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METODOLOGIA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ALFABETIZAÇÃO E-book 4 Gloria Freitas Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 EMÍLIA FERREIRO, A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NA AMÉRICA LATINA ��������������4 AS HIPÓTESES SOBRE A ESCRITA DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA COLABORAM COM O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO? �������13 COMO LIDAR COM ERROS ORTOGRÁFICOS NA ALFABETIZAÇÃO? COMO LIDAR COM AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ALFABETIZAÇÃO? ������������������������������������26 CONTRIBUIÇÕES INOVADORAS BRASILEIRAS PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: MAGDA SOARES E PAULO FREIRE� �������������������� 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������47 SÍNTESE ������������������������������������������������������ 48 2 INTRODUÇÃO Aqui você poderá conhecer as contribuições de Emilia Ferreiro, com a Psicogênese da língua escrita, no processo de construção da escrita, na alfabetiza- ção. Você aprenderá a identificar as hipóteses sobre a escrita, oriundas deste pensamento, no processo de alfabetização. Ainda, conhecerá e será capaz de analisar as contri- buições inovadoras brasileiras para o processo de alfabetização nas obras de Magda Soares e Paulo Freire, conhecendo a imensa contribuição que tais autores trouxeram para novas perspectivas na alfa- betização em Língua Portuguesa. 3 EMÍLIA FERREIRO, A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NA AMÉRICA LATINA Neste tópico, você conhecerá as contribuições de Emilia Ferreiro e da Psicogênese da língua escrita para o processo de construção da escrita na alfa- betização. Com o crescente interesse pelas discus- sões sobre temas relacionados à alfabetização e à superação do quadro preocupante de fracasso escolar e reprovação, na América Latina e no Brasil, nas últimas décadas do século 20, a obra de Emilia Ferreiro alcançou uma grande notoriedade, atenden- do às necessidades de reflexão em um momento em que a América Latina, e o Brasil particularmente, começavam a reorganização para superar os anos de autoritarismo, aparecendo a necessidade de repensar as políticas públicas educacionais para dinamizá-las (AZANHA, 2006). A argentina Emilia Ferreiro nasceu em 1936. Psicóloga, com formação em psicopedagogia, foi orientada no doutorado pelo próprio Jean Piaget, na Universidade de Genebra, o grande construtor de 4 uma perspectiva interacionista e construtivista para a Psicologia Cognitiva. O tema de pesquisa de Ferreiro, a escrita, era inédito para as pesquisas piagetianas, foi intitulado Relações temporais na linguagem da criança (LOTSCH, 2016). Regressou ao seu país, fun- dou um grupo de pesquisa sobre alfabetização, em Buenos Aires. Pesquisas desenvolvidas com crianças, em 1974, deram origem ao seu celebrado livro, A Psicogênese da língua escrita, com Ana Teberosky, sobre os sis- temas de escrita no desenvolvimento da criança, publicado na Argentina em 1979 e em 1984 no Brasil (LOTSCH, 2016). Essa obra traz o debate e uma nova perspectiva para um tema inquietador, na década de 1980 (AZANHA, 2006). Depois, Emilia Ferreiro segue para o México para ministrar aulas. A primeira obra da autora traduzida no Brasil foi A Psicogênese da língua escrita e trouxe “grande revolução conceitual nas referências teóricas com que se tratava a alfabetização até então, iniciando a instauração de um novo paradigma para a inter- pretação do modo pelo qual a criança aprende a ler e a escrever” (AZANHA, 2006, p. 43). É considerada uma importante obra, sem privilegiar os temas tra- dicionais ligados à alfabetização, “pondo em xeque os métodos tradicionais do ensino da leitura e da escrita” (LOTSCH, 2016, p.27). Ferreiro e Teberosky compreendem o método como uma ação específica do meio, promotor ou não da alfabetização, facilitador ou não de um acesso se- 5 guro à leitura e à escrita. O relevante, realmente, é que a “obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 29). Isso mudará, robustamente, a forma com que a alfabetizadora precisará lidar com os es- forços de cada criança. A perspectiva deverá ser colaborar com as intensas hipóteses que a criança vai construindo. A criança alfabetizanda é um sujeito que constrói o seu pró- prio conhecimento, na interação com seus colegas e devendo receber as provocações para operar com o mundo letrado por parte da professora. Sendo o su- jeito de suas próprias aquisições de conhecimentos sobre a leitura e escrita, “propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia... insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir o conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto ou maldis- posto a adquirir uma técnica particular” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 11). A presença de Emilia Ferreiro e sua obra atendiam a uma grande necessidade, naquele momento, do sur- gimento de pesquisas científicas, no campo da edu- cação, compromissadas com mudanças na realidade educacional da maioria da população da América Latina. Os estudos de Emilia Ferreiro e a proposta construtivista “foram divulgados no Brasil no início da década de 1980. Suas descobertas tornaram-se importantes nas discussões, devido à rapidez com que as inovações que traziam consigo invadiram o meio pedagógico”. (LOTSCH, 2016, p. 28). 6 O que é construtivismo? Não é um novo método para alfabetizar! Construtivismo significa isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem heredi- tária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (BECKER, 1993. p. 88). Por imprecisões metodológicas, leituras imprecisas e precipitações com os conceitos, surgiram pessoas, erroneamente, falando que seguiam não mais os métodos tradicionais de alfabetização, que estavam adotando um novo método chamado de construti- vismo, criado por Emilia Ferreiro. O construtivismo não pode ser confundido com um método de ensino, trazendo a forma perfeita de ensinar uma criança. É uma teoria psicológica, com um bem definido ob- jeto: “a origem e desenvolvimento dos processos mentais ou psicológicos do sujeito, ou seja, gira em torno de como o sujeito aprende. Essa concepção aborda a construção de conhecimento e evidencia 7 que isso acontece por meio da interação” (LOTSCH, 2018, p. 29). A teoria construtivista defende que o próprio sujeito é quem constrói o seu conhecimento, agindo pela sua própria aprendizagem. Não é um mero espectador. Isso vai mudar os modos de agir dos alfabetizadores brasileiros que seguirem ideias construtivistas nos seus trabalhos docentes. “A intervenção do profes- sor não pode acontecer de maneira equivocada e errônea, ou seja, o docente não pode oferecer ao aluno respostas prontas, mas sim levá-lo à reflexão” (LOTSCH, 2018, p. 29). Uma insatisfação com a escola brasileira, produtora de fracasso escolar, imputando a culpa às crianças e às suas famílias empobrecidas, voltada a testar velhas e autoritárias metodologias, fez um encontro fértil com as teorias de Ferreiro. Um