Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CADERNO DE GASTROENTEROLOGIA 1 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SÍNDROMES ICTÉRICAS AULA PRÁTICA QUESTÃO 1: Quanto ao urobilinogênio, podemos afirmar que: a) É o produto do metabolismo da bilirrubina conjugada, pela ação das bactérias do íleo e do cólon. b) Através da circulação entero-hepática, ele é reabsorvido pelo fígado e novamente eliminado na bile. c) É normalmente eliminado na urina em quantidades de até 4mg/dia. d) Todas estão corretas. METABOLISMO DA BILIRRUBINA As moléculas de hemoglobina são formadas por um grupo denominado heme, que é degradado inicialmente biliverdina, a qual é transformada em bilirrubina insolúvel, e por isso, se liga à albumina para circula pelo sangue, sendo essa combinação a chamada bilirrubina indireta ou não conjugada. No fígado, essa bilirrubina indireta é captada pelos hepatócitos, via difusão facilitada, e lá, por meio da enzima glucuronil transferase, é transformada em bilirrubina direta, sendo excretada para a via biliar por meio de transporte celular dependente de ATP. No intestino, quando a bilirrubina é excretada junto à bile, as bactérias da flora intestinal a transformam em urobilinogênio, o qual pode seguir 2 caminhos: 1. Segmento pelas fezes, culminando na formação de estercobilina, a qual dará a coloração marrom às fezes. 2. Caso o urobilinogênio seja reabsorvido, será futuramente excretado pelos rins na forma de urobilina, a qual confere a coloração amarelada à urina. **É JUSTAMENTE POR ESSE MECANISMO, QUE NOS CASOS DE ICTERÍCIA É COMUM OBSERVAMOS A PRESENÇA DE URINA ESCURECIDA (URINA COR DE COCA COLA), QUADRO QUE CHAMAMOS DE COLÚRIA, CONSEQUENTE DO ACÚMULO DE BILIRRUBINA, QUE GERA MAIS UROBILINA PARA SER EXCRETADA, LEVANDO AO ESCURECIMENTO DA URINA** QUESTÃO 2: Considerando o metabolismo da bilirrubina, as letras A, B, C e D correspondem a: a) Bilirrubina direta, bilirrubina indireta, bilirrubina indireta-albumina, bilirrubina direta. b) Bilirrubina indireta, biliverdina, bilirrubina direta, bilirrubina direta. 2 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE c) Biliverdina, bilirrubina indireta, bilirrubina direta-albumina, urobilinogênio. d) Biliverdina, bilirrubina indireta, bilirrubina indireta-albumina, bilirrubina direta. -Exemplo clínico de acolia fecal + colúria, devido colestase gerando obstrução. O urobilinogênio não consegue chegar no duodeno e, o pouco que tinha é reabsorvido e eliminado na urina. -Aumento da bilirrubina direta + acolia fecal + colúria. QUESTÃO 3: Com relação a solubilidade da bilirrubina é correto afirmar que: a) A bilirrubina não conjugada é insolúvel em água e pode ser transportada na circulação graças à uma ligação forte e reversível com a albumina. b) Devido à sua solubilidade aquosa, a bilirrubina conjugada atravessa facilmente a barreira hemato encefálica podendo levar ao Kernicterus em RN com icterícia fisiológica do recém-nascido. Não atravessa facilmente a barreira hemato encefálica, a qual é rica em lipídeos, quem atravessa fácil é lipossolúvel. A bilirrubina indireta é lipossolúvel. c) Fototerapia, com luz azul, converte a bilirrubina direta em foto isômeros hidrossolúveis que são prontamente excretados na bile. Converte a bilirrubina indireta e não direta. d) A bilirrubina é caracteristicamente insolúvel em água e necessita da ação das bactérias intestinais para a produção de urobilinogênio (hidrossolúvel) para ser eliminada na urina. Não é toda bilirrubina que é insolúvel em água e uma parcela pode ser eliminada na urina. QUESTÃO 4: Ainda considerando o metabolismo da bilirrubina, podemos dizer que a enzima responsável pela conjugação da bilirrubina é: a) Biliverdina redutase. b) UDP glucuronosil transferase. c) Bilirrubina conjugase. Não existe. d) Transportador de membranas caniculares dependentes de ATP (MRP2/cMOAT). Estrutura que não participa exatamente da conjugação da bilirrubina, é uma via antes, a incorporação da bilirrubina indireta para dentro do fígado. -Síndrome de Gilbert = deficiência genética na produção da enzima UDP glucuronosil transferase. Paciente faz um aumento de bilirrubina indireta. CASO CLÍNICO 1 – COLEDOCOLITÍASE COM COLECISTITE: Mulher, 35 anos, deu entrada no serviço de emergência com queixa de dor em HCD com irradiação para a região lombar direita há 2 dias, associada a icterícia de esclera, colúria, acolia fecal e prurido por todo o corpo. 3 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Nesse período iniciou com náuseas seguido de 2 episódios de vômitos. Nega diarreia, febre ou sangramentos. Nega quadro semelhantes anterior. AP: DM2 descoberto há 5 anos e faz uso de metformina 500mg 2x/dia. AF: Mãe com cirurgia por cálculo de vesícula. EF: BEG, consciente, orientada, ansiosa, bpp, acianótica, icterícia de esclera +2/4, escoriações pelo corpo. PA=120x80mmHg, FC 96bpm, FR 28irpm, T 36,7°C, Sat 94% AA, P 82Kg, Alt 1,60m², TGI inspeção de abdômen sem alterações, RHA presente e normodistribuídos, dor a palpação profunda difusa e Sinal de Murphy positivo. Exames laboratoriais: ✓ Hb 12,5 e Ht 38% (VR 28-42%); ✓ Leucócitos 19.500 (VR 14250-1800) – leucocitose sem desvio a E); ✓ Plaquetas 155.000 (VR 150.000-400.000); ✓ Bilirrubina total/bilirrubina direta 13,2 (VR 1,8) /10,3 (VR 0,8); ✓ PT/Alb 7,8/4,2 (VR 6-8/3-5); ✓ AST/ALT 42/98 (N=35); ✓ Amilase 220; ✓ Lipase 340. REFLEXÃO ESTRUTURADA: 1) Qual é o diagnóstico sindrômico (conjunto de sinais e sintomas que compõem o quadro)? Síndrome Colestática (acolia fecal + colúria + icterícia + prurido). 2) Qual é o diagnóstico etiológico mais provável? Coledocolitíase com colecistite. 3) Liste os achados que favorecem o diagnóstico sugerido. IMC 32Kg/m², mulher ,40 anos, histórico familiar, dor em HCD mostrando que iniciou na vesícula e Sinal de Murphy positivo. 4) Liste os achados que falam contra o diagnóstico sugerido. Ausência de febre. 