um período marcado por uma maior facilidade no crédito concedido Mercado Imobiliário 33 por meio do referido banco, de maneira que a procura por financiamento para compras de habitações cresceu de maneira significativa. Assim, durante esse período, o Banco Nacional de Habitação chegou a financiar mais de 600 mil casas, fazendo com que o setor de construção crescesse de maneira significativa. Inclusive, de acordo com Singer (1977, p. 112), o Banco Nacional de Habitação proporcionou, naquele período, o seguinte: [...] o BNH oferecia crédito maciço aos construtores, permitindo-lhes acelerar as obras, e, desta maneira, encurtar o ciclo do capital e reduzir seus custos e ao mesmo tempo proporcionava aos adquirentes créditos de longo prazo, com o saldo reajustado trimestralmente de acordo com a inflação. Além do financiamento de grandes obras e a garantia de moradia para pessoas de classe de menor poder aquisitivo, o Banco Nacional de Habitação acabou contribuindo, também, para uma maior geração de emprego naquele período, pois o incentivo à construção fazia com que a necessidade de uma quantidade cada vez maior de mão de obra se fizesse necessária, motivo pelo qual também houve um aumento do emprego relativo ao setor de construção e setor imobiliário. Após esse período de crescimento para o setor da economia brasileira e para o setor imobiliário, iniciou-se um momento de crise com a alta da inflação, situação externa internacional desfavorável e a crise do petróleo, já mencionada anteriormente. Ainda, o Banco Nacional de Habitação, que tanto havia contribuído positivamente para o cenário econômico e imobiliário brasileiro, começou a sair um pouco de cena, na medida em que a alta da inflação e a crise começaram a tornar cada vez mais inviáveis os financiamentos. Nesse cenário de crise que começava a se instaurar, o Banco Nacional de Habitação foi extinto na qualidade de instituição pública e incorporado como parte integrante da Caixa Econômica Federal. A partir de então, as diversas transições políticas que se seguiram no Brasil e as tentativas de se reerguer economicamente fizeram com que o país vivesse momentos de incerteza, entre altos e baixos, até que Mercado Imobiliário 34 estivéssemos diante da crise de 2008, que levou a economia americana a sua segunda maior crise de todos os tempos, com reflexos consideráveis no cenário brasileiro, como veremos mais detalhadamente no tópico a seguir. Aprofundar-se na crise de 2008 será importante para compreender o comportamento do setor imobiliário no Brasil após essa crise e, sobretudo, o momento atual vivenciado por esse setor em nosso país. A crise financeira de 2008 Trataremos agora, de maneira mais aprofundada, da crise financeira de 2008, como forma de melhor compreender o impacto dessa crise na economia e, sobretudo, no setor imobiliário. Para muitos economistas, inclusive, a crise financeira de 2008 foi a pior crise desde a Grande Depressão. Ela ocorreu em virtude da bolha imobiliária nos Estados Unidos, causada em decorrência da alta nos valores imobiliários, que, em contrapartida, não conseguiu acompanhar o aumento de renda da população. VOCÊ SABIA? A Grande Depressão, também conhecida como crise de 1929, foi uma grande depressão econômica ocorrida nos Estados Unidos que teve início em 1929 e perdurou por quase uma década, com fim apenas em virtude da Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão teve início quando a economia dos Estados Unidos começou a se desequilibrar, pois os americanos, nesse período, viveram um período de “american way of life” (modo de vida americano) totalmente voltado para o capitalismo desenfreado. Os americanos, então, se viram diante de um, cenário em que gastavam demais e investiam na bolsa de valores de maneira desenfreada, acreditando que aquela situação favorável da economia iria se manter para sempre. Acontece que a economia começou a dar indícios de que não estava tão bem quanto imaginavam, e os Estados Unidos viu sua economia cair, havendo uma recessão. Mercado Imobiliário 35 Houve, assim, uma queda na bolsa de valores de Nova York, apresentando efeitos não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo como um todo, que se via dependente da potência econômica que era a economia dos Estados Unidos. Assim, os EUA tiveram que lidar com uma queda do seu PIB de aproximadamente 50%, aumento do desemprego, queda das importações e das exportações, falência de milhares de empresas e bancos, entre outras consequências devastadoras. Foi, de fato, um período difícil para os Estados Unidos e que refletiu, consequentemente, no Brasil, principalmente no que diz respeito à produção de café da época, levando em consideração que era o principal produto de exportação do país e o