dos exemplos é expressar que a escola seria uma instituição guardiã da língua escrita, tratada como objeto social, e: [...] solicita do sujeito em processo de apren- dizagem uma atitude de respeito cego diante desse objeto, que não se propõe como um objeto sobre o qual se pode atuar, mas como um objeto para ser contemplado e reproduzido fielmente, sem modificá-lo (FERREIRO, 2011, p. 21). Ferreiro, com suas pesquisas e suas publicações, sai em defesa da potencialidade alfabetizadoraque 8 as crianças empobrecidas da América Latina teriam. As crianças: [...] são facilmente alfabetizáveis desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um objeto inte- ressante que merece ser conhecido (como tantos outros objetos da realidade aos quais dedicam seus melhores esforços intelectuais) (FERREIRO, 2011, p. 25). Trata-se de um sistema de representação do qual a criança busca obter a apropriação. Aquela velha ideia de código a ser apropriado por codificação e decodificação dos sinais ficou para trás na história da alfabetização. A contribuição imensa de Emilia Ferreiro clarifica o verdadeiro caminho percorrido pelas crianças nas buscas da aprendizagem da nos- sa língua portuguesa. E Ferreiro chamou de psico- gênese a gênese (nascimento) do conhecimento da escrita feita por cada criança, construindo seu próprio conhecimento, aprendendo com imensos esforços, construindo seus próprios saberes sobre a escrita (LOTSCH, 2018). O conhecimento “se dá pela interação ou pela troca do sujeito, ou seja, depende tanto de suas estruturas cognitivas quanto da relação que estabelece com o meio. Com isso, transferimos o foco da escola no processo de alfabetização para o aluno” (LOTCH, 2018, p. 29). Ferreiro conseguiu provar “que o fracasso nas sé- ries iniciais da vida escolar atinge de modo perverso 9 apenas os setores marginalizados da população. Dificilmente a retenção ou a deserção escolar faz parte da expectativa de uma criança de classe média que ingressa a escola”. (AZANHA, 2006, p. 43). Esse pensamento colaborou com novas perspectivas para as políticas públicas da educação, forjadas por novas legislações brasileiras, desde os anos 1990. As pesquisas de Ferreiro eram evidentes também na realidade brasileira, com alarmantes números de repetência na primeira série inicial do primeiro grau (comparável hoje ao início do Ensino Fundamental). A genialidade da obra de Ferreiro e Teberosky foi adequar a teoria de Piaget, resgatando “os pressu- postos epistemológicos centrais de sua teoria para aplicá-los à análise do aprendizado da língua escrita” (AZANHA, 2006, p. 43). Nesta escrita original sobre suas pesquisas, não po- deriam ser encontrados evidentes passos para mais um método de alfabetização e nem um manual com as classificações de dificuldades de aprendizagem. A proposta era mais inovadora. As pesquisas tra- ziam à luz os processos usados pelas crianças para a aquisição da leitura e da escrita, transmutando da criança para o método o foco da alfabetização, até aquele momento “o tema da aprendizagem da escrita era considerado apenas uma técnica depen- dente dos métodos de ensino” (AZANHA, 2006, p. 44). Essa realidade foi transformada com o apoio das pesquisas de Emilia Ferreiro e tantos outros, em uma tarefa que reflete e deixa a criança agir na busca de conhecimentos sobre a leitura e a escrita. 10 Podcast 1 Perguntas impossíveis nos tempos anteriores às pesquisas sobre a Psicogênese da língua escrita começaram a ocupar as mentes das alfabetizadoras: o que a criança já conhece sobre a língua ao chegar na alfabetização? Quais os processos de construção, usados pelas crianças, para conceituar a aprendiza- gem da língua? Quais ideias são construídas pela própria criança e quais são advindas do objeto de conhecimento, a língua escrita portuguesa? Como a criança avança, passo a passo, até ter o domínio do processo amplo da leitura e escrita? Emilia Ferreiro critica a alfabetização tradicio- nal, de acordo com a qual a prontidão é con- siderada fundamental para que a criança seja alfabetizada, pois as crianças pouco refletiam sobre a leitura e a escrita e eram submetidas a atividades repetitivas e de coordenação mo- tora (LOTSCH, 2018, p. 29). O diferencial trazido pela obra de Emilia Ferreiro foi ampliar a compreensão dos adultos para algo real: “o desenvolvimento da escrita realizado por cada criança, em um complexo processo evolutivo, daqui- lo que representa um objeto de conhecimento que requer muita dedicação, implicando em reflexão e construção, constantes” (LOTSCH, 2018, p. 29). 11 https://famonline.instructure.com/files/168617/download?download_frd=1 FIQUE ATENTO A busca por entender a escrita demonstra o papel ativo da criança na construção do conhecimento. Cada criança elabora as suas hipóteses e reflete como são escritas as palavras, em uma ativida- de investigativa para entender a realidade ao seu redor, pelo longo processo de construção e aqui- sição da leitura e da escrita, que a levará a escre- ver e ler, de forma apropriada para os múltiplos fins sociais. É perceptível que a obra de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, nos seus fundamentos psicolinguísticos, encontram apoio no construti- vismo, até o limite possível da teoria piagetiana para este assunto. Ficando evidente que Jean Piaget não avançou em outros estudos essen- ciais sobre a linguagem e outros autores foram além (LOTSCH, 2018). 12 AS HIPÓTESES SOBRE A ESCRITA DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA COLABORAM COM O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO? Neste tópico, você identificará as hipóteses sobre a escrita oriundas da Psicogênese da língua escrita no processo de alfabetização. Emilia Ferreiro (1989) promoveu novos e significativos olhares sobre a aquisição da língua escrita, transformando concep- ções tradicionais sobre a alfabetização, surgindo a necessidade de o adulto alfabetizador perceber tal aquisição como um intrincado processo de desenvol- vimento conceitual do sistema de representação da escrita, obra de criação da humanidade, desenvolvida por longos tempos. Tal valiosa obra, de Ferreiro e seus colaboradores, trouxe uma pergunta inquietante: como o sistema de escrita funciona? Se a escrita é concebida como um código de transcrição, sua aprendizagem é concebida como a aquisição de uma técnica; se a escrita é concebida como um sistema de representa- ção, sua aprendizagem se converte na apro- priação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual (FERREIRO, 1989, p.16). 