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Como gerar riquezas no sistema capitalista?

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Claudio José

Pelo menos cinquenta anos de dominação do pensamento marxista em nosso país foi suficiente para que grande parte da população desconsidere verdades simples e apreensíveis, mesmo pelo senso comum.


Como esta hegemonia deu-se, principalmente, via sistema oficial de educação, criou-se gerações alheias ao conhecimento sobre o que é e como funciona o modo de produção capitalista. Enquanto em países como Singapura as crianças já recebem conteúdo na escola sobre finanças e economia doméstica, no Brasil, a maioria esmagadora de seus habitantes ignora premissas básicas sobre economia, mercado e finanças. Não é à toa que “patinamos” no mesmo lugar há décadas, envenenados pelos discursos populistas que nunca dizem que a entrega de uma estado de bem estar social tem um custo que deve ser coberto pela riqueza gerada no mercado de trocas voluntárias (economia de mercado) e que “governo grátis” é um mito que enterra uma nação, posto que cria no inconsciente coletivo a ideia insana de que alguém vai resolver os meus problemas com alguma “bolsa ajuda”.


O modo de produção capitalista não foi criado pela mente iluminada de uma pessoa. Ao contrário do socialismo científico de Karl Marx, o capitalismo não tem um autor e um livro que foi sacralizado e que deve ser defendido a todo custo, independente de conter axiomas falsos e premissas inidôneas. Em uma democracia, somos obrigados a conviver e a respeitar ideias diversas, contudo, no Brasil, as mazelas sociais que saltam aos olhos são diagnosticadas pelas mentes que filtram a realidade com os óculos marxistas, simplesmente fazendo ataques ao sistema de produção capitalista. Tudo é culpa do capitalismo “mau”, “opressor” etc. Será esta a verdade?


Nada mais errado! Afirmo com tranquilidade e desafio a esquerda a provar o contrário. O capitalismo não é responsável pela pobreza no mundo. O capitalismo, ao contrário, é o único arranjo racional possível capaz de CRIAR riqueza. Infelizmente, não é possível expor todos os argumentos (também não é este o objetivo) em um pequeno artigo de opinião sobre este axioma. Em resumo, a pobreza é a condição natural da nossa espécie. No estado de natureza você pode sobreviver apenas retirando os recursos já colocados à disposição (água, frutos, carne de animais etc). Os primeiros humanos viviam nestas condições, como nômades, buscando novos lugares ao esgotar os recursos do original.


O exemplo é tosco, mas ajuda na compreesão da essência do fenômeno. Imagine duas pessoas em uma ilha deserta lutando pela sobrevivência. Passam o dia coletando frutos e raízes silvestres ou tentando pegar um peixe com as mãos. Consomem apenas o disponível pela natureza. Contudo, um deles deixa de procurar comida por um dia e dedica-se a fabricar uma armadilha com cipós para pescar. Esta armadilha é uma ferramenta. Um “capital”. Este capital foi adquirido pela “poupança” de “tempo” equivalente a um dia abstendo-se em procurar comida. Com esta ferramenta (capital) ele conseguirá pegar cinco ou seis peixes diariamente, sendo o seu consumo diário de três peixes para sobrevivência. Há, portanto, um “excedente” de dois a três peixes diários. O outro continua apenas coletando para sobrevivência. Tecnicamente, aquele está mais “rico” que este. Tal somente foi possível porque “poupou”, ou seja, absteve-se de consumir no presente para constituir capital que produz bens de consumo.


Com efeito, quando alguém decide poupar R$ 1.000,00 durante dez meses para adquirir uma máquina de fazer sorvete, significa que ele absteve-se de consumir durante este período (poupança) e obteve um bem de capital (que produzirá um bem de consumo). Igualmente, se buscasse os R$ 10.000,00 em um banco estaria emprestando a poupança de alguém que absteve do consumo presente. Portanto, poupança é igual a investimento (acumulação de capital). Simples assim.


Capitalismo vem de capital e não de consumo. Capital é um fator de produção, ao lado da terra e do trabalho. A crítica ao sistema capitalista como gerador da pobreza é intelectualmente incorreta. Estudos que dedicam-se a investigar as “causas” da pobreza são irrelevantes. Devemos estudar as causas e os fatores responsáveis pela criação da “riqueza”, esta sim um produto da ação humana propositada.


