Leia o Poema “Os Miseráveis” de Sérgio Vaz, um trecho de sua entrevista e a definição de letramento nos PCNs.

Os Miseráveis

Autor: Sergio Vaz

Vítor nasceu… no Jardim das Margaridas.

Erva daninha, nunca teve primavera.

Cresceu sem pai, sem mãe, sem norte, sem seta.

Pés no chão, nunca teve bicicleta.

Já Hugo, não nasceu, estreou.

Pele branquinha, nunca teve inverno.

Tinha pai, tinha mãe, caderno e fada madrinha.

Vítor virou ladrão, Hugo salafrário.

Um roubava pro pão, o outro, pra reforçar o salário.

Um usava capuz, o outro, gravata.

Um roubava na luz, o outro, em noite de serenata.

Um vivia de cativeiro, o outro, de negócio.

Um não tinha amigo: parceiro.

O outro, tinha sócio.

Retrato falado, Vítor tinha a cara na notícia,

enquanto Hugo fazia pose pra revista.

O da pólvora apodrece penitente, o da caneta

enriquece impunemente.

A um, só resta virar crente, o outro, é candidato a presidente.

Disponível em: http://www.iea.usp.br/noticias/documentos/os-miseraveis-sergio-vaz/

Literatura periférica: a vida contada sem intermediários

por Mauro Bellesa - publicado 21/06/2018

Em 1988, Vaz lançou de forma independente seu primeiro livro: "Subindo a Ladeira Mora a Noite". Desde então, já publicou mais sete obras, entre elas "Flores de Alvenaria", "Colecionador de Pedras", "Cooperifa – Antropologia Periférica".

"A literatura não está só no papel. Há muita dor, lágrimas, muita coisa que não foi dita sobre o que acontece com negros, pobres, gays, mulheres. Talvez ainda não seja literatura, mas a gente quer se libertar, ser gente."

Para Vaz, está havendo uma "Primavera Periférica, como outras que aconteceram pelo mundo, mas só que tudo está acontecendo ao mesmo tempo". A Cooperifa é parte importante desse movimento, pois "estimulou o surgimento de mais de 50 saraus de poesia em outras regiões da cidade".

Definição de letramento nos PCN:

Letramento, aqui, é entendido enquanto produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas, ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler ou escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas modernas, não existe grau zero de letramento pois nelas é impossível não participar, de alguma forma, de algumas dessas práticas. (BRASIL, 2007, p.21)

Articulando os três textos é correto afirmar que

 As camadas populares ao fazerem uso da escrita, se restringem à produção de textos com caráter mais funcional e, portanto, precisam ter suas experiências ampliadas na escolarização.

 A falta de senso estético inviabiliza o uso de escritores não consagrados na literatura brasileira como objetos de estudo no interior da disciplina Língua Portuguesa.

 A publicação de livros por autores não consagrados tem conquistado um número muito grande de leitores que se interessam pela literatura marginal, especialmente por leitores universitários e estrangeiros, daí a importância em contemplá-las na escola.

 As práticas sociais desenvolvidas nas comunidades nas quais os alunos convivem devem ser valorizadas no interior da escola, compreendendo que diversos letramentos precisam ser integrados às práticas de ensino para que a leitura e a escrita ganhem um contexto significativo

 A valorização de textos clássicos da literatura para o incremento do processo de leitura e escrita das classes populares deve ser prioridade no ensino da disciplina Língua Portuguesa