13 A grande contribuição de Emilia Ferreiro e da Psicogênese da língua escrita foi estabelecer, como fruto de inúmeras pesquisas com crianças, que as investidas que as crianças fazem para incorporar, entender e dominar a língua escrita vão muito além de fazer as devidas correspondências entre grafemas e fonemas (LOTSCH, 2018). Quando os adultos pensam que a escrita ainda não representa uma preocupação da criança, já é pos- sível perceber uma inquietação dela em formular hipóteses sobre o uso que as pessoas, ao seu redor, fazem da escrita. Pode surpreender muitos adultos o fato de uma criança, ainda não alfabetizada, estar às voltas com preocupações sobre as funções sociais da escrita e criar suas suposições (LOTSCH, 2018). Assim agem as crianças com a escrita! Ao lidar com um mundo repleto de escritas e pessoas que escrevem no smartphone ou em outros meios mais convencionais usados para escrever ou ler, vai se fortalecendo na cabeça da criança que escrever e ler serão tarefas importantes para suas convivências sociais. E isso é evidente na nossa sociedade, repleta de escritas, demandando a leitura e o entendimento do que é lido. Em intenso movimento a criança: [...] percebe os envolvimentos distintos, como as relações, diferenças e semelhanças entre seu próprio nome e dos colegas. As hipóteses conceituais pelas quais as crianças passam não podem ser consideradas erradas ou sinô- nimo de ausência de conhecimento” (LOTSCH, 2018, p. 30). 14 E qual seria a importância de uma alfabetizadora en- trar no universo das produções de hipóteses sobre a escrita das crianças? Não são essas hipóteses erros gramaticais? Ou seriam “erros construtivos, já que ampliam seu conhecimento linguístico” (LOTSCH, 2018, p. 30). Desde quando as pesquisas de Ferreiro e Teberosky foram publicadas, os educadores ganharam um ma- terial original, concebido a partir das concepçõesda própria criança, sinalizando o lugar em que ela está na sua compreensão sobre a escrita, em sua língua. Tais experimentos devem nos servir de parâ- metro para que, como professores, possamos adequar nosso planejamento, considerando os níveis da aprendizagem infantil e a impor- tância de promover boas intervenções nesse processo (LOTSCH, 2018, p. 30). Pelo extenso tempo que levar para realizar a apro- priação do sistema de escrita alfabética, toda crian- ça passará por distintos níveis de hipóteses sobre a escrita. Até a apropriação do sistema de escrita alfabética, “a criança passa por níveis estruturais da linguagem escrita que embasam a teoria da psico- gênese. Esses níveis são denominados da seguinte forma: pré-silábico, silábico sem valor sonoro, silá- bico com valor sonoro, silábico alfabético e alfabé- tico”. (LOTSCH, 2018, p. 30). Configurando quatro hipóteses, “pré-silábica, silábica, silábico-alfabética 15 e alfabética, até finalmente chegar à hipótese orto- gráfica” (BES, 2018, p. 56). Para verificarmos em que nível se situa uma deter- minada criança, é necessário que a professora peça que ela escreva: [...] quatro palavras do mesmo campo semân- tico (animais, frutas, objetos) ditadas pelo pro- fessor. A primeira palavra deve ser polissílaba, seguida de uma trissílaba, uma dissílaba e, por fim, uma monossílaba. Após a listagem das palavras, a última etapa é a escrita de uma frase que contenha uma das palavras citadas (BES, 2018, p. 56). A hipótese pré-silábica é aquele nível de entendi- mento em que a criança não vincula que o que está escrito é a representação daquilo que é falado, ainda não é possível associar a linguagem oral com o que está escrito. A hipótese pré-silábica envolve dois ní- veis: pré-silábico 1 e 2 (BES, 2018). A criança ainda não compreendeu “a relação entre o registro gráfico e o aspecto sonoro da fala” (AZENHA, 2006, p. 62). 16 Figura 1: Pré-silábico 1. Fonte: Educação Publica. No nível pré-silábico 1 a escrita não é apresentada por grafias convencionais. A criança usa “grafismos primitivos, com garatujas e pseudoletras, desenhos, símbolos e números” (BES, 2018, p. 58). A criança segue produzindo suas sucessivas grafias, o limite é somente o tamanho da folha, grafando com letras e números aleatórios. A hipótese dela é que “quando alguém lê para ela, está fazendo a leitura das figuras, portanto ela acredita que a escrita é outra maneira de desenhar algo” (BES, 2018, p. 58). 17 https://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/wp-content/uploads/2015/06/clip_image006.jpg Figura 2: Pré-silábico 2. Fonte: Educação Publica. Já no nível pré-silábico 2 a criança “conhece poucas letras e normalmente utiliza as letras do seu nome para escrever palavras” (BES, 2018, p. 59). Ao tentar escrever, ela usa letras aleatoriamente para formar uma palavra sem vínculo entre o som e a letra, mas estabelece uma hipótese de que “existe uma quanti- dade mínima de letras para escrever e parte de dois princípios, o primeiro de que as letras não podem ser repetidas, e o segundo de que deve utilizar as mesmas letras na palavra, apenas variando a sua ordem” (BES, 2018, p. 59). E estabelece que deve existir um realismo nominal entre a quantidade de letras e tamanho do objeto. Cagliari (2009a) explica a ideia do realismo nominal, Emilia Ferreiro afirmou que psicólogos: 18 https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/11/emilia-ferreiro-ana-teberosky-e-a-gnese-da-lngua-escrita [...] fizeram testes, mostrando as palavras FORMIGA e BOI, na forma escrita, e pedin- do para que a criança indicasse qual delas era a palavra BOI e qual a palavra FORMIGA. Verificaram que as crianças costumam indicar a palavra FORMIGA como sendo BOI e vice- -versa (CAGLIARI, 2009a, p. 255). Como a alfabetizadora poderá ajudar a criança no ní- vel pré-silábico a avançar? Será preciso apresentar as letras e o valor sonoro que elas representam, mostre cada letra, na escrita, explicitando o papel das letras por meio da expressão da fala, ampliando o contato dela com letras, palavras e textos com usos sociais. Promovendo “atividades de consciência fonológica em que a criança possa fazer uma análise da palavra de acordo com a sua dimensão sonora (quantidade de letras, sílaba inicial, sílaba final, tamanho e posi- ção das letras nas palavras)” (BES, 2018, p. 60). O nível seguinte é o da hipótese silábica. Neste mo- mento a criança já vai conseguir associar a lingua- gem oral com a escrita. Essa hipótese é necessária e é um processo de construção original de cada alfabetizando, pois é o período em que a criança começa a encontrar uma regra para a escrita e a fortale- cer sua capacidade de explicar de que forma está utilizando as letras nas palavras (BES, 2018, p. 60). 