principal consumidor era, justamente, os Estados Unidos. SAIBA MAIS Falamos anteriormente que a crise financeira de 2008 se deu em virtude da bolha imobiliária ocorrida nos Estados Unidos. Assim, é importante entender, primeiramente, o que é uma bolha imobiliária. Quando falamos em bolha imobiliária, estamos nos referindo a situações em que os bancos começaram a oferecer mais créditos, expandindo, assim, o crédito imobiliário e atraindo os consumidores, fazendo com que os imóveis passassem a ficar cada vez mais valorizados. Essa valorização faz com que ocorra uma elevada procura pelos imóveis e, consequentemente, haja um aumento na taxa de juros, derrubando, assim, o preço dos imóveis. Dessa forma, muitos dos empréstimos anteriormente realizados não são pagos, já que se tornou inviável para aqueles que haviam realizado os empréstimos conseguir arcar com tal despesa. Em outras palavras, inicialmente houve uma oferta de empréstimos a juros baixos para que as pessoas conseguissem, finalmente, financiar a compra do seu imóvel; a procura foi aumentando e o preço dos imóveis, consequentemente, subindo. É importante destacar que a alta no preço dos imóveis não se dava necessariamente porque eles estavam valorizados em virtude da sua localização, por exemplo, ou do seu bom estado, mas tão somente porque a procura por imóveis Mercado Imobiliário 36 estava muito alta em virtude da facilidade com que os empréstimos foram ofertados. Isso gerou uma bolha imobiliária, conforme demonstra a Figura 2, visto que as pessoas estavam financiando imóveis por um preço muito acima do que realmente valiam. De maneira geral, esse é o contexto de uma bolha imobiliária. Figura 2 – Representação da bolha imobiliária Fonte: Freepik, ACESSE Considerando a importância do tema acerca da crise financeira de 2008 e como forma de melhor compreender os impactos de tal crise para os Estados Unidos e para o mundo, há dois filmes que retratam bem esse período: O Capitalismo: uma história de amor (2009), de Michael Moore, e o filme A grande aposta (2015), de Adam Mckay. São filmes que irão, de maneira didática, apresentar um pouco de como a crise de 2008 impactou na vida das pessoas. Vale a pena conferir! Dentro desse contexto, a crise de 2008 afetou, também, a economia brasileira e o mercado imobiliário, tendo em vista que houve queda no Mercado Imobiliário 37 valor das ações, aumento no preço do dólar, diminuição do crédito e redução dos investimentos internacionais. Em comparação com os países europeus, por exemplo, os impactos observados no Brasil foram bem mais inferiores, mas, ainda assim, foram consideráveis. Por esse motivo, os reflexos do que significou a crise de 2008 para os Estados Unidos foram sentidos aqui em nosso país, com um aumento no preço dos imóveis em virtude da diminuição do crédito anteriormente mencionado.Cenário após a crise de 2008 De maneira geral, como já dito anteriormente, não há como comparar os impactos dos países europeus, por exemplo, com os impactos sofridos pelo Brasil em virtude da crise de 2008. O nosso país sofreu impactos bem mais inferiores, entretanto, ainda consideráveis diante de todo esse cenário. Assim, o cenário que se observou no Brasil após a crise de 2008 foi uma redução do crédito no mercado, haja vista que houve uma diminuição de dinheiro disponível no país para a concessão de crédito, não apenas para as empresas, mas também para os consumidores. Dessa forma, tanto as empresas foram afetadas, pois começaram a ter dificuldades para obter financiamento para investimentos e exportações, como também os consumidores se viam impossibilitados de adquirir imóveis ou veículos, por exemplo, em virtude da dificuldade em conseguir algum financiamento. Ainda, a referida crise fez com que o valor do dólar sobre o real subisse de maneira considerável, prejudicando não somente as empresas que não haviam se preparado para essa alta da moeda, como também aqueles consumidores que pretendiam viajar para o exterior, seja a turismo ou para adquirir produtos importados. Diante desse cenário, o governo precisou criar estímulos como forma de auxiliar a economia e diminuir os prejuízos causados em virtude da crise ocorrida nos Estados Unidos e seus reflexos no país, reduzindo alguns tipos de impostos, a exemplo da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, construção civil e Mercado Imobiliário 38 eletrodomésticos, alteração da cobrança do imposto de renda de pessoa física, alguns tipos de estímulo de crédito em bancos públicos, entre outras medidas. Além disso, o Banco Central reduziu os juros em virtude da crise internacional como mais uma forma de estimular o crédito no país e, consequentemente, estimular o investimento por parte das empresas, a fim de garantir