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Qdo teve início a globalização?

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LR

Houaiss, de forma genérica, define o termo globalização da seguinte forma: “espécie de mercado financeiro mundial criado a partir da união dos mercados de diferentes países e de quebra das fronteiras entre esses mercados” (HOUAISS, 2009: 973). De acordo com essa prévia definição é possível verificar que a globalização possui dos elementos chaves, são eles: o mercado e as fronteiras de cada país. Ao perseguir estes dois elementos é possível chegar a conclusão que a globalização não é um acontecimento recente, e é em verdade “fruto de processos de integração muito anteriores, que se acumularam ao redor do globo nos últimos milênios” (GUARINELLO, 2016: 174). Questionar o inicio da globalização é o mesmo que questionar como se deu e ainda se dá esse “processo de integração, no tempo e no espaço” (GUARINELLO, 2016: 174), e é de vital importância para apreendermos tanto o presente como o futuro, quanto a “maneira como atuamos como indivíduos, sociedades, religiões, culturas ou Estados, aproximando-nos ou nos afastando do tempo presente, seja cooperando ou competindo entre nós” (GUARINELLO, 2016: 174).

A respeito do que podemos considerar o inicio do que hoje é possível reconhecer como um mundo globalizado e globalizante: “Embora não se possa mais considerar a ‘História Antiga’ [esclarecendo que “Não é a História Antiga do mundo, portanto, mas a Historia de um recorte bem específico do passado: o das origens do Ocidente”  (GUARINELLO, 2016: 13), ou seja, do “Oriente Próximo, da Grécia e de Roma” (GUARINELLO, 2016: 13)] como inicio de uma História Universal, as realização humanas que se acumularam nesse pedaço do globo são fundamentais para entendermos como o mundo contemporâneo se tornou possível. Tão fundamentais quanto as realizações de outras partes do planeta, cujas Histórias vemos hoje confluindo para uma História comum. Esta última, por sua vez, só nos é visível porque estamos vivendo em pleno processo de globalização, de redução de distâncias, de integração entre os povos, com todas as suas vantagens, mas também com todos os seus dilemas e conflitos. Um mundo globalizante, cujo futuro ninguém conhece ou pode prever.” (GUARINELLO, 2016: 174).

Mais especificamente, devemos levar em consideração que o grande cenário do Mundo Antigo [entre os séculos X a.C. e V d.C.], e que é também o grande pivô do processo de integração que se inicia, é o Mediterrâneo: “O Mediterrânico [região como um todo, mar + terra] era um espaço ideal para a extensão do poder a distância, controlando as terras e o fluxo marítimo entre elas. Ressaltam, ainda, três instrumentos principais de controle sobre a produção: obrigar uma região a ser monocultora, principalmente dos produtos mais essenciais, como o trigo; criar centros de estocagem, para controlar os efeitos das flutuações climáticas a cada ano e produzir bens que durem por anos, como o vinho; redistribuir bens e produtos para zonas carentes.” (GUARINELLO, 2016: 52). Os elementos da “Conectividade e mobilidade”, presentes no Mediterrâneo da História Antiga, são o que chamamos de elementos do processo de integração. Processo que se inicia nesse passado remoto, mas que podemos encontrar em um processo de integração mesmo, rebatizado de globalização, como exemplo de possível associação do passado com fenômenos do presente: “A ideia de conectividade foi rapidamente associada ao desenvolvimento da internet, como se o Mediterrâneo fosse um espaço de comunicação sem fronteiras. Foi, sem dúvida, sua inspiração.” (GUARINELLO, 2016: 52). Ainda sobre o Mediterrâneo e a Globalização, é necessário salientar o aspecto cultura: “O processo de integração não apenas encurta distancias, ele muda a ordem e o sentido da vida em regiões cada vez mais amplas. A articulação entre as comunidades produz, na linda duração, sistemas socias cada vez mais complexos e sofisticados. Embora não conduza, necessariamente, à homogeneização das comunidades, o processo de integração submete ao longo do tempo e em escala acumulativa, as fronteiras locais e a vida local a fronteiras mais amplas, a uma unidade mais extensa, a um sistema de diferenças em escala maiores, que lhes confere, de fora, suas próprias identidades e seu sentido.” (GUARINELLO, 2016: 56 – 55).

