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Livro EAD Educacao_e_multicult

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife
Rocha, Rafael Pires
 Educação e multiculturalismo / Rafael Pires Rocha - Recife: 
UPE/NEAD, 2011.
 40 p. 
 
 ISBN 
 1. Educação. 2. Cultura - Educação. 3. Multiculturalismo. 4. Sociologia 
educacional. I. Universidade de Pernambuco – UPE. II. Título. 
 
CDU 37.015.4
T266c
U
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 P
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bu
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N
CI
A
REITOR
Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado
 
VICE-REITOR
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Prof. Béda Barkokébas Jr.
PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Profa. Izabel Christina de Avelar Silva
PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA 
Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim 
PRÓ-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E EXTENSÃO
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
COORDENADOR GERAL
Prof. Renato Medeiros de Moraes
COORDENADOR ADJUNTO
Prof. Walmir Soares da Silva Júnior
ASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERAL
Profa. Waldete Arantes
COORDENAÇÃO DE CURSO
Profa. Giovanna Josefa de Miranda Coelho
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Profa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima
COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICAL
Profa. Angela Maria Borges Cavalcanti
Profa. Eveline Mendes Costa Lopes
Profa. Geruza Viana da Silva 
GERENTE DE PROJETOS
Profa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes
ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTE
Igor Souza Lopes de Almeida
COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃO
Prof. Marcos Leite
EQUIPE DE DESIGN
Anita Sousa 
Gabriela Castro
Rafael Efrem
 Renata Moraes
Rodrigo Sotero
COORDENAÇÃO DE SUPORTE
Afonso Bione
Prof. Jáuvaro Carneiro Leão
EDIÇÃO 2010
Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife / PE - CEP. 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
EDUCAÇÃO E 
MULTICULTURALISMO 
Prof. Rafael Pires Rocha | 60 horas
Objetivo geral
Apresentação da disciplina
Ementa
Introdução ao estudo das temáticas que envolvem 
a educação e os processos de construção e de im-
plementação da cidadania dos diferentes grupos 
raciais ou étnicos na sociedade brasileira.
Compreender o multiculturalismo e suas formas de 
expressões nas sociedades globalizadas, visando à 
integração das mais diversas formas de expressões 
culturais.
Hibridismo, diversidade étnica e racial, novas identidades políticas e culturais: esses são termos di-
retamente relacionados ao rótulo multiculturalismo. Se a diversidade cultural acompanha a histó-
ria da humanidade, o acento político nas diferenças culturais data da intensificação dos processos 
de globalização econômica que anunciam, segundo os analistas, uma nova fase do capitalismo, 
denominada por autores como Ernest Mandel de “capitalismo tardio” e por outros, como Daniel 
Bell, de “sociedade pós-industrial”. A despeito das querelas acerca das origens dessa nova fase, o 
fato é que as discussões acerca do multiculturalismo acompanham os debates sobre o pós-moder-
nismo e sobre os efeitos da pós-colonização na cena contemporânea, o que se verifica de forma 
mais evidente a partir dos anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. A globalização do capital e 
a circulação intensificada de informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de uniformi-
zar o planeta (como propalado por certas interpretações fatalistas), trazem consigo a afirmação 
de identidades locais e regionais, assim como a formação de sujeitos políticos que reivindicam, 
com base nas garantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-americanos), 
homossexuais, populações latino-americanas (“hispanos” ou chicanos) e migrantes em geral se 
fazem presentes como atores políticos valendo-se da marcação de diferenças de gênero, culturais 
e étnicas. A cultura torna-se instrumento de definição de políticas de inclusão social - as “políticas 
compensatórias” ou as “ações afirmativas” - que tomam os mais diversos setores da vida social. 
Cotas para as minorias, educação bilingue, programas de apoio aos grupos marginalizados, ações 
antirracistas e antidiscriminatórias são experimentadas em toda parte1. 
1http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3186
Figura 01 - Globalização Multicultural 
capítulo 1 7
Prof. Rafael Pires Rocha
Carga Horária | 15 horas
INTRODUÇÃO
 
“A ‘torre de Babel’ não configura apenas a multiplicidade irredutível das línguas, ela exibe um não-acabamento, a 
impossibilidade de completar, de totalizar, de saturar, de acabar qualquer coisa que seria da ordem da edificação, da 
construção arquitetural, do sistema e da arquitetônica. O que a multiplicidade de idiomas vai limitar não é apenas 
uma tradução “verdadeira”, uma entre expressão (entre expression) transparente e adequada, mas também uma 
ordem estrutural, uma coerência do constructum.
Jacques Derrida
Muito se tem debatido sobre a natureza precária da noção e do conceito já comuns no vocabu-
lário das ciências humanas, uma vez que esses dependem das mudanças verificadas no mundo, 
tanto no âmbito cultural quanto no político e no econômico. Como exemplo dessa transformação 
operada nas relações interculturais, o multiculturalismo passou a ser um dos alvos mais atingidos. 
Isso se deve, principalmente, ao esgotamento dos modelos de reconciliação e de aceitação de 
muitas culturas no interior da nação e à necessidade de substituição do conceito de diferença 
pelo de desigualdade, com vista a propiciar um sistema de troca que não fosse unilateral. Com 
a globalização tecnológica, quase todo o planeta entrou em interconexão simultânea, criando, 
assim, novas modalidades de diferenças e desigualdades. 
Diferentes, desiguais e desconectados refazem a trajetória dos estudos culturais, desloca conceitos 
e justifica a troca do termo multicultural pelo de intercultural, por admitir que o primeiro se pauta 
pela diversidade de culturas, “sublinhando sua diferença e propondo políticas relativas de respei-
to, que frequentemente reforçam a segregação”. O segundo termo, intercultural e globalizado, 
“remete à confrontação e ao entrelaçamento, àquilo que sucede quando os grupos entram em 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•	 Compreender	o	significado	do	multicul-
turalismo, percebendo as suas variações 
teóricas;
•	 	Analisar	o	multiculturalismo	dentro	da	
modernidade tardia;
•	 Identificar	 as	 formas	 de	 manifestação	
desse multiculturalismo, dentro dos 
mais diversos segmentos das socieda-
des.
INTRODUÇÃO AO 
MULTICULTURALISMO
capítulo 18
de contradições no seio do povo, entendidas 
como valores positivos no lugar de problemas, 
tais como falta de educação, cultura da pobre-
za etc. Ainda dentro do pensamento de John 
Beverley, “um novo projeto para ‘trocar a vida’ 
seria a expressão política deste reconhecimen-
to e da heterogeneidade e incomensurabilida-
de do social, sem sentir a necessidade de re-
solver as diferenças em uma lógica unitária e 
transculturadora”.
É comum ainda vincular o multiculturalismo a 
uma série de desdobramentos das minorias, 
que vão da emergência de grupos sociais até 
então invisíveis, como as culturas indígenas na 
América, aos grupos minoritários que, a partir 
dos anos 1970, começam a adquirir voz e a 
buscar maior visibilidade. Problematiza-se, por 
conseguinte, a dimensão do termo cultura, 
pela desconfiança de atitudes hegemônicas e 
estatais, dos gastos preceitos de universalida-
de e igualdade entre os povos e os cidadãos. 
O número de migrantes-multidões no mun-
do aumenta de forma considerável, transfor-
mando as metrópoles primeiro-mundistas em 
verdadeira babel de línguas e de etnias, modi-
ficando a geografia das cidades, pelo descen-
tramento contínuo dos lugares, antes distintos 
e controlados pela senha da inclusão e da ex-
clusão sociais.
O pensamento multiculturalista se inscreve 
igualmente combase na dissolução do modelo 
político do Estado-nação e da desconstrução 
de parâmetros iluministas, legados pela razão 
moderna. Questiona-se o poder estatal e en-
tra em declínio a hegemonia do pensamento 
ocidental, um dos responsáveis pela defesa de 
valores universais de cultura. A soberania das 
instituições políticas é substituída por um con-
junto mais amplo de instituições e de forças 
sociais. Com a produção de novas tecnologias, 
da informática e do inevitável crescimento do 
poder do mercado, se dimensionam as noções 
de tempo e espaço, assim como das múltiplas 
feições assumidas pela modernidade. A simul-
taneidade temporal substitui o tempo teleo-
lógico da modernidade, encurtando a distân-
cia entre culturas e deslocando pontos fixos 
e imutáveis. Cria-se a ilusão de ser o mundo 
uma grande tela de TV, na qual convivem, de 
forma harmoniosa ou não, uma infinidade de 
povos, um sem número de olhares estranhos e 
relações e trocas. Ambos os termos implicam 
dois modos de produção do social: multicultu-
ralidade supõe aceitação do heterogêneo; in-
terculturalidade implica que os diferentes são 
o que são, em relações de negociação, conflito 
e empréstimos recíprocos” (CANCLINI, 2005).
Embora esteja de acordo com a proposta de 
Canclini, ao entender que o multiculturalismo 
é uma ficção estatal tranquilizadora, enquanto 
o interculturalismo é a proposta de diversida-
de projetada não do Estado, mas dos próprios 
atores dos movimentos sociais, retomo o ra-
ciocínio de John Beverley, para quem o termo 
multiculturalismo pode ser também lido se-
gundo o viés do interculturalismo. O que se 
conclui é a importância de considerar que os 
conceitos podem também ser reciclados e re-
vistos com base nas diferentes posições dos te-
óricos, sem a preocupação meio obsessiva de 
criar expressões que substituem outras. Acres-
centaria que Beverley postula, dentro de sua 
posição de seguidor da teoria subalterna, que 
“A possibilidade radical do multiculturalismo está es-
tritamente por insistência constitutiva em igualdade 
social. Para dizer isso em outras palavras, o subor-
dinado é mais ênfase na desigualdade do que na 
diferença, mas também pretende verificar como a 
diferença é vivida como a desigualdade.” (BEVERLEY)
Nesse sentido, ambos defendem os mesmos 
princípios. Acrescentaria que as categorias re-
lativas ao povo e à multidão, seja conforme te-
orização de Ernesto Laclau, La razón populista 
, seja de Paolo Virno, tornam-se imprescindí-
veis para o entendimento da atualização des-
sa desigualdade no âmbito do próprio sujeito, 
visto como internamente fissurado e hetero-
gêneo. Trata-se de dimensionar a proliferação 
capítulo 1 9
como assim se expressou um deles. Dotados de 
um pensamento nômade e de experiência vital 
em permanente deslocamento, esses autores 
se apropriam da teorização aprendida pelos 
discursos hegemônicos para desconstruí-los. 
