Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estado e Política Social Aula 3: Política Social Professora Neiva Silvana Hack CONVERSA INICIAL Oi, seja bem-vindo(a) à terceira aula de Estado e Política Social, onde pretendemos distinguir características fundamentais da política social, frente ao conjunto de políticas públicas. Política social é um tipo de política pública que está relacionada à efetividade dos direitos sociais dos cidadãos, e para atingir este objetivo de estudo, vamos: Discutir as influências sócio-históricas que deram origem aos modelos de políticas sociais atualmente concebidos Conhecer o impacto dos modelos de Welfare State na história e no desenvolvimento das políticas sociais Reconhecer os diferentes tipos de políticas públicas e, dentre eles, as políticas sociais Relacionar o papel das políticas sociais frente aos direitos de cidadania assegurados por lei Compreender a operacionalização dos direitos assegurados na Constituição Federal por meio da efetividade das políticas públicas Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir, com a fala inicial da professora Neiva. CONTEXTUALIZANDO Suponha que um assistente social é convidado a dar uma palestra sobre políticas públicas e direitos sociais em uma escola. Participam desta palestra alunos do ensino médio, seus familiares, professores do colégio e lideranças da comunidade. A solicitação da palestra veio a partir de pesquisa desenvolvida por alunos, que descobriram que, enquanto cidadãos, possuem direitos sociais como saúde, educação e assistência social, mas perceberam em suas famílias e na comunidade em que moram que estes direitos não estão sendo respeitados. Portanto, solicitaram a palestra para esclarecer melhor as seguintes questões: O que são os direitos sociais e quem tem esses direitos? Como estes direitos podem “sair do papel” e se tornarem efetivos no dia a dia de suas famílias e comunidades? Quais são as estratégias dos governos para fazer com que isso aconteça? Reflita sobre estas questões durante os estudos dos temas desta aula e, ao final, tente respondê-las. Sobre esta reflexão, acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir. Tema 1: História da política social: socialismo ou capitalismo? Quando pensamos em política social, costumamos relacionar o assunto diretamente com proteções ofertadas pelo Estado ao seu povo, de modo a assegurar os direitos sociais estabelecidos em sua legislação, e pensamos logo em exemplos, como as políticas de saúde, educação e previdência social. Corrêa (2005) nos aponta um conceito que compreende tanto a ação estatal quanto o conflito de interesse que permeia o estabelecimento das políticas sociais: “a política pública de corte social é um tipo de política pública que se dá por meio de um conjunto de princípios, diretrizes, objetivos e normas, emanadas do poder público e que orientam a sua atuação em uma determinada área. Estabelece-se pelas lutas, pressões e conflitos de interesses entre camadas e classes sociais, porém as respostas demandadas pelo Estado para essas questões podem vir atender interesses de um segmento em detrimento do outro.” (CORRÊA, 2005) Höfling (2001) apresenta um conceito que envolve a história das políticas sociais: “políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais tem suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais.” Assim, observamos que a origem das políticas sociais está permeada por tensões entre diferentes interesses. Isso se dá na proposição e implementação de uma nova política social, bem como vem ocorrendo em toda a história deste tipo de política pública. Podemos identificar, dentre estes interesses, elementos que se referem à classe trabalhadora e outros relacionados à manutenção das estruturas de poder existentes. Essa maneira de proteção pelo Estado (por meio de políticas sociais) possui características redistributivas e pode se assemelhar a uma projeção de um modelo de Estado e economia que promovam a igualdade, tal como o idealizado pelo socialismo. Contudo, se observa que, desde sua origem, as políticas sociais foram estabelecidas dentro de contextos de uma economia capitalista, e mesmo utilizadas para equilibrar as relações dentro deste modelo. Ficaria a questão sobre o modelo econômico que está mais diretamente ligado às políticas sociais: Seria o socialismo, por seus ideais de igualdade, ou seria o capitalismo, modelo dentro do qual foi gestada? Duas concepções são importantes para responder a tais questões: 1. De fato, a organização das políticas sociais, enquanto resposta a direitos sociais legitimados pelo Estado, se dá dentro de um modelo capitalista de organização da produção. Sua existência assegura a continuidade desse sistema. Não se tratam de atitudes pautadas apenas no altruísmo dos governantes, mas de estratégias de diminuição das tensões provocadas pela desigualdade. 