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Receptação: Entenda o Crime

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Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir 
ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa 
que sabe ser produto de crime, ou influir para que 
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: 
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
• Tipo misto alternativo, se no mesmo 
contexto fático, o agente praticar diversas 
condutas ou somente uma das condutas 
isoladamente, ele responderá somente por 
um crime de receptação. 
• Exemplo: o agente que praticou o furto de 
um aparelho celular o vende para um 
terceiro. Nesse caso, o autor do furto, ao 
vender o aparelho celular, está incorrendo 
em mero exaurimento do tipo penal da 
conduta que havia praticado, mas o 
terceiro que adquiriu o produto pratica o 
crime de receptação 
• O crime de receptação é um crime 
acessório, crime de fusão, também 
chamado crime parasitário. A receptação 
só vai existir se houver um crime 
antecedente. 
• É possível haver a receptação se o crime 
antecedente não for crime contra o 
patrimônio. Exemplo: em caso de peculato 
(crime contra a Administração Pública), o 
agente se apropria de um bem da 
Administração Pública em razão das 
funções que desempenha. Ao vender o 
bem, há o crime de receptação, ou seja, 
deve haver um objeto material para que, 
posteriormente, haja o crime de 
receptação. 
• Um furto praticado por um menor de 17 
anos configura ato infracional análogo ao 
crime de furto. Se esse menor revender o 
objeto do furto para um maior de idade, e 
este souber que o aparelho celular foi 
furtado, haverá crime de receptação. O ato 
infracional é uma conduta delituosa, e 
aquele que adquire um produto que sabe 
ser oriundo de ato infracional, configura a 
receptação. 
• A possível hediondez do crime antecedente 
não influencia para que haja um aumento 
de pena, ou para que a pena seja superior a 
quatro anos. 
• O sujeito passivo é a mesma vítima do 
crime antecedente. 
A primeira conduta é “adquirir, receber, 
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito 
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de 
crime” chamada de receptação própria (crime 
material, admite a tentativa). 
Exemplo: o sujeito A pratica o roubo de um objeto 
e o vende para o sujeito B (receptador), o qual, por 
sua vez, pode adquirir, receber, transportar, 
conduzir ou ocultar o objeto 
• Transportar, conduzir e ocultar são 
condutas permanentes. 
A segunda conduta é “influir para que terceiro, de 
boa-fé, a adquira, receba ou oculte”, chamada de 
receptação imprópria, crime formal. 
Exemplo: o agente A praticou o crime antecedente, 
o agente B é o intermediário, o agente C é o 
terceiro de boa-fé e é ele quem vai adquirir, 
receber, ocultar, sem saber que o objeto é produto 
de crime, pois quem sabe disso é o intermediário, 
que responde pela receptação imprópria. 
Outro exemplo: o agente A rouba um celular, o 
intermediário agente B sabe que é um produto de 
crime e influi para que terceiro de boa-fé adquira, 
receba ou oculte o produto. O crime se consuma 
independentemente de o terceiro de boa-fé vir a 
adquirir, receber ou ocultar; o fato de o agente 
influir para que terceiro de boa-fé adquira, receba 
ou oculte um produto de crime já consuma o 
delito. 
§ 4º A receptação é punível, ainda que 
desconhecido ou isento de pena o autor do crime 
de que proveio a coisa. 
O parágrafo 4º é uma norma explicativa que se 
aplica a todas as formas de receptação: própria, 
imprópria, qualificada, culposa. Trata da 
autonomia da receptação, apesar de depender da 
existência de um crime antecedente, a receptação 
é autônoma, existirá a receptação ainda que o 
autor do crime antecedente não seja identificado. 
Exemplo: um sujeito é preso com o produto do 
crime, chamam a vítima, mas não se sabe quem é 
o autor do crime antecedente: isso não impede a 
persecução penal em razão da receptação. 
• Se o autor do crime antecedente teve 
extinta a punibilidade, isso não tem o 
condão de influenciar o crime de 
receptação, como, por exemplo, o caso de 
um agente que praticou crime antecedente 
de roubo de aparelho celular, vendeu para 
o receptador, mas que, alguns dias depois, 
foi morto, isso configura extinção da 
punibilidade, mas não gera consequência 
para a incriminação da receptação. Há duas 
exceções: anistia e abolitio criminis do 
crime antecedente, que retiram a 
característica de crime. 
