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Direito Internacional/Tratados

Após árduas negociações, os representantes diplomáticos da França e do Brasil finalizaram o texto de um tratado internacional e o assinaram. Meses depois, França informou ao Brasil, sem maiores justificativas, que não pretendia ratificar o tratado, ao que este respondeu argumentando que uma vez assinado um tratado, um Estado só poderia deixar de ratificá-lo se comprovasse que houve erro, dolo, corrupção ou coação durante as negociações. O argumento do Brasil procede?

💡 3 Respostas

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Luciano Meneguetti

Cara Pollyana,

Em regra, a assinatura de um tratado não o coloca em vigor, nem no plano doméstico do Estado e nem mesmo no plano internacional. O procedimento "ordinário" de elaboração de um tratado internacional, como regra tem quatro fases: 1) negociações e assinatura; 2) aprovação pelo parlamento dos países; 3) ratificação; e 4) internalização (promulgação e publicação). As fases 1 e 3 são fases externas (que ocorrem no plano internacional); já as fases 2 e 4 são fases internas (que ocorre no âmbito interno dos Estados). Assim, como regra, a entrada em vigor do tratado internacional demanda a sua ratificação por meio do depósito (para os tratados multilaterais) ou pela troca de instrumentos (para os tratados bilaterais) para que então possa começar a produzir efeitos jurídicos na esfera internacional. Por outro lado, a entrada em vigor no plano doméstico dos Estados demanda, como regra, a internalização do tratado, que ocorre por meio de sua promulgação e publicação (no caso do Brasil). A Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados, de 1969 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm), ratificada e em vigor no Brasil, prevê em seu art. 11 que "O consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado pode manifestar-se pela assinatura, troca dos instrumentos constitutivos do tratado, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, ou por quaisquer outros meios, se assim acordado". Assim, se o tratado em questão previsse que ele entraria em vigor com a assinatura, então assim seria. Mas pelo problema colocado, não é esse o caso, subentendendo-se que o tratado deverá entrar em vigor por meio da ratificação. Portanto, a questão que se coloca é a seguinte: depois que um tratado é assinado, torna-se possível ao Estado não o ratificar? A resposta, como regra, é positiva. Isso ocorre porque pode ser que o tratado não seja aprovado pelo parlamento (no caso do Brasil, pelo Congresso Nacional), pois o valor da assinatura de um tratado é quase sempre ad referendum, isto é, o tratado assinado pelo Chefe do Executivo ou por qualquer plenipotenciário – pessoa com poder para celebrar o tratado – precisa ser referendado, ou seja, aprovado pelo Legislativo. E também pode ocorrer de o Chefe do Executivo considerar que a ratificação daquele tratado não mais serve aos interesses do país. Assim, parece-me que improcede a alegação brasileira de que a França somente poderia deixar de ratificar o tratado nos casos dos vícios apontados pela própria CVDT (arts. 48 a 52). Contudo, também é preciso lembrar que, de acordo com o art. 18 da CVDT, “Um Estado é obrigado a abster-se da prática de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado, quando: a) tiver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver manifestado sua intenção de não se tornar parte no tratado; ou b) tiver expressado seu consentimento em obrigar-se pelo tratado no período que precede a entrada em vigor do tratado e com a condição de esta não ser indevidamente retardada.” Dessa forma, verifica-se que a assinatura de um tratado não é um ato destituído de quaisquer efeitos, eis que impõe aos Estados signatários deveres de segurança ligados à boa-fé.

Espero que a resposta a ajude. Um grande abraço!

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Aléxia Kílaris

Não, o argumento utilizado pelo Brasil não procede. Isso porque, ainda que um Estado assine um tratado, a ele, individualmente, também cabe a decisão de ratificá-lo em seu ordenamento jurídico. 

No Direito Internacional Público é aplicável o princípio da não ingerência nos assuntos dos outros Estados, que também se aplica ao caso acima apresentado. 

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