2. Contudo, não se pode dizer que a adoção de políticas sociais é uma oferta do capitalismo à população. O delineamento das políticas sociais se dá a partir de conquistas da sociedade civil, sendo resultados de tensões, em que os movimentos populares organizados exigem atitudes do Estado para que seja cumprido de fato o seu papel de proteção ao bem público. Ao se analisar a história das políticas sociais, observamos que foram desenvolvendo-se no período de industrialização e ganharam força na Europa, no período pós Segunda Guerra Mundial. Neste contexto, é possível observar a influência do pensamento socialista sobre a população, e principalmente sobre os trabalhadores, que exigiam do Estado regulações para melhoria nas condições de trabalho e providências diante da crescente desigualdade originada do conflito Capital X Trabalho. Porém, o pensamento socialista vislumbra a superação do modelo capitalista, uma nova organização da produção e distribuição das riquezas. E as políticas sociais se apresentam para diminuir a tensão entre aqueles que desejam o avanço do capitalismo e aqueles que desejam sua superação. Assim, embora possua em suas origens fatores de mobilização vinculados ao socialismo, é caracterizada como uma forma capitalista de organização da sociedade e (re)distribuição das riquezas. A forma como as políticas sociais são ofertadas à população não é idêntica em todos os países ou governos. Sua concepção, legislação e implementação variam segundo o momento sócio-histórico vivenciado por cada Estado e também de acordo com a correlação de forças que se estabelece entre a defesa dos interesses do capital e de interesses da sociedade como um todo. No vídeo a seguir, a professora Neiva trata do assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e acompanhe! Tema 2: História da política social: estado de bem-estar social Estudamos sobre o Welfare State na primeira aula desta disciplina. Agora vamos compreender um pouco mais sobre a relação deste modelo de Estado com a origem e desenvolvimento das políticas sociais. Para seu bom aproveitamento, recomendamos que retome os temas 4 e 5 da primeira aula, para prosseguir com a aula de hoje! Para iniciar a discussão sobre aorigem das políticas sociais, leia com atenção o texto a seguir, das assistentes sociais Elaine Rosseti Behring e Ivanete Boschetti, parte do livro Política Social: fundamentos e história: “Não se pode indicar com precisão um período específico de surgimento das primeiras iniciativas reconhecíveis de políticas sociais, pois, como processo social, elas se gestaram na confluência dos movimentos de ascensão do capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classe e do desenvolvimento da intervenção estatal. Sua origem é comumente relacionada aos movimentos de massa social- democratas e ao estabelecimento dos Estados-nação na Europa ocidental do final do século XIX (PIERSON, 1991), mas sua generalização situa-se na passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, em especial na sua fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial (pós-1945).” (BEHRING e BOSCHETTI, 2006, p. 47) Assim como as autoras nos apontam, não é exato o momento histórico de criação das políticas sociais. A identificação de sua origem pode variar segundo a perspectiva de quem estuda esta história. Contudo, um dos períodos em que se reconhece a maior relação com a origem deste tipo de políticas públicas é após a Segunda Guerra Mundial, quando se desenvolveu, na Europa, um modelo de Estado com maior atenção à redistribuição, ficando conhecido como Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social. No período anterior à Segunda Guerra Mundial, marcado pela industrialização, já se identificavam respostas do Estado às exigências de grupos sociais organizados, frente ao quadro crescente de desigualdade provocada pelo capitalismo. Assim, é possível identificar a legislação fabril como precursora da intervenção do Estado na relação entre os donos dos meios de produção e os trabalhadores, de forma a garantir direitos para estes últimos (BEHRING e BOSCHETTI, 2006). Neste período, um modelo de seguridade social que influenciou as políticas do Welfare State foi desenvolvido na Alemanha, por Otto Von Bismark, voltado à promoção do emprego, da educação e da proteção dos trabalhadores por meio das leis de Seguro-Saúde, Seguro- Acidente e lei de Pensões por Velhice ou Invalidez (GOMES, 2006). Na Inglaterra, as fortes influências para o estabelecimento do Welfare State foram as teorias de Keynes, de regulação do mercado pelo Estado, aliadas