A primeira modalidade de fato jurídico latu sensu é o fato jurídico strictu sensu onde estamos diante de um acontecimento que produz consequências jurídicas mesmo sem contar com a participação humana. São exemplos a morte, o nascimento com vida e a maioridade que se qualificam, dentre outros, como fato jurídico ordinário já que acontecem a todo momento em nossa vida cotidiana. Existem ainda os chamados extraordinários que acontecem com eventualidade tais como o avulsão (art 1251), o usucapião e o caso fortuito ou força maior, entre outros. O caso fortuito está relacionado a um evento imprevisível e, por consequência, inevitável tal como aconteceria por exemplo se um motorista de ônibus viesse a perder o controle provocando um acidente com vítimas fatais. A força maior está relacionada a eventos inevitáveis, mesmo que previsíveis, como os eventos da natureza que trazem consequências jurídicas.
O ato jurídico latu sensu conta, obrigatoriamente com a participação humana e pode ser ilícito ou lícito. Quanto ao primeiro, estamos diante de uma conduta humana voluntária em desconformidade com a norma gerando o dever de indenizar, onde apesar de se exigir a participação humana, a conduta pode ter sido praticada com o objetivo, com a intenção de ter sido concretizada ou não, ou seja, poderá estar evidenciada tanto através de uma conduta culposa como dolosa. Já o ato jurídico latu sensu lícito exigirá que o indivíduo adote aquele determinado comportamento de forma livre e consciente e, por consequência, com a intenção em realizá-lo.
Os atos jurídicos latu sensu lícitos podem ser divididos em: atos jurídicos strictu sensu e negócio jurídico. Em ambos estamos diante de uma manifestação de vontade, livre e consciente, onde o declarante tinha a intenção de praticar aquela conduta. Porém, no ato jurídico strictu sensu todas as consequências da declaração de vontade são estipuladas pela norma, sem qualquer autonomia para que o declarante possa determinar as consequências de sua manifestação de vontade. Serve de exemplo o domicílio voluntário, a emancipação voluntária, bem como a adoção, dentre outros. No negócio jurídico o indivíduo tem total autonomia para estipular os desdobramentos de sua manifestação de vontade, obedecidos critérios mínimos estipulados pela norma. Os negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais. Os primeiros se concretizam apenas com uma única declaração de vontade tal como testamento e a proposta de contratar, entre outros. Os negócios jurídicos bilaterais exigem, para sua caracterização, a declaração de vontade de duas partes que normalmente ocupam polos opostos tal como se vê nos contratos em geral. Assim, é possível afirmar que os contratos são espécies de negócio jurídico, jamais sinônimos dos mesmos.
Ato fato jurídico
No ato fato estamos diante de uma conduta humana voluntária onde é irrelevante para a caracterização do instituto se o indivíduo tinha ou não a intenção em praticá-la, uma vez que o importante é a consequência da conduta humana, querida ou não. Alguns doutrinadores denominam o ato fato como ato humano, avolitivo, justamente pela desnecessidade de estar presente uma manifestação de vontade, tal como se extrai dos artigos 1264 e 1269 dentre outros. A grande diferença do ato fato para o ato jurídico strictu sensu é que neste último exige-se uma manifestação de vontade expressamente direcionada a atingir uma finalidade prevista em lei e, por essa razão, é fundamental a capacidade civil plena. No ato fato, como é irrelevante se a pessoa queria ou não realizá-lo, a capacidade civil plena é dispensável. Alguns inserem também nesse instituto os atos praticados pelos incapazes e que são socialmente admitidos e, justamente, pela falta da capacidade não é possível compreende-los como negócio jurídico tal como acontece com o menor que anda de ônibus sozinho, a pessoa sem discernimento algum vai ao cinema desacompanhada, dentre outros.
(Baseado em resumo que fiz durante meus estudos de Direito Civil, utilizando o Curso de Direito Civil, de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias, 2014 - tenho a versão impressa).
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