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ELITES E PODER AULA 5 Prof. Luiz Domingos Costa 2 O NEOELITISMO E O MARXISMO: DUAS NOVAS ABORDAGENS SOBRE O PROBLEMA DAS ELITES E DO PODER POLÍTICO CONVERSA INICIAL O debate entre a teoria do elitismo monista ou simplesmente elitismo (Mills) e a teoria pluralista (Dahl) foi importante marco na discussão sobre os métodos mais adequados para o estudo das minorias e teve consequências para o tema da democracia nos EUA. Essa polêmica animou outros autores e, aos poucos, o debate em torno das elites políticas se ampliou e passou a incorporar a questão do poder político. No interior desse debate, duas novas correntes teóricas se apresentam e oferecem novos ângulos de observação: o neoelitismo, representado por Bachrach e Baratz, e o marxismo, representado por um conjunto amplo de autores1. A partir dessa dupla contribuição, surgem novas indagações para os estudiosos, tais como a elite política formal (os ocupantes dos cargos públicos) controla todo o poder político de uma comunidade? Ou o poder pode estar nas mãos de atores que não se posicionam nos cargos formais? Em relação ao método decisional, surge uma nova pergunta: todas as questões relevantes (com conflito de interesses) estão sendo trazidas às arenas de decisão política? Essas duas novas abordagens, o neoelitismo e o marxismo, serão objeto da Aula 5. TEMA 1 – A CRÍTICA NEOELITISTA AOS PLURALISTAS (MÉTODO) Como vimos até aqui, o pluralismo é visto de duas formas: 1) descrição de uma dada realidade, em que se constitui como método, revelando um sistema político em que as decisões são tomadas por uma pluralidade de grupos organizados, não por uma elite; e 2) defesa de uma proposta política, de um sistema fundamentado na competição entre minorias dirigentes. 1 O conjunto dos autores marxistas apresentam divergência interna quanto às críticas à teoria das elites. Produzidas entre os anos 1960 e 1980, podemos dividir essa corrente em dois subgrupos internos: Tom Bottomore, autor de As elites e a sociedade (1974), e Ralph Miliband, de O Estado na sociedade capitalista (1972), por exemplo, aceitavam o conceito de elite, desde que submetido ao crivo crítico da teoria marxista. Já Nicos Poulantzas, autor de Poder político e classes sociais (1986), Paul Sweezy, de Elite de poder ou classe dominante? (1972), e Göran Therborn (¿Como domina la clase dominante? (1989)) rejeitavam ou desprezavam o rendimento analítico do conceito de elite. 3 Dois autores em especial – Peter Bachrach e Morton S. Baratz – criticam essas duas dimensões do pluralismo, como veremos a seguir. Conforme visto anteriormente, Robert Dahl critica o método posicional adotado por Wright Mills, defendendo a adoção de um método posicional para estudar o poder político. Enquanto aquele método observa o grupo de indivíduos que controla as principais instituições da sociedade, este analisa uma série de processos decisórios concretos. Já Bachrach e Baratz (1983) consideram que Dahl apresenta um avanço científico sobre o estudo de Mills, mas o criticam pelo fato de ele analisar o poder observando apenas situações em que há tomada de decisões. Para eles, há uma área igualmente importante e não analisada por Dahl, que eles chamam de tomada de não decisões. Nessa região, por meio da manipulação de valores, mitos e instituições políticas e procedimentos dominantes na comunidade, se limita a questões “seguras” o âmbito da tomada real de decisões. Esta é, conforme os autores, a outra face de poder, ou seja, a capacidade que alguns grupos têm de impedir que algumas questões sejam alvo de decisões políticas. As duas faces do poder, segundo ambos, não são vistas pelos sociólogos (representados por Mills), por estes se limitam à pesquisa da origem social dos governantes. Já os cientistas políticos (representados por Dahl) conseguem enxergar apenas a face visível dessas relações, ou seja, a tomada de decisões, pois estão atrelados ao método decisional. Sobre o método de Dahl, Bachrach e Baratz há duas críticas importantes. A primeira, citada acima, é a desconsideração do poder que alguns grupos têm de reduzir o debate político a questões que apenas o interessem. A segunda é a falta de critério objetivo para diferenciar questões importantes das não importantes na arena política. Ou seja, não é possível dizer que apenas as decisões concretas são importantes. Exemplificando: se o grupo A participa da elaboração de decisões que afetam o grupo B, aquele exerce poder sobre este. Mas também o exerce quando limita o âmbito do processo político para que só se analisem questões que não o afetem, impedindo o grupo B de trazer à tona qualquer questão de seu interesse que possa ser prejudicial ao grupo A. Assim, o primeiro erro dos pluralistas é considerar que o poder se manifesta apenas de forma direta