que o consumo não fosse prejudicado. Estimular a população brasileira ao consumo era uma das maneiras de fazer com que as empresas não fossem tão prejudicadas, garantindo que os investimentos também não o fossem. Assim, as medidas implementadas pelo governo permitiram que a situação do Brasil não piorasse ainda mais, garantindo que o país conseguisse atravessar a crise internacional instalada sem ter sido demasiadamente prejudicado, resistindo a tal crise. RESUMINDO E então? Aprendeu direitinho sobre a evolução do mercado imobiliário no Brasil? O estudo dessa evolução permite compreender alguns momentos importantes na linha do tempo do nosso país que influenciaram negativa e/ ou positivamente o setor do mercado imobiliário. Foram períodos que apresentaram contribuições importantes e, por esse motivo, mereciam atenção. Assim, analisar tais períodos implica, necessariamente, analisar a crise de 2008 e seu impacto tanto na economia quanto no setor imobiliário. Percebemos que a crise vivenciada pelos Estados Unidos refletiu, também, em nosso país, motivo pelo qual apresentamos no último tópico alguns dos reflexos da crise em nosso país, no momento pós-crise. Espero que tenha sido possível assimilar todas as informações e entender um pouquinho mais do contexto histórico por trás da evolução do direito imobiliário no Brasil. Preparado para continuamos nos aprofundando nesse tema? Vamos juntos! Mercado Imobiliário 39 Regulamentação legal do mercado imobiliário INTRODUÇÃO Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar e compreender um pouco mais de algumas legislações que são importantes para o setor do mercado imobiliário. São legislações que serão apresentadas não de maneira taxativa, mas, ao contrário, exemplificativa, considerando que há outras regulamentações igualmente importantes para o tema. São contribuições importantes de tais regulamentações legais e que precisam ser observadas no âmbito do mercado imobiliário. Assim, iremos entender um pouco mais da importância dessas legislações para o setor. E então? Preparado? Vamos juntos. Avante! Lei nº 8.245/1991 – Lei do Inquilinato Dentre as mais variadas leis que regulamentam o mercado imobiliário, podemos citar a Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, conhecida como Lei do Inquilinato. A referida lei regulamenta a locação de imóveis urbanos e é de suma importância o conhecimento de como acontece essa regulamentação no mercado de aluguéis de imóveis residenciais e comerciais. Convém destacar que falar sobre a locação de imóveis não é algo apenas dos dias atuais, pelo contrário, remonta a períodos historicamente importantes, nomeadamente porque o termo “locação de imóveis” sempre se destacou como um dos tipos de contratos mais conhecidos por nossa sociedade. Falar em locação de imóveis é, naturalmente, falar em direito contratual, tendo em vista que o direito contratual vai se modificando e evoluindo de acordo com as transformações que a sociedade vai passando. Mercado Imobiliário 40 IMPORTANTE Desde muito tempo, os contratos e o direito contratual como um todo já faziam parte da vida das pessoas, ainda que de maneira primitiva se compararmos ao direito contratual que temos atualmente. Desde os primórdios da civilização, as pessoas já realizavam contratos no intuito de regular regras de convivência em sociedade, bem como para a realização de trocas comerciais, por exemplo. Por esse motivo, não há necessariamente uma data específica para atribuirmos ao nascimento dos contratos, pois desde muito tempo o homem já realizava diversos tipos de contratos, ainda que não soubesse que o estava fazendo. Assim, as relações comerciais foram, aos poucos, evoluindo e se modificando, até a que temos atualmente. A Lei do Inquilinato, hoje, representa um grande avanço e uma maior segurança jurídica ao setor imobiliário. Nesse contexto, tal regulamentação sobre a locação de imóveis não se deu apenas com a promulgação da Lei do Inquilinato. A primeira regulamentação inicial desse tipo de relação já havia ocorrido com a promulgação do Código Civil de 1916, que tratava sobre o vínculo locatício, estabelecendo o seguinte: SEÇÃO I DA LOCAÇÃO DE COISAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1.188. