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Aleitamento Materno

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Aleitamento Materno
Diz-se que uma criança está em AM (Aleitamento 
Materno) quando ela recebe leite materno (direto 
da mama ou ordenhado), independentemente de 
estar recebendo ou não outros alimentos. O 
padrão de AM pode ser assim classificado: 
• AM exclusivo (AME): quando a criança 
recebe somente leite materno, direto da 
mama ou ordenhado, ou leite humano de 
outra fonte, sem outros líquidos ou 
sólidos; 
• AM predominante: quando a criança 
recebe, além do leite materno, água ou 
bebidas à base de água (água adocicada, 
chás, infusões) e sucos de frutas; 
• AM complementado: quando a criança 
recebe, além do leite materno, alimentos 
complementares, definidos como qualquer 
alimento sólido ou semissólido com a 
finalidade de complementar o leite 
materno. O termo “suplemento” tem sido 
utilizado para água, chás e/ou leite de 
outras espécies; 
• AM misto ou parcial: quando a criança 
recebe, além do leite materno, outros 
tipos de leite. 
 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), o 
Ministério da Saúde do Brasil (MS) e a Sociedade 
Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam AM por 
2 anos ou mais, sendo de forma exclusiva nos 
primeiros 6 meses. 
 
Além de aparentemente ser o comportamento 
esperado para a espécie humana, a amamentação 
por 2 anos ou mais pode ser vantajosa em razão 
do valor nutritivo do leite materno e da proteção 
contra doenças infecciosas, que se mantém 
enquanto a criança for amamentada, 
independentemente da idade. 
 
Com relação à duração do AME, existem 
evidências de que não há vantagens em oferecer 
alimentos complementares a crianças menores de 
6 meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à 
saúde da criança, como maior chance de adoecer 
por infecção intestinal e hospitalização por doença 
respiratória. 
 
Além disso, a introdução precoce dos alimentos 
complementares diminui a duração do AM, 
interfere na absorção de nutrientes importantes 
nele existentes, como o ferro e o zinco, e reduz a 
eficácia da lactação na prevenção de novas 
gestações. 
 
Os efeitos do AM sobre a saúde da criança e da 
mulher que amamenta, apresentados a seguir, 
comprovam a superioridade da amamentação 
sobre outras formas de alimentar a criança 
pequena: 
• redução da mortalidade infantil: estima-se 
que o AM pode reduzir em 13% a 
mortalidade em crianças menores de 5 
anos por causas preveníveis. Nenhuma 
outra estratégia alcança o impacto da 
amamentação na redução das mortes de 
crianças dessa faixa etária. A 
amamentação na primeira hora de vida 
tem sido associada à redução da 
mortalidade neonatal; 
• redução da incidência e gravidade da 
diarreia: há fortes evidências 
epidemiológicas de que a amamentação 
confere proteção contra diarreia, 
sobretudo em crianças de baixo nível 
socioeconômico de países de baixa renda. 
É importante salientar que essa proteção 
diminui quando o AM deixa de ser 
exclusivo; 
• redução da morbidade por infecção 
respiratória: a proteção da amamentação 
contra infecções respiratórias e otite 
média foi demonstrada em vários estudos; 
• redução de alergias: há evidências de que 
o risco de dermatite atópica em crianças 
com história familiar de atopia, nascidas a 
termo e amamentadas exclusivamente por 
pelo menos meses, é menor quando 
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comparadas com crianças amamentadas 
por menos tempo, assim como é menor a 
chance de desenvolver asma em crianças 
sem história familiar de asma, quando 
comparadas com crianças não 
amamentadas. A exposição a pequenas 
doses de leite de vaca nos primeiros dias 
de vida parece aumentar o risco de alergia 
ao leite de vaca. Por isso, é muito 
importante evitar o uso desnecessário de 
fórmulas infantis nas maternidades; 
• redução de doenças crônicas: há relatos 
bem consistentes da associação entre AM 
e menor chance de desenvolver obesidade 
e diabete tipo 2, pressões sistólica e 
diastólica mais baixas e níveis menores de 
colesterol total; 
• melhor nutrição: por ser próprio da 
espécie, o leite materno contém todos os 
nutrientes essenciais para o crescimento e 
o desenvolvimento ótimos da criança 
pequena, além de ser mais bem digerido, 
quando comparado com leites de outras 
espécies. Atualmente, o crescimento da 
criança amamentada é a referência 
utilizada nas curvas de crescimento da 
OMS; 
• melhor desenvolvimento cognitivo e 
inteligência: a maioria dos estudos 
publicados sobre AM e desenvolvimento 
cognitivo conclui que as crianças 
amamentadas apresentam vantagem 
nesse aspecto, quando comparadas com as 
não amamentadas ou amamentadas por 
um período inferior. Essa vantagem foi 
observada em diferentes faixas etárias, até 
mesmo em adultos; 
• melhor desenvolvimento da cavidade 
bucal: a interrupção precoce do exercício 
que a criança faz para retirar o leite do seio 
da mãe pode determinar ruptura do 
desenvolvimento motor-oral harmônico, 
prejudicando o alinhamento adequado dos 
dentes e as funções de mastigação, 
deglutição, respiração e fala; 
• proteção contra doenças na mulher que 
amamenta: há evidências de proteção do 
AM contra câncer de mama e de ovário, e 
o desenvolvimento de diabete tipo 2, além 
do efeito anticoncepcional; 
• economia: não amamentar tem 
implicações financeiras, podendo onerar 
uma família de modo substancial. Ao gasto 
com leites industrializados, devem-se 
acrescentar custos com mamadeiras, bicos 
e gás de cozinha, além de eventuais gastos 
decorrentes de doenças, que são mais 
comuns em crianças não amamentadas. 
Onera também o sistema público de saúde 
e as empresas/serviços públicos e 
privados, pelas faltas ao trabalho de mães 
e pais por doença da criança; 
• promoção do vínculo afetivo entre mãe e 
filho: apesar de difícil comprovação, é 
praticamente consenso que a 
amamentação traz benefícios psicológicos 
para a criança e para a mãe. É uma 
oportunidade ímpar de intimidade e afeto, 
gerando sentimentos de segurança e 
proteção na criança e de autoconfiança e 
realização como mãe na mulher. 
 
