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MARIANA C. A. SOUZA Alterações das Bulhas Cardíacas ALTERAÇÕES DA 1ª BULHA CARDÍACA INTENSIDADE DA 1ª BULHA CARDÍACA → A intensidade da primeira bulha é avaliada nos focos mitral e tricúspide (devido ao fechamento dessa valvas atrioventriculares (AV)). Diversos fatores influenciam na intensidade desta bulhas, podendo destacar: ✓ Posição das valvas AV no início do seu fechamento; ✓ Níveis das pressões nas cavidades cardíacas; ✓ Velocidade de subida da pressão intraventricular; ✓ Condições anatômicas das valvas AV; ✓ Força de contração do miocárdio; ✓ Condições relacionadas a transmissão das vibrações. Fator principal para a intensidade da 1ª bulha: posição dos folhetos das AV no instante da contração ventricular. Assim, quanto mais baixo estiverem os folhetos, maior será o trajeto a percorrer ao se fecharem, e mais intenso será o ruído formado por eles. → Condições que levam à diminuição do enchimento ventricular (taquicardia, hipertireoidismo, extrassístoles) são acompanhadas de hiperfonese da 1ª bulha. Isso acontece devido a contração ventricular ter início no momento em que as valvas se encontram baixas. Em uma fibrilação atrial a intensidade da primeira bulha vai variar de uma bulha para a outra. Desta forma temos, ora hiperfonética, ora mediana, ora fraca. Tal alteração acontece mediante ao enchimento variável dos ventrículos, devido as diferenças na duração das diástoles. → delirium cordis: expressão dada a arritmia que provoca mudanças na sequencia e na intensidade da primeira bulha. Isso ocorre quando o coração se contrai, após a entrada de pequena quantidade de sangue na cavidade (as válvulas estarão fracamente abertas e situadas bem abaixo) originando uma 1ª bulha de grande intensidade. No batimento seguinte, se a sístole ocorrer após uma diástole longa (no qual tem maior afluxo de sangue, e as valvas estão quase fechadas) a intensidade da 1ª bulha será menor que a precedente. Tais fatos ocorrem de maneira irregular. Os níveis de pressões nas cavidades possuem maior importância na determinação da intensidade da 1ª bulha nos portadores de lesões orovalvares. Desta forma, quando a pressão intra-atrial for elevada, como no caso de estenose mitral, as valvas se afastam mais amplamente e, ao se fecharem, determinam um ruido mais intenso. A velocidade de subida da pressão intraventricular é outro fator que merece ser considerado. Quando se tem casos de miocardite, miocardiopatia, miocardioesclerose, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca, a elevação da pressão intraventricular acontece mais lentamente, e por isso, a 1ª bulha costuma ser hipofonético. Outro fator de significativa influencia na intensidade da 1ª bulha são as condições anatômicas das valvas AV. Desta maneira, quando a valva mitral está lesada, com fibrose do aparelho orovalvar e fusão das comissuras, há um aumento da intensidade da 1ª bulha, no qual adquire tonalidade aguda e timbre metálico. Na estenose mitral com intensa calcificação da valva, a primeira bulha pode diminuir de intensidade, isso advém de os folhetos permanecerem imobilizados, incapazes de produzir ruídos. A capacidade contrátil do miocárdio, também é um fator determinante da intensidade da primeira bulha. Assim, após o exercício físico, ou pacientes que apresentem febre, hipertireoidismo e estenose mitral, vai ter a presença de hiperfonese de tal bulha (advém do fechamento mais rápido das valvas). No caso de choque cardiogênico, no qual a força de contração do miocárdio é menor, o fechamento das valvas AV é mais lento, assim, a 1ª bulha possuirá pequena intensidade. Por fim, fatores que interferem na transmissão do ruído possuem varias naturezas. Em indivíduos de tórax delgado (principalmente crianças), a 1ª bulha, em geral, é mais intensa. No seu contrário, quando as massas musculares dos peitorais são mais desenvolvidas, o quando há a presença de mamas volumosas, obesidade, enfisema pulmonar e derrame do pericárdio, há a presença de hipofonese de 1ª bulha. MARIANA C. A. SOUZA TIMBRE E TONALIDADE DA 1ª BULHA Quando há a presença de estenose mitral, as valvas se tornam rígidas, em decorrência da fibrose. Assim, o ruido produzido pelo seu fechamento, além de ser mais intenso, possuem tonalidade aguda e timbre metálico. DESDOMRAMENTO DA 1ª BULHA Em