Receptação em cadeia 
Exemplo: Fulano praticou crime antecedente, o 
sujeito A praticou a receptação, o agente A vendeu 
o produto para B, que vendeu o produto para C, e 
todos sabiam que era produto de crime. Nesse 
caso, A, B e C respondem pela receptação. Em 
todas as receptações, a vítima é a mesma do crime 
antecedente. Todos respondem pela receptação. 
A receptação se aplica somente a objetos materiais 
móveis. 
Preço do crime Exemplo: um mercenário, assassino 
de aluguel, para matar uma pessoa, recebe um 
colar caríssimo como pagamento e o vende para 
uma pessoa, a qual, por sua vez, sabe ter sido o 
colar obtido como pagamento de um homicídio 
praticado. Nesse caso, ela não pratica receptação. 
O colar não é produto do crime, é preço de crime, 
portanto não é crime de receptação. Não pode ser 
objeto material da receptação. Instrumento do 
crime Exemplo: um assassino de aluguel quer 
vender o revólver que usa para matar as pessoas e 
com esse dinheiro quer comprar outro revólver. A 
pessoa que compra o revólver do assassino sabe 
que ele é matador de aluguel e que usou o revólver 
para crimes. Nesse caso, a pessoa que adquiriu o 
revólver não é receptador, o revólver não é 
produto de crime, é instrumento de crime. Não 
pode ser objeto material da receptação. 
Receptação qualificada 
Art. 180 (...). 
§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, 
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, 
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer 
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no 
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa 
que deve saber ser produto de crime: 
Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa. 
§ 2º Equipara-se à atividade comercial, para efeito 
do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio 
irregular ou clandestino, inclusive o exercício em 
residência. 
• Também é um tipo misto alternativo. 
• “De qualquer forma utilizar” tem por base 
uma interpretação analógica. 
• A conduta de “Exercício de atividade 
comercial ou industrial” foi criada pelo 
legislador para coibir o desmanche de 
carros, em que o agente pratica o crime 
antecedente de roubar um veículo, levá-lo 
para um ferro velho ou algum mecânico 
para desmanche e venda das peças. A lei 
estabelece que quem faz disso um meio de 
vida, valendo-se, portanto, de uma 
atividade comercial, deve ser punido de 
maneira mais grave. 
• “Coisa que deve saber ser produto de 
crime” não comporta a modalidade 
culposa, mas se refere a dolo eventual. 
• Ainda que o agente não tenha certeza de 
que seja produto de crime, como ele atua 
na área, deveria ter a expertise de saber 
que é um produto de crime. 
• STJ e STF pacificaram o entendimento de 
que, apesar de não apresentar 
expressamente “coisa que sabe ser 
produto de crime”, o parágrafo 1º deve ser 
interpretado como “coisa que sabe ou deve 
saber ser produto de crime”, logo esse 
crime pode ser praticado mediante dolo 
eventual ou dolo direto. 
• A pena é mais grave que a receptação 
simples. Trata-se de um crime próprio, só 
pode ser praticado pelo comerciante ou 
industriário. 
• O parágrafo 2º é uma figura equiparada, 
portanto responde pela mesma pena do 
parágrafo 1º. Pode ser atividade informal, 
exemplo: alguém que faz do quintal de casa 
um lugar para consertar carros ou coloca no 
quintal de casa produtos de receptação 
para adquirir e vende, tornando isso, 
portanto, um negócio. 
• O primeiro paragrafo do art 180, tanto 
pune com dolo eventual quanto com o dolodireto. 
Receptação culposa 
• É o único crime contra o patrimônio que 
existe na modalidade culposa. 
Art. 180. (...) 
§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua 
natureza ou pela desproporção entre o valor e o 
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve 
presumir-se obtida por meio criminoso: 
 Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa, 
ou ambas as penas. 
§ 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, 
pode o juiz, tendo em consideração as 
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. 
• Na receptação dolosa aplica-se o 
disposto no § 2º do art. 155. Pode ser 
praticada de uma das três formas 
previstas. 
