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FILOSOFIA

QUAL O PAPEL DO DIREITO NA ORDENAÇÃO DE VALORES?

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leandro ballester

Na análise do fenômeno jurídico em sua complexa estrutura, certamente são encontrados valores sociais que cultivam no Poder Legislativo o interesse e a necessidade da inclusão no ordenamento jurídico. A influência social da norma jurídica se reveste de legitimidade quando encontra amparo nos braços da sociedade e por ela é reconhecida como justa.

Além disso, não devem ser esquecidos os elementos econômicos, religiosos, políticos, biológicos, culturais, filosóficos, os quais, dentro de uma abordagem interdisciplinar, complementam a análise do Direito, que não pode ser concebido de forma isolada. Isso é importante quando se impõe a questão da legitimidade, política ou jurídica, que, para se manifestar, exige a compatibilização dos valores existentes no grupo social. A concepção de valor no estudo do Direito é condicionada pelas questões econômicas, sociais e políticas de um determinado contexto histórico.

Nesse contexto, o conteúdo da norma jurídica representa a vontade da sociedade que foi reconhecida pelo corpo legislativo, que exerce essa função de legislar por delegação. Se não for assim, ou seja, a norma emanar de alguma outra fonte que não seja a vontade do meio social reconhecida pelo Poder legislativo, carece de legitimidade. O legislado é sensibilizado pela importância social da norma jurídica e para isso reconhece os valores como norteadores da sua atividade legiferante.

Desta forma, pretende-se verificar no presente estudo, a questão dos valores na ciência do Direito, abordando o pensamento dos doutrinadores Miguel Reale, Hans Kelsen e Arnaldo Vasconcelos, passando por uma abordagem da neutralidade das ciências e concluindo pela visão axiológica do Direito.

A QUESTÃO DOS VALORES

O Direito possui uma complexidade de elementos que torna dificultosa a sua definição, o que não impede de serem expostas algumas considerações iniciais. Faz-se necessário explicar o fenômeno jurídico como pressuposto de entendimento, extraído da fórmula concebida por Arnaldo Vasconcelos: a norma incide sobre o fato, dando-se uma prestação; dada a não-prestação, segue-se a sanção e, se esta for descumprida, surge a coação.

É tarefa do filósofo questionar sobre os princípios lógicos, éticos e histórico-culturais que norteiam a ordem jurídica. Numa tentativa de separar os conceitos acima demonstrados, Miguel Reale (2002, p.17) assevera que: A ciência do Direito estuda o fenômeno jurídico tal como ele se concretiza no espaço e no tempo, enquanto que a Filosofia do Direito indaga das condições mediante as quais essa concretização é possível. […] Donde poder-se dizer que a ciência do Direito é uma forma de conhecimento positivo da realidade social segundo normas ou regras objetivadas, ou seja, tornadas objetivas, no decurso do processo histórico.

O Direito, na verdade, é um dever-ser, ou seja, em virtude de ter sido reconhecido um valor como razão determinante de um comportamento que é considerado obrigatório, encontram-se nessa regra um juízo de valor. Um “juízo” pode ser definido como a atribuição de certa qualidade a um ente. Acerca da atividade legiferante, Miguel Reale (2002, p.35)assevera que:

O legislador não se limita a descrever um fato tal como ele é, à maneira do sociólogo, mas baseando-se naquilo que é, determina que algo deva ser, com a previsão de diversas conseqüências, caso se verifique a ação ou omissão, a obediência à norma ou a sua violação.

Interessante se faz neste momento apresentar as posições dos principais doutrinadores acerca da questão dos valores na ciência do Direito.

a) Em Miguel Reale

Em sua obra Filosofia do Direito, Miguel Reale (1990, p.190) considera que os valores são entidades vetoriais, tendo por principal função guiar o indivíduo, apontando sempre para um sentido que é reconhecível como fim. Assim, “toda sociedade obedece a uma tábua de valores, de maneira que a fisionomia de uma época depende da forma como seus valores se distribuem ou se ordenam.” (REALE, 1990, p.191). Para ele, o fato humano assume uma dimensão valorativa que resulta da sua referibilidade a valores. Analisando a posição de Reale, Agostinho Ramalho Marques Neto considera que:

Para Reale, as normas jurídicas constituem o objeto específico da ciência do Direito, mas não as normas consideradas em si mesmas. Qualquer análise jurídica deve considerar necessariamente o complexo das normas em função das situações normadas, isto é, deve apreender o objeto do Direito em sua estrutura tridimensional, porquanto é só através de suas relações com o fato a que se refere e com os valores que consagra, que a norma jurídica pode fazer sentido. (MARQUES NETO, 2001, p.175).

Apresenta como características dos valores os seguintes termos, também mencionados por Machado Paupério (1977, p.15-16): bipolaridade; implicação; referibilidade; preferibilidade; incomensurabilidade; graduação hierárquica, objetividade, realizabilidade e inexauribilidade.

A bipolaridade é essencial nos valores. Significa que a um valor sempre se contrapõe um desvalor, se implicando em um processo dialético. Nas palavras de Reale (1990, p.189), “a dialeticidade que anima a vida jurídica, em todos os seus campos, reflete a bipolaridade dos fatores que a informa.” Por isso sempre existe certo e errado; autor e réu; belo e feio; nobre e vil.

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