O sistema capitalista propõe a alocação racional de recursos escassos. Nesse sentido, como ensinou o economista da escola autríaca Ludwig von Mises  a economia é uma ciência praxeológica, no sentido que investiga a ação humana como “vontade posta em funcionamento, transformada em força motriz; é procurar alcançar fins e objetivos”.[1]


Perceba, estimado leitor, que a ideia de que o capitalismo é um ente mau e perverso, com existência objetiva e independente do ser humano é descabida e alucinada. Se você é contra este modelo de organização humana, significa, em última instância, ser contra a liberdade e o direito de apropriar-se daquilo que foi adquirido ou construído com o esforço individual do trabalho. Liberdade, propriedade privada, interesse individual e império da lei e ordem são elementos civilizatórios e necessários à manutenção do único arranjo que a nossa espécie conseguiu para superar sua natureza animal e criar um ambiente de conforto e prosperidade nunca antes visto na história da humanidade. Se duvida, reflita sobre como você está lendo este texto: um computador, fabricado pelo esforço de milhares de pessoas que produziram milhares de componentes, montados em algum lugar do mundo, sem nenhuma inteligência onisciente regulando o processo. Tudo via sistema de preços em um ambiente de livre iniciativa.


Você poderia objetar que o capitalismo aprofundou as desigualdades existentes hoje no mundo. O debate é antigo e complexo. O capitalismo não criou a desigualdade. Esta é inerente à condição humana e a natureza ontológica das coisas. Apenas pense. Olhe para a natureza e veja se há igualdade material. As espécies sobrevivem com as armas que possuem e, na maioria das vezes, alguns seres são dotados de mais equipamentos para sobrevivência que outros. Aliás, o próprio universo só formou-se após o “big-bang” porque havia mais “matéria” do que “anti-matéria”.[2] Estas, ao se encontrarem, aniquilam-se. Somos resultados diretos da imperfeição e desigualdade.


Ao contrário do que Marx e seus seguidores apregoam até hoje, o socialismo NÃO é uma alternativa ao capitalismo. Não é questão de ideologia, e sim de lógica e sobriedade intelectual. O socialismo é teoricamente e praticamente impossível porque, entre inúmeros argumentos já devidamente comprovado pelos economistas da escola austríaca, o preço e o cálculo econômico somente se formam em um ambiente de livre mercado. Assim, sem o cálculo econômico, é impossível a alocação racional dos recursos escassos. Nenhum planejador central tem a onipotência e onisciência necessária para substituir as milhões de decisões individuais que acontecem no ambiente de livre troca voluntária de mercadorias e serviços para planejar a oferta e demanda que ocorrem em uma sociedade. É por isso que em todas as tentativas de coletivização da economia redundaram em fracasso absoluto, com falta de gêneros essenciais para sobrevivência humana. Na Venezuela atualmente, falta até papel higiênico. Será que o planejador central esqueceu?


Como salienta o economista brasileiro Fabio Giambiagi[3], o capitalismo, em seus 250 anos de história, permitiu um desenvolvimento das sociedades e um grau de bem estar da espécie humana que sistema algum tinha conseguido até então. Tornou os EUA, um país que até o Século XVII era relativamente parecido com o Brasil (uma vasta extenção de terra a conquistar) na maior potência do mundo. Pense no Japão arrasado no pós guerra e hoje uma potência econômica, juntamente com Coréia do Sul e Singapura, ícones de tecnologia e desenvolvimento.


Tanto o autoritarismo estatista dos governos de direita pós república, quanto os de esquerda (populistas, estatista e intervencionistas) foram responsável pela construção de uma mentalidade anticapitalista no nosso país. Como bem lembra Giambiagi, há no Brasil um enorme desconhecimento acerca das virtudes do “empreendedorismo”. Enquanto nos EUA o cidadão acalenta o “sonho americano” de construir uma vida materialmente próspera e abundante, no Brasil o rico é visto com desconfiança e ressentimento. Nosso país é avesso a iniciativa individual. As dificuldades burocráticas para abrir uma empresa, a miríade estatal de comando e controle das atividades (são dezenas de agências reguladoras) inibem o livre empreendimento e, como consequência, atrasam toda uma nação rumo a prosperidade material e ao conforto permitido pelo acesso a bens que somente tornam-se viáveis em economias de escala e com ampla concorrência. Assim, só nos resta continuar a comprar carro com motor 1000cc enquanto, nos EUA, pelo mesmo preço, o americano médio dirige carros de luxo.


A consequência nefasta desta concepção de mundo incutida na mente do povo brasileiro por anos à fio de doutrinação marxista em todos os setores da sociedade produziu a crença de que somos preparados, mas, ainda não demos certo porque existe uma elite retrógrada e antipopular que não deseja o desenvolvimento da nação. Quem é essa elite? Lula não responde, faz sofismas e cita chavões e palavras de ordem sem sentido. Nas palavras de Gustavo Ioschpe (citado por Giambiagi) “temos um cultura que abomina a competitividade, desconfia dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados”. Triste realidade.