A maneira pela qual se rompe com teorias da 
modernidade se justifica pela emergência no 
entendimento de novas propostas que talvez 
contribuam para nortear as indagações do pre-
sente. Ao termo pós-modernidade, de caráter 
geral e pertencente ao universo anglo-saxão, 
são apresentadas outras nomenclaturas, mais 
condizentes com o pensamento e a realidade 
de cada cultura enfocada. A pós-modernida-
de, em toda a sua dimensão e abrangência, 
não poderá ser analisada sem a reflexão das 
várias vertentes que compõem o pensamento 
moderno. Os conceitos legados pelas culturas 
hegemônicas deverão ser revisitados e acom-
panhar as transformações políticas e culturais 
do mundo globalizado.
No próprio continente as ocorrências culturais 
e artísticas não se realizam de modo homo-
gêneo. Jesus Martín-Barbero, teórico espanhol 
radicado na Colômbia, introduz, nos estudos 
da mídia, uma reflexão original – a moderni-
dade descentrada – que responde pelas várias 
temporalidades existentes na recepção das 
culturas hegemônicas por parte das periféri-
cas. Por isso, a referência às modernidades se 
faz no plural, pela existência de outro estatuto 
conceitual. O raciocínio pautado pelo princípio 
da homogeneidade é substituído pelo da he-
terogeneidade. São alternativas de definição a 
respeito do termo pós-moderno, ao se pensar 
na atual situação da cultura na América Latina. 
A noção de atraso, por exemplo, se desvincula 
do teor negativo e se impõe como peça inte-
grante da defasagem temporal, do tardio, do 
sinal de mais das regiões periféricas. A experi-
espantados. No âmbito das relações culturais, 
o enfoque se torna mais transnacional que na-
cional, não só pelo enfraquecimento da ordem 
estatal, como pelo fortalecimento de uma po-
lítica de efeitos. As desigualdades sociais au-
mentam, embora a hegemonia do econômico 
se revista do discurso igualitário entre os po-
vos.
A tolerância racial, o respeito às diferenças, o 
empenho pelo fim de preconceito entre os pa-
res, a solidariedade como possível saída para 
os embates das crises pelas quais passam os 
países são argumentos utilizados pelo discurso 
político como forma de maquiar o multicultu-
ralismo mediante o lema da diferença. O plu-
ralismo exige condições rígidas de convivência, 
negociações e diálogos.
No mesmo diapasão, a equivalência entre 
identidade e nação é, segundo Jesús Martín-
Barbero, no ensaio “Globalização e Multicultu-
ralismo”, o que a multiculturalidade da socie-
dade atual latino-americana faz desmoronar. 
Por um lado, a globalização diminui o peso 
dos territórios e dos acontecimentos funda-
dores que essencializavam o nacional, e, por 
outro, a revalorização do local redefine a ideia 
mesma de nação. Não se pode pensar, portan-
to, que a identidade seja a expressão de uma 
só cultura homogênea. O monolinguismo e a 
uniterritorialidade os quais a primeira moder-
nização reassumiu da colônia, esconderam a 
densa multiculturalidade de que está feito o 
latino-americano e o arbitrário das demarca-
ções que traçaram o nacional.
1. MODERNIDADES 
 TARDIAS
O modelo ocidental e eurocêntrico das teorias 
sobre a modernidade foi, por muito tempo, 
aceito como único, sem que sua hegemonia 
fosse contestada. Outras experiências da mo-
dernidade deverão ser observadas, conside-
rando não só o descompasso temporal de sua 
atualização pelas distintas culturas, como as 
singularidades múltiplas e divergentes dessa 
vivência dentro das próprias culturas locais. 
Pensadores do considerado terceiro mundo 
têm se empenhado em apontar algumas possí-
veis saídas para sair ou entrar na modernidade, 
capítulo 110
ência simultânea do tempo não significa que a 
realidade dos países periféricos seja similar aos 
outros, o importante é não pensarmos segun-
do parâmetros causalistas e progressistas.
Na perspectiva de Martín-Barbero, a simulta-
neidade temporal aponta diferenças. E não se 
pauta por semelhanças que poderiam colocar 
a poética sincrônica imune a conotações de 
ordem contextual e histórica. Outras denomi-
nações surgem como as modernidades tardias, 
com Fredric Jameson (1996), que trabalha 
com o capitalismo tardio, e Stuart Hall (1998), 
com as modernidades alternativas e o conceito 
de modernidades tardias. Outros preferem de-
nominá-las de modernidades periféricas, mo-
dernidades livres (at large), segundo o indiano 
Arjun Appadurai, em seu livro Modernity at 
large, ou, como Anthony Giddens, moderni-
dades reflexivas. O lugar dos exilados indianos 
nos Estados Unidos é analisado por Appadu-
rai para explicar o conceito de modernidades 
livres, ao serem construídas comunidades 
imaginadas que se identificam pelos meios de 
comunicação de massa, como o rádio, a tele-
visão, o cinema, sem passar pela experiência 
das modernidades concebidas pelos órgãos 
oficiais. A passagem referente ao conceito de 
modernidade descentrada em Martín-Barbero 
(2002) é a que se segue:
“O inacabado projeto da modernidade não pode, 
então, separar-se tão nitidamente da razão que ins-
pira a modernização como pretende Habermas (O 
Discurso Filosófico). Daí que sua crise leva paraa pe-
riferia elementos libertadores. Assim, a possibilidade 
de afirmar a “não-simultaneidade do simultâneo” 
(Rincón) - a existência em descompasso com a mo-
dernidade que não são lixo puro, mas o anacronis-
mo (no sentido essa noção tem para R. Williams em 
Marxismo e Literatura 144) não integrados de outra 
economia – que, ao perturbar a ordem sequencial do 
progresso modernizador, libera nossa ralação com o 
passado, com nossos diferentes passados, fazendo 
do espaço o lugar de onde se entrecruzam diversos 
tempos históricos, e pemitindo-nos, assim, recombi-
nar as memórias e reapropriarmos criativamente de 
uma modernindade descentralizada.”
Segundo o teórico, trata-se de uma “descon-
tinuidade de modernidade não-contemporâ-
nea”, em que a não contemporaneidade deve 
ser claramente distinta da ideia de atraso cons-
titutivo, de atraso convertido em chave expli-
cativa da diferença cultural. Seria uma ideia 
que se manifesta em duas versões. A primei-
ra, apontando que a originalidade dos países 
latino-americanos, e da América Latina intei-
ra, dependeu de fatores que se desvinculam 
da lógica do desenvolvimento capitalista. A 
segunda, entendendo a modernização como 
a recuperação do tempo perdido e, portanto, 
identificando o desenvolvimento com o aban-
dono de identidades locais para nos tornarmos 
modernos. 
Essa descontinuidade estaria situada em outra 
chave, ao permitir que se rompa “tanto com 
um modelo a-histórico e culturalista quanto 
com o paradigma da racionalidade acumula-
tiva em sua pretensão de unificar e subsumir 
num só tempo as diferentes temporalidades 
sócio-históricas”.
RESUMO
Neste capítulo, foi abordado o debate acerca 
do conceito de multiculturalismo e a comum 
vinculação do multiculturalismo a uma série 
de desdobramento das minorias, que vão da 
emergência de grupos sociais até então invi-
síveis, como as culturas indígenas na Améri-
ca, aos grupos minoritários que, a partir dos 
anos 1970, começam a adquirir voz e a buscar 
maior visibilidade.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder so-
berano e a vida nua. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2002.
CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais 
e desconectados. Trad. Luiz Sergio
Henriques. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005.
capítulo 1 11
DERRIDA, Jacques. Torres de Babel. Trad. Júnia 
Barreto. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2002.
GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; SCOTT, Lash. 
Modernização reflexiva: Política,
tradição e estética na ordem social moderna. 
São Paulo: Editora UNESP, 1997.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-mo-
dernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
JAMESON, Fredric. Pós-modernismo – a lógica 
cultural do capitalismo tardio. Trad.
Maria Elisa Cevasco. São Paulo: Ática, 1996.
LIVROS
OLIVEIRA JUNIOR, José Alcebíades de. Faces Do 
Multiculturalismo. São Paulo: Editora: EDIURI, 
2008.
D’ADESKY, Jacques. Pluralismo Étnico e Multicul-
turalismo: Racismo E Anti-Racismos No Brasil. São 
Paulo: PALLAS, 2001.
SITES
http://www.fundaj.gov.br/tpd/107.html
Considerando o que estudamos neste 1º capítulo, 
responda: 
1. Trace um paralelo entre multiculturalismo e 
interculturalismo.
 
2. Discorra sobre o modelo ocidental eurocên-
trico de cultura e o seu reflexo para o mundo 
ocidental.
 
3. Descreva o problema da homogeneidade 
cultural sobre o mundo globalizado, funda-
mentando sua resposta.
 
4. A modernidade tardia, segundo os teóricos, 
é uma realidade latino-americana. Como 
essa comunidade latino-americana procura 
se inserir nessa modernidade? Explique. 
Saiba Mais:
Atividades:
capítulo 2 13
Prof. Rafael Pires Rocha
Carga Horária | 15 horas
INTRODUÇÃO
 
O que significa o multiculturalismo? Em que medida ele é percebido de forma homogeneizada, 
ignorando-se suas abordagens plurais? Como se definem identidade e diferença, universalismo 
e relativismo, em suas diversas visões? Existiria alguma abordagem multicultural que superasse 
novas formas de universalismos, como aqueles ligados à ‘universalização dos particularismos’? 
Seria o multiculturalismo um campo de conhecimento ou apenas uma visão prática e política 
sobre formas de se lidar com as diferenças? Que desdobramentos no ensino podem assumir as 
visões multiculturais?
