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Febre Tifoide Ananda Martins - Medicina UEMA AGENTE ETIOLÓGICO ● Gênero Salmonella ● Família Enterobacteriacea (gram-negativos entéricos ou enterobactérias) ● Bastonetes gram-negativos, anaeróbios facultativos, que não produzem esporos ● Medem cerca de 2-3 x 0,4-0,6 micrometros, movimentando-se através de flagelos ● Apresenta antígeno O na parede celular e antígeno H em seus flagelos EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO ● Doença infecciosa cosmopolita, especialmente em países subdesenvolvidos ● O ser humano é o único reservatório ● A transmissão é fecal-oral ● 3 a 4% dos indivíduos se tornarão portadores crônicos assintomáticos por longa data → eliminam os bacilos nas fezes e urinas, tornando-se fonte de infecção ● Contágio interpessoal: mãos contaminadas podem alcançar a mão e boca do contato próximo ● Fontes hídricas com água contaminada com fezes humanas são a principal forma de contágio ● A febre tifóide é endêmica em certas regiões da Ásia, Oriente Médio, Leste Europeu, América Central e América do Sul. ● A Índia é responsável pela maioria dos casos ● No Brasil, é mais endêmico nas regiões Norte e Nordeste. PATOGÊNESE ● A porta de entrada é a via digestiva → muitos morrem no estômago, devido ao pH ácido. Para isso, a carga de inoculação deve ser alta. ● Ao chegar ao íleo, a bactéria adere às células das placas de Peyer através de um processo chamado Endocitose Mediada por Bactérias (EMB), alcançando o tecido linfóide local onde são internalizadas pelos macrófagos e linfócitos locais. ● Nos fagócitos das placas de Peyer: proliferação do bacilo nem nenhuma interferência do sistema imune ● Atinge linfonodos mesentéricos satélites (segundo local onde se multiplica) e depois alcança circulação linfática e sanguínea. Fase bacterêmica ● Disseminação em órgãos e sistemas, mais intensamente no fígado, baço e medula óssea ● Quando o bacilo atinge o fígado, é eliminado pelas vias biliares e concentrado na vesícula biliar → são reabsorvidas pelo íleo causando cronificação assintomática da doença ● Equivalente à primeira semana da doença, com surgimento de febre progressiva e sintomas gastrointestinais Fase hiper-reativa ● Fase mais grave da doença → predomínio de fenômenos imunoinflamatórios, precipitados e mantidos pela proliferação bacteriana ● Presença de hepatoesplenomegalia ● Hemocultura positiva em 50% dos casos - Lesão tecidual local: presença de focos inflamatórios denominados “nódulos tíficos” encontrados no fígado, baço, medula óssea, linfonodos mesentéricos e placas de Peyer. - Pode ocorrer hiperplasia e necrose nos nódulos, determinando dor abdominal (exacerbada pela palpação do quadrante inferior direito) - Inflamação da parede intestinal: pode levar à diarreia - A necrose pode causar úlceras e enterorragias - Repercussão sistêmica: liberação de citoquinas (TNF-alfa e IL-1) em grande quantidade → febre, quadro encefalopático (cefaleia, bradipsiquismo, delirium, torpor, coma) QUADRO CLÍNICO ● Suspeita em paciente que apresenta de 1 a 2 semanas e história epidemiológica compatível: precárias condições de moradia, falta de instalações sanitárias, ingestão de água não tratada, viagem recente a regiões endêmicas e contato com casos semelhantes ● Período de incubação: 5 a 21 dias Fase 1 - primeira semana ● O quadro começa com febre e mal-estar ● Febre com início insidioso, com alta a partir do terceiro dia → aumento progressivo da febre, com caráter contínuo ou irregular, a qualquer hora e retornando assim que acaba o efeito antitérmico. ● Pode aparecer sinal de Faget ● Cefaleia, astenia, hiporexia, náuseas e vômitos, mialgia, tosse seca, dor de garganta, constipação intestinal Fase 2 - segunda e terceira semana ● Febre alta sustentada, cefaléia contínua e prostração intensa ● Alteração do estado de consciência, como bradipsiquismo, apatia, desorientação, delirium, torpor