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quais os tipos de tradição ficta, dando exemplo de cada uma das modalidades.

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Iza Pereira

Tradição ficta

A terceira espécie de transmissão da posse, a tradição ficta, é aquela que, embora não haja a entrega da coisa efetiva, o alienante continua na posse em nome do adquirente. Ela pode ocorrer de três formas: através da Traditio Brevi Manu, da Traditio Longa Manu e do Constituto Possessório, ou cláusula constituti.

 

Constituto Possessório

O constituto possessório (4) também é denominado de cláusula constituti, tratando-se da forma pela qual se dá a tradição ficta, que se concretiza quando vir expressa em um contrato translativo.

Por esta cláusula, o proprietário do bem o transfere mediante título legítimo, mas continua com a posse do bem, que será exercida em nome de outrem. Este outrem será o possuidor direto, que adquirirá a posse mesmo sem tê-la exercido de fato.

Na prática, não houve tradição efetiva nem simbólica. O que ocorreu, na verdade, foi tradição apenas no ânimo da posse, ou seja, houve a tradição ficta do bem.

Desta forma, com esta cláusula estando expressamente prevista no contrato, aquele que adquire o imóvel, passa a exercer, de imediato, a posse indireta do mesmo, mesmo sem nunca ter exercido de fato a posse do bem.

Em relação aos interditos possessórios, pelo artigo 1.196 do Código Civil de 2002 e pelo artigo 485 do Código Civil de 1916, terá legitimidade para ingressar com ação de interdito possessório todo aquele que exercer alguma posse sobre o bem.

Sendo assim, o constituto possessório traz o efeito de que, aquele que adquiriu o bem, estando esta cláusula presente no contrato translativo, adquiriu também a posse direta do bem, mesmo que nunca tenha exercido de fato a posse do bem. Sendo assim, terá legitimidade para intentar com ações possessórias para reaver, ou proteger o bem contra esbulhos ou turbação.

Como exemplo do constituto possessório e suas consequências, eis a seguinte situação: uma pessoa, proprietária e residente em uma casa, a vende para um terceiro, mas através de um contrato de locação pactuado com este, continua residindo no imóvel, ou seja, continua com a posse direta. Nesta situação, havendo a cláusula constituti expressa no contrato translativo, mesmo não ocorrendo uma tradição efetiva ou simbólica do imóvel, por força do constituto possessório, ocorrerá a tradição ficta, e mesmo o novo proprietário nunca ter exercido, de fato, posse alguma sobre o imóvel, ele passará a exercer a posse indireta. Sendo assim, estará legitimado a ingressar com os interditos possessórios contra o antigo dono da coisa.

Neste caso, caso não houvesse a cláusula constituti, pelo fato de não ter ocorrido tradição, o novo proprietário não poderá ingressar com ações possessórias, pois nunca obteve posse alguma sobre a coisa. Neste caso, a ação cabível contra o antigo dono que resolve não entregar o bem objeto da negociação é a Ação de Imissão na Posse, de rito ordinário, juízo petitório, sendo descabida a pretensão de uma liminar de caráter possessório.

 Traditio brevi manu

A traditio brevi manu é demonstrada como sendo, na forma literal, uma espécie de tradição de mão curta; em outras palavras, este tipo de tradição ocorrerá quando aquele que tem a detenção do bem, através de uma declaração de vontade por parte do possuidor, passe a ser possuidor da coisa.

Neste caso, o detentor passa a ser possuidor por ter adquirido o bem. Esta tradição ficta, traditio brevi manu, muda, portanto, a natureza da detenção, que passa a ser considerada como posse.

Por tal mudança de natureza, a traditio brevi manu traz consigo efeitos no mundo jurídico. O detentor, por exercer ato permissivo, ou de subordinação em relação ao proprietário da coisa, somente pode ingressar com ações possessórias em nome do real proprietário, não podendo exercer em nome próprio.

Com a mudança da natureza, passando o mesmo a ser possuidor da coisa, ele exercerá alguma espécie de posse sobre o bem, passando, portanto, a ter legitimidade para ingressar com interditos possessórios em nome próprio, caso haja alguma turbação ou esbulho, por parte de terceiro, sobre o bem.

Como exemplo, pode-se citar a seguinte situação: uma pessoa, através de um ato permissivo do real proprietário do imóvel, reside no mesmo, no entanto, subordinado ao real proprietário. No entanto, posteriormente, ele compra o imóvel do proprietário. Neste caso, enquanto havia a subordinação, esta pessoa, apesar de aos olhos de terceiros exercer a posse do bem, exercerá apenas a detenção da coisa. Por exercer a mera detenção, em caso de esbulho ou turbação sobre o imóvel, este somente poderá ingressar com ação possessória em nome do real proprietário. Ao adquirir o imóvel, haverá a traditio brevi manu, onde este indivíduo, de mero detentor, passará a ser possuidor do imóvel. Por ter havido esta mudança de natureza, esta pessoa, agora possuidora, poderá ingressar com ações possessórias em nome próprio para proteger o imóvel contra turbação ou esbulho de terceiros.

Traditio longa manu

Neste tipo de tradição, a coisa é considerada como entregue quando ocorrer o contrato, antes da entrega material se efetivar.

Desta forma, a aquisição da posse se procede mesmo que não haja a apreensão física da coisa, não sendo necessário, por tanto, que se tome posse materialmente.

Por este tipo de tradição, o alienante entregará o bem a outrem, sendo que a tradição se concretizará no momento em que houver a efetivação do contrato, e não da coisa em si. Portanto, para que ela venha a se caracterizar, necessário se faz que o contrato venha a ser cumprido.

Caso ele não seja honrado, a tradição não se efetivará. Consequentemente, a posse ainda estará em mãos daquele que ia alienar a coisa. Ele, estando ainda com a posse do bem, mesmo não estando fisicamente com a coisa, pode ingressar com interdito possessório, em face daquele que ia adquiri-lo, para poder reaver de volta a coisa para si.

Isto ocorre, pois, pelo não cumprimento da obrigação, mesmo o bem não estando mais fisicamente consigo, a tradição não se efetivou, estando ele ainda na posse ficta do bem. E como tal, para proteger o bem contra esbulho e turbação de terceiro, a legislação brasileira contempla a legitimidade ativa, para se intentar com ações possessórias, a todo aquele que exerce alguma posse sobre o bem.

Como exemplo, eis a seguinte situação: uma pessoa, residente na cidade de Curitiba, Paraná, adquire uma casa na cidade de Salvador, Bahia. Por força da traditio longa manu, o comprador do imóvel, ao assinar o contrato de compra e venda, realizando o pagamento do valor do imóvel, ou seja, efetivando o contrato, por força deste instituto, o comprador, mesmo nunca tendo exercido a posse de fato sobre o imóvel, por ter ocorrido a tradição ficta pela traditio longa manu, ele poderá exercer os interditos possessórios contra turbação ou esbulho que terceiros venham a praticar no imóvel adquirido.

 

 espero ter colaborado. abraço

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