O presente artigo, longe de fornecer respostas definitivas às questões acima, pretende levantar 
reflexões que possam problematizar mitos e visões essencializadas do multiculturalismo, buscan-
do traçar um breve panorama de seus dilemas, desafios e complexidades, focalizando particu-
larmente suas articulações com a educação. É importante observar que se cobra justamente da 
educação a formação de gerações nos valores de tolerância, de cidadania crítica, de valorização 
da pluralidade cultural, de flexibilidade e de abertura para novas possibilidades de construção de 
conhecimento e de solução de problemas.
O argumento que defendemos é que, se o multiculturalismo pretende contribuir para uma edu-
cação valorizadora da diversidade cultural e questionadora das diferenças, deve superar posturas 
dogmáticas, que tendam a congelar as identidades e desconhecer as diferenças no interior das 
próprias diferenças. Não procuramos fornecer receitas – mesmo porque o cerne do multicultura-
lismo é o questionamento sobre verdades únicas e absolutas, narrativas mestras – mas, sim, bus-
camos levantar questões e reflexões sobre possíveis olhares teóricos e caminhos de pesquisa para 
tentar viabilizar uma educação que questione o modelo único, branco, masculino, heterossexual 
e ocidental, que embasa discursos curriculares monoculturais, dominantes, sem, no entanto, cair 
em dogmatismos e em radicalismos que continuem a separar eu/outro, normalidade-diferença. 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•	 Compreender	 as	 abordagens	 teóricas	
acerca do multiculturalismo;
•	 Analisar	 o	 binômio	 identidade	 e	 dife-
rença nas relações entre os povos; 
•	 Perceber	 as	 implicações	 teóricas	 do	
multiculturalismo nas pesquisas e no 
esnsino realizadas nos tempos atuais. 
MULTICULTURALISMO 
E SEUS DILEMAS: UM 
ENFRENTAMENTO 
TEÓRICO
capítulo 214
1. PENSANDO 
 MULTICULTURALMENTE 
 SOBRE EDUCAÇÃO: 
 SIGNIFICADOS E 
 ABORDAGENS
O multiculturalismo é um termo que tem sido 
empregado com frequência, porém com di-
ferentes significados. Dessa forma, seus críti-
cos e defensores travam, muitas vezes, lutas e 
discussões em torno de um conceito que, na 
verdade, pode estar sendo entendido de for-
ma diferente para os envolvidos em tais dis-
putas. A começar pelo nome: alguns apontam 
que o interculturalismo seria um termo mais 
apropriado, na medida em que o prefixo ‘in-
ter’ daria uma visão de culturas em relação, 
ao passo que o termo multiculturalismo estaria 
significando o mero fato de uma sociedade ser 
composta de múltiplas culturas, sem necessa-
riamente trazer o dinamismo dos choques, re-
lações e conflitos advindos de suas interações.
Além dos termos que o definem, as perspec-
tivas que informam o multiculturalismo tam-
bém variam conforme temos apontado, desde 
uma visão mais folclórica ou liberal (valoriza-
dora da pluralidade cultural, porém reduzindo 
as estratégias de trabalho com ela a aspectos 
exóticos, folclóricos e pontuais, como receitas 
típicas, festas, dias especiais – dia do Índio, por 
exemplo), até perspectivas mais críticas (tam-
bém chamadas de multiculturalismo crítico 
ou perspectiva intercultural crítica, em que o 
questionamento da construção dos preconcei-
tos e das diferenças é o foco do trabalho). 
Nesse sentido, críticas que atribuem ao mul-
ticulturalismo à exaltação da pluralidade cul-
tural, mas o acusam de se omitir com relação 
às desigualdades estão, na verdade, sendo 
dirigidas a um sentido de multiculturalismo – 
folclórico – que, certamente, não é o único. O 
multiculturalismo crítico ou perspectiva inter-
cultural crítica busca articular as visões folclóri-
cas a discussões sobre as relações desiguais de 
poder entre as culturas diversas, questionando 
a construção histórica do preconceito, da dis-
criminação,da hierarquização cultural. Entre-
tanto, o multiculturalismo crítico também tem 
sido tensionado por posturas pós-modernas e 
pós-coloniais, que apontam para a necessida-
de de se ir além do desafio a preconceitos e 
buscar identificar, na própria linguagem e na 
construção dos discursos, a forma como as di-
ferenças são construídas. Isso porque a visão 
pós-moderna, grosso modo, focaliza os pro-
cessos pelos quais os discursos não só repre-
sentam a realidade, mas são constitutivos dela.
Isso significa que, para além das estratégias e 
visões do multiculturalismo crítico, a perspec-
tiva pós-colonial e pós-moderna do multicul-
turalismo busca “descolonizar” os discursos, 
identificando expressões preconceituosas (me-
táforas e imagens discriminatórias), bem como 
marcas e construções da linguagem que este-
jam impregnadas por uma perspectiva ociden-
tal, colonial, branca, masculina etc.
É importante assinalar que as diferenças entre 
as abordagens multiculturais acima relaciona-
das remetem, em última análise, a questões de 
fundo quanto: a) à forma como a identidade 
e a diferença são concebidas; b) à relação en-
tre universalismo e relativismo na abordagem 
dada ao real c) à compreensão do multicultu-
ralismo como campo de estudos de caráter hí-
brido. Analisaremos, a seguir, essas questões.
2. IDENTIDADE 
 E DIFERENÇA
Ao lidar com o múltiplo, o diverso e o plural, o 
multiculturalismo encara as identidades plurais 
como a base de constituição das sociedades. 
Leva em consideração a pluralidade de raças, 
gêneros, religiões, saberes, culturas, lingua-
gens e outras características identitárias para 
sugerir que a sociedade é múltipla e que tal 
multiplicidade deve ser incorporada em currí-
culos e em práticas pedagógicas. 
capítulo 2 15
No entanto, em uma visão essencializada, a 
identidade é vista como essência acabada. Se 
a abordagem multicultural é construída so-
bre essa suposição, ainda que valorize a plu-
ralidade de identidades, irá visualizá-las como 
entidades estanques: ‘o negro‘, ‘o índio’, ‘a 
mulher’, ‘o deficiente’ e assim por diante. É 
o caso, por exemplo, das perspectivas multi-
culturais folclóricas e daquelas que se baseiam 
em certas vertentes do multiculturalismo críti-
co, que ainda não incorporaram o caráter de 
construção das identidades nem se voltaram 
ao papel dos discursos nessa construção.
Nessa perspectiva, ainda que questionem pre-
conceitos e que trabalhem em prol de uma 
sociedade mais justa e menos discriminatória, 
superando o mero ‘exotismo’ que caracteriza 
o multiculturalismo folclórico, as estratégias 
multiculturais críticas ainda estariam traba-
lhando com a ideia uniforme e acabada das 
identidades, sem considerar o dinamismo, o 
hibridismo, as sínteses culturais e o movimento 
constante que resulta em novas identidades. 
É o caso, por exemplo, em que se decide de-
senvolver estratégias para desafiar o precon-
ceito contra o índio, mas não considera a com-
plexidade cultural das nações indígenas, com 
suas linguagens múltiplas, seus significados 
plurais etc. Ainda que a intenção seja crítica, a 
homogeneidade da categoria ‘índio’ assenta-
se em uma visão da identidade como ‘essência 
acabada’, o que pode resultar em um congela-
mento das identidades e das diferenças.
Por outro lado, o multiculturalismo crítico pós-
modernizado ou pós-colonial irá focalizar não 
só a diversidade cultural e identitária, mas tam-
bém os processos discursivos pelos quais as 
identidades são formadas, em suas múltiplas 
camadas. Dessa maneira, tal visão de multicul-
turalismo não se limita a constatar a plurali-
dade de identidades e os preconceitos cons-
truídos nas relações de poder entre elas. Vai, 
isso sim, analisar criticamente os discursos que 
‘fabricam’ essas identidades e essas diferenças, 
buscando interpretar a identidade como uma 
construção, ela própria múltipla e plural. Des-
sa maneira, a própria identidade é objeto de 
análise do multiculturalismo pós-moderno ou 
pós-colonial. A hibridização, ou hibridismo, é 
conceito central dessa perspectiva multicultu-
ral: a construção da identidade implica que as 
múltiplas camadas que a perfazem a tornem 
híbrida, isto é, formada na multiplicidade de 
marcas, construídas nos choques e entrecho-
ques culturais.
Souza Santos (2001) alerta que o multicultu-
ralismo crítico pós-colonial discute as “diferen-
ças dentro das diferenças”, recusando a ideia 
de que as identidades plurais que constituem 
a sociedade sejam estáticas, unas, indivisíveis. 
De fato, nessa visão, não haveria tipos identi-
tários ‘puros’: as sínteses culturais fazem que 
todos sejamos constituídos no hibridismo. Por 
exemplo, somos mulheres, negras, ocidentais e 
afrodescendentes. Em certas ocasiões, a mar-
ca identitária negra pode prevalecer, mas em 
outras é a de gênero e assim por diante. Gon-
çalves & Silva (2000), apontam, nessa linha, 
para a necessidade de os movimentos negros 
lidarem com a diversidade em seu interior, di-
versidade esta marcada ora pela presença das 
mulheres negras em uma situação bastante di-
ferenciada, ora por jovens que trazem a marca 
de seus próprios movimentos, de seus grupos 
de estilo e outros.
Bauman (2005, p. 17), por sua vez, é eloquen-
te ao considerar que o “‘pertencimento’ e a 
‘identidade’ não têm a solidez de uma rocha, 
não são garantidos para toda a vida, são bas-
tante negociáveis e revogáveis”. O referido au-
tor ilustra, por meio de sua própria biografia, 
sua identidade híbrida, recordando Agnes Hel-
ler quando afirmava que “sendo mulher, hún-
gara, judia, norte-americana e filósofa, estava 
sobrecarregada de identidades demais para 
uma só pessoa” (ibid., p. 19). Tais considera-
ções podem ser aplicadas a grupos identitários 
diversos, evitando que se caia no erro de con-
gelar e de homogeneizar identidades e dife-
renças. Temos proposto três níveis pelos quais 
capítulo 216
as identidades podem ser trabalhadas: identi-
dades individuais, coletivas e organizacionais. 