 
 
 
A técnica de amamentação, em especial o 
posicionamento da dupla mãe-bebê e a 
pega/sucção do bebê, são importantes para a 
retirada efetiva do leite pela criança e proteção 
dos mamilos. 
 
Uma posição inadequada da mãe e/ou do bebê 
dificulta o posicionamento correto da boca do 
bebê em relação ao mamilo e à aréola, podendo 
resultar em “má pega”. Esta, por sua vez, interfere 
na dinâmica de sucção e extração de leite, 
dificultando o esvaziamento da mama, com 
consequente diminuição da produção do leite e 
ganho de peso insuficiente do bebê, apesar de, 
muitas vezes, ele permanecer longo tempo no 
peito. 
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Muitas vezes, o bebê com pega inadequada é 
capaz de obter o leite anterior, mas tem 
dificuldade de retirar o leite posterior, mais 
nutritivo e rico em gorduras. Além disso, a má 
pega favorece traumas mamilares. Estudos 
ultrassonográficos mostram que quando o bebê 
faz a pega correta, o mamilo fica posicionado na 
parte posterior do palato, protegido de fricção e 
compressão, prevenindo traumas mamilares. 
 
Durante as mamadas, é importante que mãe e 
bebê estejam em posição confortável, que não 
haja obstáculos para o bebê abocanhar tecido 
mamário suficiente (p.ex., dedos em forma de 
tesoura), retirar o leite efetivamente e deglutir e 
respira livremente. A mãe deve estar relaxada e 
segurar com firmeza o bebê completamente 
voltado para si. É importante enfatizar que quando 
a criança é amamentada em posição adequada e 
tem pega boa, a mãe não sente dor. 
 
Toda dupla mãe/bebê em AM deve ser avaliada 
por meio de observação completa de uma 
mamada. A OMS destaca quatro pontos-chave 
para posicionamento e quatro para pega, que 
caracterizam uma boa técnica. 
 
Os seguintes sinais são indicativos de técnica 
inadequada de amamentação: bochechas do bebê 
encovadas a cada sucção, ruídos da língua, mama 
aparentando estar esticada ou deformada durante 
a mamada, mamilos com estrias vermelhas ou 
áreas esbranquiçadas ou achatadas quando o 
bebê solta a mama e dor durante a amamentação. 
 