e até coma (“estado tifoso”) ● Sinais de desidratação: pele e mucosas secas, olhos fundos e inexpressivos ● Dor abdominal (fossa ilíaca direita) e diarreia (fezes em aspecto de “sopa de ervilha”) ● Exame físico: hepatomegalia (leve a moderada), esplenomegalia, exantema (“roseólas tíficas” em tronco e abdome), língua sabugosa Fase 3 - quarta semana ● Regressão da febre em lise ● Período de convalescência longo, com sintomas melhorando aos poucos EXAMES LABORATORIAIS ● Hemograma: leucopenia, leucocitose nos primeiros 10 dias da doença. Pode ocorrer anemia normocítica normocrômica e queda abrupta do hematócrito. ● Aminotransferases aumentadas, podendo refletir uma hepatite discreta. ● O EAS pode relevar proteinúria, piúria, cilindros granulosos e hialinos. COMPLICAÇÕES ● Enterorragia e perfuração intestinal, resultados da hiperplasia, ulceração e necrose das placas de Peyer ileocecais ● Enterorragia: queda súbita de PA, taquicardia, palidez intensa, redução abrupta do hematócrito. ● Perfuração intestinal: mais grave. Surgimento súbito de dor intensa em fossa ilíaca direita, taquicardia, hipertermia, hipotensão arterial, sinais de irritação peritoneal e intensa leucocitose com desvio para a esquerda → peritonite fecal, deve ser operado com emergência ● Complicações raras: pneumonia, miocardite, pericardite, abscesso hepática e/ou esplênico, pancreatite, colecistite acalculosa, pielonefrite, artrite, osteomielite, parotidite, meningite entre outros. RECAÍDAS ● Ressurgimento de febre e outras manifestações clínicas da doença no período da convalescença ● Pode haver focos replicativos de salmonela na vesícula biliar ou no centro de linfonodos mesentéricos DIAGNÓSTICO ● Exame mais utilizado nas fases iniciais: hemocultura, com maior sensibilidade na fase bacterêmica ● A mielocultura é a mais confiável, com positivo em 90% dos casos ● A coprocultura é importante como controle de cura, detecta casos de portadores crônicos assintomáticos ● Exames sorológicos são secundários, o mais clássico é a reação de Widal TRATAMENTO Monoterapia antibiótica Cloranfenicol ● VO 50mg/kg/dia fracionada em quatro tomadas → baixo custo ● Pontos negativos: toxicidade medular, presença de salmonelas resistentes a cloranfenicol, aumento das taxas de recaída e de portadores crônicos Aminopenicilinas (ampicilina e amoxicilina) e Sulfametoxazol-Trimetoprim (SMZ-TMP) ● Melhor perfil de toxicidade quando comparada ao cloranfenicol ● Reduz o percentual de recaídas e de portadores crônicos assintomáticos Fluoroquinolonas e Cefalosporinas de 3ª geração ● Podem ser utilizadas a ciprofloxacina e ofloxacina e das cefalosporinas, a ceftriaxone, cefotaxime, cefixime e cefoperazona. Corticosteroides ● Uso em pacientes com quadro muito grande, com choque e alteração do estado de consciência ● Dexametazona 3 mg/kg (ataque) + 1mg/kg 6/6h durante 48h OBS: realizar antibiograma da S. typhi para observar cepas resistentes ao cloranfenicol e sensível às aminopenicilinas ou resistente ao cloranfenicol e aminopenicilinas mas sensível ao sulfametoxazol-trimetoprim. PROFILAXIA Medidas gerais ● Controle e tratamento das fontes de água e seus sistemas de abastecimento ● Ferver, filtrar, clorar a água ou adicionar substancias esterilizantes como hipossulfito de sódio ● Remoção e tratamento adequado das excretas humanas, bem como manter o controle das moscas e eliminação do lixo ● Importante: saneamento básico associado à vigilância sanitária Imunização ● Vacina: dada a partir dos 5 anos de idade e a cada 5 anos é realizado reforço ● Indicada quando indivíduos vão viajar para lugares endêmicos ou quando estão em situação de exposição a água e alimentos não garantidos Epidemias Recomenda-se ● Buscar cuidadosamente caso-índice da epidemia ● Evitar consumo de todo alimento suspeito ● Ferver ou pasteurizar o leite ● Clorar água com supervisão competente
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