No primeiro caso, trata-se de se perceber as 
hibridizações presentes nas formas pelas quais 
as identidades são produzidas, nos indivíduos. 
No segundo caso, uma suspensão temporária 
da construção identitária é realizada em prol 
do reconhecimento de algum marcador mes-
tre que confere o sentimento de pertença das 
identidades a grupos coletivos específicos, de 
modo a garantir seus direitos à representação 
nos espaços sociais e culturais. É o caso de 
identidades negras, homossexuais, indígenas, 
de mulheres e assim por diante. O desafio, 
nesse caso, é o de compreender a redução da 
identidade para fins definidos, de modo que 
não se dogmatize ou se congele a identidade 
valendo-se de um marcador específico, igno-
rando sua mobilidade e hibridização, como 
dito anteriormente.
Finalmente, argumentamos que as identida-
des organizacionais ou institucionais – com-
preendidas como aquelas que se caracterizam 
pela missão específica das organizações e das 
instituições, em articulação com a pluralidade 
cultural, étnica, racial e outras de seus atores, 
na busca de um clima institucional positivo, 
aberto à diversidade cultural e desafiador de 
pensamentos únicos – é aspecto central no es-
tudo do multiculturalismo nos diversos espa-
ços sociais, incluindo a escola e a universidade.
O cerne do multiculturalismo crítico, em sua 
versão pós-colonial é, portanto, o desafio à 
naturalidade com que normas e diferenças se 
apresentam na sociedade. A desconstrução 
dessas normas e diferenças, nos discursos e nas 
linguagens, implica a necessidade de projetos 
que possam ir além de denúncias e que inclu-
am estratégias no sentido de colocar ‘a nu’ o 
caráter de construção dessas noções, de for-
ma a desafiá-las, rumo à construção de iden-
tidades individuais, coletivas e organizacionais 
abertas à diversidade cultural e desafiadoras 
de preconceitos e dogmatismos que congelam 
aqueles percebidos como ‘os outros’.
3. UNIVERSALISMO 
 E RELATIVISMO
Uma outra questão que mobiliza as diferen-
tes perspectivas multiculturaisé a tensão uni-
versalismo x relativismo. Em linhas gerais, o 
universalismo implica que há um conjunto de 
valores que o indivíduo acredita serem univer-
sais, ou seja: valores independentes das cultu-
ras que constituem o tecido social, portanto 
universais, compartilhados por toda a huma-
nidade. Por outro lado, no outro extremo do 
espectro, o relativismo remete a uma corren-
te do pensamento que não crê na existência 
de um real, universalmente apreensível, ou de 
uma verdade absoluta, que seja independente 
dos valores culturais e visões de mundo que a 
constroem. 
A perspectiva universalista, afirma que certos 
princípios jurídicos e éticos devem ser válidos 
para toda a sociedade, não importando os 
valores culturais plurais dos grupos identitá-
rios que a compõem. Em outra perspectiva, é 
assinalada que não há possibilidade de uma 
fundamentação universal que possa balizar 
atitudes com relação às identidades diversas: 
para ele, tal perspectiva universalizada implica 
o silenciamento de certas vozes e culturas, em 
nome de uma ‘pseudo’ universalidade que, na 
verdade, estaria construindo escalas nas quais 
se classificam como superiores aqueles valores 
correspondentes aos das classes hegemônicas 
na sociedade.
No caso do multiculturalismo, alguns auto-
res, tais como Bourdieu (1999), expressam o 
receio de que, sob o pretexto de defesa de 
identidades marginalizadas e, em muitos ca-
sos, da visão relativista, tal visão poderia estar 
criando novos universalismos e novos essen-
cialismos identitários. De fato, ao se referir às 
lutas identitárias, Bourdieu (1999) aponta que, 
para se opor ao que ele denomina de “univer-
salismo hipócrita”, os movimentos de subver-
são simbólica ligados a identidades coletivas 
capítulo 2 17
(compreendidos como sendo multiculturais), 
podem terminar por construir “guetizações” 
e “universalizar os particularismos” (p. 148). 
De modo a superar esse perigo, o referido au-
tor propõe que o potencial subversivo do que 
ele denomina de “movimentos particularistas” 
(referindo-se, como exemplo, aos movimentos 
homossexual e feminista), coloquem “a serviço 
do universal, as vantagens particulares que [os] 
distinguem dos outros grupos estigmatizados” 
(p. 149).
Acreditamos que a proposta do referido au-
tor, ainda que não solucione o artificialismo 
de denominar os ‘universal’ conjuntos de va-
lores que são, necessariamente, contingentes 
e referenciados a grupos de poder, tem o po-
tencial de reforçar a tese do multiculturalismo 
pós-colonial e da hibridização identitária que 
defendemos anteriormente. De fato, o cerne 
da questão da crítica ao multiculturalismo é o 
de que ele é percebido muitas vezes de forma 
unívoca, quando, na verdade, como demons-
tramos, trata-se de conceito polissêmico e po-
lifônico por excelência. Assim, o conceito mais 
alargado de identidade que propomos, bem 
como sua visualização no contexto multicul-
tural pós-colonial, traz, acreditamos, novo fô-
lego a visões multiculturais, superando limites 
essencializantes em que o multiculturalismo 
pode recair. Isso porque tais visões justa-
mente questionam a essencialização das dife-
renças, propondo formas pelas quais as lutas 
de grupos identitários possam ser articuladas 
à busca de desafio a preconceitos e a congela-
mento identitário, de forma ampla.
Do mesmo modo, perceber que o relativismo 
total e a essencialização das diferenças não são 
traços de todas as visões multiculturalistas é 
importante, como temos procurado demons-
trar. No caso da tensão entre universalismo e 
relativismo, ou entre universalismo e particula-
rismo/diferencialismo, como alguns preferem, 
é também abordada por fundamentos de pro-
postas anti-racistas.
No caso do antirracismo que é proposto em 
uma perspectiva universalista, trata-se de pro-
mover ‘respeito incondicional pelo direito à di-
ferença’, como um postulado universal. Assim, 
esse tipo de postura antirracista compreende o 
antirracismo como exigência da humanidade 
comum. O referido autor aponta que, ao falar 
em nome da humanidade e de um direito uni-
versal à diferença, tal perspectiva universalista 
antirracista reivindica, na verdade, o direito à 
semelhança, apagando as identidades coleti-
vas que são vítimas específicas do racismo. Já 
em outro extremo, o antirracismo particula-
rista absolutizaria “a diferenciação, a separa-
ção, a expulsão, até mesmo a eliminação dos 
grupos diferentes, estranhos, que ameaçam a 
identidade comunitária própria”(ibid., 26).
Em nossa visão multicultural, acreditamos que, 
mais do que pólos opostos, o que existe é uma 
relação tensa, dialética, que expressa, na ver-
dade, um continuum entre o que se conven-
cionou denominar de universalismo e relativis-
mo. Tal visão avança no sentido de se perceber 
o caráter de construção da universalidade, que 
é, na verdade, sempre produzida por determi-
nados grupos e, ao mesmo tempo, permite um 
instrumental que possa combater o relativismo 
exacerbado – que impede, no limite, que se 
estabeleçam padrões pelos quais se avança na 
produção do conhecimento multicultural. 
Concordamos com a teoria que, quando 
aponta para superar a dicotomia universalis-
mo - relativismo, devemos trabalhar com a 
tensão entre ambas as perspectivas, por meio 
de diálogos que busquem caminhos que tra-
duzam estratégias viabilizadoras de lógicas de 
negociação, de diálogo e de argumentação 
entre culturas, de modo a superar extremis-
mos e enfrentar o racismo de forma efetiva e 
consistente. Acima de tudo, defendemos que 
as lutas das identidades individuais, coletivas 
e institucionais, em seus particularismos, se-
jam, acima de tudo, ‘portas de entrada’ para 
a compreensão das formas reais e simbólicas 
pelas quais são construídas diferenças, invisibi-
lidades identitárias e preconceitos, de modo a 
confrontá-los e superá-los.
capítulo 218
4. MULTICULTURALIS-
 MO: PRÁTICA, 
 POLÍTICA OU TEORIA?
A polissemia, as visões epistemológicas dife-
renciadas e as interpretações plurais no que 
tange ao universalismo e relativismo e às ca-
tegorias identidade e diferença, conforme ex-
posto anteriormente, permitem vislumbrar a 
complexidade do termo multiculturalismo. A 
tais dilemas acrescenta-se o questionamento 
sobre o que seria o multiculturalismo – prática, 
política, ou enfoque teórico? 
Mais uma vez, não se trata de produzir, no 
escopo dessa seção, resposta que se pretenda 
definitiva à questão. Reportamo-nos a Char-
lot (2006), que defende o caráter “mestiço” 
da educação como teoria, para argumentar-
mos que o multiculturalismo constitui-se, para 
além de suas facetas práticas e políticas, tam-
bém em campo teórico híbrido ou ‘mestiço’, 
definido por Charlot (2006) como “um campo 
de saber... em que se cruzam, se interpelam 
e, por vezes, se fecundam, de um lado, co-
nhecimentos, conceitos e métodos originários 
de campos disciplinares múltiplos e, de outro 
lado, saberes, práticas, fins éticos e políticos. 
O que [o] define... é essa mestiçagem, essa 
circulação” (p. 9). Tal visão, como argumenta 
o referido autor, certamente vai de encontro 
ao que ele denomina de “panelinhas teóricas”, 
mais interessadas em assegurar posições de 
poder institucionais travestidas como defesa 
de cânones científicos.
Defendemos, assim, que os problemas que 
se apresentam, particularmente na área edu-
cacional, no mundo complexo e contemporâ-
neo, não podem reduzir-se a olhares que se 
fecham em campos disciplinares de fronteiras 
rígidas, mas, ao contrário, exigem respostas 
elas próprias complexas, mestiças, híbridas, 
que atravessam tais fronteiras, construindo 
redes que desafiam noções essencialistas de 
cientificidade. No caso do multiculturalismo, 
em que o objeto por excelência é o desafio a 
preconceitos, a visões essencializadas e homo-
geneizadas das identidades e das diferenças e 
a discursos que as constroem, no âmbito das 
relações sociais e educacionais, certamente 
sínteses criativas com base em olhares plurais 
só têm a contribuir no caminho da constru-ção de alternativas educacionais propiciadoras 
da formação de gerações abertas à diversida-
de cultural, e desafiadoras de congelamentos 
identitários e preconceitos.