grande parte dos indivíduos normais, em especial crianças e jovens, nota-se uma 1ª bulha desdobrada na área mitral e/ou tricúspide. Isso advém de uma discreto assincronismo, de natureza normal, na contração dos ventrículos. Agora, se o desdobramento for amplo, é de extrema importância levantar a suspeita de bloqueio de ramo direito, que ao retardar a contração ventricular direita, atrasa o fechamento da tricúspide. Em vez de ouvir o TUM-TA-TUM-TA-TUM-TA, ouve-se uma sequência de ruídos que pode ser representado por TLUM-TA-TLUM-TA-TLUM-TA. Nesses casos, no foco pulmonar, pode-se encontrar, também, desdobramento da 2ª bulha. MASCARAMENTO DA 1ª BULHA Isso pode ocorrer quando há um sopro sistólico de regurgitação que tem inicio junto com a primeira bulha, no qual a recobre, se estendendo ate o fim da sístole. ALTERAÇÕES DA 2ª BULHA CARDÍACA INTENSIDADE DA 2ª BULHA →A intensidade da 2ª bulha é analisada nas áreas da base, aórtica e pulmonar, pois o principal componente desta bulha é o fechamento das valvas sigmoides aórtica e pulmonar. As alterações dessa bulha é em decorrência de: ✓ Posição das valvas no início de seu fechamento; ✓ Condições anatômicas; ✓ Níveis tensionais na circulação sistêmica e na circulação pulmonar; ✓ Condições relacionadas à transmissão de ruídos. O fator principal de alteração constitui a posição das valvas no início do seu fechamento, pois quanto maior a distância percorrida por elas, mais intenso será o ruido. Assim, quando o debito ventricular decresce, as valvas sigmoides se mantem próximas umas das outras no início do seu fechamento, resultando em um ruido de menor intensidade. Tal fato acontece nas extrassístoles, estenose aórtica, estenose pulmonar e nas miocardiopatias. Agora, quando há aumento do debito ventricular, pode haver a hiperfonese da 2ª bulha, devido a persistência do canal arterial e comunicação interatrial. As condições anatômicas das valvas é um fator que colabora para a alteração da intensidade da 2ª bulha. Assim, quando se tem valvas calcificadas, estas produzem ruídos de pequena intensidade, pois se movimentam muito pouco. Em casos de estenose aórtica calcificada, o componente da 2ª bulha se torna praticamente inaudível. O mesmo acontece nos defeitos congênitos em que há a soldadura das valvas, impedindo-as de se movimentarem amplamente. Ao relacionar as condições anatômicas, com as paredes vasculares e as condições pressóricas nos territórios da aorta e da pulmonar, encontra-se as diferentes intensidades da 2ª bulha nas áreas aórticas e pulmonar nas varias etapas da vida. Assim temos nas crianças uma 2ª bulha mais intensa na área pulmonar, nos adultos sua maior intensidade é na área aórtica, adolescentes e adultos jovens, a intensidade nos focos de bases são mais ou menos a mesma, e por fim, nas pessoas idosas, a 2ª bulha é mais intensa na área aórtica. Outro fator que colabora para a alteração na intensidade da 2ª bulha são os níveis tensionais da circulação sistêmica ou pulmonar. Desta maneira, quando ocorre aumento da pressão na aorta ou na pulmonar, as cúspides correspondentes se fecham com mais força, provocando, assim, hiperfonese de 2ª bulha. Devido a isso, na hipertensão arterial sistêmica, há hiperfonese da 2ª bulha na área aórtica, e na hipertensão pulmonar, ocorre um fato semelhante na área pulmonar. Por fim, existem as condiçõesrelacionadas com a transmissão do ruído, no qual os indivíduos com tórax delgado, possuem uma 2ª bulha mais intensa. Já o seu contrário, que se observa em casos de obesidade, massas musculares desenvolvidas, mamas volumosas e enfisema pulmonar, observa-se uma segunda bulha com menor intensidade, pois as situações citadas dificultam a transmissão do ruído. TIMBRE E TONALIDADE DA 2ª BULHA As alterações mais comuns do timbre e da tonalidade da 2ª bulha vai depender do endurecimento das MARIANA C. A. SOUZA sigmoides, e quando acontece, a bulha adquire caráter seco. → A tempos atrás, era levado muito em conta a qualidade “clangorosa” da 2ª bulha na área aórtica para o diagnostico de aortite luética. Isso não corresponde à realidade, pois tais alterações pode acompanhar qualquer hiperfonese da 2ª bulha, independente da causa. DESDOBRAMENTO DA 2ª BULHA O desdobramento da 2ª bulha é analisado na área pulmonar, pois nesse local se ouvem os componentes aórticos e pulmonar. → No