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DESPERTAR Já são mais de cem dias de isolamento social e o alarme do celular permanece ativo naquele mesmo horário de sempre. Nos primeiros dias, c...

DESPERTAR Já são mais de cem dias de isolamento social e o alarme do celular permanece ativo naquele mesmo horário de sempre. Nos primeiros dias, cheguei a levantar e até começar a me preparar para ir à clínica, como faço há oito anos, só me dando conta algum tempo depois de que as rotinas haviam sido alteradas bruscamente e que meus atendimentos agora eram online e, portanto, sem a necessidade do deslocamento casa-consultório que me consumia cerca de uma hora na ida e outra uma hora na volta. Cheguei a cogitar desligar o despertador, mas o mantive intato ainda que, muitas vezes, eu não respeite seus sinais. É que a tentativa de se estabelecer uma rotina em tempos onde já não há previsibilidades nem sempre logra êxito. A experiência de “ser” sem tudo aquilo que construímos ao longo dos anos e que nos dava certa segurança e conforto não se mostra como evento, com hora para começar e para acabar, mas sim como processo cujas bases são indefinidas sob os mais diferentes aspectos. Inclusive o temporal e espacial. É um tempo novo. São lugares novos. São lugares novos até mesmo em cômodos que julgávamos conhecer tão bem e agora percebemos que não é assim. Nunca reparei, por exemplo, que o Tartufo - meu cachorro - sempre corre para janela do apartamento e se estica em direção ao sol quando sua luz invade a sala de estar. É óbvio que já tinha visto isso acontecer uma meia dúzia de vezes, porém a presença contínua dentro de casa me fez reparar a regularidade desse ato, que passei a também fazer. Ao menos uma vez por dia, quando ele corre em direção ao sol, corro também para a janela e fico ao seu lado. Tento não pensar em nada; só sentir aquele calorzinho esquentando meu rosto. É uma sensação boa de que a vida continua pulsando e parece querer vencer a morte que nos ronda, não apenas pelo vírus, mas, principalmente, pela forma como aqueles que deveriam traçar estratégias e liderar as ações para combatê-lo se comportam. E acho que é por conta desse pulso de vida que mantenho meu despertador ativo. Seus toques, para mim representam um punhado da esperança de que as coisas retomarão seus rumos. A partir daí, acordar para um novo dia não será entendido apenas de maneira literal.

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ebook_expressoes aap4
748 pág.

Gestão Hospitalar

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