É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, nor...

É a América Latina, a região das veias abertas. Do descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundidades. As mulheres e os homens, a juventude, o próprio amor, trabalham para outros. No início de sua história, a América Latina não tinha nem história nem cultura. (...) O desenvolvimento industrial que se proclamou com alarde no século XIX, e que hoje se apresenta como a tábua de salvação da região, foi possível graças ao aumento da exploração dos trabalhadores e dos recursos naturais. A industrialização substituiu uma dependência por outra, e a subordinação mudou de aspecto, mas a essência da relação continuou a mesma. A dependência econômica da América Latina em relação aos países desenvolvidos é cada vez maior, e a industrialização que se realiza nesses países é cada vez mais autônoma em relação às necessidades do mercado interno latino-americano. A América Latina é uma região rica em matéria-prima e mão de obra barata, e por isso mesmo é objeto de cobiça por parte dos países desenvolvidos, que a mantêm em um estado de dependência econômica. (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. p. 17-18.)