5) Liste os dados que estão ausentes, mas que seriam esperados para o diagnóstico sugerido. Febre para fechar a tríade de Charcot e desvio à esquerda junto da leucocitose. 6) Descreva os diagnósticos diferenciais, ranqueando em ordem de prioridade (maior para a menor). 7) Qual o plano terapêutico? USG da vesícula – exame padrão ouro. E, de plano antibioticoterapia com ceftriaxone e metronidazol (cobertura ampla). CASO CLÍNICO 2 – ANEMIA HEMOLÍTICA: Paciente, masculino, 18 anos, deu entrada no serviço de emergência com dor em HCE inicialmente insidiosa, porém que tem aumentado de intensidade no último dia passando a forte intensidade, com irradiação para o dorso e região lombar a esquerda, com início há 2 dias e piora no dia de hoje. Relata que de diferente realizou exercício físico extenuante durante calor intenso 2 dias antes do início dos sintomas. 4 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Nesse período, observou o aparecimento de icterícia de esclera, sem colúria, acolia fecal ou prurido. Teve um quadro semelhante quando ainda era criança com 10 anos. AP: nada digno de nota. AF: Mãe com anemia (esferocitose hereditária). EF: REG, fascie de dor, consciente, orientado, palidez cutâneo mucosa +2/4, edema discreto de MMII, acianótico, icterícia de esclera +2/4. TGI: dor a palpação do andador superior do abdômen, esplenomegalia, sem ascite. Exames laboratoriais: ✓ Hb 7,5 (VR 11,5) e Ht 22% (22-42%) - anemia; ✓ Leucócitos 9640 (VR 7550/1400); ✓ Plaquetas 150.000; ✓ Reticulócitos 120.000 (VR < 100.000) - reticulocitose; ✓ Bilirrubina totais 9,5 (VR 1,8), bilirrubina direta 1,0 (VR 0,8), bilirrubina indireta 8,5 (VR 1,0); ✓ PT/Alb 7,8/4,2 (VR 6-8/3-5); ✓ AST 120 (VR 35) e ALT 22 (VR 35); ✓ GGT 35 (VR 65) e FA 100 (VR 100); ✓ Creatinina 1,2 (VR 0,4-1,5) e Glicemia 98 (VR 99).REFLEXÃO ESTRUTURADA: 1) Qual é o diagnóstico sindrômico (conjunto de sinais e sintomas que compõem o quadro)? Síndrome hemolítica (anemia, esplenomegalia, reticulocitose, icterícia). 2) Qual é o diagnóstico etiológico mais provável? Anemia Hereditária (devido esferocitose). 3) Liste os achados que favorecem o diagnóstico sugerido. Anemia, esplenomegalia, reticulocitose, icterícia, esferocitose hereditária. 4) Liste os achados que falam contra o diagnóstico sugerido. 5) Liste os dados que estão ausentes, mas que seriam esperados para o diagnóstico sugerido. 6) Descreva os diagnósticos diferenciais, ranqueando em ordem de prioridade (maior para a menor). Rabdomiólise. 7) Qual o plano terapêutico? CASO CLÍNICO 3 – HEPATITE AGUDA DO TIPO A: Mulher, 25 anos, veio em consulta médica com relato de ter iniciado há 7 dias com mal estar, febre baixa, náuseas e vômitos (2 episódios), associado ao aparecimento de icterícia de esclera e pele, com colúria e acolia fecal, há 2 dias, de caráter progressivo e associado a diarreia (5 episódios/dia). Refere inapetência e hiporexia. EF: REG, consciente, orientada, bpp, acianótica, icterícia +2/4, edema de MMII +2/4, PA 120x80 mmHg, FC 110 bpm, FR 28 irpm, T 38,7 °C, Sat 95% em AA. 5 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE TGI: abdômen pouco distendido, RHA presentes e normodistribuídos, DB-, dor a palpação em HCD, com defesa de parede a palpação profunda, Murphy negativo, Piparote negativo e Flapping negativo. Exames laboratoriais: ✓ Hb 13,4 e Ht 32%; ✓ Leucócitos 19640 – leucocitose; ✓ Plaquetas 150.000; ✓ TAP 87% (VR 100%) e RNI 1,4 (VR 1,0); ✓ Bilirrubina total 7,2 (VR 1,8), bilirrubina direta 3,5 (VR 0,8) e bilirrubina indireta 3,7 (VR 1,0); ✓ PT/Alb 7,8/3,4 (VR 6-8/3-5); ✓ AST 1800 (VR 35) e ALT 1180 (VR 35); ✓ GGT 750 (VR 65) e FA 100 (VR 100); ✓ Creatinina 1,5 (VR 0,4-1,5); ✓ Anti-HCV negativo, Anti-HAV IGM positivo e IGG negativo, HBsAg/antiHBc negativos. REFLEXÃO ESTRUTURADA: 1) Qual é o diagnóstico sindrômico (conjunto de sinais e sintomas que compõem o quadro)? Síndrome ictérica febril. 2) Qual é o diagnóstico etiológico mais provável? Hepatite aguda do tipo A (elevação de AST/ALT acima de 10x o normal). 3) Liste os achados que favorecem o diagnóstico sugerido. Quadro inespecífico inicial e que depois evoluiu com icterícia e demais sintomas, sugerindo problema hepática. Queda da albumina e RNI um pouco aumentado. 4) Liste os achados que falam contra o diagnóstico sugerido. 5) Liste os dados que estão ausentes, mas que seriam esperados para o diagnóstico sugerido. 6) Descreva os diagnósticos diferenciais, ranqueando em ordem de prioridade (maior para a menor). Outros vírus hepatotróficos. 7) Qual o plano terapêutico? SÍNDROMES ICTÉRICAS: ➔ INTRODUÇÃO: As síndromes ictéricas são caracterizadas pelo aumento da bilirrubina no organismo, devido à diminuição ou interrupção da excreção da bile por obstrução do fluxo através da árvore biliar intra ou extra-hepática ou por alteração funcional do hepatócito. Clinicamente, caracteriza-se pela tríade: 1. Icterícia; 2. Colúria; 3. Acolia fecal. 6 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Existindo inúmeras doenças que cursam com esse quadro, sendo necessário uma avaliação clínica minuciosa para chegarmos ao diagnóstico correto. ➔ ICTERÍCIA: A icterícia é proveniente do acúmulo de bilirrubinas no organismo, as quais se depositam principalmente em regiões escleróticas e embaixo da língua. E, para uma adequada investigação, devemos ter em mente as etapas da formação da bilirrubina no organismo, que são: ✓ Captação: a bilirrubina é formada a partir da degradação do grupo heme das hemácias, sendo captada pelos hepatócitos. Essa bilirrubina é ligada à albumina para ser transportada pelo sangue, já que é insolúvel, sendo denominada de bilirrubina indireta ou não conjugada. ✓ Conjugação: dentro do hepático, a bilirrubina é convertida em um composto solúvel pela enzima glucoroniltransferase, sendo denominada bilirrubina direta ou conjugada. ✓ Excreção: a bilirrubina é excretada no lúmen intestinal e é metabolizada por bactérias formando o urobilinogênio. E, uma parte desse composto é reabsorvida e excretada na urina e o restante é excretado nas fezes dando a coloração característica. ➔ ETIOLOGIAS: As diversas etiologias da icterícia podem ser classificadas de acordo com a bilirrubina predominante, ou seja, as que causam hiperbilirrubinemia direta e as que causam hiperbilirrubinemia indireta. 