 
 
 
 
 
A amamentaçãodeve ser iniciada tão logo quanto 
possível após o parto. A OMS e o MS recomendam 
contato pele a pele na primeira hora de vida, 
sempre que as condições de saúde da mãe e do 
bebê permitirem. A maioria dos bebês suga na 
primeira hora de vida, se lhe for dada 
oportunidade. A sucção precoce da mama reduz o 
risco de hemorragia pós-parto, ao liberar 
ocitocina, e de icterícia no recém-nascido, por 
aumentar a motilidade gastrointestinal. 
 
Os primeiros dias após o parto são cruciais para o 
sucesso da amamentação. É um período de 
intenso aprendizado para mãe, pai, bebê e demais 
membros da família. Nesse período, o pediatra 
não deve poupar esforços para garantir que as 
mães/bebês/pais/demais familiares sejam 
assistidos de acordo com as suas necessidades. 
 
Habitualmente, o recém-nascido mama com 
frequência, sem regularidade quanto a horários. É 
comum um bebê em AME sob livre demanda 
mamar de 8 a 12 vezes ao dia. Muitas mães, em 
especial as inseguras e com baixa autoestima, 
costumam interpretar esse comportamento como 
sinal de fome do bebê, leite fraco ou insuficiente, 
culminando, quando não assistidas 
adequadamente, com a introdução de 
suplementos. 
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O tamanho das mamas da mãe pode exercer 
alguma influência na frequência das mamadas. As 
mulheres com mamas maiores têm maior 
capacidade de armazenamento de leite e, por isso, 
podem ter mais flexibilidade com relação ao 
padrão de amamentação. Já as mulheres com 
mamas pequenas podem necessitar amamentar 
com mais frequência em virtude da sua pequena 
capacidade de armazenamento de leite. 
 
No entanto, o tamanho da mama não tem 
relação com a produção do leite. 
 
Toda criança experimenta períodos de aceleração 
do crescimento, o que se manifesta por um 
aumento da demanda por leite. Esse período, que 
dura de 2 a 3 dias, pode ser equivocadamente 
interpretado como incapacidade da mãe em 
produzir leite suficiente para o seu bebê, 
induzindo à suplementação com outros leites. 
 
Esses períodos podem ser antecipados, 
diminuindo a ansiedade das mães e preparando-
as para uma maior demanda. Em geral, ocorrem 
três episódios de aceleração do crescimento antes 
dos 4 meses: o primeiro entre 10 e 14 dias de vida, 
outro entre 4 e 6 semanas e um terceiro em torno 
dos 3 meses. Bebês prematuros podem 
experimentar vários períodos de aceleração do 
crescimento nos primeiros meses. 
 
 
O tempo de permanência na mama em cada 
mamada não deve ser preestabelecido, pois o 
tempo necessário para esvaziar uma mama varia 
entre os bebês e, em uma mesma criança, pode 
variar dependendo da fome, do intervalo 
transcorrido desde a última mamada e do volume 
de leite armazenado na mama, entre outros 
fatores. Independentemente do tempo 
necessário, é importante que a criança esvazie a 
mama, pois o leite do final da mamada – leite 
posterior – contém mais calorias e sacia a criança. 
 
 
Água, chás e, sobretudo, outros leites devem ser 
evitados, pois há evidências de que o seu uso está 
associado com desmame precoce e aumento da 
morbimortalidade infantil. A mamadeira, além de 
ser importante fonte de contaminação, pode ter 
efeito negativo sobre o AM, pois algumas crianças 
desenvolvem preferência por bicos de mamadeira, 
apresentando dificuldade para amamentar ao 
seio. Alguns autores atribuem esse 
comportamento à “confusão de bicos”. 
 
 
O uso de chupeta tem sido desaconselhado por 
diversas razões, entre as quais a possibilidade de 
interferir com o AM. 
 
Crianças que usam chupetas, em geral, são 
amamentadas menos frequentemente, o que 
pode prejudicar a produção de leite. Embora não 
haja dúvidas quanto à associação entre uso de 
chupeta e desmame precoce, ainda não está 
esclarecida a relação causa/efeito. 
 
É possível que o uso da chupeta seja um 
sinalizador de que a mãe está tendo dificuldades 
na amamentação ou de que tem menor 
disponibilidade para amamentar. 
 
Além de interferir com o AM, o uso de chupeta 
afeta negativamente a formação do palato. A 
comparação de crânios de pessoas que viveram 
antes do advento dos bicos de borracha com 
crânios mais modernos sugerem o impacto 
negativo dos bicos na formação da cavidade oral. 
 
