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aos olhos de Cézanne, assim como para Merleau-Ponty, não é algo acabado, definido, pronto – de modo que possa ser definido, conceituado. Cézanne co...

aos olhos de Cézanne, assim como para Merleau-Ponty, não é algo acabado, definido, pronto – de modo que possa ser definido, conceituado. Cézanne confessa que ao pintar “uma única emoção é possível: o sentimento de estranheza: um único lirismo: o da natureza incessantemente recomeçada” (MERLEAU-PONTY, 2015, pp. 137-138). Além das afinidades entre Merleau- Ponty e Cézanne, ao proporem o fim de uma cisão entre sujeito e objeto, pensamento e sensação, da procura por uma natureza em sentido bruto, pré- reflexiva, esvaziada de predefinições, ambos se convergem ao sugerirem uma capacidade admirável de olhar o mundo como se fosse pela primeira vez. Em tal cenário, a obra de Cézanne emergiria, além disso, como uma forma tácita de pensamento por meio da pintura. Trata-se de uma obra que se coloca sempre diante de um encantamento frente ao mundo visível, propondo inclusive uma pintura que desperte o pensamento, ao invés de uma pintura a ser pensada, decifrada, compreendida. A aliança entre filosofia e obra de arte, teoria e prática, inteligível e sensível, confere, por- tanto, um novo estatuto a uma fenomenologia na pintura. Para concluir, podemos dizer que há mais do que uma afinidade entre a fenomenologia de Merleau-Ponty e a pintura de Cézanne. Há o que se pode chamar de um imbricamento, ao passo que os an- seios de ambos estão estreitamente ligados. Ao falar de um mundo pré-reflexivo e de uma natureza incessantemente recomeçada, sentimos um apelo para a necessidade do espanto diante do mundo. Espantar-se! Admirar-se! Assim como fizeram os primeiros homens em seu primeiro contato com o mundo, ou ainda como o primeiro olhar de uma criança ao nascer. As pinturas de Cézanne remetem sempre a um inacabamen- to, no mesmo sentido, como lembra Merleau-Ponty, de que, para Male- branche, o mundo é uma obra inacabada (cf. MERLEAU-PONTY, 2006, p. 544). Trata-se, portanto, de um mundo em um eterno fazer-se, uma eterna novidade, onde não há uma verdade absoluta, nem um conforto o que nos incomoda, pois nos força a pensar. Instituir uma fenomenologia da percepção é perceber o mundo e (re) perceber-se como parte do mundo e não como algo fora dele; é, en- fim, aprender a “descrevê-lo” tal como nos aparece, sem que haja uma de- limitação por signos pré-estabelecidos pelo mundo cultural ou da ciência, definindo-o em termos unívocos. Esse “mundo primordial” trazido à tela por Cézanne já não é mais a natureza adornada, mas esse domínio de expe- riência muda, silenciosa, nua em sua expressão mais própria. É a natureza enquanto tocamos pela primeira vez, com toda a admiração e estranheza. Merleau-Ponty e a percepção na obra de Cézanne: a pintura como retorno ao mundo pré-reflexivo

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Consideracoes_sobre_o_conceito_de_identi
431 pág.

Psicologia Universidade Federal FluminenseUniversidade Federal Fluminense

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