19 Movida desta potência, vai avançar nas suas buscas por entendimento sobre a escrita. Qual mudança qualitativa acontece? a) se supera a etapa de uma correspondên- cia global entre forma escrita e a expressão oral atribuída, para passar a uma correspon- dência entre partes do texto (cada letra) e partes da expressão oral (recorte silábico do nome), b) pela primeira vez a criança trabalha claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 229). Passará por dois distintos níveis: silábico sem valor sonoro e silábico com valor sonoro. “No primeiro, a criança representa, para cada sílaba, uma letra qualquer que não possui relação com o som que a palavra representa” (BES, 2018, p. 60). Já no silábico com valor sonoro, permanece usando uma letra para cada sílaba, e vai avançando na busca de realizar a relação entre a letra, o fonema e o som. Assim, as palavras passaram a ser escritas de forma “vocálica (que inicia a escrita a partir de vogais) ou consonan- tal (a partir de consoantes). Nessa hipótese, a criança já supõe que a menor unidade seja a sílaba e tenta fonetizar a escrita, dando valor sonoro às letras. Ao escrever frases, pode utilizar uma letra para cada palavra” (BES, 2018, p. 61). O avanço da criança na hipótese silábica vai depen- der de que ela estabeleça valor sonoro a todas as 20 letras. Como poderá ajudar a alfabetizadora? Com atividades apropriadas ao “reconhecimento da forma das letras e de associação grafema-fonema, assim como dar ênfase à primeira e à segunda letra na síla- ba inicial da palavra, como forma de provocar dúvidas nas crianças sobre o número de letras necessárias para formar uma sílaba” (BES, 2018, p. 61). Figura 3: Silábico. Fonte: Educação Publica Outras importantes ações didáticas envolvem usar gravuras, desenhos e listar palavras de usos sociais das crianças, solicitando que apontem a letra inicial, quantia de sílabas, bem como qual seria a sílaba inicial e final, contar o número de palavras de uma frase, se há espaços entre elas, contando números de letras e sílabas das palavras (BES, 2018). E a criança avançará! O que acontecerá a seguir? 21 https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/11/emilia-ferreiro-ana-teberosky-e-a-gnese-da-lngua-escrita A criança abandona a hipótese silábica e des- cobre a necessidade de fazer uma análise que vá ‘mais além’ da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias (ambas exigências pura- mente internas, no sentido de serem hipóte- ses originais da criança) e o conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe e a leitura dessas formas em termos de hipóteses silábicas (conflito entre uma exigência interna e uma realidade exterior ao próprio sujeito). (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p.214). Figura 4: Silábico-alfabético. Fonte: Educação Publica Na hipótese silábico-alfabética, a criança demonstra que “a escrita representa os sons da fala e reconhece os sons das letras. Encontra-se também a um passo da escrita alfabética, pois a criança acrescenta mais 22 https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/11/emilia-ferreiro-ana-teberosky-e-a-gnese-da-lngua-escritaletras na intenção de formar as sílabas” (LOTSCH, 2018, p. 32). Assim a escrita é apresentada da se- guinte forma: “Por exemplo, se pedirmos a ela que escreva PANELA, poderá escrever PAEA, PNEA ou ainda PANA” (LOTSCH, 2018, p. 32). Neste nível da compreensão da escrita, a criança demonstra que “a sílaba pode ser segmentada, isto é, escrita por mais de uma letra. A criança começa a refletir mais sobre a questão da escrita das palavras. Sua leitura também é pautada e ela começa a fazer ajustes nas palavras ao ler” (LOTSCH, 2018, p. 32), já conseguin- do ler alguns livrinhos e listas de palavras. O passo seguinte e vitorioso da criança é a chegada na hipótese alfabética. Nesse momento, “a criança já compreende o sistema de escrita e sua função social. Nessa fase, a criança percebe que é necessá- rio escrever mais de uma letra para formar a sílaba e tenta adequar a escrita à fala” (BES, 2018, p. 63). É perceptível o avanço da criança! Ao atingir essa fase final do processo de apro- priação da escrita alfabética, as crianças re- solvem as questões o que e como da forma como fazemos nós, adultos bem alfabetizados e usuários do português: colocando, na maio- ria dos casos, uma letra para cada fonema que pronunciamos. Assim, como nós, as crianças o fazem, mesmo sem conseguir verbalizar/ explicar essa maravilha que descobriram. Mas diferente de nós elas cometem erros (MORAIS, 2012, p. 64). 23 Ainda reconhecerá “o valor sonoro de quase todas as letras e consegue realizar a leitura do que escre- ve, porém ainda há a omissão de algumas letras e a necessidade de intervenções ortográficas” (BES, 2018, p. 63). Figura 5: Alfabético. Fonte: Educação Publica. A criança não cessará de fazer suas hipóteses, per- ceberá que é preciso: [...] separar as palavras ao escrever frases e pequenos textos. Além disso, ela entende que precisa se preocupar com as questões orto- gráficas da língua, assim como refletir sobre a forma com que se escrevem as palavras (BES, 2018, p. 64). 24 https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/15/11/emilia-ferreiro-ana-teberosky-e-a-gnese-da-lngua-escrita Como poderá a alfabetizadora ajudar? Promovendo “atividades voltadas à produção e à leitura de textos do cotidiano, de forma a aprofundar o estudo de pa- lavras nas mais diferentes complexidades, a fim de proporcionar a compreensão de como a escrita se fundamenta” (BES, 2018, p. 63). SAIBA MAIS Quer saber mais sobre a alfabetização e a psi- cogênese da língua escrita? Atente-se a este vídeo da Univesp: https://www.youtube.com/ watch?v=HYD_UYxbF90 25 https://www.youtube.com/watch?v=HYD_UYxbF90 https://www.youtube.com/watch?v=HYD_UYxbF90 COMO LIDAR COM ERROS ORTOGRÁFICOS NA ALFABETIZAÇÃO? COMO LIDAR COM AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ALFABETIZAÇÃO? Neste tópico, você refletirá sobre como lidar com erros ortográficos e com as dificuldades de apren- dizagem na evolução da ortografia na escrita du- rante a alfabetização em Língua Portuguesa. Como lidar com os erros ortográficos na alfabetização? Cagliari (2009a) comenta que cabe à pessoa que ensina português ter considerável conhecimento linguístico de nossa língua. “O professor não pode dizer simplesmente para o aluno observar os sons da fala, as vogais e consoantes, e representá-las na escrita por letras. Esse é o primeiro passo, mas não é tudo” (CAGLIARI, 2009a, p. 348). A criança precisará ser esclarecida de que se ela e seus colegas escre- vessem cada um de uma forma diferente não seria possível que eles entendessem uns o que os outros escreveram. “Para neutralizar a variação dialetal, a escrita inventou a ortografia, fazendo com que to- das as palavras tenham apenas uma forma escrita” (CAGLIARI, 2009a, p. 348), isso abalou o caráter al- 26 fabético da escrita, dando-lhe um caráter ideográfico consideravelmente forte (CAGLIARI, 2009a). Esse autor defende que o objetivo funcional da es- crita é a leitura. A ortografia serve para que cada criança possa decifrar “uma palavra escrita na forma ortográfica, dizendo-a de acordo com seu dialeto, cada um lê conforme fala” (CAGLIARI, 2009a, p. 348). Apontar simplesmente que a criança errou é limita- do! “O ideal seria desenvolver nos alunos o hábito de rever o que escrevem, passar a limpo, fazendo uma autocorreção da ortografia dos seus textos, seja em que matéria for, não só nas redações es- colares da aula de português” (CAGLIARI, 2009a, p. 349). Diante das dúvidas ortográficas das crianças alfabetizandas, naturais e comuns até nos adultos, a alfabetizadora deverá incentivá-las a percebê-las, “explicando os vários tipos de dificuldade que nosso sistema de escrita apresenta com relação a isso e levando em conta também as dificuldades próprias de cada aluno” (CAGLIARI, 2009a, p. 351). Esta base linguística sólida poderá evitar que os que ensinam a Língua Portuguesa acabem “acatando velhas e erradas tradições