ao plano de enfrentamento às mazelas do pós-Segunda Guerra, proposto pelo economista Willian Henry Beveridge, que ficou conhecido como Relatório Beveridge ou Plano Beveridge. (CARDOSO, 2010). O modelo de Welfare State proposto e desenvolvido a partir do Relatório de Beveridge distingue-se das propostas desenvolvidas até então por consolidar uma proposta de bem-estar social, que não estava relacionada apenas aos necessitados, mas que era voltada a toda a população – e ainda deslocava as ações de proteção social do campo da esfera privada (caridade/filantropia) para o campo público, com reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre o bem-estar proposto. (CARDOSO, 2010). Segundo o Plano Beveridge, o Estado deveria ofertar benefícios capazes de compreender as necessidades básicas de sua população. Estabelece um mínimo com o qual todos deveriam contar (CARDOSO, 2010; GOMES, 2006): Seguridade social Serviços de saúde gratuitos Meios de reabilitação profissional Promoção do emprego Intervenções sobre as taxas de natalidade e mortalidade Ações de amparo à infância e proteção à maternidade Reforma do sistema previdenciário Suporte frente a demandas com despesas especiais: aluguel, nascimento, casamento, viuvez e morte E, em termos gerais, o Plano propunha a superação de 5 principais males que afligiam a sociedade da época (Outhwaite e Bottomore,1996 in GOMES, 2006): Doença Ignorância Miséria Escassez Ociosidade Para conhecer mais sobre o Plano Beveridge e as características de proteção social por ele propostas, recomendamos a leitura do artigo A influência do relatório Beveridge nas origens do Welfare State (1942-1950), de Fábio Luiz Lopes Cardoso. http://sinteseeventos.com.br/bien/pt/papers/fabioluizlopesAINFLUENCIADORE LATORIOBEVERIDGE.pdf Embora a própria Inglaterra não tenha adotado integralmente a proposta do Plano Beverige, é possível dizer que este influenciou a organização do Welfare State em diversos países europeus, e teve impacto inclusive sobre o Brasil. As propostas relacionadas à organização da previdência social, às ações de assistência social, à universalidade da saúde e educação, à promoção do emprego e proteção aos públicos mais frágeis, foram e são referenciais para o delineamento das políticas sociais, na perspectiva da proteção social como direito do cidadão e dever do Estado. No vídeo a seguir, a professora Neiva trata do assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e acompanhe! Tema 3: Política social X Política econômica Ao estudar as políticas sociais, é importante também conhecer as políticas econômicas e a relação que se estabelecem entre elas. Retomando o conceito de política social, “políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. (HÖFLING, 2001). Agora, apreciemos a descrição de política econômica, enquanto tipo de política pública e enquanto ação do Estado, de acordo com Clark (2008): “Em síntese, política econômica estatal é um conjunto de decisões públicas dirigidas a satisfazer as necessidades sociais e individuais, com um menor esforço, diante de um quadro de carência de meios. É, ainda, uma das espécies do gênero políticas públicas. (...).” Inúmeras podem ser as ações tomadas pelos poderes públicos na órbita econômica: Compra e venda de moeda estrangeira Elevação ou redução dos tributos Ampliação do volume da moeda nacional na economia Edição de normas legais de remessa de lucros ao exterior, de repressão ao poder econômico e de defesa do consumidor Emissão de títulos públicos no sistema financeiro que, consequentemente, influenciarão nos juros a serem pagos pelo estado E, ainda, podem significar: Concessão de créditos subsidiados a setores econômicos Cessão de terras públicas ou redução de exigências burocráticas a fim de incentivar o turismo Realização de obras governamentais em prol do crescimento modernizante Estatização ou nacionalização de atividades econômicas Criação de agências reguladoras produtoras de marcos legais para o mercado Abertura de empresas estatais fabricantes de bens e prestadoras de serviços, voltadas ao desenvolvimento sustentável etc. Assim, vemos que cabe ao Estado desenvolver programas de governo capazes de articular políticas econômicas e políticas sociais, visando ao bem público, a ser desfrutado individual e coletivamente por seus cidadãos. Autores marxistas, como Brunhof, diferenciam política social e política econômica pelo “tipo de mercadoria” que estas abrangem, sendo as políticas sociais, aquelas que tratam da mercadoria – força de trabalho e as políticas econômicas, aquelas que compreendem a mercadoria – moeda. (SOUZA, 2010). Embora diferenciem-se em seu conceito, métodos e objetivos, políticas sociais e econômicas são interdependentes. Existe