5. IMPLICAÇÕES 
 MULTICULTURAIS NO 
 ENSINO E NA 
 PESQUISA
Embora a questão abordada seja complexa e 
extrapole os limites do presente texto, é im-
portante ter em mente que os desafios do 
multiculturalismo, tanto em termos da sua 
compreensão como no campo teórico híbrido, 
como, também, com relação à construção das 
identidades e das diferenças e às formas pelas 
quais a tensão universalismo e particularismo 
é enfrentada, podem ter implicações diversas 
sobre currículos e posturas multiculturais em 
educação.
Evidentemente, não se pode falar em perspec-
tivas ‘puras’: as abordagens discutidas ante-
riormente vêm, geralmente, imbricadas e são, 
elas próprias, hibridizadas. O importante, no 
entanto, é que se tenha consciência dos tipos 
de perspectivas pelas quais o multiculturalismo 
pode ser compreendido, bem como os objeti-
vos multiculturais que se deseja alcançar. Ao 
mesmo tempo, nada impede que o professor 
multiculturalmente comprometido faça uso 
de estratégias plurais em suas práticas, desde 
aquelas vinculadas a perspectivas mais folcló-
ricas àquelas associadas a perspectivas mais 
críticas do multiculturalismo.
capítulo 2 19
Argumenta-se que, informando tais opções, 
deve haver um projeto mais amplo de multi-
culturalismo, no qual o professor perceba os 
pressupostos e implicações desse tipo de tra-
balho e as finalidades mais amplas que deseja 
alcançar: trata-se apenas de conhecer trajes, 
comidas e festas típicas? Ou esse tipo de ativi-
dade será um meio para se atingir outros níveis 
de multiculturalismo, questionadores das dife-
renças, dos preconceitos e dos racismos? Se 
essa última é a opção, o professor estará utili-
zando estratégias e caminhos plurais, cônscio 
de que tais caminhos fazem parte de uma pro-
posta de cidadania crítica, democrática e não 
apenas de apreciação da riqueza cultural.
Podemos exemplificar o caso de um profes-
sor que deseja trabalhar em uma perspectiva 
multicultural crítica pós-modernizada ou pós-
colonial. Nesse caso, uma ideia de atividade 
seria, por exemplo, propor tarefas que exijam 
crítica cultural, em que os alunos tentem iden-
tificar vozes silenciadas e/ou estereotipadas, 
em livros didáticos e outros materiais. Outras 
atividades são propostas por autores incluídos 
em estudo organizado por Trindade & Santos 
(1999). Alguns autores sugerem atividades tais 
como: pedir que meninos e meninas busquem 
a definição de mulher, de negro, de judeu e de 
outras identidades marginalizadas, no dicioná-
rio, vendo estereótipos e/ou possibilidades de 
valorização dessas identidades aí presentes.
Após (ou concomitantemente a) essas ativida-
des de cunho multicultural crítico – que enfa-
tizam as identidades coletivas de raça, gênero, 
etnia e outras silenciadas e marginalizadas – 
esse mesmo professor deseja ir além, de for-
ma a sensibilizar os alunos para a hibridiza-
ção identitária, para as diferenças dentro das 
diferenças, de forma a não dar uma ideia de 
homogeneidade e congelamento identitário 
em torno do ‘negro’, do ‘índio’, da ‘mulher’ e 
outras identidades. Nesse caso, dentro de sua 
perspectiva multicultural crítica pós-colonial, 
poderia buscar outras atividades, que dirijam a 
atenção dos alunos a aspectos que fazem par-
te da construção de suas próprias identidades. 
Dentre algumas estratégias, uma, por exem-
plo, foi desenvolvida por um professor que 
requisitava que os alunos construíssem uma 
‘pizza’ de papel, colocando, nas fatias, influ-
ências, fatores e marcas identitárias que con-
sideravam centrais para a construção de suas 
identidades. Tal atividade era compartilhada 
no grupo, discutindo-se as camadas múltiplas 
que perfazem as identidades e sensibilizando-
se os alunos, dessa forma, para a hibridização 
nas suas próprias construções identitárias. 
Em outra perspectiva, situações envolvendo 
racismos e outras discriminações podem ser 
apresentadas para discussões, levantando-se 
questões que desafiem qualquer congelamen-
to identitário tanto das identidades oprimidas 
quanto das próprias identidades opressoras. 
Assim, por exemplo, questionar ondas de 
anti-islamismo, bem como de antissemitismo 
e antiamericanismo, pode ser um importante 
caminho, particularmente em aulas de história 
e outras em que os assuntos que têm assolado 
o mundo sejam trazidos à tona. 
O multiculturalismo crítico pós-modernizado 
ou pós-colonial traz, como mote, o compro-
misso com a desconstrução dos discursos que, 
embora comprometidos com a justiça e o de-
safio a preconceitos, ainda permanecem con-
gelando identidades e demonizando o ‘outro’. 
Ideias referentes à avaliação da aprendizagem 
e à avaliação institucional multiculturalmente 
orientada, podem servir de inspiração para ati-
vidades avaliativas, levando em conta a diversi-
dade cultural e o desafio a preconceitos.
Da mesma forma, sensibilizar alunos para for-
mas plurais de dar significado ao mundo, se-
gundo percepções culturais diversificadas, não 
significa cair em um vale-tudo, um relativismo 
total em que quaisquer valores sejam aceitos 
de forma a-crítica. Conforme argumentamos, 
a perspectiva multicultural que abraçamos 
implica que um diálogo seja estabelecido en-
tre valores éticos, humanos de preservação 
da vida e de respeito à existência do ‘outro’ e 
aqueles valores plurais que são particulares a 
grupos e identidades específicas.
capítulo 220
A partir do momento em que tais valores im-
plicam a eliminação do outro, real ou sim-
bólica, não podem ser aceitos. O professor 
poderia trabalhar essas questões de forma a 
conseguir um consenso a-posteriori, isto é: por 
intermédio do diálogo, das discussões, levar 
à compreensão de um vocabulário ético que 
possa impregnar a apreciação de valores de 
povos e grupos identitários plurais, sem que 
se incentive a aceitação de práticas cruéis, vol-
tadas à eliminação da vida. Significa, também, 
que as estratégias multiculturais devem ser 
voltadas para a pluralidade cultural dentro da 
própria sala de aula, valorizando as culturas e 
significados plurais pelos quais se constroem 
as percepções dos alunos, bem como traba-
lhando de forma a desafiar posturas racistas, 
antidiscriminatórias e homogeneizadoras das 
diferenças que circulam nos discursos presen-
tes entre discentes e docentes.
CONCLUSÕES
O presente texto discutiu dilemas do mul-
ticulturalismo em termos de seu objeto, de 
sua definição como campo teórico híbrido ou 
mestiço, bem como dos desafios das catego-
rias identidade, diferença, universalismo e re-
lativismo que se articulam às suas discussões, 
analisando, também, implicações nas práticas 
pedagógicas de abordagens multiculturais di-
ferenciadas. Apontou para a necessidade de 
superação de posturas dogmáticas que, em-
bora informadas por perspectivas voltadas 
à justiça social e ao desafio a preconceitos, 
ainda permanecem no campo dos binarismos 
que separam ‘eu-outro’, ‘branco-negro’ e as-
sim por diante, desconhecendo as diferenças 
dentro das diferenças.
Evidentemente, as ideias acima apresentadas, 
com relação ao multiculturalismo, são abertas 
a críticas, não sendo imunes a questionamen-
tos e desafios. Na medida em que professo-
res e alunos embarcam em caminhos de va-
lorização da pluralidade cultural e desafio a 
preconceitos, certamente serão confrontados 
com dilemas e perplexidades referentes a essas 
questões. O importante é não nos atermos a 
fórmulas acabadas ou receitas pré-fabricadas. 
A conscientização acerca das abordagens que 
informam diferentes estratégias multiculturais, 
bem como sobre tensões a elas inerentes, de-
vem servir de estímulo para que se continuem 
as discussões, de forma a desafiar verdades 
únicas e posturas que homogeneízam as iden-
tidades e congelam as diferenças. 
RESUMO
O multiculturalismo como horizonte de traba-
lho docente não é um “adendo” ao currícu-
lo: deve, aocontrário, impregnar estratégias, 
conteúdos e práticas normalmente trabalha-
dos em aula pelo professor, como brevemente 
ilustrado anteriormente. Nesse sentido, mais 
uma vez, reforça-se o papel do professor como 
pesquisador constante de sua prática, cons-
truindo, no seu cotidiano, perspectivas mul-
ticulturais que resultem em discursos alterna-
tivos, que valorizem as identidades, desafiem 
a construção dos estereótipos e recusem-se a 
congelar o “outro”. 
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2005.
BOURDIEU, P. A Dominação masculina. Rio de 
Janeiro: BCD União
de Editoras, 1999.
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área de saber”, in: Revista Brasileira
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capítulo 2 21
GONÇALVES, L. A. de O. & SILVA, P. B. G. “Mo-
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TRINDADE, A.L. da & SANTOS, R. (orgs.). Mul-
ticulturalismo: mil e uma faces da escola. Rio 
de Janeiro: Ed. DP&A, 1999.
LIVROS
HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações 
culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
ASSIS, M. & CANEN, A. “Identidade negra e es-
paço educacional: vozes, histórias e contribuições 
do multiculturalismo”, Cadernos de Pesquisa, V. 
34, nº. 123, 2004..
SITES
http://www.fundaj.gov.br/tpd/107.html
Considerando o que estudamos neste capítulo, 
responda: 
1. Analise as abordagens teóricas do multicul-
turalismo.
 
2. O que seria identidade e sua influência na 
diferenciação dos povos? Explique.
 
3. Discorra sobre o universalismo e o relativis-
mo sob a ótica multiculturalista.
 
4. Que implicações o multiculturalismo oferece 
no ensino e pesquisa? Fundamente sua res-
posta.