7 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA: A bilirrubina indireta pode estar aumentada nas seguintes situações: ✓ Aumento da produção: por hemólise, já que aumenta o substrato para produção de bilirrubina. ✓ Diminuição da captação: por medicamentos, infecções, desnutrição, etc. ✓ Diminuição da conjugação: síndrome de Gilbert (deficiência genética na produção da UDP) e Crigler-Najar. A de causa neonatal é fisiológica. HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA: A bilirrubina direta já passou pelas fases de captação e conjugação, então nos casos de hiperbilirrubinemia a custas de direta o problema está na excreção, que pode ser devido a: ✓ Lesão dos hepatócitos, dificultando a excreção adequada da bile: como em casos de hepatites virais, uso de álcool e drogas, doença de Wilson, febre amarela, etc. ✓ Obstrução dos canalículos biliares impedindo o fluxo da bile: como em casos de Coledocolitíase, pancreatite crônica, colangiocarcinoma, câncer de cabeça de pâncreas, câncer de vesícula biliar, etc. ➔ QUADRO CLÍNICO: Os sinais e sintomas podem variar de acordo com a etiologia, porém o quadro clínico mais clássico que indica colestase é caracterizado por: ✓ Prurido; ✓ Colúria – ocorre devido a presença de bilirrubina direta na urina. Somente a direta pode causar colúria, já que é solúvel e não é ligada à albumina como a bilirrubina indireta; ✓ Acolia fecal – é causada pela colestase da bile impedindo que a bilirrubina direta chegue até o intestino para ser convertida em estercobilina; ✓ Dor em HCD; ✓ Perda de peso; ✓ Náuseas e vômitos. ➔ INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: Os exames laboratoriais e de imagem devem ser solicitados de acordo com a suspeita a partir da história clínica do paciente. ✓ Coledocolitíase: em geral esses pacientes apresentam dor abdominal de forte intensidade em hipocôndrio direito associado a náuseas e vômitos. Há aumento de bilirrubinas às custas de direta e das enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e GGT). Nesses pacientes a USG de abdome pode demonstrar dilatação de vias biliares ou espessamento ao redor da vesícula. 8 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Hepatites virais: trata-se de um quadro agudo associado à fadiga, febre e perda de peso. Em caso de suspeita, as sorologias devem ser solicitadas para investigação: AgHbs, anti-HBc, anti-HCV, anti-HAV. As enzimas hepáticas (AST/ALT) ficam bastante elevadas (> 1.000). ✓ Câncer de cabeça de pâncreas: pacientes idosos, com icterícia flutuante*, perda ponderal importante e/ou história familiar devem ser investigados, já que se trata de uma causa de icterícia com alta letalidade. ✓ Síndrome de Gilbert: distúrbio genético em que há deficiência parcial da glucoroniltransferase gerando uma icterícia leve que é evidenciada durante a adolescência na maioria dos casos. OBS: Icterícia flutuante = ocorre quando o paciente relata que houve períodos de melhora da icterícia com piora posteriormente. Isso é sugestivo de causa neoplásica (em que a necrose tumoral destrói parte do tecido que está obstruindo a via biliar). Mediante a apresentação de icterícia, o paciente deve ser submetido a uma anamnese e exame físico adequados para a sua condição, a fim de verificar a presença de história, sinais e sintomas característicos de possíveisetiologias. Quanto à história do paciente, é de suma importância a pesquisa quanto aos antecedentes pessoais, buscando fatores e doenças instaladas que possam cursar com algum dos mecanismos discutidos quanto à gênese da síndrome ictérica. E, junto disso, devemos avaliar a idade, uso de medicações, hábitos e vícios, viagens e profissão do paciente. Ao examinar o paciente com síndrome ictérica, devemos buscar sinais de anemia ou de hepatopatia, como hipertensão portal, circulação colateral, vesícula biliar palpável e dor abdominal. Em relação aos exames laboratoriais, devemos buscar sinais de anemia ou de doenças hepáticas, bem como esclarecer possíveis etiologias para as dores abdominais. Diante disso, recomenda-se a solicitação de exames hematológicos, como hemograma e esfregaço de sangue periférico. Além disso, devemos solicitar um hepatograma, a fim de avaliar a função hepática e as funções biliares, para isso devemos solicitar urina I, transaminases, fosfatase alcalina, gama-GT, bilirrubinas, albumina, tempo de protrombina com INR, podendo ser adicionada a pesquisa com DHL, TAD, PAI e sorologia para hepatites. Os exames de imagem, por sua vez, são utilizados para afastar etiologias obstrutivas, bem como a presença de neoplasias. Para isso, pode ser solicitado uma USG de abdome, ou ainda, uma TC ou RNM de abdome. Para critérios diagnósticos, pode-se utilizar a colangioressonância, enquanto a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é utilizada para fins mais intervencionistas, como biópsias ou terapêutica direta. https://www.sanarmed.com/sindrome-icterica https://www.sanarmed.com/sindrome-icterica https://www.sanarmed.com/sindrome-icterica 9 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Portanto, a hiperbilirrubinemia apresenta 2 etiologias e 3 parâmetros de investigação clínica, como demonstrado no mapa mental abaixo: 10 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE REVISÃO DE TERMOS IMPORTANTES E CASOS CLÍNICOS DO AMBULATÓRIO • COLANGITE – inflamação que apresenta tríade de Charcot ou não. • CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA – doença hepática, na maioria das vezes genética. Não se usa esse termo mais, hoje usa-se colangite biliar primária ou secundária. • COLECISTITE AGUDA – inflamação da vesícula