uma relação constante entre as políticas sociais e as políticas econômicas. As primeiras com maior caráter redistributivo, e as outras voltadasao crescimento e desenvolvimento. O modelo de Estado e de governo adotado em cada território e em cada período histórico determinará a prioridade estabelecida: a redistribuição ou o desenvolvimento. Contudo, uma depende da outra. O avanço das políticas sociais exige recursos que serão mais abundantes quando se conta com uma proposta econômica bem-sucedida. E a economia, por sua vez, para poder avançar, demanda por trabalhadores saudáveis, qualificados e ativos. O modo de produção capitalista e modelo de Estado liberal ou neoliberal, como se tem na atualidade, priorizam o desenvolvimento econômico. Neste contexto, as políticas sociais são produtos das lutas da sociedade civil organizada, por justiça social, distribuição das riquezas e melhores condições de vida aos trabalhadores e à população em geral. Tratam-se de conquistas de tais movimentos e, ao mesmo tempo, concessões das classes dominantes, para que se sustente o desenvolvimento do capital. As políticas sociais diminuem, assim, certas tensões, bem como preparam os trabalhadores para sua participação no mercado produtivo. Se compreendermos a origem dos principais modelos de políticas sociais no período do Welfare State, podemos dizer que as políticas sociais se desenvolveram com sucesso por estarem relacionadas a um plano político econômico, respaldado nas teorias keynesianas, que compreendia a intervenção do Estado sobre a economia e visava o pleno emprego. Poderíamos destacar, como exemplos de políticas sociais: saúde, educação, assistência social, habitação e previdência. E elencaríamos como políticas econômicas: políticas de promoção do trabalho e emprego, políticas fiscais e monetárias, políticas de investimento em infraestrutura. Diante de tais exemplos, evidencia-se a correlação entre os dois tipos: A educação interfere na qualificação de mão de obra para a produção Saúde e trabalho estão diretamente relacionadas A assistência social cobre lacunas que o mercado é incapaz de alcançar A infraestrutura geral envolve habitação e saneamento para a população A previdência social está diretamente ligada aos trabalhadores produtivos no mercado ou que deram sua contribuição e, no momento, desfrutam de proteção social, numa lógica de seguro Para se avançar no estudo das políticas sociais, se faz necessário apreender que estas são um tipo de política pública e que estão inter-relacionadas com as políticas públicas econômicas. Como, também, é importante destacar que no contexto capitalista há uma tendência a priorizar o desenvolvimento econômico e negligenciar as políticas sociais, o que repercute em crescente desigualdade social e agravam as expressões da questão social, com as quais o serviço social trabalha ativamente. No vídeo a seguir, a professora Neiva trata do assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e acompanhe! Tema 4: Políticas sociais e direitos sociais no contexto da cidadania Vamos recordar, de início, o seguinte conceito estudado na segunda aula desta disciplina: “As políticas públicas são, no estado democrático de direito, os meios que a administração pública dispõe para a defesa e a concretização dos direitos de liberdade e dos direitos sociais dos cidadãos, estabelecidos numa Constituição Nacional”. (QUEIROZ, 2013). Com isso, as políticas públicas e, neste caso, com maior intensidade aquelas caracterizadas como políticas sociais, são entendidas como meios para o efetivo exercício da cidadania e dos direitos sociais. De acordo com a clássica concepção de Marshall, a cidadania é composta pelo conjunto de três diferentes tipos de direitos: Direitos civis, Direitos políticos e Direitos sociais Para dar continuidade nesta aula, é importante que você conheça melhor cada um desses direitos. Para isso, recomendamos a leitura do texto que segue, que faz parte da introdução do livro Cidadania no Brasil: o longo caminho, de José Murilo de Carvalho. “Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não-cidadãos. Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular. São direitos cuja garantia se baseia na existência de uma justiça independente, eficiente, barata e acessível a todos. São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a própria existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do capitalismo. Sua pedra de toque é a liberdade individual. É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver direitos civis sem direitos políticos, o contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e de organização, os direitos políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas ficam esvaziados de conteúdo e servem antes para justificar governos do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como instituição principal os partidos e um parlamento livre e representativo. São eles que conferem legitimidade à organização política da sociedade. Sua essência é a ideia de autogoverno. Finalmente, há os direitos sociais. Se os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos políticos garantem a participação no governo da sociedade, os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Em tese eles podem existir sem os direitos civis e certamente sem os direitos políticos. Podem mesmo ser usados em substituição aos direitos políticos. Mas, na ausência de direitos civis e políticos, seu conteúdo e alcance tendem a ser arbitrários. Os direitos sociais permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a da justiça social. (CARVALHO, 2008, p. 9-10). As políticas sociais promovem o exercício dos três tipos de direitos, contudo, com maior ênfase aos direitos sociais. Compreendemos melhor esta relação ao ler a explicação dada por Behring e Boschetti (2006, p. 102): “Os direitos com os quais as políticas públicas se identificam, e devem concretizar, são os direitos sociais, que se guiam pelo princípio da igualdade, embora tenham no seu horizonte os direitos individuais – que se guiam pelo princípio da liberdade. A identificação das políticas públicas com os direitos sociais decorre do fato de esses direitos terem como perspectiva a equidade, a justiça social, e permitirem à sociedade exigir atitudes positivas, ativas do Estado para transformar esses valores em realidade.”Assim, podemos entender que os direitos sociais são aqueles que têm como objetivo promover a equidade e a justiça social. Exemplificados pelo direito a saúde, educação, trabalho, aposentadoria, dentre outros. E, por sua vez, as políticas públicas sociais são as estratégias com as quais os governos contam para tornar efetivo o exercício desses direitos pelos seus cidadãos. Quando um direito é afixado, cabe a determinadas instâncias da estrutura da sociedade colaborarem para que se torne efetivo. No Brasil, quando falamos de direito à saúde, à educação e à seguridade social, entende-se que se trata de “direito do cidadão e dever do Estado”. Logo, o Estado é responsável por viabilizar sua efetividade, podendo contar com o apoio da sociedade civil e da iniciativa privada, de forma complementar, para cumprir tal obrigação. Podemos ainda trazer como exemplo o direito à proteção integral por crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde as pessoas com até 18 anos têm assegurado seus direitos e cabe ao Estado, à família e à sociedade, agir para que estes sejam, de fato, respeitados. Assim, a própria previsão legal, incorpora atores da sociedade civil como responsáveis pela efetividade dos direitos. Para organizar as ações do Estado e da sociedade civil, de forma que os direitos sejam respeitados e tornem-se parte da vivência cotidiana dos cidadãos, são desenvolvidas as políticas públicas. E como vimos, para a defesa dos direitos sociais, contamos especialmente com políticas públicas também de caráter social. Estas políticas públicas: são organizadas a partir de princípios e diretrizes contam com objetivos e metas demandam estrutura física, material, de recursos humanos e recursos financeiros chegam até a população por meio de unidades específicas, serviços, programas, projetos e benefícios Quando as políticas sociais atingem seus objetivos e atendem aos públicos que são de sua competência e abrangência, materializa-se o exercício dos direitos sociais pelos cidadãos e a lei se torna efetiva em seu cotidiano! No vídeo a seguir, a professora Neiva trata do assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e acompanhe! Tema 5: Políticas sociais na Constituição Federal Brasileira A Constituição Federal Brasileira é um grande marco no avanço da cidadania no país e, por este mesmo motivo, é também conhecida como “Constituição Cidadã”. Seu texto compreende o conjunto dos direitos civis (direitos e deveres individuais e coletivos), políticos e sociais. Estabelece ainda um Título que trata especificamente da “ordem social”, sob o qual estão estabelecidos detalhes referentes aos direitos da seguridade social; educação e proteção à família, às crianças, aos adolescentes às pessoas idosas e aos índios. De acordo com o artigo 6º da Constituição Federal de 1988, são direitos sociais dos cidadãos brasileiros: Educação Saúde Alimentação Trabalho Moradia Transporte Lazer Segurança Previdência social Proteção à maternidade e à infância Assistência aos desamparados Ainda tratando dos direitos sociais, os artigos 7º ao 11 referem-se à direitos dos trabalhadores: Artigo 7º detalha os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais Artigo 8º protege a livre associação profissional ou sindical Artigo 9º trata do direito à greve Artigo 10 assegura a participação de trabalhadores em órgãos públicos que tratem de assuntos de seu interesse Artigo 11 prevê a eleição de um representante dos trabalhadores em todas as empresas com mais de 200 empregados Como vimos na temática anterior, a forma de efetivar direitos sociais se dá com a implementação de políticas sociais. Assim, o Estado, em conjunto com a sociedade civil, deve promover políticas públicas capazes de promover o exercício dos direitos sociais aqui destacados. E, além da descrição dos direitos sociais que encontramos no texto constitucional, podemos observar previsões que tratam diretamente de políticas sociais. Isso ocorre na área da seguridade social, educação e proteção aos públicos mais vulneráveis. Tais previsões estão compreendidas na parte que trata da “ordem social”. Vamos conhecer um pouco cada uma delas? Acompanhe! Políticas públicas de seguridade social A Seguridade Social brasileira assumiu uma renovada concepção com a aprovação da Constituição Federal de 1988. Com o caráter de segurança e proteção social ao povo, ficou constituída por três distintas políticas públicas: Saúde Entendida agora como um direito universal. O Estado passa a ser responsável por ofertar saúde gratuita e integral para todos. Compreende ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde. Na área do atendimento em saúde, estão considerados acessos gratuitos a consultas, exames, medicamentos e outros suportes que se façam necessários. A organização destas ofertas, segundo a Constituição Federal, deve se dar pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. Assistência social Reconhecida agora como direito do cidadão e dever do Estado, deve ser ofertada a quem dela necessitar, reconhecidamente aos públicos mais vulneráveis, como as crianças, adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência e outras. Compreende serviços e benefícios sociais não contributivos, ou seja, gratuitos e que dispensam prévia contribuição. A Constituição Federal prevê que seja organizada por meio de sistema descentralizado e participativo. Previdência social De caráter contributivo, funciona na lógica do seguro. Seus benefícios são ofertados aqueles que contribuíram anteriormente, mediante vinculação de sua atividade de trabalho ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Compreende, para seus segurados, a cobertura com aposentadorias; auxílios para casos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho; seguro desemprego; proteção à maternidade e pensão por morte. Vale apena sintetizar estas informações: A seguridade social brasileira é composta por um “tripé” de políticas públicas A saúde é direito de todos, sem exceção, e não contributiva (gratuita e não exige pagamento anterior) A assistência social é direitos de todos que dela precisarem e não contributiva A previdência social é contributiva, por isso é direito daqueles que contribuíram anteriormente Educação A educação é reconhecida como direito de todos e dever do Estado e da família. Deve proporcionar aos cidadãos: O desenvolvimento pessoal Preparo para o exercício da cidadania Qualificação para o trabalho Compreende desde a Educação Infantil ao Ensino Superior e Pesquisa. O Ensino Fundamental, além de direito, é considerado obrigatório, e há previsão de progressiva obrigatoriedade para o Ensino Médio. Cabe ao Estado ofertar o ensino gratuito e de qualidade e às famílias e sociedade cooperarem para a efetividade na frequência às escolas. Proteção aos públicos vulneráveis Ainda na parte referente à ordem social, o texto constitucional reforça a proteção devida à família, às crianças e adolescentes e aos idosos. Constituir família é direito e a união civil deve ser gratuita. A Constituição estabelece o conceito legal de família, reconhece a igualdade entre homem e mulher na relação familiar e prevê a proteção de situações de violência Crianças e adolescentes passam a ser considerados sujeitos de direitos. A estes é devida proteção integral com prioridade absoluta Idosos so possuem o direito de receber assistência de seus filhos e do Estado,quando precisarem, e de participar da comunidade Importante Outro público, ainda, que tem especial atenção pela constituição, são os índios, tendo direito de proteção as suas terras, organização, costumes, língua, crenças e tradições. Vemos, assim, que a Lei Maior do Estado brasileiro prevê direitos sociais e orienta a implementação de políticas sociais, na lógica do direito do cidadão e dever do Estado. Essas determinações constitucionais