A corrida desenfreada por concursos públicos no Brasil é outro sinal que mostra a verdade desta análise. Jovens inteligentes e com excelente formação acadêmica entregam-se a anos de estudos à fio com vistas a conseguir um cargo público e aboletar-se na máquina estatal com o “sonho” da estabilidade e renda financeira até o fim da vida. Seria esse um sintoma que nosso País está no caminho certo?


Apenas reflita por um minuto. A constituição garante e outorga ao Estado a tarefa de entregar um cardápio de direitos a todos os mais de 200 milhões de brasileiros. Saúde integral, educação universalizada, justiça, segurança pública (interna e externa), lazer, emprego, renda, moradia, infra-estrutura etc. Como o Estado, via de regra, não produz e não cria riqueza que financie esta miríade de direitos, esta somente deve provir do setor privado, agravés do modo capitalista de produção. Assim, notadamente os representantes da nossa benevolente e paladina da justiça, esquerda revolucionária, promete entregar todos esses direitos, ao mesmo tempo em que defenestra e dissemina, via seus intelectuais orgânicos, o ódio e a mentalidade anticapitalista. Se isso não for um sintoma de insanidade intelectual, não sei o que pode ser[4].


É triste e desanimador constatar que em nosso País ainda temos que discutir o tema da economia capitalista com pessoas que estão absolutamente envenenadas pela doutrina do vigarista Marx e da revolução cultural de Antonio Gramsci. Assim, a não ser que optemos pela volta ao estado de natureza hobesiano, caçando e coletando, enfrentando uma vida dura, curta e bruta, não é macificando essa crença estúpida contra o modo de produção capitalista, a liberdade e a propriedade privada que iremos garantir o mínimo existencial a milhões de pessoas. A redução da pobreza, o fortalecimento da classe média e a maximização de condições de vida melhores somente acontecerá com o aumento da produtividade do trabalhador brasileiro, da educação e pelo fim da politicagem demagógica e populista. Lutar pela redução da desigualdade como um fim em si mesmo não leva a nada. “Tirar dos ricos para entregar ao pobres”, como muito esquerdista desonesto intelecutalmente defende, apenas destrói a riqueza, não a cria.


O sistema capitalista cresce e prospera com incentivos de cunho individual. É a minha prosperidade material, alcançada via empreendedorismo que gerará efeitos benéficos a todos que gravitam em torno dessa ideia. Erra o pensamento revolucionário ao condenar essa prática como imoral e destrói a sociedade quando propõe o mais imoral dos arranjos possíveis: o socialismo/comunismo. Nada mais apropriado para sinterizar essa ideia do que a frase de Adam Smith (1723/1790)[5]: “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter”.


Meu propósito, como sempre, não é doutrinar, mas transmitir minhas convicções acerca de determinado tema por mim refletido, à luz daqueles que também meditaram na temática. O BRASIL PRECISA DE MAIS MERCADO E MENOS ESTADO! MAIS MISES E MENOS MARX! Precisa criar condições para que as forças econômicas hajam. É a competição que reduz o preço das mercadorias e proporcionar acessa às massas de bens de consumo e não decreto governamental. Lembrem-se do desastre que Dilma Roussef provocou no setor elétrico ao reduzir, por decreto, o preço da energia elétrica. As forças demercado agiram e, passado algum tempo, os reajustes vieram à tona. Não há como driblar a “lei da escassez”; da oferta e demanda; da produção antes do consumo, enfim, precisamos encarar a realidade como ela é, e não como alguns “líderes” políticos gostaria que ela fosse. Afinal, nada está tão ruim que não possa piorar!

 


Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)


[1] Ludwig Von Mises. Ação Humana. Um tratado de economia. Disponivel em www.mises.org.br.

[2] Sobre esse tema, recomendo a obra do físico brasileiro Marcelo Gleiser: “Criação Imperfeita. Cosmo, vida e o código oculto da natureza”.

[3] Fabio Giambiagi. Capitalismo: modo de usar; Editora Campus. 2015.

[4] Sobre o desenvolvimento da mentalidade anticapitalista, recomendo a obra de Ludwig Von Mises, “A mentalidade anticapitalista”. Disponível em pdf em www.mises.org.br.

[5] Economista escocês autor do clássico “A Riqueza das Nações”. É o pai da economia moderna e considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico.

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