 
A fluoração da água, a escovação dos dentes com 
cremes dentais (dentifrícios) fluoretados e o 
hábito alimentar saudável constituem as melhores 
medidas para prevenção de cárie e outros 
problemas bucais nas crianças (BRASIL, 2009b). 
 
Recomenda-se a higiene da cavidade bucal do 
bebê a partir da erupção do primeiro dente 
decíduo, com fralda de pano ou gaze limpa ou com 
uma escova de dente umedecida em água filtrada 
ou fervida, com a finalidade de se estabelecer 
desde cedo o hábito da higienização. 
 
Enquanto a criança possuir apenas os dentes 
anteriores, a higiene pode ser feita com fralda ou 
gaze. Entretanto, a partir do nascimento do 
primeiro dente posterior, que ocorre entre 12 e 18 
meses, é indispensável realizar a higiene bucal 
–
 
(dentes e dorso da língua) com uma escova dental 
de cabeça pequena, cabo longo e cerdas macias. 
 
Desde a erupção do primeiro dente e durante os 4 
primeiros anos de vida orienta-se utilizar pouca 
quantidade de creme dental (dentifrício), não 
superior a um grão de arroz cru, por duas vezes ao 
dia, e deve-se ensinar a criança a não engolir a 
espuma do creme dental, já que o excesso pode 
provocar a fluorose (manchas esbranquiçadas que 
aparecem nos dentes por excesso de absorção de 
flúor). 
 
Dos quatro aos oito anos, a quantidade de creme 
dental em cada escovação pode ser um pouco 
maior: o equivalente a um grão de ervilha. Os pais 
e responsáveis devem higienizar a cavidade bucal 
da criança até que ela aprenda a escovar 
corretamente sozinha e saiba cuspir o creme 
dental. Mesmo depois que consigam escovar os 
dentes é importante que os pais ou responsáveis 
estejam juntos com a criança, ajudando-a na 
tarefa (BRASIL, 2006a). 
 
A limpeza dos dentes, antes de dormir, é a mais 
importante sob o ponto de vista de prevenção da 
cárie. Enquanto a criança ainda mamar, deve-se 
fazer a limpeza noturna dos dentes após a última 
mamada, mas se isso não for possível, pode ser 
feita a limpeza dos dentes antes dessa mamada. 
Vale ressaltar que só a criança só desenvolve cárie 
se consumir açúcar e que tanto a quantidade 
quanto a frequência de ingestão de açúcar estão 
associadas ao risco de cárie. 
 
Em caso de ser utilizado leite de vaca líquido ou 
em pó, chá, suco ou água, deve-se desestimular o 
acréscimo de açúcares. Igualmente importante é 
recomendar que, após uso de xaropes e outros 
medicamentos (que são adocicados), seja feita a 
higienização dos dentes, independentemente do 
horário. 
 
Além disso, deve ser desestimulado o consumo de 
alimentos açucarados, principalmente aqueles 
que contêm sacarose, como biscoitos e sucos 
industrializados, nos intervalos das refeições. 
 
IMPORTÂNCIA DOS DENTES DECÍDUOS: Os 
dentes decíduos guardam espaço e preparam o 
caminho para os dentes permanentes, servindo de 
guia para que estes se posicionem de forma 
correta. Dentes decíduos saudáveis proporcionam 
alimentação prazerosa, mastigação eficiente, sem 
desconforto, e fonação adequada. 
 
Além disso, dentes decíduos sadios são 
importantes para que a criança não se sinta 
diferente do restante do grupo de sua faixa etária 
e apresente algum problema emocional/social. 
 
 
O leite materno humano (LH) é o alimento mais 
adequado para qualquer recém-nascido (RN). Por 
sua composição nutricional balanceada e 
capacidade imunoprotetora, favorece a nutrição e 
a imunização do recém-nascido, além de motivar 
a construção e o fortalecimento do vínculo afetivo 
entre mãe e bebê. 
 
Os anticorpos presentes no LH são principalmente 
das classes de IgA e IgG, que são transferidos para 
o bebê através da amamentação e visam prevenir 
a translocação bacteriana, apoiando o trato 
gastrointestinal através do tecido linfoide 
associado ao trato gastrointestinal (GALT). O 
recém-nascido recebe cerca de 10 bilhões de 
leucócitos/dia. Cerca de 80%deles são 
macrófagos, que fortalecem a barreira da 
imunidade e podem recrutar linfócitos para atuar 
contra patógenos. 
 