no processo decisório e não perceber que ele 4 se expressa também na capacidade que um grupo tem de impedir que decisões sejam tomadas. Num segundo plano, Baratz e Bachrach criticam a posição de Dahl, que considera que as questões-chave da política são aquelas que envolvem divergências reais entre dois ou mais grupos. Para eles, ao contrário, tanto questões triviais quanto não triviais fazem os grupos divergirem, ou seja, este critério não aponta objetivamente o que é um assunto importante. Para os autores, essa importância reside em algo que eles chamam de mobilização de viés do sistema político. Em suma, qualquer decisão que coloque em risco esse viés é um objetivo político importante. Essa posição é dada por uma série de regras, normas e instituições que funcionam de modo a privilegiar uma discussão, de interesses tidos como “legítimos” pelo sistema, e excluir outras, de interesses considerados “ilegítimos”. Conforme essa ideia, seria necessário então que o pesquisador primeiro observasse o viés predominante do sistema político e, apenas depois, o que se decide de forma concreta. De forma mais detalhada, ele deveria primeiro se ater a análise da mobilização de viés existente na instituição. Depois, observar as pessoas e grupos beneficiados e prejudicados por este sistema e, após isso, investigar como ocorre a elaboração das não decisões. Só então, analisar a participação dos agentes políticos na elaboração e implementação de decisões concretas. Com base nessas críticas, os autores observam que a visão que os pluralistas têm do sistema político é discutível. Para eles, com o método utilizado, é uma obviedade constatar que há múltiplos grupos controlando a cena política, pois seria praticamente impossível que apenas um deles controle sozinho todas as decisões sobre diversos assuntos. Conforme a análise do processo de não decisão, é possível constatar que alguns grupos são sistematicamente beneficiados, pois os assuntos que vão contra os seus interesses são simplesmente excluídos da agenda política. De outro lado, outros grupos são quase sempre prejudicados, pois não conseguem incluir na pauta pública os assuntos de seu interesse. Assim, ao contrário do que pensam os pluralistas, que defendem que todos têm chances de participar da competição pública, há um sistema político que garante a dominação de alguns poucos sobre muitos. 5 TEMA 2 – A CRÍTICA NEOELITISTA AOS PLURALISTAS (ASPECTO NORMATIVO) Apesar de criticarem a visão dos pluralistas sobre a democracia, Bachrach e Baratz não recusam a existência das elites. Eles apontam que qualquer estudo sobre a democracia deve levar em conta essa distinção elites-massana sociedade industrial. Mas, para os autores, não é possível acatar a visão negativa que os pluralistas têm das massas. Ao contrário, para Bachrach, a participação política desse grupo fortalece o regime democrático, já que eleva a qualidade dos cidadãos. O autor rejeita, portanto, a ideia pluralista de que as massas ameaçam a democracia e de que o poder controlado por elites favorece a sua estabilidade. Se na teoria democrática clássica, elaborada no século XVIII, a principal ameaça à democracia vinha das elites corrompidas e o seu principal mecanismo de segurança estava depositado no povo, no elitismo democrático essa equação se inverte totalmente (Bachrach, 1980, p. 27). No entanto, segundo Bachrach, essa teoria está errada. Primeiramente ao defender que a estabilidade do sistema é necessariamente benéfica para as pessoas. Para o autor, essa estabilidade pode causar prejuízos, visto que apenas uma pequena minoria se organiza em grupos para influenciar as decisões políticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, como aponta E. E. Schattschneider, os grupos de pressão apresentam claro viés de classe. Para os pluralistas, o controle dos grupos minoritários se dá pela própria competição e o controle recíproco entre eles, impedindo o predomínio de um só grupo. Entretanto, Bachrach duvida desse controle recíproco das elites. Ele acredita que sempre há o predomínio de um desses grupos, especializado em dominar procedimentos decisórios em determinadas áreas de políticas. Mesmo mantendo essa concepção do papel estratégico ocupado pelas elites na atividade política, é possível ter uma definição mais aberta de democracia, derivada da própria definição de elite política. Como visto, estas são formadas por pessoas que possuem mais poder num grupo, capazes de participar diretamente do processo de tomada de decisão. Assim, por meio de suas escolhas impostas e aceitas pela população, afetam um grande número de pessoas. 