de ensino ou se apoiando explícita ou implicitamente em condições inadequa- das de linguagem” (CAGLIARI, 2009b, p. 29). É necessário perceber que a criança excluída do contato de livros, de ouvir leituras e do contato com adultos que escrevem constantemente, chegará em desvantagem na alfabetização, com relação aos que possuem abundantes contatos, com a nossa Língua 27 Portuguesa escrita ou lida, antes mesmo de chegar na escola para ser alfabetizado. Aquela criança que “fala um dialeto diferente do da escola, está muito mais afastado da forma escrita ortográfica, diz craro e pratu, mas tem de escrever claro e prato, diz ‘nóis vai’ e tem de escrever ‘nós vamos’ etc. e encontrará muito mais dificuldades na alfabetização” (CAGLIARI, 2009b, p. 30). Este autor compara o esforço dessa criança com o de alguém que aprende uma língua estrangeira, ex- plicando que “aprender a escrever ortograficamente é um quebra-cabeça extremamente mais complicado do que o apresentado a um aluno que é falante do dialeto da escola” (CAGLIARI, 2009b, p. 30). A escola avalia crianças falantes ou não do dialeto da escola com os mesmos instrumentos, e aque- la criança “que fala diferente terá um desempenho mais baixo que o outro” (CAGLIARI, 2009b, p. 30). E a avaliação falha por ser imprecisa em diferenciar os que falam ou não o dialeto da escola. “A língua portuguesa, como qualquer outra língua, tem o certo e o errado somente em relação à sua estrutura. Com relação a seu uso pelas comunidades falantes, não existe o certo e o errado linguisticamente, mas o diferente” (CAGLIARI, 2009b, p.30). Alguém considerado nativo falante de uma língua costuma cometer erros linguísticos, aprendidos com suas famílias e comunidade, ao falar a Língua Portuguesa, que pode até não ser idêntica àquela falada na escola, mas é solidamente compreensível 28 no lugar onde vive. Caberia ao alfabetizador entender que a nossa língua portuguesa não possui um dono exclusivo, ou um grupo de proprietários dela, “e se espalha por um fenômeno social, é um bem cultural de um povo e se espalha por todos os níveis da estra- tificação social. O português, como qualquer língua, é um fenômeno dinâmico, não estático, isto é, evolui com o passar do tempo” (CAGLIARI, 2009b, p. 31). Os brasileiros foram capazes de dominar a língua do colonizador, diferenciando-a da Língua Portuguesa, falada em Portugal. Estes usos distintos ao longo do tempo, influenciados pelos diversos povos que vie- ram habitar o Brasil e por aqueles povos originários indígenas, influenciaram com suas outras línguas o nosso atual português do Brasil. Assim, o português, como todas as outras línguas faladas no mundo “pas- sam a existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos, todos muito semelhantes entre si, mas cada qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos linguísticos” (CAGLIARI, 2009b, p. 31). Cagliari defende que os dialetos de uma língua “são como que línguas específicas, com sua gramática e usos próprios, todavia muito semelhantes entre si” (CAGLIARI,2009b, p. 31). Já, se ocorrerem distinções demasiadas, deixam de ser a mesma língua. Cagliari aponta que isso aconteceu com o latim, os dialetos do latim geraram português, espanhol, francês e ita- liano. A alfabetizadora precisará entender que uma criança chegando na sala de aula, para ser alfabe- tizada, falando o dialeto aprendido com seus pais, 29 fala português, não é outra língua! “O uso linguístico dialetal não é por si errado, é apenas diferente do uso de um outro dialeto” (CAGLIARI, 2009b, p. 31). A escola erra ao julgar a variação linguística como um erro gramatical. Assim, “o diferente não tem lugar em sua avaliação, embora represente a maioria dos fatos que o alfabetizador enfrenta” (CAGLIARI, 2009b, p. 32). Não caberá à alfabetizadora afirmar que uma criança chegou na escola falando português errado. Ela fala o seu dialeto de pertencimento, fala diferente (CAGLIARI, 2009b). “Todos os falantes sabem disso por experiência própria, só a escola insiste em ver as coisas erradamente” (CAGLIARI, 2009b, p. 32). Outro erro, na alfabetização, no Brasil, é falar para a criança que a linguagem escrita é a correta, sendo “por natureza lógica, clara, explícita, ao passo que a linguagem falada é por natureza mais confusa, in- completa, sem lógica etc. Nada mais falso. A fala tem aspectos (contextuais e pragmáticos) que a escrita não releva, e a escrita tem aspectos que a linguagem oral não usa” (CAGLIARI, 2009b, p. 32). Na história de qualquer língua, a gramática foi antes descritiva de um dialeto de determinada língua, passando a ser, ao longo do tempo, “um corpo de leis para reger o uso da língua, que chegou até a chamar de ‘bom uso’ da linguagem” (CAGLIARI, 2009b, p. 33). Com um olhar benevolente sobre a escrita de textos espontâneos das crianças, com suas expressões livres, sem cópias de lições já trabalhadas pela pro- fessora, será possível enxergar que os esforços, erros 30 e acertos fazem parte de “um processo de aprendi- zagem da escrita e revela a reflexão que o aluno põe na sua tarefa e na forma de interpretar o fenômeno que estuda” (CAGLIARI, 2009b, p. 127). O autor re- comenda, ainda, que é necessário oferecer oportu- nidades para as crianças “escreverem textos livres, espontâneos, contarem histórias como quiserem. É nesse tipo de material que vamos poder encontrar os elementos que mostram as reais dificuldades e facilidades dos alunos no aprendizado da escrita” (CAGLIARI, 2009b, p. 127). Devemos criar uma pro- gramação a partir desta situação real, confiante de que a criança vai conseguir superar suas dificuldades de aprendizagem da escrita. Como lidar com as dificuldades de aprendizagem, na alfabetização? É importante entender que as crian- ças com dificuldades de aprendizagem são aquelas, conservadas e respeitadas as suas singularidades, já que não são idênticas, que apresentam atrasos escolares e inadaptações na escola (COLL, 2004). Em algumas crianças, “são problemas de linguagem ou de compreensão de textos escritos. Em outros ainda, são dificuldades afetivas ou transtornos de conduta. Finalmente, os problemas podem surgir por falta da motivação e de interesse pela aprendizagem” (COLL, 2004, p. 53). As crianças alfabetizandas podem apresentar uma dificuldade de aprendizagem, implicando em um atra- so, desordem ou retardo no seu desenvolvimento, nas horas em que vai falar, ler, escrever e fazer opera- 31 ções matemáticas, sem que seja diagnosticado com retardo mental ou privação sensorial (KIRK, 1962). A criança, na alfabetização, com dificuldade para aprender, apresenta, na sua tentativa de aprender a ler e escrever, um “obstáculo que pode ter um caráter cultural, cognitivo, afetivo ou funcional e não conse- guir dar prosseguimento à aprendizagem por não possuir ferramentas, ou não poder utilizá-las, para transpô-lo” (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 54). A professora alfabetizadora precisará entender que as dificuldades de aprendizagem não são um único distúrbio, é muito mais, representando um conjunto grande de