de forma litiásica (quando tem cálculo) ou alitiásica (não calculosa – quadro que traduz gravidade – quadro raro). • COLEDOCOLITÍASE – presença de cálculo na região do colédoco, quando maior que 0,6cm obstrui. • COLELITÍASE – presença de cálculo na vesícula. Paciente pode ser sintomático ou não, geralmente, o paciente chega no médico com outra queixa. • SEQUESTRO ESPLÊNICO – complicação aguda decorrente da retenção das hemácias no interior do baço, causando queda abrupta da hemoglobina e da volemia, podendo resultar em choque. • HIPERESPLENISMO – é mais insidioso, geralmente associado a um Hiperfluxo na veia esplênica. • SÍNDROME COLESTÁTICA – icterícia bilirrubina direta/conjugada, colúria e acolia fecal. • CPRE – Colangiopancreatografia retrógrada. • ESFEROCITOSE – alteração da forma das hemácias, causando hemólise. • HEMÓLISE – quebra as hemácias. • ESTASE BILIAR – via biliar não consegue drenar por um fluxo inadequado de bile, pode ocorrer devido diversas causas, como por exemplo, estenose biliar. • ESTENOSE BILIAR – estreitamente total ou parcial da via biliar. • PANCREATITE – inflamação do pâncreas. • HEPATITE – inflamação do fígado. • DIVERTICULITE – doença intestinal marcada pela inflamação na parede interna do intestino. Ela pode ser leve, provocando sintomas como dor e estufamento da barriga. X DIVERTICULOSE – geralmente assintomática. • SÍNDROME DE LINCH – caso clínico da paciente Mariana Castilho,32 anos. Chegou à consulta para rastreio de CA de intestino, devido histórico familiar bem importante. Foi solicitada uma colonoscopia e agendado retorno após resultado do exame. Trouxe exames laboratoriais, todos normais. • POLIPOSE FAMILIAR – suspeita importante no caso da paciente Mariana Castilho também. 11 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SÍNDROME DISPÉPTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: ✓ Correlacionar a fisiologia da produção e da secreção do ácido clorídrico com as principais doenças relacionadas a ruptura da barreira protetora do estômago. ✓ Compreender o papel da infecção pelo Helicobacter pylori na fisiopatologia das principais doenças gástricas cloridropépticas (gastrite crônica, úlcera péptica) e o CA gástrico. FISIOLOGIA DA SECREÇÃO GÁSTRICA: O TGI é fundamental para a absorção de nutrientes, bem como secreção de substâncias que ajudam na digestão. Características das secreções gástricas: Além das células secretoras de muco, a mucosa gástrica ainda possui células oxínticas ou glândulas gástricas (secretam ácido clorídrico, pepsinogênio, fator intrínseco e muco) e glândulas pilóricas (secretam principalmente muco e o hormônio gastrina). Secreção das glândulas oxínticas ou gástricas: A glândula possui 3 tipos de células: 1. Células mucosas do colo: secretam muco. 2. Células pépticas ou principais: secretam pepsinogênio. 3. Células parietais ou oxínticas: secretam ácido clorídrico e fator intrínseco. A secreção de ácido clorídrico envolve um mecanismo diferenciado, que ocorre quando as células parietais são estimuladas, secretando uma solução ácida, rica em íons de hidrogênio. E, ao mesmo tempo, também é liberado íons bicarbonatos, os quais se difundem no sangue. Sendo importante ressaltar que a principal força motriz para a secreção do ácido clorídrico pelas células parietais é a bomba de hidrogênio-potássio. A secreção de pepsinogênio também é feita por estas células, sendo liberados diversos tipos do mesmo, porém com a mesma função. Quando secretado, o pepsinogênio não possui atividade digestiva, possuindo-a apenas quando entra em contato com o ácido clorídrico, formando a pepsina ativa, que atuará como uma enzima proteolítica. Já a secreção do fator intrínseco pelas células parietais, é fundamental para a absorção da vitamina B12, e ocorre junto com a liberação de ácido clorídrico. Por conta disso, se estas células parietais forrem destruídas, a pessoa desenvolverá tanto uma gastrite, como uma anemia perniciosa (devido a falta de vitamina B12). 12 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Alguns fatores estimulam a secreção gástrica, especialmente o ácido clorídrico, tais como: Além disso, a regulação da secreção do pepsinogênio é feita por meio da estimulação das células pépticas por acetilcolina, liberada pelo plexo mioentérico e estimulação da secreção das células pépticas pelo ácido do estômago. Glândulas pilóricas – secreção de muco e gastrina: São estruturalmente semelhantes as glândulas oxínticas, porém não possuem muitas células parietais e pépticas. Elas possuem principalmente células mucosas, as quais secretam um pouco de pepsinogênio e grande quantidade de muco. Além disso, liberam o hormônio gastrina. As células mucosas superficiais, presentes em toda superfície do estômago, secretam muco alcalino, o qual protege a parede do estômago do ácido clorídrico, funcionando como uma barreira de proteção, além de contribuir para a lubrificação do transporte do alimento. 13 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE RUPTURA DA BARRERIA MUCO-BICARBONATO: Em quadros de gastrite, hemorragia digestiva, úlcera péptica gastroduodenal, CA gástrico, dentre outras patologias do TGI, ocorre uma ruptura da barreira muco- bicarbonato, a qual pode ser de forma superficial (como na erosão) ou mais profunda (como na úlcera e gastrite). CLASSIFICAÇÃÕ DA GASTRITE: A gastrite pode ser classificada em 2 tipos: 1. Aguda: HP, flegmonosa ou supurativa (infecção bacteriana por Streptococcus sp, condição rara) e hemorrágica/erosivaaguda/LAMGD (associada ao uso de aspirina, corticoide, álcool e situações clínicas de gravidade – choque circulatório, cirurgias extensas, queimaduras, septicemia, etc). 