6 Entendendo as elites dessa forma ampliada, elas não ficam reduzidas ao grupo de pessoas que ocupam as instituições de governo, mas as agregam a todas as organizações não estatais, em especial as grandes corporações econômicas, cujas decisões têm efeitos sociais e políticos inegáveis. Além disso, a elite pode incluir também os grupos muito organizados, como sindicatos e meios de comunicação. Essa ampliação do conceito de elite permite ampliar a discussão sobre um regime mais aberto e democrático. Concluindo, para Bachrach, é necessário considerar a responsabilidade pública das elites políticas não estatais, pois suas decisões coletivas afetam um grande número de pessoas. Numa sociedade verdadeiramente democrática, essas elites também deveriam ser submetidas ao controle dos cidadãos, para além do governo. Essa visão deriva da própria concepção de elite dos pluralistas, mas vê a democracia para além dos limites governamentais, observando o controle de outros grupos poderosos no processo de não decisão. Os neoelitistas, incluindo Bachrach, apontam também a “difusão de poder” como um problema da democracia. Ao contrário do que pensa o elitismo democrático (ou pluralismo), é preciso organizar uma sociedade democrática, não apenas um governo democrático. Isso inclui outros locais capazes de produzir decisões coletivas – entendidas também como políticas – que afetam as pessoas, como o trabalho, as grandes corporações econômicas, a escola e a família. TEMA 3 – MARXISMO: A INTEGRAÇÃO ENTRE O CONCEITO DE “CLASSE DOMINANTE” E O CONCEITO DE “ELITE” Um dos objetivos de se formular um conceito de elite política era justamente de refutar o conceito de classe dominante, de Karl Marx. Essa definição estabelece a relação entre poder econômico e poder político, defendendo que quem detém um, possui o outro. Os marxistas Tom Bottomore e Ralph Miliband conjugaram as duas concepções, de elite política e classe dominante. O primeiro autor defende a superioridade do conceito de classe dominante perante o de elite política, elencando neste os seguintes problemas: 1) a falta de ligação entre dominação econômica e política faz com que não se chegue ao objetivo principal de identificar as fontes do poder político; 2) a teoria das elites teria um raciocínio 7 circular, resumido na frase: “tem poder político em uma dada sociedade aqueles que possuem o poder”; 3) os elitistas fornecem uma visão enganosa do poder, pois não necessariamente aqueles que ocupam posto são os que exercem efetivamente poder político; 4) o conceito não fornece explicação satisfatória que vá além do embate entre minorias politicamente ativas. Ainda, conforme Bottomore, as concepções se aproximam de certa forma, já que colocam como fator preponderante da estrutura social a separação entre dominantes e dominados. Porém, há três diferenças cruciais em relação a este ponto: 1) enquanto que, na teoria das elites, as maiorias são descritas como desorganizadas, na contraposição de classe dominante e dominada, elas podem ser organizadas; 2) dessa lógica, percebe-se que no marxismo o conflito entre as classes é o motriz da história e, na teoria das elites, essa relação se dá de forma passiva; 3) enquanto que o marxismo explica a classe dominante como um grupo coeso, unido por interesses econômicos, a teoria das elites não explica a coesão dessa classe. Mesmo que haja diferenças entre os dois conceitos, Bottomore ressalta que ambos se complementam, já que o analista pode se utilizar dos dois para se referir a tipos diversos de sistemas políticos ou a aspectos diversos do mesmo sistema. Assim, se poderia identificar combinações de classes dominantes e elites políticas de diferentes formas. Algumas sociedades são marcadamente elitistas, outras classistas, ou apresentar uma combinação de ambos. Ou seja, se os conceitos forem usados juntos, podem representar ganho analítico. Para Bottomore, a realidade das elites é mais marcante em países subdesenvolvidos, onde, na sua maioria, a elite política tem papel fundamental nos projetos de modernização e industrialização, chegando, em alguns casos, a substituir a burguesia na sua função de criar uma sociedade industrial. Nessas sociedades, os líderes têm importância aumentada. Já Ralph Miliband foi influenciado por Wright Mills e procurou resgatar o conceito de elites para o pensamento marxista. Ele critica os pluralistas quando estes negam que o poder político serve aos interesses economicamente dominantes nas sociedades contemporâneas. Para refutar essa afirmação, ele faz um extenso estudo empírico sobre a elite estatal nos países de capitalismo avançado. Para tanto, o autor opera com os seguintes conceitos: elites econômicas, classe economicamente dominante, elite estatal e classe politicamente dominante. 