A colonização do intestino microbiano em 
lactentes é influenciada por diversos fatores, 
incluindo a localização do nascimento, tipo de 
parto (vaginal ou cesariana), período gestacional, 
uso de antibióticos e método de alimentação. O 
uso de prebióticos e probióticos promove a saúde 
gastrointestinal, ao conduzir a composição da 
microbiota. A microbiota de crianças 
amamentadas é nutrida por bifidobactérias e 
lactobacilos, enquanto a microbiota alimentada 
com fórmula láctea é altamente variável na sua 
composição. 
 
A dieta, a maturidade e a idade pós-natal são os 
maiores impulsionadores na constituição da 
microbiota infantil. 
 
Os bebês que foram alimentados através da mama 
apresentaram maior diversidade bacteriana inicial 
e um alcance mais gradual dessa diversidade em 
–
 
relação aos lactentes que receberam as fórmulas 
como fonte alimentar. 
 
A microbiota de lactentes nutridos com leite 
materno era mais semelhante, 
independentemente do peso de nascimento, ao 
contrário da microbiota de lactentes alimentados 
com fórmulas lácteas, que se comportou de forma 
diferente com base no mesmo peso ao nascer. Os 
lactentes alimentados com leite humano de 
doadora pasteurizado foram relativamente bem-
sucedidos na promoção de uma microbiota, de 
forma mais similar aos alimentados 
exclusivamente com leite materno e contribuindo 
para um cenário de simbiose intestinal. 
 
Em 2016, Kantecka, estudando os componentes 
bioativos do leite materno, observou que 
hormônios e fatores de crescimento têm atividade 
no trato digestivo vascular, nervoso e endócrino. 
No que se refere ao trato digestivo, destacam-se 
os fatores de crescimento celular, especificamente 
epidérmico, conhecido por EGF (fator de 
crescimento epidérmico). 
 
O nível médio desse fator no colostro é duas mil 
vezes maior do que no leite maduro. Ele 
desempenha papel na maturação da mucosa 
intestinal, que é responsável pela renovação da 
mucosa após danos ocasionados por síndromes 
isquêmicas/hipóxicas, sangramento ou inflamação 
por intestino necrosado. 
 
O fator que regula o sistema vascular é estudado 
pelo fator de crescimento endotelial. Nesse 
contexto, ressalta-se a função da eritropoietina, 
que além da relação direta na formação do 
intestino, atua na prevenção da anemia. Outro 
fator determinante relaciona-se aos benefícios na 
calcitonina, hormônio que, além de ter a função de 
regular a concentração de cálcio sérico, atua 
associadamente a outros hormônios na 
adequação do crescimento. Conjuntamente, a 
adiponectina e outros hormônios atuam na 
sistematização do metabolismo, além dos 
reguladores de energia, composição corporal e 
apetite. 
 
Como a adiponectina é um hormônio 
multifuncional ajustador do metabolismo, este 
interage na barreira intestinal modulando o 
sistema metabólico infantil e diminuindo a 
inflamação, certamente propiciando menor 
tendência para sobrepeso e obesidade na vida 
adulta. 
 
Alguns fatores imunológicos são reconhecidos no 
leite humano além da imunoglobulina A, como as 
concentrações de IgM e IgG, conhecidas como as 
imonuglobulinas. O fluido materno contém 
algumas células competentes com função 
imunológica, especificamente as células T, células 
estaminais, macrófagos, granulócitos, linfócitos, 
fatores de crescimento, quimiocinas e citocinas. 
Quando amamentado, o recém-nascido adquire 
em torno de 10 bilhões de leucócitos por dia e 
cerca de 80% deles são macrófagos. 
 
A mucosa do trato gastrointestinal do recém-
nascido alimentado pelo leite da própria mãe 
dispõe de um efeito ativo no metabolismo e 
imunológico. Nesse processo ocorre a modulação 
das células T-anti-inflamatórios e células T 
reguladoras do sistema imunológico, assim 
conhecido como linfócitos T. Estes são ativados no 
trato digestivo por bactérias presentes no leite 
humano. 
 
A intervenção do profissional em unidades de 
cuidados intensivos, com crianças prematuras e 
baixo-peso ao nascer, é de extrema importância 
na promoção do aleitamento materno. Este deve 
ser iniciado o mais precoce possível, pois assim 
apresenta-se como uma benéfica intervenção 
para manutenção e qualidade de vida. 
 