Saiba Mais:
Atividades:
capítulo 3 23
Prof. Rafael Pires Rocha
Carga Horária | 15 horas
INTRODUÇÃO
 
O reconhecimento de grupos minoritários, por meio da efetivação de seus direitos, é um tema 
de grande discussão na atualidade. Isso, sem sombra de dúvidas, pelo fato de as denominadas 
minorias constituírem, em verdade, maiorias em nossa sociedade. Não há como falar em proteção 
de grupos sem abordar aspectos referentes ao multiculturalismo e à democracia, pois tanto um 
quanto outro, no mais amplo sentido, são instrumentos em prol dos grupos minoritários.
O multiculturalismo é uma forma de política social que visa ao reconhecimento de grupos infe-
riorizados em nossa sociedade, seja por condições históricas, socioeconômicas, sexuais, raciais, 
dentre outras. No entanto, as políticas multiculturais terão mais êxito quando o Estado, por meio 
de políticas públicas, intervier nas políticas sociais com o objetivo de alcançar uma maior igualda-
de material entre os cidadãos.
Sob essa ótica, torna-se imprescindível fazer uma abordagem referente à democracia, uma vez 
que vivemos num Estado Democrático de Direito, e destarte, todo poder emana do povo, direta 
ou indiretamente. A democracia é como se fosse um pilar que dá sustento às políticas multicultu-
rais, pois, por meio das mais diversas formas democráticas, qualquer cidadão poderá buscar seus 
direitos e, consequentemente, reivindicações.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•	 Compreender	como	o	novo	conceito	de	
democracia abarcou o multiculturalis-
mo;
•	 Analisar	 o	 pensamento	 dos	 teóricos	 a	
respeito da construção de uma demo-
cracia multicultural;
MULTICULTURALISMO 
E DEMOCRACIA: UMA 
REFLEXÃO TEÓRICA 
capítulo 324
1. MULTICULTURALISMO, 
 MINORIAS E 
 RECONHECIMENTO
O Multiculturalismo é um conceito amplo que 
inclui a diversidade de grupos sociais, que na 
sociedade democrática vivem relações de con-
flito, oposição e consenso. Esses grupos sociais 
lutam por reconhecimento social, afirmando 
suas particularidades com fundamento na plu-
ralidade de valores e diversidade cultural.
Na verdade, a noção de multiculturalismo po-
derá mudar de um lugar para outro. Algumas 
pessoas verão multiculturalismo como uma fi-
losofia antirracista, outras como uma maneira 
de reforma educacional, outras como prote-
ção da diversidade cultural e dos direitos das 
minorias, ou com uma neutralidade, achando 
ser, apenas, o sinônimo de pluralidade cultu-
ral. O multiculturalismo para pessoas diferen-
tes pode significar coisas diferentes. No entan-
to, não importa o modo de vê-lo, mas sim de 
efetivá-lo como um fim social que está sempre 
em prol dos direitos de certos grupos.
Conforme McLaren (1997), podemos identi-
ficar quatro possíveis tendências de multicul-
turalismo: o multiculturalismo conservador, o 
multiculturalismo humanista liberal, o multi-
culturalismo liberal de esquerda e o multicul-
turalismo crítico ou de resistência ou ainda re-
volucionário.
O multiculturalismo conservador defende a 
construção de uma cultura comum, unitária 
e nacional, privilegiando a assimilação da cul-
tura tradicional ou majoritária pelas minorias, 
como mecanismo de integração. Essa concep-
ção afirma a superioridade da cultura tradicio-
nal branca frente às demais culturas.
O multiculturalismo humanista liberal parte 
do pressuposto da igualdade entre os seres 
humanos, afirmando que uma cultura não é 
superior a outra, mas que todas devem convi-
ver de forma harmoniosa, cada uma podendo 
manifestar a sua diferença. Enfim, acreditam 
numa humanidade comum, universal e neutra, 
em que as pessoas conquistam o seu espaço 
em função de seus próprios méritos.
O multiculturalismo liberal de esquerda en-
contra-se mais atento aos modos de operar do 
poder e enfatiza as diferenças culturais ditadas 
por questões relacionadas à classe, ao gêne-
ro e à sexualidade. Acredita que o discurso da 
igualdade serve para mascarar as diferenças 
culturais existentes. Finalmente, o multicultu-
ralismo crítico ou de resistência afirma que as 
representações de classe, gênero e raça são o 
resultado das lutas sociais ampliadas. Defende 
a transformação das próprias condições sociais 
e históricas que naturalizam os sentidos cultu-
rais.
Segundo alguns teóricos, o modelo de multi-
culturalismo que realmente se adapta ao reco-
nhecimento é o multiculturalismo crítico, uma 
vez que este busca uma sociedade pluralista e 
sem preconceito, fazendo com que todos te-
nham direitos e oportunidades iguais. O reco-
nhecimento pressupõe políticas sociais e uma 
ação afirmativa e positiva do Estado, tendo 
como postulados os princípios da igualdade 
material e o respeito à diferença, bem como 
a valorização dos grupos minoritários em suas 
identidades e, por fim, a superação ou aboli-
ção dos mecanismos ou processos de discrimi-
nação e exclusão social.
Aliás, o multiculturalismo é um processo que 
teve a sua origem na necessidade ou na exi-
gência de reconhecimento, e que se faz sentir, 
sob determinadas formas, mais ou menos liga-
das às ações em nome de grupos minoritários 
ou subalternos.
Nessa linha de raciocínio, o multiculturalismo 
está relacionado à política das diferenças e 
com o surgimento de lutas sociais contra as 
sociedades racistas, sexistas e classistas. Sob 
essa análise, o multiculturalismo crítico surgiu 
como modelo de políticas sociais, visando à 
proteção da diversidade cultural, ao amparo e 
ao reconhecimento de grupos minoritários.
capítulo 3 25
Frise-se que a definição dos grupos minoritá-
rios depende muito da sociedade e da época 
histórica em que se contextualiza, pois é um 
conceito intimamente ligado à cultura de cada 
povo. Andréa Semprini (1999, p. 44), ao falar 
sobre uma interpretação de multiculturalismo, 
define assim as minorias:
Ela concentra sua atenção sobre as reivindica-
ções de grupos que não têm necessariamente 
uma base ‘objetivamente” étnica, política ou 
nacional. Eles são movimentos sociais estru-
turados em torno de um sistema de valores 
comuns, de um estilo de vida homogêneo, de 
um sentimentode identidade ou pertença co-
letivos, ou mesmo de uma experiência de mar-
ginalização. Com freqüência é esse sentimento 
de exclusão que leva os indivíduos a se reco-
nhecerem, ao contrário, como possuidores de 
valores comuns e a se perceberem como um 
grupo à parte.
No dizeres de Freire, em sua brilhante obra, 
“A Pedagogia do Oprimido”, observamos a 
importância dos movimentos sociais para a li-
bertação dos oprimidos. Esses grupos não são 
capazes, muitas vezes, por si só, de se liber-
tarem, pois enquanto tocados pelo medo da 
liberdade, se negam a apelar a outros e a escu-
tar o apelo que se lhes faça ou que se tenham 
feito a si mesmos, preferindo a gregarização 
à convivência autêntica (FREIRE, 1991, p. 19).
Da necessidade de superar a existência de gru-
pos oprimidos, o multiculturalismo implica em 
conquistas e reivindicações, para fins de evitar 
as mais diversas formas de opressão, exclusão 
e dominação. Este modelo de multiculturalis-
mo, segundo Boaventura Souza Santos (2003, 
p. 36), denomina-se emancipatório, o qual se 
baseia no reconhecimento da diferença e no 
direito à diferença, bem como na coexistência 
ou construção de uma vida em comum, apesar 
das diferenças. Esse conceito de emancipação 
proposta por Santos busca o reconhecimento 
das diferenças culturais, bem como a igualda-
de material dos grupos culturais.
Enfim, o multiculturalismo, no mais amplo 
sentido, é um grande instrumento teórico em 
prol do reconhecimento dos direitos inerentes 
aos grupos minoritários ou subalternos, uma 
vez que o reconhecimento torna-se para eles 
o principal critério de justiça nas sociedades 
modernas.
2. DEMOCRACIA E 
 MULTICULTURALISMO
2.1. DEFINIÇÃO DE 
 DEMOCRACIA E 
 AS MINORIAS
O eixo central da democracia é a ideia de sobe-
rania popular. A democracia visa uma partici-
pação igualitária de todos independentemente 
de raça, sexo, ou condição social. Já o multi-
culturalismo busca fazer com que essa efeti-
vação seja realizada igualmente para todos os 
grupos, involuntariamente de serem ou não 
minoritários.
A democracia baseia-se nos princípios do go-
verno da maioria, associado à proteção das 
minorias. Assim, a democracia, embora respei-
te a vontade da maioria, protege, escrupulosa-
mente, os direitos fundamentais das minorias. 
Ademais, constata-se que a democracia seria 
muito mais uma necessidade de direitos para 
as minorias do que para as maiorias, vez que 
por meio das mais diversas formas democrá-
ticas é que muitos grupos minoritários conse-
guem efetivar seus direitos.
Para alguns teóricos, a democracia é confir-
mada na valorização da maioria, sem o des-
prezo da minoria. Quando falamos em Estado 
Democrático de Direito, falamos da vontade 
majoritária, mas não da ditadura da maioria. 
No primeiro caso, há prestígio da vontade ma-
joritária, com consideração das mais variadas 
correntes minoritárias. No segundo, não se en-
contra uma preponderância da maioria, mas 
apenas a consideração desta, com desprezo 
pela minoria.
capítulo 326
Em nossa sociedade, para ocorrer uma forma 
de democracia igualitária é necessária uma 
concreta efetivação dos direitos humanos de 
todos os grupos minoritários. Assim, para Bo-
bbio (2004, p. 1), os “direitos do homem, de-
mocracia e paz são três momentos necessários 
do mesmo movimento histórico: sem direito 
do homem reconhecidos e protegidos não há 
democracia; sem democracia não existem as 
condições mínimas para a solução pacífica dos 
conflitos”.
Ainda, segundo Bobbio (2004, p. 21), “a de-
mocracia é a sociedade dos cidadãos, onde os 
súditos se tornam cidadãos quando lhes são 
reconhecidos alguns direitos fundamentais”. 
