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1 AV1 – Prática Médica 3 – Prof.ª Márcia Ney – Fernanda Pereira – 5º período Abordagem em medicina de família – raciocínio clínico AULA 5 06/09/2021 A unidade essencial da prática médica é a ocasião em que, na intimidade de um consultório ou do quarto de um doente, uma pessoa que está doente ou acredita que o está, procura o conselho de um médico em quem confia isto é uma consulta e tudo o resto na prática da medicina deriva dela a O propósito da consulta é que o médico, tendo recolhido os indícios, dará uma explicação e um conselho. A consulta em medicina de família • A consulta é um procedimento diagnóstico e terapêutico de elevada complexidade técnica e o seu êxito depende muito da qualidade da relação médico- paciente nela desenvolvida. • Empata • Tempo de consulta • Condições adequadas para a realização do atendimento • Longitudinalidade do cuidado • O acompanhamento da família Por onde começar? Passo a Passo do Raciocínio Clínico. 1. Adquirir bons dados. – Roteiros não podem ser engessados. 2. Determinar qual o problema clínico em questão. – Qual a questão principal. 3. Desenvolver um quadro de diagnósticos diferenciais. – Pensar o que pode ser com base no quadro apresentado. Vários quadros são muito parecidos. 4. Ordenar minhas hipóteses. – A primeira é a mais provável, a segunda é a hipótese diagnóstica. 5. Dirigir meus “testes” de acordo com essa lista de hipóteses que formulei. – Tratamento empírico, avaliar a melhora da queixa. 6. Revisar minha lista de acordo com os resultados dos testes que realizei. 7. “Testar” novamente. 1º) Coleta de dados • O primeiro passo, também conhecido como estabelecer a base de dados, envolve a coleta de informações, que inclui fazer a anamnese, realizar o exame físico e obter exames laboratoriais seletivos, exames específicos e/ou exames de imagem. – Anamnese e exame físico são preponderantes, os exames laboratoriais são complementares. Lembrar que esse primeiro momento é a primeira tentativa de descobrir o que o paciente tem. O que são PUNs e DENs Patent Unmet Needs • Questões levantadas • Durante a consulta e questão por resolver. • Lista de problemas com os quais estamos trabalhando e programando ações. • Plano e lista de problemas. Doctor Educatonal Needs • Dificuldades clínicas percebidas na consulta • Dificuldades relacionais • Dificuldades de comunicação • Dúvidas sobre condutas • O que eu devo fazer para resolver as PUNs do meu paciente. – Preciso estudar o caso, não ter vergonha de não se sentir seguro ou não saber sobre o caso do paciente. Dizer que entra em contato ou para ele marcar logo uma nova consulta de retorno. Necessidades do meu paciente que ainda não resolvi X Minhas questões de aprendizado para resolver melhor os problemas dos meus pacientes Solução clássica de problemas clínicos Fazer o diagnóstico Avaliar a gravidade da doença Tratar conforme o estágio da doença Acompanhar a resposta do paciente ao tratamento 2º) Fazer o diagnóstico Avaliação cuidadosa do paciente Análise das informações Determinação de fatores de risco e elaboração de uma lista de possíveis diagnósticos (diferenciais). 2 AV1 – Prática Médica 3 – Prof.ª Márcia Ney – Fernanda Pereira – 5º período Possíveis diagnósticos – sejam mais prováveis ou mais sérios, com base no conhecimento e na experiência do clínico e em testes seletivos. 3º) Diagnósticos Diferenciais Um paciente com queixa de dor abdominal superior e uma história de uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) pode ter doença ulcerosa péptica. Outro paciente com dor abdominal, intolerância a alimentos gordurosos e distensão abdominal pode ter colelitíase. Um terceiro indivíduo com um dia de dor periumbilical que agora se localiza no quadrante inferior direito pode ter apendicite aguda. – Quadro grave, que de fato precisa de atendimento rápido para operar. 