Os recém-nascidos se adaptam ao ambiente 
extrauterino no intuito de promover uma 
homeostase imune intestinal, sendo que uma 
colonização bacteriana apropriada é necessária 
para o bom desenvolvimento imunológico. A 
causa decisiva dessa colonização é a ingestão do 
leite materno. Embora o bebê seja capaz de 
desenvolver uma resposta do próprio sistema 
imunológico, o componente imune encontrado no 
fluido materno é capaz de gerar uma estimulação 
protetora. 
 
O leite humano impulsiona a proliferação de uma 
microbiota diversa e bem equilibrada, que a 
princípio atua no crescimento de microorganismos 
peculiares (bifidobactérias, lactobacilos e 
bacteroides). Como exemplo de sua eficiência, os 
oligossacarídeos no leite materno são 
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fermentados por bactérias colônicas, formando 
um meio ácido para a multiplicação bacteriana. 
Além disso, os ácidos graxos de cadeia curta no 
leite provocam os receptores de genes 
bacterianos, que preferivelmente moderam a 
expressão intestinal anti-inflamatória. 
 
Outros componentes do leite materno 
(defensinas, lactoferrina, etc.) impedem os 
patógenos e ainda favorecem a composição de 
uma microbiota saudável. O benefício do leite 
materno na microbiota intestinal inicial também 
previne a expressão de doenças imunomediadas 
(asma, doença inflamatória intestinal, diabetes 
tipo 1), realçando a utilidade da amamentação 
como primeira fonte de nutrição. 
 
Primeiramente, os bebês começam a adquirir 
microbiota intestinal no parto. A colonização 
iniciada por bactérias pioneiras participa de um 
ciclo dinâmico, sobretudo no que se discutem a 
questão materna e seu papel na provisão da 
microbiota funcional. O inóculo fecal inicial da 
microbiota é consequência da proximidade do 
canal do nascimento pela vagina e o ânus. Devido 
à relevância biológica dessa proximidade 
anatômica, estão subentendidas as diferenças 
existentes na composição da microbiota do parto 
vaginal e cesárea. 
 
Posteriormente, as fontes de inóculos envolvem a 
boca, parentes, animais, objetos e o microbioma 
de leite humano. Nesse contexto materno, os 
glicanos, sejam os polissacarídeos ou 
oligossacarídeos do leite humano, se diferenciam 
de acordo com o genótipo da mãe. A colonização 
efetiva através do parto vaginal pode intervir 
permanentemente na composição e 
funcionamento da microbiota com repercussões 
para a saúde do bebê. 
 
Os oligossacarídeos do leite humano (HMO) têm 
um papel essencial na efetivação do 
desenvolvimento normal da fisiologia do intestino 
e sistema imunológico em lactentes. O leite 
humano possui um composto diversificado de 
oligossacarídeos, sua constituição varia de acordo 
com diversos fatores extrínsecos e intrínsecos. No 
que concerne a esses fatores, abrangem a base 
genética da mãe, estado de saúde materna, dieta 
e tipo de grupo sanguíneo. Esses corpúsculos de 
HMO cooperam na preservação de uma 
microbiota intestinal saudável de três maneiras. 
 
Primeiramente, impedem a colonização de 
bactérias patogênicas bloqueandoas, e atuando 
como equivalente ao receptor, 
consequentemente aderindo à superfície 
bacteriana. Por consequência, evitando que os 
patógenos se juntem a seus oligossacarídeos na 
membrana da célula epitelial. 
 
O segundo benefício é que eles agem como 
compostos prebióticos, viabilizando o crescimento 
de bactérias benéficas, conhecida como as 
bifidobactérias, dessa forma dificultando 
simultaneamente a adesão de bactérias 
potencialmente nocivas por meio da resistência de 
colonização. 
 
O terceiro privilégio é na modulação de células 
epiteliais intestinais, induzindo a geração de 
citoquinas linfocíticas e rolo de leucócitos e 
adesão, impulsando um melhor 
desencadeamento das respostas imunes.REFERÊNCIAS: TRATADO DE PEDIATRIA (SBP), 
MANUAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE SOBRE 
ALEITAMENTO, ARTIGO: ALEITAMENTO 
MATERNO E MICROBIOTA INTESTINAL INFANTIL 
(REVISÃO DE LITERATURA)

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