Nesse contexto, não há sombra de dúvidas de 
que existe uma simbiose entre multiculturalis-
mo e democracia, pois o multiculturalismo se 
torna realidade através da efetivação dos di-
reitos do homem, e esta efetivação, por sua 
vez, se viabiliza em grande parte por meio das 
formas democráticas, exercidas através de po-
líticas públicas ou sociais.
Portanto, trata-se, pois, de ver a questão de-
mocrática não apenas em seu sentido jurí-
dico-formal, mas num processo jurídico de 
permanente e efetiva conquista dos direitos 
enunciados na lei, bem como num processo 
de objetivação de novos direitos numa socie-
dade plural. Enfim, para efetivar os direitos 
enunciados em lei e objetivar novos direitos 
é necessário o reconhecimento, e para tanto, 
a sociedade é dependente dos movimentos 
sociais democráticos e das normas benéficas 
oriundas do processo democrático. A Consti-
tuição de 1988 foi um marco essencial para o 
nosso Estado, pois transitamos de um Estado 
autoritário, intolerante, ou até mesmo violen-
to, para um Estado Democrático de Direito. 
Ao longo desses vinte anos de Constituição, 
tivemos bons retratos de uma sociedade con-
fortável, onde predominam, como nunca, as 
regras da democracia em nossas relações so-
ciais e política.
A democracia pode ser vista sobre vários as-
pectos. De acordo com alguns autores, a de-
mocracia invoca um conceito aberto, dinâmico 
e plural, em constante processo de transfor-
mação. Na acepção formal, pode-se afirmar 
que a democracia compreende o respeito à 
legalidade, constituindo o chamado governo 
das leis, marcado pela subordinação do poder 
ao Direito. Por outro lado, na acepção mate-
rial, pode-se sustentar que a democracia não 
se restringe ao primado da legalidade, mas 
também pressupõe o respeito aos Direitos Hu-
manos. Nesse sentido, não há democracia sem 
o exercício dos direitos e liberdades fundamen-
tais, ou seja, a democracia deve estar em con-
sonância com os preceitos constitucionais.
A democracia exige, assim, a igualdade no 
exercício de direitos civis, políticos, sociais, 
econômicos e culturais. Nos dizeres de Paulo 
Bonavides (2003, p. 17), a democracia é aque-
la forma de exercício da função governativa 
em que a vontade soberana do povo decide, 
direta ou indiretamente, todas as questões do 
governo, de tal sorte que o povo seja sempre 
o titular e o objeto, a saber, o sujeito ativo e o 
sujeito passivo de todo poder legítimo.
Nesse sentido, Alain Touraine (1995, p. 345), 
buscando definir democracia em tempos mo-
dernos, afirma que:
A democracia é antes de tudo o regime político que 
permite aos atores sociais formar-se e agir livremente. 
São os seus princípios constitutivos que comandam 
a existência dos próprios atores sociais. Só há atores 
sociais se combinar a consciência interiorizada de di-
reitos pessoais e coletivos, o reconhecimento da plu-
ralidade dos interesses e das idéias, particularmente 
dos conflitos entre dominantes e dominados, e enfim 
a responsabilidade de cada um a respeito de orienta-
ções culturais comuns. Isso se traduz na ordem das 
instituições políticas, por três princípios: o reconheci-
mento dos direitos fundamentais, que o poder deve 
respeitar; a representatividade social dos dirigentes e 
da sua política; a consciência de cidadania, do fato de 
pertencer a uma coletividade fundada sobre o direito.
A democracia no Estado Democrático de Di-
reito é um grande instrumento constitucional 
em prol dos grupos minoritários, cujo principal 
capítulo 3 27
objetivo é alcançar a participação de todos nos 
processos de condução de nosso Estado. Por 
meio das diversas formas democráticas, pode-
mos buscar o reconhecimento dos direitos de 
todos os grupos que, muitas vezes, de per si 
só não conseguem alcançar. Isso se viabilizará 
por meio de movimentos sociais quando hou-
ver uma efetiva participação de todos, ou seja, 
quando preexistir uma forma de democracia 
social juntamente com uma democracia repre-
sentativa efetiva.
2.2. DEMOCRACIA, CIDADANIA 
 E RECONHECIMENTO
A democracia corresponde a uma efetiva par-
ticipação de todos os indivíduos, através do 
exercício de direitos civis, políticos, sociais, 
econômicos e culturais, além dos direitos de 
solidariedade. Na verdade, é um mecanismo 
em prol dos cidadãos, para, no exercício de 
seus direitos, participarem das decisõesde 
nosso Estado.Para preexistir um Estado Demo-
crático de Direito, é necessário que haja um 
maior número possível de atores buscando o 
reconhecimento de seus direitos e a inclusão 
social do outro. Para tanto, é imprescindível 
uma participação igualitária dos direitos de 
cidadania. Lafer (1988, p. 22), quanto à igual-
dade de participação, afirma que
[...] a cidadania é o direito a ter direitos, pois a igual-
dade em dignidade e direitos dos seres humanos não 
é um dado. É um construído da convivência coletiva 
que requer o acesso ao espaço público. É este acesso 
ao espaço público que permite a construção de um 
mundo através de um processo de asserção dos direi-
tos humanos.
Em princípio, perante as democracias indiretas, 
asseguradas por nossa Constituição Federal, o 
direito à participação é garantido a todos, sem 
discriminação de raça, grupo étnico, classe ou 
sexo, buscando-se, assim, prevenir a exclusão 
das minorias. Diante da democracia epresenta-
tiva, os cidadãos elegem representantes, cuja 
participação nas diversas instituições governa-
mentais garante a defesa de seus interesses, 
tendo por base principal a soberania popular. 
Nesse sentido, o Estado desempenha um pa-
pel central na constituição da democracia, so-
bretudo, nas sociedades multiculturais.
No entanto, muitas vezes, as minorias subordi-
nam-se às imposições da maioria, ou até mes-
mo ocorre dos grupos inferiores serem priva-
dos de seus direitos políticos, ou ainda, devido 
à falta de efetivação dos direitos humanos a 
democracia acaba carecendo de efetivação. 
Nos dias de hoje acredita-se que com o avanço 
das teorias de cidadania, percebe-se a existên-
cia de uma tradição política que tem identi-
ficado uma cidadania homogênea, através de 
um processo de exclusão sistemática, em que 
grupos minoritários são excluídos da definição 
de cidadãos na maioria das sociedades.
O estudo das teorias de democracia, enquan-
to efetiva identificação de princípios de uma 
democracia de poder, participação e represen-
tação numa legítima política de sistema demo-
crático, tem sido incapaz de evitar o sistema de 
exclusão em grandes segmentos de cidadania. 
Assim, uma democracia formal se difere drasti-
camente do substantivo democrático.
A democracia formal diz respeito, precisa-
mente, à forma de governo, enquanto que a 
democracia substancial refere-se ao conteúdo 
desta forma, ou seja, à participação política 
do povo nos negócios públicos. A democracia 
substancial desenvolve-se segundo uma práti-
ca que objetiva a realização dos fins democrá-
ticos, essencialmente o alcance da igualdade 
jurídica, social e econômica entre os indiví-
duos, capaz de gerar oportunidades iguais de 
desenvolvimento para toda a população inde-
pendentemente de classe social. Dessa forma, 
poderíamos dizer que a democracia substan-
cial terá mais ênfase quando precedida pelos 
movimentos sociais.
A forma representativa, no entanto, não é ba-
seada em um conceito de igual representação, 
equidade e igualdade. A maneira de explicar 
capítulo 328
este determinado fator pode ser o seguinte: 
o capitalismo exige representação diferencia-
da em poder e política, bem como favorece a 
iniquidade através de hierarquias e interesses 
competitivos, e a desigualdade, através de um 
sistema de busca do lucro. Em suma, as raí-
zes da democracia representativa baseiam-se 
nos princípios fundamentais que articulam as 
sociedades capitalistas. Deste modo, a demo-
cracia, muitas vezes, gira em torno de lógicas 
pregadas pelo capitalismo.
No sistema representativo, os cidadãos enca-
minham suas demandas e preocupações atra-
vés de sujeitos coletivos e modalidades de ação 
não convencionais, que assumem integralmen-
te suas reivindicações e tornam factível sua 
participação direta. Isso traz como resultado a 
redução da política a modos informais e des-
conectados de lutas e decisões, gerando uma 
repolitização do social em moldes diversos do 
modo tradicional de fazer política. Essa praxe 
faz com que se fortaleçam as políticas sociais, 
ou as políticas multiculturais, a fim de buscar 
direitos específicos de determinados grupos. 
Essas políticas sociais são um novo estilo de 
democracia radicalmente aberta, indetermina-
da e incerta, em que, através dessa, se busca 
promover o reconhecimento dos direitos e a 
extensão da cidadania, democratizando rela-
ções sociais específicas.
Nesse contexto, as minorias, ao serem eiva-
das de sua participação democrática passam 
a ser discriminadas, toleradas, ou até mesmo, 
tidas como inexistentes. Nesse sentido, para 
Lafer (1988, p. 22), “o ser humano, privado 
de seu estatuto político, na medida em que é 
apenas um ser humano, perde as suas quali-
dades substanciais, ou seja, a possibilidade de 
ser tratado pelos outros como um semelhan-
te, num mundo compartilhado”. A população 
vive tempos de insegurança, em virtude da 
crise e impotência que passam as instituições 
clássicas, a exemplo da fragilidade do sistema 
representativo e da ausência de uma cidada-
nia efetiva. Estes fatores impulsionam o cres-
cimento e fazem emergir a necessidade dos 
movimentos sociais ou das políticas multicul-
turais, que procuram reordenar a vida societá-
ria e redefinir os rumos políticos da sociedade 
como um todo, para fins de alcançar uma so-
ciedade livre, justa e solidária.
Assim, a participação dos grupos minoritá-
rios e da sociedade civil em todas as formas 
de manifestação e organização societária, nos 
grupos e instituições sociais e públicas, é uma 
questão central a ser enfrentada pelas políticas 
sociais e públicas.