problemas que podem complicar a vida de uma criança na alfabetização. Não estão vinculados a uma única causa, geralmente. Em muitos casos, a família e a escola podem complicar a situação, por não saber como agir com as crianças que possuem tais dificuldades (SMITH; STRICK, 2001). São dificuldades de aprendizagem (DA) a dislexia (dificuldade em reconhecer e compreender textos escritos), a dislalia (dificuldade na articulação, trocas ou omissões ou esquecimentos de um ou vários fo- nemas ao falar). Também a disfasia (dificuldade que resulta em atraso no começo da fala), a disortografia (dificuldade no grafismo), a disgrafia (dificuldades com a estrutura na escrita, na sintaxe, na pontuação, na posição adequada das letras, na organização es- perada dos parágrafos) e a discalculia (dificuldades em lidar com o raciocínio lógico-matemático), além disso, há o Transtorno de Atenção e Hiperatividade 32 (TDAH) (dificuldade em permanecer atento, controlar os impulsos e intensa inquietação motora) (COLL, 2004; LEAL; NOGUEIRA, 2012). A dislexia afeta a criança alfabetizanda por apresen- tar complicações no reconhecimento e compreensão de textos escritos. “A dislexia, portanto, é o compro- metimento acentuado no desenvolvimento nas habi- lidades de reconhecimento das palavras e da com- preensão da leitura” (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 78). A criança com dislexia, na alfabetização, padecerá com dificuldades no desenvolvimento de habilidades de reconhecer as palavras e compreender a leitura. O momento da alfabetização revela, em muitos ca- sos, a dislexia, desconhecida até esse instante pela criança e pela família (LEAL; NOGUEIRA, 2012). Já a dislalia, conhecida como gagueira, é uma dificuldade de articulação ao pronunciar determinados sons, e afetará as aprendizagens da escrita. A disortografia, uma dificuldade no grafismo, vai aparecer na alfabetização como uma incapacidade para transcrever, de forma correta, a linguagem oral, produzindo trocas ortográficas e confusões com as letras, causada pela dificuldade em relacionar a palavra impressa ou escrita com os sons. É verda- de afirmar que as crianças alfabetizandas confun- dem, nas transcrições dos sons para as escritas. As crianças disortográficas confundem bem mais! Tais crianças precisarão “buscar o desenvolvimento das habilidades de escrita, incluindo sempre ativida- des de soletração, consciência fonológica, ortográ- fica e morfológica, além de composições” (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 77). 33 A criança disgráfica, na alfabetização, vai demonstrar dificuldades em lidar com a estrutura na escrita, com sintaxe, pontuação, posição adequada das letras e organização esperada dos parágrafos. Por conta da disgrafia, demonstrará dificuldade para a produção de uma escrita aceitável, “apesar de possuir nível intelectual adequado, receber instrução também adequada, sem déficits sensoriais e lesões neuroló- gicas específicas, submetido ao mesmo processo de prática da escrita no decorrer de sua formação acadêmica” (CIASCA, 2009, p. 187). É importante, para amenizar os sintomas, fazer atividades de “ree- ducação grafo-motora, reeducação da letra, sistema- tização da escrita e exercícios de aperfeiçoamento” (LEAL; NOGUEIRA, 2012, p. 76). E a criança, na alfabetização, com Transtorno de Atenção e Hiperatividade (TDAH), impossibilitada de permanecer atenta, quieta, não controlando impulsos e com forte inquietação motora? Deve-se oferecer “métodos apropriados de ensino, considerando-se que os portadores, em sua grande maioria, são ta- lentosos, criativos e inteligentes, mesmo lutando contra dificuldades reais e imediatas” (SENA; NETO, 2007, p. 36). SAIBA MAIS Atente-se ao vídeo com o seguinte título: A crian- ça que não aprende. A UNIVESP TV visitou esco- las municipais de São Paulo. Registrou as aulas, entrevistou professores e coordenadores. Con- versou com Silvia Collelo, da USP, e Maria Teresa Mantoan, da Unicamp.Acesse o seguinte link: ht- tps://www.youtube.com/watch?v=V_0noT10qVc 34 https://www.youtube.com/watch?v=V_0noT10qVc https://www.youtube.com/watch?v=V_0noT10qVc CONTRIBUIÇÕES INOVADORAS BRASILEIRAS PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: MAGDA SOARES E PAULO FREIRE Neste tópico, você analisará as contribuições ino- vadoras brasileiras para o processo de alfabetiza- ção nas obras de Magda Soares e Paulo Freire. As contribuições inovadoras brasileiras para o proces- so de alfabetização, de Magda Soares, podem ser entendidas nas leituras de suas obras e na vasta contribuição à alfabetização de crianças no Brasil. Ela nasceu em Minas Gerais, em 1932, cursou Letras, foi professora primária e professora universitária na UFMG, com doutorado em Educação. Em 1990 criou o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) na Faculdade de Educação da UFMG. Escritora, pesquisadora e orientadora de diversas pesquisas sobre a alfabetização no Brasil, atuou nas primeiras décadas do século 21 como membro de grupos de trabalho, no Ministério da Educação, realizando louvável trabalho na avaliação de livros didáticos de língua portuguesa e livros para a alfa- betização. Ficou notabilizada por sua atuação no Projeto Alfabetização e Letramento, com professores 35 do município de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte. Uma notável contribuição de Magda Soares à discus- são de caminhos inovadores para a alfabetização, no Brasil, foi trazer a discussão do conceito de letra- mento, explicitando que não interessa ler e escrever dissociados dos fins sociais de tais atos (SOARES, 1995). Magda Soares trouxe uma reflexão salutar à realidade excludente que atingia grande parte dos alfabetizan- dos pobres brasileiros nas últimas décadas do século 20. Ela afirma que a escola brasileira dificultaria o processo de alfabetização da criança, “promovendo” uma “desaprendizagem” das importantes funções da escrita, imposta pela escola, negando a real funcio- nalidade da escrita, relacionada à interlocução e ao respeito à subjetividade de autor e leitor, privando a criança do seu direito de usar a escrita para falar em nome próprio (SOARES, 1988). Soares trouxe uma discussão valiosa nas últimas décadas do século 20, com os alarmantes índices de reprovação de crianças das classes populares nas escolas públicas. Ela afirmou, em um momento em que os que fracassavam na escola eram facilmente enquadrados como loucos, doentes mentais e de- ficientes, que o fracasso escolar não deveria “ser atribuído a deficiências, nem mesmo a diferenças linguísticas, mas à opressão; é essa opressão que faz com que a diferença entre a linguagem das ca- madas populares e a das classes dominantes que, 36 só por ser linguagem dessas classes, é considerada ‘legítima’” (SOARES, 2008, p. 64). Soares defendia que a escola era muito importante para as crianças das classes populares. E seria “a instância em que podem ser adquiridos os instrumentos necessários à luta contra a desigual distribuição desses privilégios” (SOARES, 2008, p. 73). Examinando um cenário de trinta anos na história da alfabetização no Brasil, que começaria em 1987 e iria até 2017, Magda Soares reflete e afirma: Olhando para o passado, para os últimos 30 anos, os dois substantivos que dão título a este capítulo merecem ser caracterizados por expressões que, de certa forma, se con- tradizem: alfabetização e letramento – no- vos conhecimentos, práticas persistentes. É que, nesse período ocorreram por um lado avanços significativos nos conhecimentos tanto sobre a aprendizagem inicial da língua escrita – aprender a ler e escrever, verbos intransitivos, o que se denomina alfabetiza- ção – quanto sobre o desenvolvimento das habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas pessoais e sociais – aprender a ler e escrever textos, verbos transitivos diretos, o que se denomina letramento –; por outro lado, e ao mesmo tempo, muito pouco avançaram, como seria esperado, as práticas escolares de alfabetização e letramento (SOARES, 2017, p. 30). 