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição. […] DA LOCAÇÃO DE PRÉDIOS Art. 1.200. A locação de prédios pode ser estipulada por qualquer prazo. Mercado Imobiliário 41 Art. 1.201. Não havendo estipulação expressa em contrário, o locatário, nas locações a prazo fixo, poderá sublocar o prédio, no todo, ou em parte, antes ou depois de havê-lo recebido, e bem assim emprestá-lo, continuando responsável ao locador pela conservação do imóvel e solução do aluguel. Parágrafo único. Pode também ceder a locação, consentindo o locador. (BRASIL, 1916, on-line) Por isso, resta claro que o tema locação de imóveis já vinha, desde muito tempo, sendo tratado e regulado. Com o passar do tempo, as modificações nas relações comerciais e a evolução do setor imobiliário, o tema precisou se adequar e ser complementado, como forma de fazer com que a regulamentação legal sobre a matéria conseguisse responder de maneira mais eficiente e positiva possível às necessidades das pessoas. NOTA Fazendo um breve comparativo da regulamentação do tema sobre locação de imóveis no Código Civil de 1916 com o que temos nos dias atuais, é possível perceber que o Código Civil de 1916 tinha como base princípios do liberalismo clássico até então vigente à época, refletindo questões como autonomia da vontade e força obrigatória dos contratos. Ou seja, havia o mínimo de interferência possível do Estado na elaboração dos contratos, pois se partia do pressuposto de que tudo que ali tinha sido acordado, seria justo e de bom grado para ambas as partes, considerando que as partes eram livres para celebrar tais contratos.Contudo, como é sabido, não há necessariamente um equilíbrio entre as partes, de maneira que alguns contratos não eram realizados de maneira justa. Assim, o Estado precisou ir, aos poucos, interferindo, como forma de melhor proteger a parte mais vulnerável da relação contratual, seja com a presença de cláusulas que fossem mais protetivas à parte vulnerável, seja com a vedação de cláusulas que fossem extremamente prejudiciais à parte vulnerável. Mercado Imobiliário 42 Nessa perspectiva, em 1991, finalmente nasce a Lei n° 8.245, de 18 de outubro de 1991, conhecida como Lei do Inquilinato, que está vigente até os dias atuais. A referida lei buscou reunir as transformações e evoluções que a sociedade perpassou no âmbito da locação de imóveis, de maneira a abarcar conceitos importantes e princípios necessários, no intuito de que os contratos que venham a ser realizados quando da locação de imóveis sejam os mais justos e transparentes possíveis, garantindo direitos e deveres de ambas as partes, como veremos mais detalhadamente a seguir. Dessa forma, a locação imobiliária será, justamente, disciplinada pela Lei do Inquilinato anteriormente mencionada. Convém ressaltar que, já no art. 1° da Lei nº 8.245/91, há a disposição de quais locações continuam a ser reguladas pelo Código Civil e pela legislação especial. Vejamos: Art. 1º A locação de imóvel urbano regula - se pelo disposto nesta lei: Parágrafo único. Continuam regulados pelo Código Civil e pelas leis especiais: a) ..................................................................................................................as locações: 1. ..........de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; 2. ...............de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; 3. ......................................................de espaços destinados à publicidade; 4. ...................em apart-hotéis, hotéis - residência ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam serviços regulares a seus usuários e como tais sejam autorizados a funcionar; b) o arrendamento mercantil, em qualquer de suas modalidades. (BRASIL, 1991, on-line) Percebe-se, portanto, que as situações acima descritas continuam a ser reguladas pelo Código Civil e pela legislação especial, pois, Mercado Imobiliário 43 dependendo do tipo de bem, por exemplo, prevalecerá o interesse público, a exemplo de bens que sejam dos entes federativos, não podendo tais locações serem submetidas ao regime privado. Assim, a Lei do Inquilinato se aplica apenas aos imóveis urbanos destinados à residência ou à atividade comercial. Nesse aspecto, considerando que a Lei do Inquilinato se aplica apenas a imóveis urbanos destinados à residência ou à atividade comercial, ela faz referência a três grupos distintos de locação, sendo eles: • locação residencial, que se subdivide em: a. com prazo certo, igual ou superior a trinta meses, contratada por escrito, de acordo com o art. 46 da Lei nº 8.245/91; b. com prazo indeterminado ou inferior a trinta meses, de acordo com o art. 47 da Lei nº 8.245/91. • locação não residencial, que se subdivide em: a. locação comercial com direito à renovatória, de acordo com o art. 51 da Lei nº 8.245/91; b. outras locações livres, que dizem respeito àquelas que não se enquadram ou não estão acobertadas pela ação renovatória e estarão submetidas às regras estabelecidas pela Lei nº 8.245/91. • locação especial, que tem por objeto imóveis destinados à temporada, conforme estipulam o art. 48 e seguintes da Lei nº 8.245/91. Por esse motivo, o conhecimento da Lei do Inquilinato se torna essencial no setor imobiliário para que a locação de imóveis urbanos possa