são, portanto, o fundamento da política social no Brasil. No vídeo a seguir, a professora Neiva trata do assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula e acompanhe! TROCANDO IDEIAS Vimos nesta aula que as políticas sociais estão relacionadas aos direitos sociais, que, por sua vez, relacionam-se à vivência da cidadania, em conjunto com os direitos civis e políticos. Compartilhe com os seus colegas neste Fórum como você percebe o exercício da cidadania (direitos sociais, civis e políticos) pelos cidadãos de seu município e estado. Aponte direitos que você percebe que estão sendo respeitados e outros que ainda precisam de maior investimento para serem garantidos a toda a população. NA PRÁTICA Agora que avançamos em nosso aprendizado sobre política social, vamos exercitar nosso conhecimento. Um dos principais fundamentos das políticas sociais no Brasil está em nossa Constituição Federal. Então, vamos realizar uma pesquisa que nos ajude a conhecer melhor este documento tão importante. Siga estas instruções e, em seguida, realize o exercício: Retome o conteúdo como um todo, mas, especialmente, os temas 4 e 5 desta aula Acesse a seguir a Constituição Federal ou, caso já a tenha, consulte-a (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm) Identifique na Constituição a parte que trata da “ordem social” Escolha dentre uma das políticas sociais previstas nesta parte e copie o artigo ou o parágrafo sobre esta política que mais lhe chamou a atenção Finalize fazendo uma correlação com a aplicação desta política social no município em que você mora, identificando unidades ou serviços prestados que colaboram na promoção do direito previsto na Constituição. Use o modelo a seguir: Comentário Estarão adequados os preenchimentos que compreenderem um artigo e/ou parágrafo que trate de uma política social e que correlacionem a aplicação deste artigo em sua realidade concreta, tal como no exemplo. Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir, com os comentários da professora Neiva. SÍNTESE Nesta aula estudamos sobre a política social. Aprendemos que elas são um tipo de política pública de caráter redistributivo. Sua origem e seu desenvolvimento se dão dentro do modo de produção capitalista, num contexto de tensões entre os movimentos populares e o interesse em assegurar o avanço do capitalismo. Compreendemos que políticas sociais e políticas econômicas estão diretamente relacionadas e tratam-se de estratégias do Estado na promoção do bem público. Vimos também que as políticas sociais são estratégias de ação do Estado, em conjunto com a sociedade civil, na defesa e promoção dos direitos sociais. E ainda conhecemos os direitos sociais e as políticas sociais previstas na Constituição Federal brasileira, aprovada em 1988. A problematização no começo da aula nos fez refletir sobre questões relacionadas aos direitos e às políticas sociais, e avançamos, construindo aprendizados fundamentais para compreendermos a política social em nossa conjuntura e sua relação com a profissão do Serviço Social. Acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir, com a fala final da professora Neiva. Referências BEHRING, E.R. BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (ECA): Lei federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. Brasília: Casa Civil, 1990. BRASIL. Senado Federal. Constituição Federal Brasileira, de 05 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. CARDOSO, F.L.L. A influência do Relatório Beveridge nas origens do Welfare State (1942-1950). Artigo síntese de monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciências Sociais. Araraquara: UNESP, 2010. Disponível em: <http://sinteseeventos.com.br/bien/pt/papers/fabioluizlopesAINFLUENCIADOR ELATORIOBEVERIDGE.pdf>. Acesso em: 25 de mar. 2016. CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o Longo Caminho. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2008. CLARK, G. Política econômica e Estado. Estudos Avançados. 22 (62), 2008. CORREA, N. M. A política da educação especial brasileira no âmbito das políticas públicas de corte social. II Seminário nacional Estado e políticas sociais no Brasil. Cascavel: UNIOESTE, 2005. Disponível em: <http://cac- php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/educacao/medu06.pd f>. Acesso em: 25 mar. 2016. GOMES, F. G. Conflito social e welfare state: Estado e desenvolvimento social no Brasil. Revista de Administração Pública, mar./abr. 2006, vol.40, nº.2, p.201-234. HÖFLING, E. M. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos cedes. Ano XXI, n. 55, novembro. 2001. SOUZA, L. M. Comentando as classificações de políticas públicas. Revista Cronos, Natal-RN, v.11, n.3, 161, jul/ago, 2010.
Compartilhar