desdobramento fisiológico, temos: → No desdobramento patológico, temos o constante e variável, fixo e invertido ou “paradoxal” DESDOBRAMENTO CONSTANTE E VARIÁVEL Esse desdobramento pode ser de origem mecânica ou elétrica, assim, em vez do TUM-TA-TUM-TA, o que se ouve é um TUM-TLA-TUM-TLA. O bloqueio do ramo direito do feixe de His provoca desdobramento constante e variável da segunda bulha. Esse distúrbio na condução faz com que o estimulo chegue atrasado ao lado direito, ao se comparar com o esquerdo, o que provoca um assincronismo eletromecânico na contração dos ventrículos. Por consequência , a valva pulmonar tem seu fechamento retardado, o que é interpretado estetoacusticamente pelo desdobramento constante da 2ª bulha, que se acentua na respiração profunda → por isso recebe o nome de desdobramento constante e variável. DESDOBRAMENTO FIXO Esse desdobramento é caracterizado quando ocorre o aumento de fluxo do sague para o ventrículo direito (como acontece na comunicação interatrial), como isso, essa câmara vau depender de mais tempo para se esvaziar. Por consequência, as sigmoides pulmonares se fecham após as sigmoides aórticas e o componente pulmonar se atrasa. Assim, é constituído a característica de valor clinico a duração “fixa” das distancias entre os dois componentes, independente da fase da respiração. Assim, durante a inspiração, acontece o aumento do retorno venoso para o coração direito, atrasando o componente pulmonar da 2ª bulha, e diminui a passagem de sangue do átrio esquerdo para o direito. Já na expiração, tem a diminuição do retorno venoso para o coração direito, contudo, há aumento da passagem de sangue do átrio esquerdo para o direito pela comunicação interatrial, o que novamente irá atrasar o fechamento da valva pulmonar. Com isso, ocorre o desdobramento da segunda bulha nos dois tempos respiratórios e sua irreversibilidade, ou seja, temos uma desdobramento fixo. Outra causa, é a estenose pulmonar, no qual, a sístole ventricular direita se prolonga em decorrência da dificuldade de esvaziamento desta câmara, levando ao retardo do componente pulmonar, como no bloqueio do ramo direito. DESDOBRAMENTO INVERTIDO Esse desdobramento pode ser observado no bloqueio do ramo esquerdo do feixe de His. Em geral, ele aparece durante a expiração, enquanto a fisiológica aparece na inspiração profunda. Isso acontece pois, em condições normais, o componente aórtico precede o componente pulmonar, pois o estimulo despolariza o ventrículo esquerdo alguns centésimos de segundo antes de despolarizar o direito. No bloqueio do ramo esquerdo, o estimulo alcança o miocárdio ventricular esquerdo depois de já ter havido a ativação ventricular. Isso resulta na contração do ventrículo direito realizada antes do ventrículo esquerdo, e o componente da segunda bulha passa a situar-se depois do componente pulmonar (inverso da situação normal). → influencia da respiração: na inspiração profunda, ocorre uma maior aporte de sangue ao ventrículo direito, retardando sua sístole e determinando fechamento da valva aórtica. Com isso, o ruido que corresponde a segunda bulha é único. Já na expiração, quando diminui o retorno venoso, o componente pulmonar se adianta e a 2ª bulha se torna desdobrada “paradoxalmente”. Esse desdobramento pode ocorrer, também, na estenose aórtica acentuada, neste caso, pelo atraso mecânico no fechamento da valva aórtica. ALTERAÇÕES DA 3ª E DA 4ª BULHA É valido lembrar que, em crianças e em adultos jovens, a 3ª bulha aparece com frequência se que sai ocorrência indique qualquer anormalidade. MARIANA C. A. SOUZA Em algumas cardiopatias, como insuficiência mitral, miocardiopatia ou miocardite, defeitos congênitos que apresentam shunt da esquerda para a direita, ou seja, comunicação interatrial (CIA), comunicação interventricular (CIV) e persistência do canal arterial (PCA), existem alterações hemodinâmicas ou da própria estrutura da parede ventricular que dão origem a uma 3ª bulha patológica. Como não há alteração estetoacústica entre a 3ª bulha fisiológica e patológica, o reconhecimento da condição patológica depende de outras alterações indicativas de lesão cárdica, tais como cardiomegalia, sopros e sinais de insuficiência cardíaca. Já a 4ª bulha cardíaca pode ser encontrada em crianças normais, contudo, sua ocorrência exige cuidado maior para afastar