ocorrer dentro do previsto em lei, considerando que referida lei orienta e dispõe de aspectos importantes e essenciais para a realização de um contrato de locação, de forma que se garanta os direitos e deveres dos locadores e locatários. Mercado Imobiliário 44 Lei nº 10.257/01 – Estatuto da Cidade Na continuidade da análise da regulamentação legal do mercado imobiliário, outra importante lei diz respeito ao Estatuto da Cidade, tendo em vista que o referido Estatuto preencheu algumas lacunas deixadas pela Constituição de 1988 no que se refere ao desenvolvimento urbano e à política urbana em si. Assim, o Estatuto da Cidade foi instituído por meio da Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, estabelecendo diretrizes gerais da política urbana, as quais devem ser aplicadas pela União, pelos estados e pelos municípios. Nesse contexto, a base constitucional para a criação do Estatuto da Cidade está no art. 21, inciso XX, da Constituição Federal, que dispõe competir privativamente à União “[...] XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos” (BRASIL, 2001, on-line). Ainda, estabelece o art. 24, inciso I, da Constituição Federal de 1988, que compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre “[...] I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico” (BRASIL, 1988, on-line). Assim, aliado à regulamentação apresentada pelos arts. 182 e 183 da Constituição Federal, é criado o Estatuto da Cidade, no intuito de regulamentar os instrumentos necessário a essa política. Vejamos o que dispõe o art. 1° do Estatuto da Cidade, bem como os arts. 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, respectivamente: CAPÍTULO I DIRETRIZES GERAIS Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei. Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana Mercado Imobiliário 45 em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. *Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (BRASIL, 1988, on-line) Assim, a criação do Estatuto da Cidade funciona como mais um instrumento a favor do setor imobiliário, de maneira que a supracitada lei precise estar em conformidade com os princípios constitucionais, a exemplo do princípio da função social da propriedade e, sobretudo, garantir que referidos princípios sejam respeitados e efetivados. O Estatuto da Cidade representou um grande avanço no âmbito da política urbana, funcionando como uma legislação que veio inovar e evoluir junto com as transformações pelas quais a sociedade passa. Dessa forma, podemos compreender que o Estatuto da Cidade não apenas garante de maneira justa os espaços disponíveis para habitação, mas também luta para que as desigualdades sociais existentes não sejam um entrave quando da busca por espaços habitáveis e aplicação de uma política urbana organizada e, sobretudo, planejada. O Estatuto da Cidade preza, inclusive, pela defesa do equilíbrio ambiental quando da ocupação dos espaços e, inclusive, o respeito à função social da propriedade, evidenciando a preocupação do Estatuto com o fato de que a política urbana esteja em conformidade com princípios essenciais. Além disso, o Estatuto da Cidade apresenta, em seu art. 2°, diretrizes que são fundamentais para a política urbana e que beneficiam o setor imobiliário,fortalecendo questões importantes, a exemplo da garantia Mercado Imobiliário 46 do direito às cidades sustentáveis, bem como a cooperação entre os governos. Vejamos alguns exemplos: Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; [...] IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; [...] VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental; h) a exposição da população a riscos de desastres. (BRASIL, 2001, on-line) Mercado Imobiliário 47 O Estatuto da Cidade é, portanto, um valioso instrumento para o setor imobiliário, sendo importante para a garantia e efetivação de princípios constitucionalmente previstos, bem como no auxílio para o processo de urbanização, garantindo sempre que o interesse social e coletivo possam predominar, em observância ao princípio da função social da propriedade urbana e evidenciando a importância da referida lei federal não apenas no âmbito da política urbana, mas, também, do setor imobiliário. Lei nº 13.786/2018 – Lei do Distrato Por fim, e não menos importante, temos a Lei nº 13.786, de 27 de dezembro de 2018, que trata da rescisão de contratos imobiliários, sendo comumente conhecida como Lei do Distrato. Como anteriormente apresentado, ela está em vigor desde 2018, sendo uma lei recente e que representa um marco legal no contrato de alienação de imóveis na planta. É importante destacarmos a importância dessa lei, tendo em vista que ainda não havia qualquer regulamentação legal que tratasse da rescisão de contratos, o