8 Para descrever as sociedades contemporâneas em que predomina o capitalismo, é importante se estabelecer um conceito de elites econômicas: vários grupos econômicos se destacam na estrutura produtiva. Há os que são efetivamente proprietários e, também, os administradores do capital. Estes, são altos executivos e gerentes que, apesar de não fazerem parte da propriedade empresarial, são fundamentais para sua gestão. Com o aumento da complexidade do capitalismo, há uma proliferação de elites econômicas, o que faz aumentar a concorrência e o conflito entre elas, que querem fazer valer seus próprios interesses. O conceito de elite econômica, então, descreve a existência de uma fragmentação entre os que estão no topo da estrutura econômica da sociedade capitalista contemporânea. No entanto, por baixo dessas divergências, há, no fundo, uma cadeiade interesses única neste grupo. Os capitalistas (proprietários) e seus funcionários de alto escalão querem a continuidade do regime de propriedade do sistema capitalista de produção, ou seja, de propriedade privada dos meios de produção e de apropriação privada dos lucros, mesmo que a maioria da população seja a responsável pela produção. Assim, é possível concluir que, apesar de fragmentada em certos aspectos, a classe economicamente dominante defende a manutenção do sistema capitalista. Ainda há a presença da elite estatal nas sociedades economicamente avançadas. Ela é formada por pessoas que controlam as instituições do Estado e, assim, exercem o poder político. Esses indivíduos são recrutados dentro da classe econômica dominante, ou seja, agem de acordo com seus interesses. Em função disso, podemos falar da existência de uma “classe politicamente dominante” e não apenas de uma “elite do poder”. O conceito de “classe politicamente dominante” descreve exatamente esse processo (o recrutamento) por meio do qual os que dominam economicamente são alçados às posições de mando das instituições estatais e, por conseguinte, transformam-se também em politicamente dominantes. A imagem abaixo ilustra o modelo de Ralph Miliband: 9 TEMA 4 – MARXISMO 2: A CRÍTICA DOS MARXISTAS ESTRUTURALISTAS Enquanto que os autores marxistas analisados anteriormente, apesar de críticos à teoria das elites, tentaram coincidir os conceitos de elite e classe, outros da mesma área refutaram a problemática do elitismo como adequada ao marxismo. Há, nessa variante estruturalista da crítica marxista, uma rejeição categórica do estudo da dominação política apenas com a identificação dos agentes diretos do poder político, ou seja, dos responsáveis pela tomada de decisões. Segundo esses autores, a preocupação com as elites políticas menospreza o poder das estruturas sociais na determinação do conteúdo das decisões (a quem as decisões políticas servem) e de seus efeitos (as consequências dessas decisões para toda a sociedade). Paul Sweezy (1972), por exemplo, criticou o trabalho de Wright Mills. Este identificou quem governa nos Estados Unidos por meio da análise dos grupos que ocupam posições de poder em três instituições-chave da sociedade americana. Sweezy viu, no entanto, que os dados de Mills mostravam que quem domina a ordem política e militar americanas são os ricos das grandes corporações. Trata-se, então, de uma classe dominante, não de uma elite de poder. 10 Além deste, Sweezy identificou outro problema maior na obra de Mills, que rejeita as determinações estruturais, imaginando a existência de uma elite autônoma. Ou seja, para o marxista, a elite está inserida em limites estruturais que constrangem fortemente as suas possibilidades de escolha. Assim, estudar os constrangimentos estruturais da sociedade americana seria mais importante do que analisar a elite política propriamente dita. No entanto, para o autor Nicos Poulantzas (1986), há equívocos teóricos graves causados pela definição de poder dos elitistas. Um deles, já apontado anteriormente, é a crença estrita na vontade dos agentes no processo decisório com o consequente menosprezo da eficácia das estruturas (os constrangimentos macroeconômicos, os valores dominantes, entre outros). Se despreza, portanto, os determinantes objetivos que moldam as decisões e definem a sua eficácia. Considerando as estruturas sociais como determinantes nas decisões e não a vontade dos agentes, para o autor, não há como se dizer que os decisores são os detentores do poder. Para esses críticos, os autores marxistas vistos anteriormente – que buscam a integração dos conceitos – adotam uma compreensão equivocada da problemática marxista sobre o poder político. O mais importante é, segundo eles, pensá-lo a partir da função objetiva que cumpre no sistema social e não a partir da origem social dos que ocupam os principais cargos políticos. Essa função objetiva do poder político não busca as motivações e preferências dos que controlam as instituições, mas implica na pergunta: que tipo de sociedade as decisões estatais reproduzem? Como pensam os marxistas, os efeitos das decisões políticas são também resultado dos constrangimentos objetivos impostos pela