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Queimaduras: Classificação e Avaliação Inicial

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Queimaduras 
CESMAC-P4 SUPORTE BÁSICO DE VIDA MARIA LUIZA PEIXOTO 
INTRODUÇÃO 
- As queimaduras são feridas que resultam de le-
sões traumáticas na pele ou em outros tecidos, 
principalmente, por exposições térmicas ou outras 
exposições agudas. 
 
 No Brasil, acontecem cerca de 1 milhão de ca-
sos por ano, sendo que 100 mil buscam aten-
dimento hospitalar e, destes, 2,5 mil vão a óbi-
to direta ou indiretamente em função de suas 
lesões. 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS 
 Causas 
- Podem ser por calor, eletricidade, química, 
fricção e radiação. 
 
 Profundidade 
- Indica, em grande parte, o potencial de cica-
trização e a necessidade de intervenção cirúr-
gica. 
 
 
 
 Superficial/epidérmicas 
- São as queimaduras de 1º grau, doloro-
sas, eritematosas e com ausência de bo-
lhas; possuem recuperação é rápida e não 
determina risco de vida. 
 
 
 
 Espessuras parciais (2º grau) 
 Superficial: a queimadura atinge a epi-
derme e a derme papilar, ocorrendo a 
formação de bolhas com base rósea 
 
 
 Profunda: estende-se até a derme mais 
profunda e danificam os folículos capi-
lares e tecido glandular, possuindo co-
loração avermelha ou amarelada 
 
 
 
 
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 Espessura completa 
- Corresponde às queimaduras de 3º grau 
e se estende por toda a derme, geralmen-
te, danifica todo o tecido subcutâneo sub-
jacente; tem uma aparência mais escura, 
possuindo um aspecto de couro; sem cirur-
gia, cicatrizam por contratura, com epite-
lização em torno das bordas das feridas. 
 
 
 Lesão extensa 
- Corresponde às queimaduras de 4º grau 
(mais graves) que se estendem até o tecido 
subcutâneo, e envolve vasos, nervos, mús-
culos, ossos e/ou articulações subjacentes, 
sendo potencialmente fatais e necessitam 
imediatamente de uma conduta interven-
cionista. 
 
 
 
EXTENSÃO DA QUEIMADURA (2º, 3º e 4º GRAUS) 
 Regra dos 9 
- Regra muito utilizada na prática diária, quan-
do se busca uma estimativa imediata da super-
fície corpórea atingida (SQC) para definição da 
conduta. 
 
 Adulto: o corpo é dividido em regiões ana-
tômicas que representam 9% ou múltiplos 
de 9% da SQC 
 
 
 Criança: a cabeça corresponde a uma por-
centagem maior (2x) e os MMII a uma por-
centagem menor do que na do adulto 
 
 
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AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE QUEIMADO 
 Interromper o processo de lesão 
 Remover completamente a roupa do doen-
te para interromper o processo de queima-
dura, exceto se estiver aderida a pele 
 Limpar a SQC com água corrente após a in-
terrupção do processo de lesão 
 Evitar a hipotermia (lençóis quentes) 
 
 Controle de via aérea 
- As queimaduras podem levar a um processo 
de edema e, por isso, a via aérea superior sem-
pre está em risco de obstrução, precisando, as-
sim, da avaliação precoce da necessidade de 
intubação. 
 
 Intubação orotraqueal precoce 
 Sinais de obstrução de via aérea 
 Extensão de SQC maior que 40% 
 Queimaduras faciais extensas e profun-
das e no interior da boca 
 Edema significativo ou seu risco 
 Dificuldade para deglutir 
 Diminuição do nível de consciência 
 Sinais de comprometimento respirató-
rio 
 Necessidade de transferência 
 
 Assegurar a ventilação adequada 
- Preocupar-se quanto a ventilação desses pa-
cientes em situações de hipóxia, intoxicação 
por CO e por lesões inalatórias de fumaça. 
 
 
 
 Hipóxia 
- Pode estar relacionada a lesão inalatória, 
ventilação inadequada por queimaduras 
circunferenciais no tórax ou lesões trau-
máticas torácicas que não estão relaciona-
das à queimadura. 
 
 Deve ser administrado oxigênio suplemen-
tar com ou sem intubação. 
 
 Exposição ao monóxido de carbono 
- Geralmente é intoxicação de queimados 
em ambientes fechados por CO e é feito 
pela história da exposição e medida direta 
desse gás no sangue (HbCO). 
 
 Níveis elevados de CO podem gerar cefa-
leias, náuseas, coma e até morte, e qual-
quer paciente exposto deve receber oxigê-
nio de alto fluxo (100%) através de uma 
máscara de não-reinalação. 
 Realizar radiografia de tórax e gasometria 
arterial para avaliação da condição pulmo-
nar inicial. 
 
 Inalação de cianeto 
- Pode ser a partir dos produtos de com-
bustão no caso de queimaduras que ocor-
rem em ambientes fechados. 
 
 O médico deve consultar o centro de quei-
mados ou de controle de veneno. 
 Um sinal de potencial toxicidade do ciane-
to é sua persistente e inexplicável profunda 
acidose metabólica. 
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 Tratamento da circulação com a reanimação 
do choque causado pela queimadura 
- Deve ser administrado líquidos para reanima-
ção de doentes com queimaduras parcial pro-
funda e de espessura total maior que 20% da 
superfície corporal total, tomando cuidado pa-
ra não exagerar na reanimação. 
 