4º) Avaliar a gravidade da doença Descrever o “quão grave” é a doença. Isso pode ser simplesmente determinar se um paciente “está mal” ou “não está mal”. EX: O paciente com uma infecção urinária está ́séptico ou estável para terapia ambulatorial? - Extremos de idade: passível de complicação - Paciente não tem condições de fazer o tratamento e que se fosse de alta poderia complicar o seu quadro. 5º) Tratar conforme o estágio Muitas doenças são caracterizadas por estágios ou gravidade, porque isso afeta o prognóstico e o tratamento. Exemplos 1. Homem jovem anteriormente saudável com pneumonia e sem sofrimento respiratório pode ser tratado com antibióticos orais em casa. 2. Uma pessoa idosa com enfisema e pneumonia provavelmente seria hospitalizada para antibióticos intravenosos (IV). 3. Um paciente com pneumonia e insuficiência respiratória provavelmente seria intubado e admitido à unidade de terapia intensiva (UTI) para maior tratamento. 6º) Acompanhar a resposta ao tratamento Algumas respostas são clínicas, como a melhora (ou ausência de melhora) da dor de um paciente. Outras respostas podem ser acompanhadas por exames( monitoramento da glicemia) O clínico deve estar preparado para saber o que fazer se o paciente não responder da forma esperada. – Rever se o diagnóstico estava certo. Como podemos perceber isso? Voltar para o passo 1 e reavaliar tudo. LEMBRAR QUE IDOSO POLIFÁRMACIA VAI TER UM CONJUNTO DE REAÇÕES ADVERSAS E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS QUE PODEM SER A QUEIXA PRINCIPAL DA CONSULTA. REAVALIAR A QUANTIDADE E A QUALIDADE DESSES MEDICAMENTOS. 7º) Testar novamente O passo seguinte será tratar novamente, reavaliar o diagnóstico ou fazer outro exame mais específico? Perguntas fundamentais que facilitam o pensamento clínico 1. Qual é o diagnóstico mais provável? 2. Como você confirmaria o diagnóstico? 3. Qual deve ser o passo seguinte? 4. Qual é a melhor estratégia de rastreio nessa situação? 5. Quais são os fatores de risco para essa condição? 6. Quais são as complicações associadas ao processo mórbido? 7.Qual é a melhor terapia? Resumo Não existe substituto para uma anamnese e um exame físico meticulosos. Há quatro passos na abordagem clínica ao paciente do médico de família: fazer o diagnóstico, avaliar a gravidade, tratar com base na gravidade e acompanhar a resposta. Há sete perguntas que ajudam a transpor o espaço entre o livro-texto e a arena clínica. Caso 1 J.S., 40 anos, bancário, deu entrada na Emergência com queixa de dor torácica. Relatava que há cerca de três meses vinha apresentando, após grandes esforços físicos, episódios de dor retroesternal constritiva, que o impedia de prosseguir a atividade, mas que durava cerca de um minuto, desaparecendo por completo. Segundo ele, já havia apresentado cerca de 10 desses episódios, sem, contudo, ter buscado auxílio médico. Informava ainda que na manhã daquele dia, após o café, voltou a apresentar retroesternal constritiva, que se estendia pela região precordial e membro superior esquerdo. A dor já durava cerca de 40 minutos. 3 AV1 – Prática Médica 3 – Prof.