Nota-se aí a importância da existência de po-
líticas sociais em uma sociedade multicultural 
democrática, pois, por meio da democracia, 
poder-se-á buscar a realização do multicultu-
ralismo, que se dará com o reconhecimento 
das minorias. Este reconhecimento só ocorrerá 
quando forem efetivadas todas as prerrogati-
vas sem as quais não se possa conviver com 
um mínimo de dignidade humana, ou seja, 
quando forem concretizados os Direitos Hu-
manos.
Contudo, podemos verificar que a sociedade 
é dependente de políticas sociais. Há também 
que se ressaltar a importância da cidadania na 
forma democrática representativa, pois seria 
difícil a convivência de indivíduos e culturas 
em um Estado aristocrático, onde teria “meia 
dúzia” de elite ou classe nobre, governando. 
Seria, dessa forma, um massacre às culturas, 
principalmente, às minorias. Assim, a conclu-
são é lógica: é necessário apoiarmos as polí-
ticas sociais e implantarmos políticas públicas 
em prol das minorias. E, mesmo que a demo-
cracia indireta não atinja a participação efetiva 
de todos os membros de uma sociedade, seria 
esta a melhor maneira, para de alguma forma, 
todos participarem das decisões do Estado De-
mocrático de Direito.
capítulo 3 29
3. RECONHECIMENTO, 
 DEMOCRACIA E 
 MULTICULTURALISMO
A sociedade multicultural deve reconhecer o 
valor do diferente enquanto diferente, ou seja, 
fazer com que o fato das diferenças existentes 
sirva como pressuposto para estabelecer metas 
de tratamentos diferenciados a grupos sociais 
diferentes, bem como para aceitar a existência 
do outro enquanto diferente. Charles Taylor 
(1994, p. 58) nos ensina que um indivíduo ou 
um grupo de pessoas podem sofrer um verda-
deiro dano, uma autêntica deformação se as 
pessoas ou a sociedade que os rodeiam lhes 
demonstrarem como reflexo uma imagem li-
mitada, degradante ou depreciada sobre eles.
Assim, de acordo com Taylor (1994 p. 64), 
para aqueles que têm desvantagens ou mais 
necessidades, é necessário que sejam destina-
dos maiores recursos ou direitos do que para 
os demais. Não dar um reconhecimento iguali-
tário a alguém, pode ser uma forma de opres-
são.
Nesse sentido, a ideia de reconhecimento, 
como também a luta pelo reconhecimento de-
vem ser um dos elementos fundamentais para 
a consolidação e para a ampliação da demo-
cracia. Isso significa dizer que as lutas por re-
conhecimento oriundas de políticas sociais ou 
públicasnão são concernentes a apenas certos 
indivíduos ou grupos, mas a todo o corpo so-
cial, e, principalmente, ao Estado.
A questão do reconhecimento dos direitos e da 
identidade de grupos minoritários, marcados 
por estigmas e desprezo social, é fundamental 
para a realização da democracia e a ampliação 
da igualdade entre nós. Reconhecer, em sínte-
se, é efetivar o princípio da igualdade material 
e concretizar a justiça social.
Notamos que igualdade é pressuposto tanto 
para o reconhecimento quanto para demo-
cracia. Joaquim B. Barbosa Gomes (2009) nos 
ensina que:
A noção de igualdade, como categoria jurídica de pri-
meira grandeza, teve sua emergência como princípio 
jurídico incontornável nos documentos constitucio-
nais promulgados imediatamente após as revoluções 
do final do século XVIII. Com efeito, foi a partir das 
experiências revolucionárias pioneiras dos EUA e da 
França que se edificou o conceito de igualdade pe-
rante a lei, uma construção jurídico-formal segundo 
a qual a lei, genérica e abstrata, deve ser igual para 
todos, sem qualquer distinção ou privilégio, deven-
do o aplicador fazê-la incidir de forma neutra sobre 
as situações jurídicas concretas e sobre os conflitos 
interindividuais. Concebida para o fim específico de 
abolir os privilégios típicos do ancien régime e para 
dar cabo às distinções e discriminações baseadas na 
linhagem, no “rang”, na rígida e imutável hierarqui-
zação social por classes (“classement par ordre”), essa 
clássica concepção de igualdade jurídica, meramente 
formal, firmou-se como idéia-chave do constitucio-
nalismo que floresceu no século XIX e prosseguiu sua 
trajetória triunfante por boa parte do século XX.
O autor comentou, acima, a respeito da igual-
dade formal, que foi e continua sendo fun-
damental para a construção de um Estado 
constitucional. Todavia, é com o postulado 
substancial da igualdade que iremos concre-
tizar uma democracia econômica e social. 
Logo, a sua aplicação torna- se fundamental. 
Não se pode interpretar o princípio da igual-
dade como um princípio estático, indiferente 
à eliminação das desigualdades, e o princípio 
da democracia econômica como um princípio 
dinâmico, impositivo de uma igualdade mate-
rial. A igualdade material postulada pelo prin-
cípio da igualdade é também a igualdade real 
veiculada pelo princípio da democracia econô-
mica e social.
O princípio da igualdade material ou substan-
cial tornou-se um dos pilares da democracia 
oderna. É evidente que a democracia em nosso 
Estado será concretizada na medida em que 
todos sejam tratados iguais. Destarte, o reco-
nhecimento se viabilizará por meio do multi-
culturalismo, enquanto política social, se este 
servir de pressuposto para a existência de polí-
ticas pública de parte do Estado.
capítulo 330
Nessa linha de raciocínio, e conjugando-se ao 
fato de vivermos num Estado Democrático, as 
próprias minorias (negros, índios, mulheres, 
portadores de necessidades especiais, dentre 
outros) são capazes de buscar o seu reconhe-
cimento. Isto ocorre, por exemplo, quando os 
grupos elegem seus representantes políticos 
para lutar por seus direitos. Muitas vezes, as 
políticas sociais se concretizam, em tese, por 
normas benéficas oriundas do processo legis-
lativo, que é exercido pelos cidadãos de for-
ma indireta, e que tem por finalidade buscar o 
reconhecimento de determinados grupos, que 
vêm sendo discriminados ao longo dos tem-
pos, buscando compensar aqueles que herda-
ram condições desvantajosas.
Um exemplo concreto da efetivação das po-
líticas multiculturais, através das ações afir-
mativas, oriundas da forma democrática re-
presentativa, seria a elaboração de leis que 
tratam de cotas raciais em Universidades Fe-
derais. Não nos restam dúvidas que essas leis 
foram resultaram de políticas sociais, que se 
viabilizaram concretamente após terem sido 
positivadas pelo Estado, por meio de um pro-
cesso democrático. Com efeito, o processo 
de reconhecimento faz com que ocorra uma 
imensa correlação entre democracia e multi-
culturalismo, pois este não deixa de ser uma 
forma de democracia social que visa assegurar 
a igualdade material entre os grupos sociais, 
para que, destarte, ocorra sem discriminação 
a democracia indireta, para fins de viabilizar 
o multiculturalismo por meio das ações afir-
mativas, à medida que sejam concretizados os 
direitos fundamentais.
Portanto, tanto a democracia quanto o multi-
culturalismo têm por objetivo propiciar o re-
conhecimento que, na maioria das vezes, se 
dará por meio de políticas sociais e ações afir-
mativas. As políticas afirmativas são resultados 
de uma sociedade democrática que almeja 
a inclusão social, e, principalmente, a justiça 
social, com base em programas apresentados 
pelo Estado, cujo objetivo é observar o respei-
to ao princípio da igualdade. 
Seria esta uma maneira de reconhecimento 
exercida indiretamente por meio dos direitos 
de cidadania.
CONCLUSÃO
Com o presente trabalho, buscamos fazer uma 
análise do multiculturalismo, da democracia e 
do reconhecimento dos grupos minoritários. 
Abordamos com ênfase o multiculturalismo 
crítico, uma vez que este busca dar dignidade 
para as minorias, defendendo-as e asseguran-
do o reconhecimento de seus direitos.
A democracia foi um tema de grande debate, 
isto sem sombra de dúvidas pelo fato de viver-
mos num Estado Democrático de Direito que 
exige participação igualitária para fins de um 
efetivo reconhecimento dos direitos inerentes 
às minorais. A democracia, é de se saber, impli-
ca a participação de todos, sem discriminação 
de raça, sexo, condição social, dentre outras. 
Assim, foi visto que multiculturalismo se torna-
rá realidade por meio das mais diversas formas 
democráticas e também que a democracia tem 
o condão de impulsionar as políticas multicul-
turais visando o reconhecimento. As minorias, 
em uma sociedade democrática, devem ser 
reconhecidas como portadoras dos direitos 
universais e, ao mesmo tempo, com direitos à 
luta pela afirmação e defesa da sua identidade. 
A democracia, a cidadania e os direitos estão 
sempre em processo de construção, devendo, 
assim, a sociedade, por meio de movimentos 
sociais reivindicatórios, e o Estado, através das 
políticas públicas, buscarem uma readequação 
para fins de reconhecimento e inclusão social.
Por fim, é necessário frisar que falta aos cida-
dãos a veiculação de sua força democrática 
para a realização dos mais diversos movimen-
tos sociais em prol dos direitos das minorias. 
Contudo, as minorias serão contempladas em 
seus direitos quando houver a efetivação dos 
direitos humanos que, em grande parte, se 
viabilizará por meio do multiculturalismo e das 
capítulo 3 31
ações afirmativas, embasados numa partici-
pação democrática igualitária e numa política 
multicultural de cidadania.
RESUMO
Neste capítulo iremos trabalhar o multicultu-
ralismo e a democracia enquanto instrumento 
de proteção e reconhecimento das chamadas 
minorias. O multiculturalismo é uma forma de 
política social que visa efetivar os direitos fun-
damentais das minorias. A democracia, por sua 
vez, é entendida como um regime fundado na 
cidadania e soberania popular e que respeita 
os direitos e garantias dos grupos sociais. En-
fim, o multiculturalismo e a democracia busca-
rão o reconhecimento, para assegurar a todos 
a liberdade, a dignidade e o valor da pessoa 
humana.
REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. 
Carlos Nelson Coutinho; apresentação de Cel-
so Lafer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. São Paulo: 
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CORRÊA, Darcísio. A construção da cidadania: 
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LAFER, Celso. A reconstrução

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