 Obtenção de acesso venoso 
- Deve ser periférico com cateter de grosso 
calibre e acesso em região de pele intacta, 
e dar preferência a membros superiores 
em relação aos inferiores, iniciando a in-
fusão com solução cristalóide isotônica 
(ringer lactato). 
- metade do volume total estimado é admi-
nistrado nas primeiras 8hs após a queimadu-
ra e o restante é administrado nas 16hrs se-
guintes 
 
 
 Se a extensão da queimadura não permitir 
a introdução do catéter através da pele ín-
tegra, fazer punção através da pele quei-
mada. 
 No caso de não obter acesso periférico, po-
de considerar fazer um acesso venoso cen-
tral ou infusão intra-óssea. 
 
 Débito urinário 
- Tem que ser de 0,5 mL/Kg/h e é produzido 
pela taxa de infusão inicial de fluidos. 
 
 Uma reposição insuficiente resulta em hi-
poperfusão (pode lesionar o órgão). 
 Uma reposição excessiva resulta em au-
mento do edema que pode levar à progres-
são de profundidade da queimadura ou 
síndrome compartimental abdominal e de 
extremidades. 
 
AVALIAÇÃO DO DOENTE 
- Após a abordagem inicial do paciente, para mini-
mizar o risco de morte, realiza-se uma avaliação do 
doente com a história, classificação da superfície 
corporal e profundidade da lesão. 
 
 História clínica 
- A história das circunstâncias em que ocorreu 
a lesão é extremamente valiosa no tratamento 
do doente queimado, pois a vítima pode sofrer 
lesões associadas durante tentativas para es-
capar do fogo. 
 
 SAMPLA 
 
 Explosões podem arremessar à uma distância 
e provocar fraturas ou lesões internas, como 
lesões do SNC, miocárdicas, pulmonares e ab-
dominais. 
 Em queimaduras em ambientes fechados, de-
ve-se suspeitar de lesão por inalação e lesão 
cerebral anóxica (se houver associação com 
perda de consciência). 
V = 2 mL de ringer lactato x peso (Kg) x SQP 
S -> sinais e sintomas 
A -> alergias 
M -> medicamentos em uso 
P -> passado médico 
L -> líquidos ingeridos nas últimas horas 
A -> ambiente e eventos relacionados ao trauma 
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Observação: Alguns doentes podem estar queima-
dos por tentativa de suicídio ou de abuso, logo, 
deve-se atentar se a história e a característica da 
lesão condizem com a situação clínica do paciente. 
 
 Definição da SQC e da profundidade 
- Utilizar os critérios já citados, e, para evi-
tar superestimar ou subestimar a extensão 
da queimadura, não incluir queimaduras 
superficiais. 
 
TRANSFERÊNCIA DE DOENTES 
- O Centro de Referência na Assistência a Queima-
dos é uma unidade hospitalar que possui ambula-
tório, pronto socorro, sala cirúrgica e leitos de en-
fermaria e UTI, exclusivos para atendimento a pa-
cientes vítimas de queimaduras. 
 
 
 Internação na uti 
 Crianças em fase aguda com scq ≥ 20% 
 Adultos em fase aguda com scq ≥ 30% 
 Suspeita/diagnóstico de lesão por inalação 
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA E MEDIDAS AUXILIARES 
 Documentação 
- Deve ser iniciado um preenchimento do re-gistro do paciente, descrevendo o tratamento 
que foi ministrado, incluindo quantidade de 
fluidos administrados e um diagrama mostran-
do a área e a profundidade das queimaduras; 
esse registro deve acompanhar o doente quan-
do for transferido para área de queimados. 
 
 Exames básicos 
- Deve-se ter amostra de hemograma, tipagem 
sanguínea e provas cruzadas, HbCO (carboxi-
hemoglobina), glicemia, eletrólitos, gasome-
tria arterial e teste de gravidez em mulheres 
em idade fértil. 
 
 Também deve-se e ser realizada uma radio-
grafia de tórax nos doentes que estejam com 
suspeita de lesão por inalação de fumaça, que 
pode ser repetida se necessário. 
 Pode solicitar outras radiografias para avaliar 
outras lesões que possam estar associadas. 
 
 Manutenção da circulação periférica em quei-
maduras circunferenciais de extremidades 
- O objetivo dessa avaliação da circulação peri-
férica é que seja excluída a síndrome compar-
timental (geralmente causada pelo aumento 
da pressão dentro do compartimento muscu-
lar, o que interfere a perfusão das estruturas 
nesse compartimento). 
 
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 Essa condição resulta da combinação da dimi-
nuição de elasticidade da pele e do aumento 
do edema dos tecidos moles. 
 
 Medidas auxiliares 
 Sondagem gástrica 
 Narcóticos, analgésicos e sedativos 
 Cuidados com a ferida 
 Reavaliar a ferida 
 Desbridamento de tecidos mortos 
 Escolha do curativo 
 Tratamento com antimicrobianos 
 Imunização anti-tetânica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 American College of Surgeons. ATLS, 
Advanced Trauma Life Suport. 10ª Edition. 
2018. 
 Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. 
Queimaduras: Diagnóstico e Tratamento 
Inicial. Projeto Diretrizes. Abril 2008.

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