ª Márcia Ney – Fernanda Pereira – 5º período Concomitantemente, o paciente relatava sudorese e náusea. Ao exame, o paciente estava agitado, com face de dor, um pouco pálido, com diaforese (dificuldade para falar, fala entrecortada). As extremidades estavam ligeiramente frias (paciente já estava mal perfundido). Sua frequência cardíaca (FC) era de 98 bpm e respiratória (FR) de 28 irpm com Pressão arterial (PA) em torno de 110/70 mmHg. Apresentava o murmúrio vesicular audível universalmente, com discreta estertoração nas bases. O ritmo cardíaco era regular, em 3 tempos (B4). O abdome não apresentava alterações. O eletrocardiograma feito imediatamente mostrou supradesnivelo de ST de V2 a V5. Foi feito nifedipina sublingual, oxigêniopor cateter naso-faríngeo, punção de veia com Jelco, e sedação com Dolantina. O paciente foi então transferido para a Unidade Coronariana do hospital. Discussão dos casos clínicos Como é o processo de traduzir queixas/ sintomas ⎯ mais ou menos definidas ⎯ dos pacientes em sinais “objetivos”? Como se poderia caracterizar uma dor: localização grandes localizações ⎯ torácica / abdominal/ perna esquerda X localizações anatômicas mais refinadas ⎯ precordial, hemitórax esquerdo, quadrante superior do abdome, região poplítea direita, etc intensidade (forte, fraca, moderada) frequência (contínua X descontínua; diária / ocasional / recorrente) início (súbito / insidioso) duração (tempo mais ou menos preciso: curta X longa; em minutos) característica (em aperto, em pontada, em cólica, pulsátil, em queimação, etc.) fatores desencadeantes (esforço, exercício, movimento, postura, relação com alimento, etc) fatores atenuantes (cessação do exercício, repouso, analgésicos, postura, etc) irradiação sim ou não local da irradiação (nuca, braço esquerdo, etc) sintomas associados (febre, diarreia, vômitos, etc). Etapas ⇩ O médico classifica a dor como pleurítica, anginosa, etc. ⇩ Cada tipo de dor está associado a uma constelação de doenças, a uma síndrome ⇩ Estabelecimento de hipóteses diagnósticas, diagnósticos presuntivos ⇩ investigação diagnóstica clínico-laboratorial Como é o processo de exame do paciente: rotina x exame dirigido pelas hipóteses feitas pelo médico Investigação laboratorial: Teste é teste: tem margem de erro Erro depende das características do teste (propriedade dos testes) e da forma como ele é pedido e interpretado (valor preditivo). Bônus – Questão prova SUSEME emergência - 2020 4. Homem, de 55 anos de idade, dá entrada na emergência com queixa de precordialgia, desconforto epigástrico e tonteira. Ao exame: Fáscies de dor, hipocorado (+/4+), sudorese fria. Ausculta pulmonar sem alterações ausculta cardíaca revela ritmo irregular e FC= 109bpm. A conduta deve ser: a. Oferecer oxigênio, fazer ecocardiograma e preparar o cateterismo b. Oferecer morfina, fazer eletrocardiograma e preparar o cateterismo c. Fazer hidratação venosa, fazer eletrocardiograma e administrar nifedipina sublingual d. Oferecer oxigênio, fazer hidratação venosa, fazer eletrocardiograma e administrar morfina e clopidogrel COMENTÁRIO JALEKO: Homem, 55 anos de idade com dor torácica? Acenda a luz vermelha. Podemos estar diante de uma síndrome coronariana aguda. Nesse caso, o ideal seria ter um eletrocardiograma em até 10 minutos da admissão. O Ecocardiograma é importante, mas não nesse primeiro momento, logo eliminamos a primeira opção. Com o ECG em mãos tomamos nossa decisão, mas a questão parece confusa em relação aos próximos passos. Preparar cateterismo? Não há nada que indique 4 AV1 – Prática Médica 3 – Prof.ª Márcia Ney – Fernanda Pereira – 5º período na questão que esse indivíduo apresenta uma clara indicação de cateterismo, logo eliminamos também a opção B. Nifedipino sublingual? Se a ideia é dar um gosto ruim ao paciente num momento de estresse, então poderíamos selecionar essa opção, mas como não é esse o objetivo, incorreta. Por fim, nos resta a opção D, onde podemos oferecer oxigênio, de acordo com a saturação, lembrando que hiperoxia é danoso, podemos ou não fazer hidratação, de acordo com a hemodinâmica e podemos também fazer ataque com um antiplaquetário, no qual a questão escolheu o clopidogrel e decidiu também fazer analgesia com morfina, que nem sempre é obrigatória. Assim, com muita dificuldade chegamos ao gabarito.