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Insuficiência cardíaca na pediatria CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO INTRODUÇÃO - A insuficiência respiratória (IR) é a incapacidade do organismo em captar oxigênio e eliminar CO2 de maneira suficiente para suprir a demanda me- tabólica do mesmo, e toda anormalidade que se manifesta por diminuição da pO2 arterial (<50 mmHg) associada ou não com aumento do pCO2 (>50 mmHg). INCIDÊNCIA DE IR EM PACIENTES PEDIÁTRICOS - A criança é particularmente suscetível a desen- volver insuficiência respiratória e tornam-se rapi- damente hipoxêmicas em razão de sua disfunção respiratória e reserva de oxigênio mais baixas. Calibre das vias aéreas - Quando a criança nasce, já apresenta a rami- ficação definitiva das vias aéreas inferiores que vai ter vida adulta (tendo diferença no diâme- tro e no comprimento). Por apresentarem menor calibre, ocorre uma elevada resistência à passagem do ar, favo- recendo o aparecimento de quadros obstru- tivos nas crianças. Superfície alveolar - A superfície alveolar da criança é bem menor que a do adulto, logo, em crianças muito pe- quenas, quando houver comprometimento do parênquima pulmonar, elas estarão mais pro- pensas a apresentar hipoxemia mais precoce- mente. Imaturidade pulmonar - Quando o bebe nasce, seu sistema pulmonar não está totalmente desenvolvido, logo, a re- sistência vascular pulmonar ao nascer é mais elevada que a resistência vascular sistêmica. Complacência torácica - Na criança, os ossos da caixa torácica são frá- geis e muito complacentes (grande elasticida- de) que ocasiona retrações do arcabouço torá- cico; com isso, a manobra compensatória da resposta reflexa para aumentar a força contrá- til da musculatura intercostal e diafragmática para aumentar a pressão negativa intratorá- cica e promover uma melhor entrada de ar não acontece de forma eficaz. Massa muscular diafragmática - Crianças prematuras apresentam um diafrag- ma atrófico ou pouco desenvolvido, o qual es- tá sujeito à fadiga e ao esgotamento precoce em situações que necessite trabalhar acima de suas condições. CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO Imaturidade do sistema imunológico - O recém nascido e o lactente apresentam um sistema imunológico frágil e imaturo, o que faz com que eles sejam especialmente suscetíveis a adquirirem infecções bacterianas e virais e à facilidade de generalização dessas. CLASSIFICAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA IR hipoxêmica (tipo I) - Possui origem pelo prejuízo da difusão do oxi- gênio do alvéolo para o sangue e caracteriza- se pela diminuição da pO2 (hipoxemia), sem retenção simultânea de CO2 (ventilação pre- servada), não havendo comprometimento ou diminuição significativa do volume minuto (en- tre 35 e 45 mmHg). Causas Quebra da membrana alvéolo-capilar: gera alterações na permeabilidade das barreiras que resulta na diminuição da capacidade de difusão em edema pul- monar, SARA, pneumonia intersticial e fibrose Distúrbio V/Q: ocorre devido a aumen- to do espaço morto em embolia pulmo- nar e efeito shunt (resulta em hipoxe- mia) em casos de atelectasia pulmonar Redução da FiO2: ocorre em situações de grandes incêndios, em que o oxigê- nio é consumido pelas chamas, e em al- titudes elevadas de ar rarefeito EFEITO SHUNT Área pobremente ou não ventilada de circulação pulmonar adequada, mas que não participa das trocas gasosas. Nessa situação, a relação ventilação-perfusão está diminuída. Isso ocorre nas doenças obstrutivas, onde a obstrução das vias aéreas causa a diminuição da ventilação al- veolar, mas não sua completa obli- teração. ESPAÇO MORTO Porção do volume corrente que não participa das trocas gasosas. Exis- tem algumas circunstâncias em que esse espaço morto pode aumentar, como na embolia pulmonar, que há o aumento da relação ventilação- perfusão. Isso ocorre quando o flu- xo sanguíneo para muitos alvéolos se encontra bloqueado, logo a ven- tilação desses alvéolos traz pouco ou nenhum benefício para a oxige- nação do sangue, aumentando o es- paço morto fisiológico. IR hipercápnica (tipo II) - Definida pela coexistência de hipoxemia e hi- percapnia, gerando acidemia (redução do pH), sendo causada por redução do drive respira- tório em lesões no centro respiratório do bul- bo - TCE ou AVC hemorrágico, por obstrução de vias aéreas em queda da base da língua, bronquite e enfisema, por doenças neuro- musculares como ELA e miastenia gravis, por overdose de drogas sedativas e por obstrução de vias aéreas superiores em OVACE, tumor ou edema de laringe. Central - Ocorre hipoxemia e elevação da pCO2 s/ haver um aumento significativo do gradi- ente alvéolo-capilar de oxigênio, sendo ge- rada sem comprometimento no parênqui- ma, nas pleuras ou nas vias aéreas. CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO Periférica - Ocorre hipercapnia secundária pois a hi- poxemia é mais acentuada, em consequên- cia de um grande gradiente alvéolo capilar, ocorrendo em doenças pulmonares obs- trutivas (asma e bronquiolite), nas quais não há uma