estrutura social, ou seja, não correspondem às intenções dos membros da elite política. Adotando esse viés, Poulantzas aponta que o Estado reproduz o capitalismo não porque os capitalistas controlam os cargos estatais, mas porque essa é sua função no interior do sistema. Mesmo que as instituições fossem comandadas pela classe operária, o Estado continuaria reproduzindo o capitalismo. Assim, o estudo das elites políticas teria importância secundária. O sueco marxista Göran Therborn (1989) pensa de forma parecida que os dois autores citados até então. Ele também cita que os elitistas menosprezam o poder das estruturas na política. Há, segundo ele, uma abordagem subjetivista do poder político, focada nas pessoas que ocupam o poder, o que seria um 11 equívoco por negligenciar as estruturas de dominação que perpassam as pessoas. Em resumo, para os autores marxistas estruturalistas, o poder e a dominação política representam a mesma problemática da reprodução da estrutura social. Para eles, não é preciso saber quem governa ou controla o Estado, mas sim quais os efeitos de suas ações na estrutura social e se reproduzem o domínio de uma classe social sobre a outra. Uma das qualidades da análise marxista é justamente superar a perspectiva subjetiva do pensamento elitista, colocando o foco na posição estrutural dos agentes envolvidos e de que forma ela limita a capacidade de ações desses agentes. Porém, entre seus defeitos, está seu excesso “funcionalista”, ou seja, a forte tendência de abordar o poder político e seus agentes exclusivamente a partir de seus efeitos funcionais para a reprodução social. É preciso, sem dúvida, se perguntar sobre os efeitos das decisões estatais, mas não é possível pressupor que todas elas pretendem reproduzir a dominação da sociedade. NA PRÁTICA Procure definir quais procedimentos como cada uma das vertentes acima (neoelististas, marxistas elitistas e marxistas estruturalistas) adota para identificar o poder político na sociedade contemporânea e, em seguida, procure apontar conexões ou incompatibilidade entre elas. FINALIZANDO Como vimos, as críticas surgidas a partir da abordagem neoelistas (Bachrach e Baratz) e marxista fizeram com que o debate sobre as minorias se ampliassem em direção à questão mais ampla de como identificar o poder político na sociedade. Para os primeiros, importa identificar o controle do viés e aqueles grupos que sistematicamente controlam a agenda política, evitando que certas questões sejam debatidas e decididas. Esses grupos, muitas vezes, não aparecem e podem mobilizar o imaginário, os valores sociais e até mesmo os meios de comunicação. Os marxistas, por sua vez, se dividem em dois grupos. O marxismo elitista procura unificar o conceito de elite com o conceito de classe dominante, mostrando que existe a confluência entre origem de classe e a 12 ocupação dos cargos políticos-chave. Esse ponto de vista identifica que o poder político e o poder econômico se encontram no processo de recrutamento político, já que os atores que comandam o Estado são membros da burguesia (classe dominante). O marxismo estruturalista, por sua vez, rejeita categoricamente a preocupação com as elites políticas e afirma que esse tipo de estudo leva o investigador para questões irrelevantes, posto que importa mais estudar asconsequências sociais das decisões políticas do que os agentes que as tomam. Como é possível notar, as três abordagens entendem o poder político como algo muito mais complexo do que apenas o exame dos ocupantes dos cargos formais (como Mills) e mais amplo do que apenas os processos decisórios (como Dahl). 13 REFERÊNCIAS BEALEY, F. “Democratic Elitism and the Autonomy of Elites”. International Political Science Review. Berkley, v. 17, n. 3, 1996, pp. 319-331. BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1974. MILIBAND, R. “Resposta a Nicos Poulantzas”. In: BLACKBURN, R. (Org.). Ideologia na Ciência Social. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p. 233-241. MILIBAND, R. O Estado na sociedade capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. POULANTZAS, N. Poder político e classes sociais. Rio de Janeiro, Martins Fontes, 1986, caps. “sobre o conceito de poder” (p. 95-116) e “o problema e a teoria das elites” (321-326). SCHATTSCHNEIDER, E. E. The Semisovereing People: A Realist’s View of Democracy in America. New York: Harcourt Brace Jovanovich College Publishers, 1988. SCHUMPETER, J. Capitalismo, socialismo, democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984. SWEEZY, Paul M. “Elite do poder ou classe dominante?”. In: Ensaios sobre o capitalismo e o socialismo. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1972. p. 199-215. THERBORN, G. ¿Como domina la classe dominante? México, Siglo XXI, 1989.
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