14 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 2. Crônica: HP, autoimune (gastrite atrófica), química, linfocítica, granulomatosa não infecciosa, eosinofílica, outras infecciosas, hipertrófica, hipertensiva portal e LAMGD (lesão aguda na mucosa gastroduodenal associada ao uso de AINES). A gastrite pode ser classificada histologicamente como aguda ou crônica, de acordo com o tipo de célula inflamatória presente. Sendo a gastrite aguda caracterizada por um infiltrado leucocitário polimorfonuclear da mucosa, do antro e do corpo gástrico. E, a gastrite crônica implica algum grau de atrofia, ou seja, perda de função da mucosa, ou metaplasia. Envolvendo com frequência o antro ou o corpo do estômago. HELICOBACTER PYLORI: O HP é um patógeno gástrico comum, que causa gastrite, doença ulcerosa péptica, adenocarcinoma gástrico e linfoma gástrico de baixo grau. A infecção pode ser assintomática ou provocar vários graus de dispepsia. O diagnóstico é feito por teste respiratório com ureia, teste de antígeno fecal e testes com biópsias gástricas obtidas por endoscopia. E, o tratamento se faz com um inibidor da bomba de prótons associado a dois antibióticos. Corresponde a uma Bactéria Gram negativa, com uma estrutura encurvada ou espiralada, de superfície lisa e extremidade arredondada, extremamente móvel e que se adaptou à vida em ambiente ácido, como o nosso estômago. GASTRITE AGUDA GASTRITE CRÔNICA 15 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI: É a infecção mais comum da espécie humana, com uma distribuição cosmopolita (5 continentes), com uma prevalência que varia com a idade, nível econômico e raça. Seus principais mecanismos de transmissão são oral-oral, fecal-oral, sexual oral-anal. As cepas CAG A aumentam 3x a chance de CA gástrico, por isso a importância da realização da EDA. Os efeitos da infecção por HP variam dependendo da localização da infecção no estômago: ✓ Infecção predominantemente antral: causa aumento da produção de gastrina, provavelmente por inibição local da produção de somatostatina. Resultando em uma hipersecreção de ácido, predispondo a úlceras pré-pilóricas e duodenais. ✓ Infecção predominante no corpo gástrico: causa atrofia gástrica e diminuição da produção de ácido clorídrico, possivelmente por meio do aumento da produção local de IL-1 beta. Pacientes com infecção predominante no corpo tem uma maior predisposição a úlcera gástrica e adenocarcinoma gástrico. Alguns pacientes apresentam infecção tanto do antro quando do corpo, com várias repercussões clínicas. E, muitos pacientes com infecção por HP não apresentam qualquer repercussão clínica evidente. A amônia produzida pelo HP permite que o microrganismo sobreviva no ambiente ácido do estômago e pode danificar a barreira de muco. E, citotoxinas e enzimas mucolíticas produzidas pelo HP também podem participar do dano à mucosa e da subsequente ulcerogênese. MECANISMO PATOGÊNICO DA HELICOBACTER PYLORI: • Motilidade: essencial para que o microrganismo penetre na camada de muco que reveste a mucosa do nosso estômago, protegendo-se da acidez gástrica e do peristaltismo. 16 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • Aderência: se faz pelas estruturas fibrilares (flagelos), que permitem a adesão do microrganismo as células epiteliais gástricas. • Produção de toxinas, mucinases e urease: interferem na estrutura, integridade, síntese e secreção do muco, além de promoverem lesão na membrana lipoproteica das células epiteliais de revestimento. • Ações sobre as secreções das mucosas antral e oxínticas: maior concentração de gastrina e ácido. GASTRITE AGUDA POR HP – PRIMINFECÇÃO: Na maioria das vezes ocorre de forma despercebida, tendo um período de incubação de 3-7 dias e podendo permanecer por 1-2 semanas. Suas principais manifestações clínicas são: ✓ Dor ou desconforto epigástrico; ✓ Pirose; ✓ Náuseas; ✓ Vômitos; ✓ Flatulência; ✓ Sialorreia; ✓ Halitose; ✓ Cefaleia; ✓ Astenia. Como resposta do hospedeiro (interleucina 1-beta) ocorre uma redução transitória na produção ácida que volta ao normal após alguns meses. Na EDA os achados são variáveis (enantema até erosões, úlceras ou lesões pseudotumorais podem ser encontradas). Sendo o antro o local mais acometido do estômago, podendo se estender para o corpo gástrico, no entanto. A gastrite aguda por HP é autolimitada, uma vez que, os sintomas desaparecem em até 2 semanas, porém frequentemente evolui para infecção crônica. GASTRITE CRÔNICA POR HP: O HP é hoje considerado o principal agente etiológico em mais de 95% das gastrites crônicas. Sendo o antro tipicamente a primeira região a ser acometida, podendo às vezes predominar o comprometimento do corpo gástrico, ou mesmo, de todo o órgão, o que chamamos de pangastrite. A distribuição do HP no estômago é importante, pois parece ser um indicador do padrão de evolução da gastrite. Assim: ✓ Indivíduos com gastrite predominantemente antral terão secreção gástrica normal ou elevada, graças à manutenção da mucosa oxínticas íntegra e poderão ter um risco aumentado para úlcera duodenal. 17 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ✓ Indivíduos com gastrite acometendo de forma predominante o corpo do estômago terão secreção ácida reduzida, em consequência da destruição progressiva da mucosa oxíntica. Histologicamente, exibem uma mistura de gastrite crônica superficial e alterações atróficas com tendências a progredir com o passar dos anos, podendo ocorrer também o desenvolvimento de metaplasia intestinal. Estima-se que a gastrite crônica do corpo gástrico, associada a atrofia acentuada, eleva de 3-4x o risco de carcinoma gástrico, do tipo intestinal. A gastrite crônica do antro associada ao HP é frequentemente assintomática, porém pode vir acompanhada de dispepsia. Sem associação entre a extensão das alterações endoscópicas e o quadro clínico. **IMPORTANTE LEMBRAR – associação da gastrite crônica pelo HP com úlcera péptica duodenal (98%), úlcera gástrica (75%), carcinoma e linfoma gástrico** DIAGNÓSTICO H PYLORI: O diagnóstico de H pylori pode ser feito por vários exames, sendo os mais comuns: ✓ Teste da urease por endoscopia; ✓ Histopatológico; ✓ Teste de antígeno fecal; ✓ Sangue (anticorpo); ✓ Teste