adequada entrada e saída de ar a cada ciclo ventilatório, ocorrendo en- tão a retenção de CO2, mesmo havendo taquipnéia. Observação (IR crônica): Pode gerar alcalose me- tabólica (retenção de HCO3) porque o organismo tenta compensar a sua retenção de CO2 (hipoven- tilação). A IR ainda pode ser classificada de acordo com o local de comprometimento, podendo ser do sistema nervoso (central ou periférico), do sis- tema muscular, das vias aéreas superiores e inferiores, do parênquima pulmonar, da pleu- ra e da parede torácica. AVALIAÇÃO DA OXIGENAÇÃO - A forma mais apropriada para avaliar hipoxemia se dá pelo uso de saturômetros (oxímetros de pul- so) para ter uma estimativa da oxigenação arterial pela saturação de hemoglobina, já que existe uma correlação entre a saturação da hemoglobina e a pressão parcial de oxigênio - pO2. Porém, sua utilização tem se mostrado pouco sensível para monitorizar os níveis tóxicos de oxigênio (hiperoxemia). Observação (Hipóxia x hipoxemia): A hipóxia é a insuficiência ou redução de oxigênio nas células ou nos tecidos do corpo, já a hipoxemia trata-se de baixos níveis de oxigênio no sangue. QUADRO CLÍNICO DO PACIENTE COM IR LOCAL DE COMPROMETIMENTO MANIFESTAÇÃO CLÍNICA SNC, SNP e s. muscular Respiração superficial, ap- neia, bradipneia, respira- ção paradoxal, esforço res- piratório variável e sudo- rese intensa. Diminuição simétrica do murmúrio ve- sicular na ausculta. Vias aéreas superiores Estridor, cornagem, retra- ção esternal, tiragem su- praesternal e intercostal, posição preferencial, ta- quipneia, taquicardia, agi- tação, prostração e ciano- se (casos mais graves). Vias aéreas inferiores Taquipneia por diminuição do volume corrente, tem- po expiratório prolonga- do, tiragem subcostal, in- tercostal e supraesternal, sibilância e/ou crepitação difusa. Parênquima Taquipneia, uso de muscu- latura acessória, batimen- to de asa nasal e cianose. Pleura Taquipneia, dor ventilató- rio dependente, retrações intercostais e subcostais e murmúrio vesicular dimi- nuído. Parede torácica Aumento da frequência respiratória e em volumes correntes subnormais CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO MANEJO TERAPÊUTICO DA IR Manutenção da via aérea superior Promover posição de conforto ou abertura da via aérea superior, o profissional deve posicionar corretamente a cabeça da crian- ça, de forma a alinhar os eixos oral, traque- al e faríngeo Aspiração de vias aéreas, se necessário Abertura manual de vias aéreas através das manobras chin lift ou jaw trust Utilização dacânula orofaríngea/Guedel (paciente inconsciente) ou da cânula naso- faríngea (crianças conscientes com reflexo de tosse intacto) Oferecer suporte respiratório Oxigenação - A oferta de O2 é mandatória, mesmo com SatO2 >92%, para otimizar o transporte de O2 aos tecidos e diminuir o trabalho respi- ratório. Criança mantendo ventilação espontâ- nea efetiva: pode-se administrar O2 por meio de diversos dispositivos e sua es- colha (de acordo com a situação clínica da criança e a concentração desejada de oxigênio) Criança em ventilação espontânea não efetiva ou inconsciente: proceder à ventilação assistida com o dispositivo bolsa valva-máscara com reservatório, a FiO2 permanece próxima de 100% se a máscara estiver bem acoplada a face Cânula nasal de alto fluxo - Fornecimento de O2 aquecido e umidifi- cado (37ºC e 100% de umidade relativa), emprega altas taxas de fluxo e gera uma pressão positiva na via aérea, assim ocorre redução do espaço morto, com aumento da oferta de oxigênio e diminuição do pCO2 no alvéolo. Ventilação não-invasiva - Antes de optar por ventilação mecânica, vai fornecer pressão positiva contínua, ou dois níveis de pressão, através de uma in- terface (máscara ou pronga), melhorando o desconforto respiratório, ainda com in- cremento na oxigenação e na ventilação. Ventilação mecânica - Indicada quando há falhas nas tentativas anteriores de fornecer oxigenação e venti- lação adequada. Otimizar o suporte cardiovascular - Na insuficiência respiratória aguda moderada a grave, qualquer dispositivo pressórico utiliza- do (ventilação não-invasiva ou ventilação me- cânica) diminui o retorno venoso, podendo di- minuir o débito cardíaco, necessitando de mo- nitoramento dos sinais vitais e acesso venoso. Tratamento da doença base - Deve-se direcionar a terapêutica ao evento que determinou a IRpA. CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO MONITORAMENTO DA CRIANÇA COM IR - Deve ser feito por meio de equipamentos ou pela coleta de exames, como RX (pneumonia, atelec- tasia, derrame pleural), gasometria arterial (ava- liar oxigenação, ventilação e metabolismo celular), oximetria de pulso (resposta imediata a oxigenote- rapia) e capnografia (em caso de intubação ou de ventilação mecânica). REFERÊNCIAS PIVA, Jefferson et al, Estudo do crescimento intra-uterino... -Tavares RFS ARTIGO DE REVISÃO S99 Jornal de Pediatria Insuficiência respiratória na criança Respiratory failure in the child, Jornal de Pediatria, v. 74, n. 1, p. 99, 1998.
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