 
i) pela sua natureza, como, por exemplo, 
comprar uma bicicleta amarela de alguém 
que a está vendendo na rua. Ainda que o 
adquirente não tenha a certeza de ser 
produto de crime, pela natureza do objeto 
e da situação de venda, ele deveria 
presumir que foi obtida por meio 
criminoso. Nesse caso, poderia ser um 
estelionato pela figura do crime 
antecedente. 
ii) pela desproporção, como, por exemplo, a 
venda de um veículo de dez mil reais pelo 
preço de dois mil reais. 
iii) pela condição de quem a oferece, como 
um sujeito drogado, um desempregado, 
alguém sem condições de adquirir o dado 
produto ou, ainda, uma pessoa que já 
tenha diversas passagens criminais. 
 
Das formas citadas, advém a percepção, na prática, 
de que é difícil distinguir quando há uma 
receptação dolosa ou culposa. Após a realização de 
uma prisão em flagrante, no oferecimento da 
denúncia, o Ministério Público leva em 
consideração elementos que podem ser 
depreendidos da situação, para, então, tipificá-la 
da maneira adequada. 
Art. 180. (...) 
 § 5º Na hipótese do § 3º, se o criminoso é 
primário, pode o juiz, tendo em consideração as 
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na 
receptação dolosa aplica se o disposto no § 2º do 
art. 155. 
Deixar de aplicar a pena é o perdão judicial. Na 
segunda parte do parágrafo 5º, aplica-se a 
receptação dolosa e se estabelece que pode haver 
receptação dolosa privilegiada. 
É possível a receptação privilegiada-
qualificada? 
 A qualificada é a que ocorre em atividade 
comercial ou industrial. O privilégio pode ser 
aplicado à receptação qualificada se o agente for 
primário e a coisa for de pequeno valor? 
1ª corrente: não, uma vez que seria uma solução 
muito branda para a receptação qualificada. 
2ª corrente: sim, porque o §5º está posicionado 
abaixo do §1º (receptação qualificada). Ademais, 
como foi reconhecida possibilidade de furto 
híbrido (Súmula n. 511 do STJ), não haveria razão 
para impedir o mesmo benefício à receptação. 
Nesse sentido, tem prevalecido a 2ª corrente. 
Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir 
ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa 
que sabe ser produto de crime, ou influir para que 
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: 
 (...) 
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União, 
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de 
autarquia, fundação pública, empresa pública, 
sociedade de economia mista ou empresa 
concessionária de serviços públicos, aplica-se em 
dobro a pena prevista no caput deste artigo. 
(Redação dada pela Lei n. 13.531, de 2017) 
Pena – de reclusão de 2 a 8 anos. 
• O dispositivo do parágrafo 6º foi 
atualizado pela Lei n. 13.531/2017, 
foram inseridas algumas figuras 
(Distrito Federal, autarquia, empresa 
pública) que não estavam previstas. A 
Lei n. 13.531/2017 alterou o crime de 
dano qualificado quando o crime for 
praticado contra o patrimônio de entes 
federativos ou da administração 
pública. 
Receptação de Animal 
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, 
conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com 
a finalidade de produção ou de comercialização, 
semovente domesticável de produção, ainda que 
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser 
produto de crime: (Incluído pela Lei n. 13.330, de 
2016) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, 
e multa. (Incluído pela Lei n. 13.330, de 2016) 
“Que deve saber ser produto de crime” deve ser 
interpretado como “que deve saber ou sabe ser 
produto de crime”. Semoventes domesticáveis de 
produção são animais que geram algum tipo de 
retorno financeiro para o produtor/vítima. A Lei n. 
13.330/2016, que inclui a receptação de animal, é 
a mesma que trouxe o advento do art. 155, § 6º, 
que trata do furto de semovente domesticável de 
produção. Não é caso de receptação simples (art. 
180) a receptação de um boi reprodutor, é o crime 
de receptação de animal. O crime de furto de 
semovente domesticável de produção é uma 
qualificadora do crime de furto, a receptação de 
animal não é uma qualificadora da receptação, mas 
um crime autônomo. 
• quem praticar receptação e, em 
seguida, o porte ilegal de arma de fogo 
responderá pelos dois delitos em 
concurso material. 
“É inaplicável o princípio da consunção entre os 
delitos de receptação e porte ilegal de arma de 
fogo, por serem diversas a natureza jurídica dos 
tipos penais.” STJ, AgRg no REsp 1633479/RS. 
Julgado em 06/11/2018.

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