condições anormais. As condições que originam uma 4ª bulha patológica são as lesões estenóticas das valvas semilunares, aórtica e pulmonar, a hipertensão arterial, a doença arterial coronariana e as miocardiopatias hipertróficas, ou seja, todas as situações em que há diminuição da complacência ventricular. CLIQUES E ESTALIDOS os cliques e estalidos podem ser classificados como diastólicos e sistólicos (protossistólico e mesossistólito). ESTALIDOS DIASTÓLICOS Os estalidos diastólicos podem ocorrer nas estenoses da valva mitral e da valva tricúspide, acontecendo, de forma mais rara, na insuficiência mitral e na comunicação interatrial. ESTALIDOS DE ABERTURA MITRAL Se a valva mitral estiver normal, sua abertura, no início da diástole, não produz qualquer ruido. Contudo, em uma estenose mitral, devido as modificações anatômicas e das alterações pressóricas, a abertura da valva mitral passa a provocar um ruido seco, agudo e de curta duração. Além disso, costuma a ser intenso, e por isso, pode ser palpável. → Em relação a imagem acima, o estalido de abertura mitras (EAM) é um ruido seco (TÉ), de curta duração, protodiastólico, precedendo o ruflar, mais audível no foco mitral (FM) e na borda esternal esquerda (BEE). Aparece na estenose mitral em decorrência das modificações anatômicas das cúspides e das alterações pressóricas intracavitárias. ESTALIDO DE ABERTURA TRICÚSPIDE Esse estalido é mais audível na borda esternal esquerda, e, às vezes, na borda esternal direita. Em todos os pacientes que apresentam estenose tricúspide reumática, há ao mesmo tempo, estenose da valva mitral. Isso faz com que o estalido tricúspide seja mais difícil de reconhecer, e sua característica estetoacústica são as mesmas do estalidos mitral (seco, agudo e de curta duração). Sua diferenciação pode ser feita através de outros dados, como, o sopro e o tipo de pulso venoso. ESTALIDOS PROTOSSISTÓLICOS (PULMONAR E AÓRTICO) Os estalidos protossistólico são de origem vascular, produzidos pelas vibrações da parede do vaso. Além disso, por indicarem súbita ejeção de sangue nos vasos da base, também recebe o nome de ruídos de ejeção. Ele se caracteriza por ruídos de alta frequência, agudos e intensos, produzidos na artéria pulmonar e na aorta. É possível ouvir melhor os estalidos protossistólico pulmonar na área pulmonar e na bordaesternal a esquerda, se diferenciando do desdobramento da 1ª bulha pelo seu timbre mais agudo. Tal estalido pode ser encontrado na estenose pulmonar moderada, na dilatação idiopática da artéria pulmonar, na comunicação interatrial e na hipertensão pulmonar grave. Já o estalido protossistólico aórtico é mais audível na região que vai das vizinhanças do 4º espaço intercostal esquerdo junto a borda esternal até a mitral. Pode ser encontrado nas lesões valvares aórticas (estenose e insuficiência), coarctação da aorta, aneurisma da aorta, MARIANA C. A. SOUZA dilatação aórtica de etiologia aterosclerótica ou hipertensiva, e em algumas cardiopatias congênitas cianóticas com desvio do fluxo sanguíneo para a aorta (tetralogia de Fallot grave e truncus arteriosus). ESTALIDOS MESOSSISTÓLICOS E TELESSISTÓLICOS Trata-se de um surgimento entre a 1ª e a 2ª bulha, no intervalo sistólico, também chamado de cliques sistólicos. É uma ruido cuja origem pode ser uma brida pericárdica ou pleuropericárdica, ou prolapso da valva mitral. Esses estalidos são identificados através das suas características estetoacústicas, sendo um ruido de alta frequência, seco, agudo, situado no meio ou no fim da sístole, com intensidade que varia nitidamente durante os movimentos respiratórios e com mudanças de posição. Além disso, é audível nas áreas mitral ou tricúspide. É importante não confundir com o desdobramento da 1ª bulha, como o estalido protossistólico pulmonar ou aórtico, nem com o atrito pericárdico. Até o início dessa década os estalidos mesossistólicos eram considerados quase sempre de origem extracardíaca. Atualmente, são considerados indicativos de prolapso das valvas mitral ou tricúspide, mesmo na ausência de sopros. → A imagem acima mostra o clique sistólico (CS), que é um ruído de alta frequência, seco, agudo (TÉ), meso ou telessistólico, audível no focos mitral ou tricúspide, e que aparece quando há prolapso de uma destas valvas.
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