respiratório ureia marcada (C13 ou C14 ureia). DISPEPSIA: Dor ou desconforto, na região epigástrica ou no andar superior do abdômen, recorrente ou persistente. Com uma prevalência variável entre 10-30% no mundo. E, nem sempre as alterações orgânicas correspondem aos sintomas apresentados pelo paciente. Pode ser classificada em: ✓ Investigada (EDA: idade>40 anos, qualquer idade que não responde aos tratamentos, qualquer idade com sinais de alerta). -Orgânica – EDA alterada que justifique os sintomas (úlcera péptica, gastrite crônica). -Funcional – EDA normal e HP negativo. -HP associada – EDA normal e HP positivo. Se não melhora com tratamento deve ser reclassificado como funcional. ✓ Não investigada. DISPEPSIA FUNCIONAL: A dispepsia funcional é definida pela presença de dor e/ou desconforto, persistente ou recorrente, localizada na região central e superior do abdome (epigástrio), na ausência de anormalidades estruturais ou irregularidades metabólicas e bioquímicas que justifiquem a sintomatologia. 18 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE A dispepsia constitui a causa de 3-5% das consultas ambulatoriais de clínica geral na APS, e de 20-40% das consultas em gastroenterologia. Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer idade e são mais prevalentes no sexo feminino. E, a intensidade da dor e/ou do desconfortoe a ansiedade se constituem como principais motivos de procura médica. Um comitê internacional de especialistas estabeleceu critérios específicos para o diagnóstico e classificação da DF, sendo o mais atual o Roma IV: 1. Desconforto epigástrico, recorrente nos últimos 3 meses, com início nos últimos 6 meses; 2. Presença de 1 ou mais dos seguintes sintomas: má digestão pós-prandial (empachamento), dor epigástrica, queimação epigástrica e/ou saciedade precoce. 3. Ausência de lesões estruturais que possam justificar os sintomas.: E, para uma melhor orientação propedêutica e terapêutica, os pacientes portadores de DF devem ser classificados de acordo com o sintoma principal em 2 síndromes: 1. Síndrome do desconforto pós-prandial – sintomas de empachamento pós prandial e/ou saciedade precoce, predominantemente aparecem após alimentação, pelo menos 3xsemana, nos últimos 3 meses. 2. Síndrome da dor epigástrica – sintomas como dor ou queimação localizada no epigástrica, de moderada a intensa, intermitente e não necessariamente relacionados a alimentação, que ocorrem 1xsemana, nos últimos 3 meses. ÚLCERA PÉPTICA GASTRODUODENAL (UP): Conceito: as úlceras pépticas constituem soluções de continuidade da mucosa gastrintestinal secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico e da pepsina, estendendo-se através da muscularis da mucosae, atingindo a camada submucosa e, mesmo, a muscularis própria. Podem se desenvolver em qualquer porção do trato digestório exposta à secreção cloridropépticas em concentração e duração suficientes, mas o termo doença ulcerosa péptica é geralmente empregado para descrever ulcerações do estômago, do duodeno ou de ambos. **EROSÃO X ÚLCERA – as lesões mais superficiais são definidas como erosões, não atingem a camada submucosa e, portanto, não deixam cicatrizes** 19 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Epidemiologia: • Distribuição variável: a úlcera duodenal é mais comum no ocidente e a úlcera gástrica é mais comum na Asia (Japão). • Incidência: 500.000 novos casos e 4.000.000 recidivas a cada ano nos EUA. • Úlcera duodenal: 95% das vezes acomete a 1ª porção do duodeno, sendo 5x mais frequente que a úlcera gástrica, acometendo pessoas entre 35-55 anos de idade. • Úlcera gástrica: mais frequente na região do antro gástrico (80% na pequena curvatura), acometendo pessoas entre 50-70 anos de idade. • Mais frequentes no sexo masculino. • Sangramento é a complicação mais frequente (15-20% dos casos), com taxa de mortalidade de 5-10%. E, a perfuração da úlcera responde por 5% das complicações. • UP representa a causa mais comum de hemorragia digestiva alta (50% dos casos). Etiopatogenia: 20 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Sabe-se, atualmente, que a úlcera é uma afecção de origem multifatorial. Fatores ambientais seguramente desempenham papel importante na eclosão da úlcera nos indivíduos geneticamente predispostos, e, entre eles, a infecção pelo H. pylori é, aparentemente fundamental. 21 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Quadro clínico: o quadro clínico não difere úlcera péptica duodenal da gástrica, e com frequência a dor é discreta, atípica e inexistente. Quando presente, a dor geralmente é epigástrica, circunscrita, em queimação dor de fome, queimadura ou desconforto na boca do estômago. A dor mantém-se por semanas, de forma rítmica. Diagnóstico: a EDA (exame padrão ouro) continua sendo o exame de eleição para o diagnóstico das lesões ulcerosas. Sendo um método eficiente, sensível, específico, seguro, que fornece excelentes subsídios para o manejo do paciente. Ela não só estabelece o diagnóstico da úlcera, mas também determina a sua natureza e permite a definição da etiologia. A retirada de fragmentos de biópsias nos bordos das lesões para exame histológico e do antro e/ou corpo para a pesquisa do h. pylori influencia decisivamente no manejo clínico do paciente. A EDA é diagnóstica, terapêutica, faz a pesquisa de HP e biópsia de lesão suspeita no caso da UD, ou sempre na UG (maior risco de malignidade). 22 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE O exame radiológico contrastado é outro método útil para o diagnóstico da doença ulcerosa. Porém, ele é menos preciso e pouco utilizado, quando comparado a EDA. Tendo como desvantagem o uso de radiação ionizante e a necessidade da realização de exames endoscópicos e biópsias das lesões suspeitas para confirmação diagnóstica. Dessa forma, fica indicado apenas em situações em que o exame endoscópico não está disponível ou quando há indicação cirúrgica. 