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Em um país alicerçado por meio de um longo processo de colonização, o qual por mais de trezentos anos manteve a constituição de um regime escravocr...

Em um país alicerçado por meio de um longo processo de colonização, o qual por mais de trezentos anos manteve a constituição de um regime escravocrata dos povos africanos e de seus descendentes, que mesmo após a abolição normativa da escravidão resiste em criar ações de reparação à população negra por este período sócio-histórico, localizando esta parcela da sociedade nos espaços mais vulneráveis, além de se fundamentar através da perpetuação de princípios racistas, a atual pandemia evidencia uma “distribuição desigual da vulnerabilidade”, como nos indica Mbembe (2020). “Atualizam-se as formas de violências, mas os corpos brutalizados são sempre os mesmos. O corpo negro adquire a admissibilidade de ser exterminado de diferentes maneiras” (SARDINHA; BOTELHO; CARVALHO, 2020, no prelo). Desse modo, a superação do racismo na sociedade brasileira é a luta principal a ser travada na contemporaneidade. Os tratamentos desiguais ofertados à população negra no Brasil refletem a sua perversidade. Nesse sentido, o desmantelamento do racismo é uma luta que precisa ser reforçada pela Psicologia. Ao tratar dos elementos que constituem a formação e a práxis psicológica no país se faz necessário “marcar que a psicologia brasileira é branca; [...] os currículos das universidades são impregnados de colonialismo, e os autores mais estudados são homens-brancos-europeus” (VEIGA, 2019, p.245). Portanto, pode-se afirmar que ao priorizar o estudo de tais referenciais teóricos em seu processo de formação, se deixa de contemplar a análise da realidade subjetiva de 54% da população brasileira, composta por negras e negros. Por sua vez, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), no ano de 2017, elaborou a norma técnica “Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática da(o) Psicóloga(o)”, a fim de oferecer mecanismos teóricos e práticos capazes de contribuir para a superação do racismo na sociedade. Esse material vai ao encontro do Código de Ética de Psicólogos e da resolução CFP nº 18/2002, que estabelece normas de atuação para a categoria em relação a preconceito e discriminação racial. A reprodução de práticas racistas repercute de forma significativa no meio social. Os corpos racializados sob o traço da negritude, marcados por uma estrutura de poder dominada pela branquitude, são erroneamente definidos pelo signo da inferioridade. Assim, vivenciamos cotidianamente os efeitos físicos, psicológicos, ambientais, urbanos, entre outros, provocados pelo racismo. Por sua vez, pessoas racializadas sob a perspectiva da brancura se beneficiam dos privilégios de uma estrutura social permeada por desigualdades raciais. Por fim, a pandemia da Covid-19 nos convoca a pensar na construção de ações enérgicas para a superação do racismo e das lógicas de atualização do colonialismo na sociedade. As desigualdades raciais produzem sufocamento e retiram cotidianamente as vidas de negras e negros. À psicologia cabe a potencialização de medidas que promovam a denúncia e o enfrentamento ao racismo, além do oferecimento de um atendimento ético-político ao povo negro, o qual considere as singularidades e os atravessamentos históricos que nos constituem enquanto sujeitos.

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748 pág.

Gestão Hospitalar

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