37 Soares afirma que o termo letramento apresentou adesão rápida dentro das escolas, passaram-se 30 anos e o termo ainda não está claro, permanecen- do nas escolas brasileiras, de forma predominante, resistente e persistente, a “aprendizagem de uma gramática normativa, da leitura considerada apenas como apreensão do conteúdo de textos, da escrita como redação de texto ‘correto’ ortográfico e sintati- camente” (SOARES, 2017, p. 35). A autora afirma que esta preservação e modos tradicionais de ensinar a língua portuguesa estariam relacionados à falta na formação dos futuros pedagogos alfabetizadores, e professores de língua, das novas concepções de alfabetização e de letramento, os “novos conheci- mentos linguísticos e psicológicos que, desde a dé- cada de 1980, oferecem ao ensino da língua escrita – alfabetização e letramento – fundamentos para novas práticas alicerçadas em princípios linguísticos e psicológicos” (SOARES, 2017, p. 35). Magda Soares lamenta o desconhecimento de que a alfabetização implica em compreensão leitora e pro- dução leitora, e tais produtos precisarão ser desen- volvidos em quem irá alfabetizar crianças, apontando algo importante: “é preciso conhecer o sistema de representação notacional que é o sistema alfabé- tico, os diferentes gêneros de texto, as estruturas peculiares de cada gênero, os elementos que dão a um texto coerência, coesão, nível adequado de infor- matividade, entre outras características” (SOARES, 2017, p. 36). 38 O que não foi possível para Magda Soares perceber nos trinta anos de pesquisas e publicações sobre alfabetização, no Brasil, dos caóticos resultados do século 20 às duas décadas do século 21, com as estabelecidas avaliações nacionais de alfabe- tização, conduzidas pelo Ministério da Educação (Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA)? Dado que a presença das crianças e jovens nas escolas poderá prover melhores futuros escolares, sociais e profissionais, Soares aponta que a qualidade da aprendizagem não avançou, “particularmente na escola pública, vem impedindo que essa escola se torne realmente justa e capaz de garantir equidade, para além de igualdade de oportunidades, aos futuros cidadãos brasileiros” (SOARES, 2017, p. 37). SAIBA MAIS Conheça o material do CEALE, da UFMG, criado por Magda Soares, no seguinte link: https://www.you- tube.com/channel/UCseBrRQxVYUVzrjxnCdErag Abaixo, um vídeo de uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Cul- tura Escrita Digital (NEPCED), sediado no CEALE, com crianças dos anos iniciais do Ensino Funda- mental, de escola Municipal, em Belo Horizonte (MG). Acesse o seguinte link: https://www.youtu- be.com/watch?v=NXNLt0nSZYA Quais as contribuições inovadoras de Paulo Freire para o processo de alfabetização em Língua 39 https://www.youtube.com/channel/UCseBrRQxVYUVzrjxnCdErag https://www.youtube.com/channel/UCseBrRQxVYUVzrjxnCdErag https://www.youtube.com/watch?v=NXNLt0nSZYA https://www.youtube.com/watch?v=NXNLt0nSZYA Portuguesa? Paulo Freire contribuiu com o repensar da alfabetização de adultos no Brasil e em um país em que a língua portuguesa é falada na África, Guiné Bissau. Freire nasceu em 1921, em Pernambuco. Ele narra sua aprendizagem de ler e escrever: Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz. Por isso é que, ao chegar à escolinha particular de Eunice Vasconcelos já estava alfabetizado. Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a ‘leitura’ do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da ‘palavramundo’ (FREIRE, 1989, p. 11). Bem mais tarde, já adulto, Paulo Freire desenvol- veu uma proposta para a alfabetização de adultos, no interior doEstado do Rio Grande do Norte. Isso aconteceu em 1963. Era um movimento de educação e cultura popular, a campanha era “De pé no chão também se aprende a ler”. Trezentos trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias, com a sua equipe de monitores, com grande repercussão dentro e fora do Brasil. Tal proposta nascente ali, no nordeste brasileiro, com alunos adultos analfabetos, previa que a primeira leitura a ser feita é a leitura do mundo. O educador 40 deve começar sua tarefa alfabetizadora sugerindo aos seus educandos realizarem o primeiro passo do método de apropriação do conhecimento que é realizar a leitura do mundo. Este desejo de conhe- cer, movido pela curiosidade, é a precondição de co- nhecer (SIQUEIRA; GUIDOTTI, 2017). Sendo assim, é prioridade metodológica do alfabetizador estabelecer o diálogo. “O diálogo não é apenas uma estratégia pedagógica, é um critério de verdade, de aproxima- ção crítica e mais abrangente de compreensão da realidade” (SIQUEIRA; GUIDOTTI, 2017, p. 162). Apesar do êxito da sua proposta de alfabetização de adultos, nos anos que se seguiram o Brasil en- trou em um período político conturbado. A Ditadura Militar perseguiu o seu movimento de alfabetização de adultos. Paulo Freire foi preso e exilado. Ficou notabilizado, no exílio, com seus programas de al- fabetização na África e na América Latina. Foi um reconhecido professor nas universidades americanas e, ainda hoje, tem reconhecimento fora e dentro do Brasil por seu trabalho árduo e de sucesso no âmbito da alfabetização das camadas populares. Retornou ao Brasil com a abertura política. Foi Secretário de Educação da cidade de São Paulo (1989 até 1991). Seguiu até a sua morte lutando e concebendo teoricamente que a educação brasileira levasse em conta o universo cultural, os saberes pré- vios e a autonomia dos alunos, repensando o autori- tarismo dos educadores nas mais diversas situações de aprendizagem. Morreu em 1997. Escreveu obras 41 célebres e publicadas em 18 línguas e recebeu o título de Doutor Honoris Causa por 41 universidades. Figura 6: Paulo Freire na infância. Fonte: Wikipedia. A obra de Paulo Freire é uma defesa aos direitos dos educandos de apreciar um processo de apren- der como pleno exercício da reconstrução do saber, ultrapassando uma escola que alfabetiza na pers- pectiva da acumulação de conhecimentos, dados ou informações, sem uma densa reflexão sobre a realidade em que vivem os educandos. “Conhecer implica