23 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE ROUND CLÍNICO SOBRE HIPERTENSÃO PORTAL CASO CLÍNICO 1: Masculino, 57 anos, portador de hepatite C diagnosticada há 20 anos, associada ao uso de bebida alcoólica cerca de 4 cervejas e 2 doses de destilado ao dia. tentou realizar tratamento antiviral há 10 anos atrás com interferon peguilhado e ribavirina que foi suspenso por efeito adverso. Não sabe informar se teve resposta virológica durante essa tentativa de tratamento. Esteve internado há 5 meses devido a icterícia e aumento do volume abdominal, onde o médico informou que era por problema no fígado. Realizou EDA que mostrou 3 cordões varicosos de grosso calibre no terço inferior do esôfago, sem sangramento, sem red spots. Saiu dessa internação em uso de espironolactona 100mg/dia, propranolol 40mg/dia, furosemida 80mg/dia, ácido fólico 5mg/dia e orientações de parar com a bebida ´senão o senhor vai morrer´. Faz uso das medicações quando percebe que as pernas estão inchando. Vem em consulta no dia de hoje porque, apesar do uso das medicações há 2 dias, não observou melhora do edema de MMII associado a aumento do volume abdominal. Percebeu redução na frequência e volume urinário. Está sem apetite e nauseado. Relata fezes escurecidas e com odor fétido há 1 dia. Nega febre. Ao exame: REG, consciente, pouco confuso no tempo, emagrecido, corado, hidratado, acianótico, ictérico +2/4, edema de MMII cacifo positivo até altura dos joelhos, spiders em tronco e asa do nariz, eritema palmar, PA 100x70 mmHg, P 54ppm e FR 20 irpm. -ACV: BRNF em 2T sem sopros. -AR: Expansibilidade diminuída bilateralmente, MV diminuído em bases bilaterais, sem RA. -TGI: abdome globoso, presença de circulação colateral periumbilical, piparote positivo com presença de semicírculo de Skoda, presença de flapping, Traube ocupado baco Boyd II. Exames laboratoriais da internação passada: Hb/Ht 9,5/25%, leucócitos 4200 (2300), plaquetas 89000, sódio 120mEq/mL, potássio 6,2 mEq/mL, ureia 56mg/dL, creatinina 0,98mg/dL, BT/BD 5,2/3,4, proteínas totais 6,8 (6-8) e albumina 2,8 (3,5-5,5). SNAPPS: S – Homem, 57 anos, hepatite C há 20 anos (sinal de hepatopatia crônica), alcoolista (sinal de hepatopatia crônica). 24 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Histórico de internação prévia por icterícia e aumento do volume abdominal (sinais de hepatopatia crônica). Com EDA apresentando varizes esofágicas sem sangramentos (sinais de hipertensão portal), porém hoje chega à consulta queixando-se de melena. Retorna ao hospital por conta de edema (sinal de hepatopatia crônica), em uso de espironolactona e furosemida inadequadamente. Aumento do volume do volume abdominal, perda do apetite e náuseas (sinais de encefalopatia hepática). Além de diminuição da frequência e volume urinário. REG, confuso (sinal de encefalopatia hepática), icterícia 2+/4, edema de MMII cacifo + (sinais de hepatopatia crônica), spiders e eritema palmar (sinais de hipertensão portal). Ausculta indicativa de derrame pleural. Circulação colateral periumbilical, piparote e Skoda + (sinais de hepatopatia crônica), Traube ocupado (sinal de hipertensão portal).Flapping + (sinal de encefalopatia hepática). Exames laboratoriais mostrando anemia, plaquetopenia (sinal de hipertensão portal), hipercalemia, hiponatremia e hipoalbuminemia (sinal de hepatopatia crônica). Hiperbilirrubinemia às custas de bilirrubina direta (sinal de hepatopatia crônica). N – Síndrome de hepatopatia crônica descompensada, síndrome de hipertensão portal intra-hepática e síndrome hepatorrenal. A – Síndrome de hepatopatia crônica descompensada (principal HD): anasarca, encefalopatia hepática, emagrecimento (indicativo de cronicidade e gravidade), melena, anemia, icterícia às custas de BD, hipoalbuminemia, plaquetopenia e Traube ocupado (hiperesplenismo). . Síndrome de hipertensão portal intra-hepática (problema nos sinusoides): varizes em EDA, circulação colateral, hiperesplenismo, spiders (angiomas), eritema palmar. . Provável síndrome hepatorrenal: em exames anteriores já tinha distúrbio hidroeletrolítico. Não tinha alterações da creatinina, mas hoje está com diminuição do débito urinário. **Diagnóstico etiológico: Hepatite C e cirrose hepática alcoólica** P – Sem perguntas. P – Paciente deve ser internado em sala de emergência, no mínimo, com acesso calibroso e monitorização de sinais vitais. Os exames a serem solicitados são: hemograma, coagulograma, AST, ALT, FA, GGT, ureia, creatinina, EDA, proteínas totais e frações. O primeiro problema a ser corrigido deve ser a HDA, que se for por varizes gastroesofágicas dá para ser corrigida na própria EDA. Depois disso, deve ser realizada uma paracentese diagnóstica para avaliar peritonite. E não administramos diurético para esse paciente, uma vez que a TFG provavelmente já está baixa. A continuação do plano terapêutico se dá em fazer a reposição volêmica com cristaloide e algum vasoconstritor periférico. 25 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE E, caso o edema piore, devemos fazer uma punção para drenar, uma vez que a nefro proteção é o mais importante. S – Selecione um tema para se aprofundar: ✓ Ter hepatite C crônica leva a hepatopatia crônica em 80% dos casos. ✓ Apenas 20% dos abusadores de álcool evoluem com hepatopatia crônica. ✓ Fatores que podem predispor a uma descompensação da hepatite crônica: translocação bacteriana do intestino para o líquido ascítico pelas gaps junctions (faz peritonite) + continuidade do etilismo + uso irregular das medicações (não adesão ao tratamento). ✓ Principais provas de função hepática: albumina e coagulograma. Bilirrubinas, plaquetas, AST/ALT não são provas de função, mas ajudam no diagnóstico. ✓ Spider e eritema palmar: sinais de HP de origem hepática. CASO CLÍNICO 2: T.B.A, 38 anos, masculino, casado, agricultor, ensino médio incompleto, natural e procedentes de Sapeaçu-BA, procurou a unidade básica com queixa de sangue nas fezes