A associação dos processos desenvolvimentos em pleno Mediterrâneo em séculos tão distantes, com o início do que hoje é possível reconhecer como globalização, não é óbvia, e por isso merece os detalhamentos aqui feitos, e muitos outros tão importantes quanto, não feitos necessidade de constar aqui uma resposta clara e acessível. Entretanto, duas questão devem ser levadas em consideração: 1) Sobre a memória dos povos: “A memória é a grande fundadora e legitimadora das identidades, porque é ela que define quais são as mais importantes, quais não são fluidas e passageiras, quais são aquelas que adquirimos de nascença, como herança de nossos ancestrais.”, “A memória social é, com frequência, um campo de conflitos, no qual diferentes sentidos são conferidos ao passado: personagens e fatos distintos são valorizados ou rejeitados, interpretações são contrapostas, silêncios ou rememorações festivas se confrontam. Tradições contrastantes lutam por legitimidade no espaço social da memória através de diferentes lugares e meios: textos, monumentos, festividades, associações, veículos de comunicação, instituições e o próprio Estado.”, “No mundo contemporâneo, o Estado é o maior e mais eficaz produtor de memórias socias. Ele necessita dessa produção de memórias para sua própria legitimidade, mas, sobretudo, para mantes uma identidade nacional e cívica, para dar sentido a sua existência como parte da vida dos cidadãos e da própria ideia de nação.” (GUARINELLO, 2016: 9 – 10); 2) Globalização e Ocidentalização, Memória e História: “Não é a História Antiga do mundo, portanto, mas a História de um recorte bem específico do passado: o das origens do Ocidente. AO assumirmos e ensinarmos que esta é a nossa História Antiga, fazemos um trabalho de memória e, como viemos, de produção de identidade.”, “Sem nos darmos conta, para o bem e para o mal, a História Antiga nos ocidentaliza. Coloca-nos numa linha do tempo, nos posiciona na História mundial como herdeiros do Oriente Próximo, da Grécia e de Roma. Por ela, viramos sucessores da História Medieval, e a História do Brasil se torna um ramo da História europeia nos tempos modernos, quando nosso território foi colonizado pelos portugueses a partir do século XVI.”, “O eleito dessa forma de reconstruir a História não é inócuo. Sua ação sobre a memória coletiva e sobre a identidade do Brasil é bastante evidente. Vemo-nos como ocidentais e os textos bíblicos, o Egito, a Mesopotâmia, a Grécia e Roma parecem-nos mais próximos que as Histórias de outros povos e regiões.” (GUARINELLO, 2016: 13).

Bauman e a globalização: Apenas a titulo de curiosidade,  Bauman defende que os processos de integração que hoje se concentram em torno do conceito de globalização, é em via contrário um processo de desintegração social: “A desintegração da rede social, a derrocada das agencias efetivas de ação coletiva, é recebia muitas vezes com grande ansiedade e lamentada como ‘eleito colateral’ não previsto da nova leveza e fluidez do poder cada vez mais móvel, escorregadio, evasivo e fugitivo. Mas a desintegração social é tanto uma condição quanto um resultado da nova técnica do poder, que tem como ferramentas principais o desengajamento e a arte da fuga. Para que o poder tenha liberdade de fluir, o mundo deve estar livre de cercas, barreiras, fronteiras fortificadas e barricadas. Qualquer rede densa de laços sociais, e em particular um que esteja territorialmente enraizada, é um obstáculo a ser eliminado. Os poderes globais se inclinam a desmantelar tais redes em proveito de sua continuidade e crescente fluidez, principalmente fonte de sua força e garantia de sua invencibilidade. E são esse derrocar, a fragilidade, o quebradiço, o imediato dos laços e redes humanos que permitem que esses poderes operem.” (BAUMAN, 2001: 23).

 

Referencias Bibliográficas:

BAUMAN, Zigmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2016.

HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Messo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

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