mudança de atitudes, saber pensar e não 42 https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire#/media/Ficheiro:Paulo_Freire,_ten_years_old.jpg apenas assimilar conteúdos escolares do saber cha- mado universal. Saber é criar vínculos” (SIQUEIRA; GUIDOTTI, 2017, p. 162). Podcast 2 Essa educação proposta por Paulo Freire é uma real prática de liberdade, usando palavras oriundas das falas espontâneas dos educandos, reveladoras do mundo de fora da escola, em que vivem. As palavras vão produzir temas geradores que aparecerão nas aulas, não somente para serem lidas ou escritas, mas refletidas, pensadas e repensadas. Isso acon- tece em um clima em que o educador não anula, no aluno, “a sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem (FREIRE, 1989, p. 13). Assim, na concepção de Freire, “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1989, p. 79). Na alfabetização, a leitura do mundo coletiva de- manda que os alunos falem sobre suas realidades. Paulo Freire defendia que “cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ou encarnar esta constatação evidente, enquanto educador ou educadora, significa reconhecer nos outros [...] o direito de dizer a sua palavra” (FREIRE, 1989, p. 17). 43 https://famonline.instructure.com/files/168618/download?download_frd=1 O fruto deste diálogo são as palavras e seus desdo- bramentos em temas geradores, relacionados ao cotidiano dos educandos alfabetizandos e de sua comunidade, suas palavras que testemunham o seu pertencimento à algum grupo social. E como é con- duzido metodologicamente este trabalho alfabeti- zador, a partir das ideias de Paulo Freire? Palavras geradoras são selecionadas: [...] em função da riqueza silábica, do valor fo- nético e principalmente em função do signifi- cado social para o grupo. A descoberta desse universo vocabular pode ser efetuada através de encontros informais com os moradores do lugar em que se vai trabalhar, convivendo com eles, sentindo suas preocupações e captando elementos de sua cultura (GADOTTI, 2004, p. 39). Paulo Freire concebia que a alfabetização e qualquer outra prática pedagógica “não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca das ideias a serem consumidas pelos permutantes” (FREIRE, 1987, p. 45). E que “ não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que o funda” (FREIRE, 1987, p. 45). O amor seria para este autor um ato de coragem, não de medo: [...] o amor é compromisso com os homens. Onde quer que estejam estes, oprimidos, o ato 44 de amor está em comprometer-se com sua causa. A causa da sua libertação. Mas este compromisso, porque é amoroso, é dialógico. Respeitar a liberdade do educando não é tática de manipulação, o amor desaparece em situ- ações opressoras. Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me é possível o diálogo (FREIRE, 1987, p. 45). Será impossível alfabetizar, refletindo sobre a pro- posta de Paulo Freire, quando as ações, as palavras e os gestos dos alfabetizadores denunciam que eles agem sem amor, sem liberdade, sem diálogo, sem humildade, vendo somente o educando como igno- rante, sentindo-se como o único dono da verdade, com autossuficiência, superior em tudo aos edu- candos, aos quais não é permitido dialogar sobre suas vidas e suas realidades, com o alfabetizador não aceitando ideias novas dos educandos, com medo de ser superado por outros e novos saberes (FREIRE, 1987). REFLITA Paulo Freire considerava a alfabetização de adul- tos como um ato de conhecimento e de criação. Ele era contrário à memorização mecânica e à redução da alfabetização no ensino e memori- zação de sílabas e letras. “Ensino em cujo pro- cesso o alfabetizador fosse enchendo com suas palavras as cabeças supostamente vazias dos 45 alfabetizandos” (FREIRE, 1989, p. 19). O que você pensa sobre uma ação alfabetizadora, ou em qualquer outro momento da escolaridade, enga- jada em promover os atos de conhecimento e de criação livres, encarando o aluno como o sujeito de sua própria educação? Você considera possí- vel, na nossa atual realidade digital, reconhecer o aluno como o protagonista de sua busca pelos conhecimentos, com nossas ferramentas digitais atuais e metodologias ativas? Pense sobre isso! 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo dos temas aqui abordados e discutidos, en- volvendo os teóricos da alfabetização e suas contri- buições inovadoras no ensino da Língua Portuguesa, no mundo e no Brasil, você refletirá sobre o relevante papel da construção de práticas alfabetizadoras con- sistentes e que indiquem o caráter dos usos sociais da escrita. Após a sua atenta leitura e suas intensas reflexões, neste módulo, você será capaz de compreender as contribuições de Emilia Ferreiro, da Psicogênese da língua escrita no processo de construção da escrita e na alfabetização, sendo capaz de identificar as hipóteses sobre a escrita, oriundas da Psicogênese da língua escrita, no processo de alfabetização. Outro ponto relevante serão as reflexões sobre como li- dar com erros ortográficos e com as dificuldades de aprendizagem na evolução da escrita na alfabetiza- ção em Língua Portuguesa. Por último, será possível analisar as contribuições inovadoras brasileiras para o processo de alfabetização nas obrasde Magda Soares e Paulo Freire. 47 SÍNTESE • Analisar as contribuições inovadoras brasileiras para o processo de alfabetização, nas obras de Magda Soares e Paulo Freire. • Refletir sobre como lidar com erros ortográficos e com as dificuldades de aprendizagem na evolução da ortografia na alfabetização em língua portuguesa. • Identificar as hipóteses sobre a escrita oriundas da Psicogênese da língua escrita no processo de alfabetização. • Conhecer as contribuições de Emilia Ferreiro, da Psicogênese da língua escrita, no processo de construção da escrita na alfabetização. Contribuições inovadoras brasileiras para o processo de alfabetização • Magda Soares • Paulo Freire Erros ortográficos e as dificuldades de aprendizagem da criança que aprende a Língua Portuguesa. Hipóteses sobre a escrita no processo de alfabetização. Emilia Ferreiro, a Psicogênese da língua escrita e o processo de construção da escrita na América Latina. Teóricos da alfabetização e suas contribuições inovadoras no ensino da Língua Portuguesa, no mundo e no Brasil. Fundamentos do Ensino da Língua Portuguesa na Alfabetização Referências Bibliográficas & Consultadas AZENHA, M. G. Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro. São Paulo: Ática, 2006. [Biblioteca Virtual]. BECKER, F. O que é construtivismo. Ideias, São Paulo, FDE, n. 20, p.87–93, 1993. BES et al. Alfabetização e letramento. Porto Alegre: Sagah, 2018. [Biblioteca Virtual]. CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi- -bó-bú. São Paulo: Scipione, 2009a. [Biblioteca Virtual]. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2009b. [Biblioteca Virtual]. CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 1989. [Biblioteca Virtual]. CIASCA, S. M. Disgrafia. In: MONTIEL, J. M.; CAPOVILLA, F. C. (org.). 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