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Conceitue e explique a dimensão relacional do poder

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Felipe Lócio

Poder discursivo e poder performático devem necessariamente ser acionados. Como demonstraram inúmeros teóricos, estruturas sociais e esquemas simbólicos devem ser "atualizados" ou "tornados reais" ou ainda "encontrar expressão em" ações de indivíduos humanos; por essa razão, "estrutura" e "ação" são interligadas, codependentes ou coconstitutivas. Colocar as coisas nesses termos seria o mesmo que afirmar que o poder performático - como venho desenvolvendo aqui - é apenas o "outro lado da moeda" (ou das moedas) do poder discursivo e do poder relacional? Creio que não. Tentarei explicar as razões.

Ao invés de simplesmente entendermos "performance" como uma nova palavra para "ação", o conceito de poder performático deve qualificar o grau em que capacidade e dominação podem ser remissíveis à efetividade concreta dos atos em si enquanto móveis do mundo. Deve ser uma maneira de aproximar-se da variabilidade empírica, na medida em que esse formato de poder excede a tradicional dialética entre estrutura e ação. A analogia com os "atos de discurso" é importante aqui: o que o poder performático permite recuperar analiticamente são as situações concretas em que a ação funciona como promessa ou como os votos de casamento, e não simplesmente como constatação com uma referência clara e um valor de verdade. Permite ver se a efetividade da ação de uma pessoa deriva da maneira que ela foi "delegada a agir" por certas codificações discursivas ou certos posicionamentos relacionais; ou seja, na analogia feita, como um ato de discurso constativo ou se, quando alguém age, seu sucesso deriva de seu poder performático. Dessa forma, o que queremos saber, com o poder performático, é quando e como a situação concreta da ação excede, em seu impacto, as convenções sociais, os arranjos estruturais, as formações discursivas etc. (para uma discussão mais ampla sobre esse assunto, bem como para outras teorizações dessa analogia, ver Bourdieu, 1993a; Butler, 1997a; 1999; Derrida, 1988).

Pensar o poder performático dessa forma - e, enfatizo novamente, não como reaproveitamento da díade estrutura versus ação - traz consequências positivas para a pesquisa. O ponto, teorizado extensivamente, sobre de que maneira a dramaticidade "cita" códigos discursivos e relações sociais que não estão imediatamente presentes no ato em si torna-se, assim, um ponto da pesquisa empírica sobre a interação das três dimensões de poder. A partir da perspectiva dimensional desenvolvida aqui, o grau em que o poder performático impacta a ação passa a ser uma questão empírica, e não uma constante metafísica ou uma assunção metateórica. Sendo assim, a questão é: em que medida o ajuste temporal, a ressonância emocional, a efetividade retórica - em contraste com a posição social dos atores que levam as ações a cabo, ou os códigos e narrativas citados por atores que "dão forma" a um problema - dão, aos atores, controle sobre os outros ou, de maneira geral, uma maior capacidade de se mover no mundo. O grau de pertinência desse modelo, em uma determinada situação que se analisa, é o grau em que o poder performático é autônomo em relação ao poder discursivo e ao relacional.

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