que acabava gerando grandes entraves judiciais. Assim, a sobredita lei fez com que, quando da rescisão de contratos, haja condições para a sua efetivação, com o estabelecimento de multas e taxas, por exemplo. Contudo, convém destacar que essa lei só se aplica a contratos que tenham sido celebrados após a sua aprovação, ou seja, após dezembro de 2018. Nesse aspecto, quando estamos diante de um distrato imobiliário contratual, é porque o referido distrato já estava previamente disposto no contrato, de maneira que, na maioria dos casos, quando já há essa previsão, a negociação é feita mais amigavelmente. Mas, de toda forma, é importante que se esclareça o fato de que estar o distrato previsto no contrato não anula a possibilidade de que as partes busquem apoio jurídico tanto no Código Civil como no Código de Defesa do Consumidor, a fim de assegurar que tudo esteja sendo feito em conformidade com a lei, sem que nenhuma das partes saia prejudicada dessa rescisão contratual. Já quando o distrato imobiliário não está previamente disposto no contrato, ou seja, as partes não haviam acordado essa possibilidade, há Mercado Imobiliário 48 a necessidade de que ocorra de maneira judicial. Ou seja, um advogado especialista deverá auxiliar para que as partes possam, enfim, chegar a um consenso. É importante destacar que, independentemente vir estipulado no contrato a proibição de que ocorra um distrato imobiliário, por exemplo, a lei permite que ocorra. Por isso, tal cláusula pode ser nula e/ou anulável, pois há lei que trata da matéria e viabiliza o distrato em caso de necessidade. Assim, a Lei nº 13.786, de 27 de dezembro de 2018, serve como mais um instrumento a favor do setor imobiliário, conferindo diretrizes importantes quando da rescisão de contratos, sendo, assim, uma regulamentação essencial para o setor. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu tudo? Só para termos certeza de que você realmente entendeu, vamos recapitular algumas coisas. Você deve ter aprendido que a Lei do Inquilinato é um importante instrumento para o setor imobiliário e que, inclusive, o trato na locação de imóveis não é matéria apenas dos dias atuais, mas remonta a períodos antigos da sociedade, tendo em vista que, desde muito tempo, o homem realiza contratos com esse intuito, ainda que o fizesse de maneira primária. Além disso, aprendemos um pouco da importância do Estatuto da Cidade para o setor imobiliário e alguns de seus benefícios no âmbito da política urbana e, sobretudo, do setor imobiliário. Por fim, vimos como a Lei do Distrato auxilia quando da necessidade de uma regulamentação jurídica que trate da rescisão contratual, facilitando, assim, todo o processo. São leis que foram apresentadas não de maneira taxativa, mas, ao contrário, apenas exemplificativa, considerando que ainda existem outras leis que são igualmente importantes para o setor imobiliário. Espero que você tenha conseguido absorver tudo. Vamos continuar conhecendo um pouquinho mais acerca do mercado imobiliário? Conto com você! Mercado Imobiliário 49 REFERÊNCIAS AGÊNCIA BRASÍLIA. Nordestinos são maioria dos imigrantes que vivem no DF. 9 ago. 2014. Disponível em: https://www.agenciabrasilia. df.gov.br/2014/08/09/nordestinos-sao-maioria-dos-imigrantes-que- vivem-no-df/. Acesso em: 5 set. 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, [2016]. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406compilada.htm. Acesso em: 25 mar. 2020. BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Institui o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/L3071.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L3071.htm. Acesso em: 25 de mar. 2020. BRASIL. Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre a locação de imóveis urbanos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L8245compilado. Acesso em: 13 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Institui o Estatuto da Cidade. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 13 jun. 2020. BSB60 - GRANDES EMPREENDEDORES DE BRASÍLIA. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal BSB60 Doc. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-B8yBkLBhb4&feature=emb_title. Acesso em: 11 out. 2020. CURADO, A. Comércio: conceito, onde surgiu, como se desenvolveu e atualidades. 31 maio 2019. Disponível em: https://conhecimentocientifico. r7.com/comercio-conceito-onde-surgiu-como-se-desenvolveu-e- Mercado Imobiliário 50 atualidades/https://conhecimentocientifico.r7.com/comercio-conceito- onde-surgiu-como-se-desenvolveu-e-atualidades/. Acesso em: 02 set. 2020. DICIO. Mercado. Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em: https://www.dicio.com.br/mercado. Acesso em: 4 set. 2020. DICIO. Correção monetária. Dicionário