há 2 dias. Paciente refere fezes enegrecidas, fétidas e amolecidas há 2 dias. Associado ao quadro de melena, apresentou 2 episódios de hematêmese e aumento do volume abdominal há 4 meses. Afirma perda de 5Kg e alterações no ritmo intestinal nos últimos 4 meses, além de cansaço progressivo que o tem impedido de trabalhar. Nega febre, inapetência, empachamento pós-prandial, náuseas e vômitos. Nega outras comorbidades prévias, alergias e transfusões. Relata que a mãe apresenta DM e que o pai morreu de AVC aos 70 anos. Nega tabagismo, afirmando etilismo social e que não prática nenhuma atividade física de esforço no trabalho. Mora em zona rural com a mulher e 2 filhos em casa rebocada sem saneamento básico e utiliza água fervida. Afirma banhos de rio desde a infância, afirmando que já ouvir falar da doença do caramujo em sua região. Ao EF: REG, orientado e lúcido, emagrecido, afebril 36,4°C, acianótico, anictérico, mucosas hipocrômicas (+/+4) e desidratadas, eupneico (FR 18 irpm), normocárdico FC 80 bpm, e com PA 110x80 mmHg. Peso 51Kg, IMC 17,6. -CV: BRNF em 2T, sem sopros ou desdobramentos. -AR: sem alterações. -ABD: abdome globoso, as custas de ascite moderada com presença de circulação colateral, RHA+, timpânico a percussão exceto em abdome inferior submaciço. Na hepatimetria 12 cm em LHCD (linha hemiclavicular direita) e 9cm em LME (linha média esternal – VR 2cm). Abdome doloroso à palpação profunda, Traube ocupado com baço palpável. -NEURO: sem alterações. 26 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Exames laboratoriais: Hb/Ht 10,5/28%, leucócitos 5200 (2800), plaquetas 110000, sódio 145 mEq/mL, potássio 5,2 mEq/mL, ureia 46mg/dL, creatinina 0,98mg/dL, BT/BD 1,2/0,4, proteínas totais 7,8, albumina 3,8, TAP/RNI 98%/0,90, anti HCV e HBsAg negativos, anti HBC positivo. EDA: presença de VGE, com sinais de sangramento recente, gastropatia da hipertensão portal moderada. Pesquisa de Schistossoma mansoni nas fezes positivo. SNAPPS: S – Homem, 38 anos, procedente da Bahia, morador de zona rural sem saneamento básico, ingere água fervida e nada em rio. Queixa há 4 meses de 2 episódios de hematêmese e aumento do volume abdominal. Chega na consulta hoje com queixa de melena, perda de 5Kg não intencional e alterações intestinais nos últimos 4 meses, associado a cansaço progressivo. Ao exame em REG, descorado, desidratado e emagrecido, abdome globoso, ascite moderada, hepatomegalia, Traube ocupado, baço palpável e presença de circulação colateral (hiperesplenismo). Nos exames complementares apresentando anemia, plaquetopenia, anti HBC positivo sem sinais de comprometimento hepático. EDA com VGE com sangramento e Schistossoma positivo no exame coproparasitológico. N – Síndrome de hipertensão portal pré-hepática, vulnerabilidade social e HDA. A – Síndrome de hipertensão portal pré-hepática: VGE com sangramento, Traube ocupado com baço palpável, circulação colateral e ascite. Sem sinais de comprometimento hepático. . Vulnerabilidade social: mora em zona rural sem saneamento básico e toma banho em rio. . HDA: melena, hematêmese e síndrome anêmica. **Diagnóstico etiológico: Esquistossomose – devido perda de peso, fadiga progressiva, hipertensão portal pós hepática e exame coproparasitológico positivo** P – Quais são os tipos de hipertensão portal? • HP pré hepática: problema na veia porta. • HP intra-hepática: problema nos sinusoides hepáticos. • HP pós-hepática: problemas nas veias hepáticas de saída. P – O planejamento terapêutico para esse paciente seria recoletar exames como hemograma, coagulograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, albumina, AST/ALT e realizar uma nova EDA em busca de varizes. Além de, promover suporte nutricional e de hidratação. E, tratar a parasitose, pois a presença do bicho causa inflamação no local e o paciente pode ter repercussões após o tratamento. 27 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE S – Selecione um tema para se aprofundar: ✓ A esquistossomose é sempre pré-hepática, pois o bicho é muito grande, ou seja, não consegue passar pelos sinusoides. Apresentando um quadro clínico com função hepática normal e sem sinais de spider e eritema palmar. ✓ Por conta da fibrose gerada pela presença do Schistossoma, o paciente pode evoluir com esplenomegalia e o baço não volta mais ao normal, necessitando às vezes de esplenectomia. ✓ Um exemplo de HP pós-hepática é a síndrome Budd-Chiali, na qual ocorre trombose nas veias de saída do fígado. HIPERTENSÃO PORTAL: ANATOMIA: A veia porta é a junção da veia mesentérica superior com a veia esplênica. E, todo esse sistema venoso portal também se comunica com outros sistemas venosos sistêmicos, os quais vão gerar algumas das síndromes que surgem como complicação da síndrome de hipertensão portal. Como por exemplo, a comunicação com a porção superior do canal anal, a comunicação com a porção inferior do esôfago e a comunicação com o ligamento redondo pela veia umbilical. Que sistematicamente, irão gerar as varizesesofágicas, varizes gástricas, varizes paraestromais, varizes renais e varizes paraduodenais. A hipertensão portal, portanto, tem repercussão no sistema venoso sistêmico, não só na região limitada próxima ao fígado. Então, quando vamos avaliar um paciente com hepatopatia, como por exemplo, HP, temos que lembrar dessa comunicação com o sistema venoso sistêmico. DEFINIÇÃO: A HP é definida como uma resistência ao fluxo portal, que é medida de acordo com um gradiente portal (diferença entre a pressão supra-hepática e pré-hepática), através do cateterismo pela veia jugular interna direita. 28 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Consideramos esse gradiente patológico, quando ele vem >5mmHg. E, a partir disso que vai aumentando o fluxo das veias colaterais. SUBCLASSIFICAÇÕES: Temos 2 tipos de causas na hipertensão portal, são elas: 1. Cirróticas (90% dos casos): divididas em pré hepática, intra-hepática (pré- sinusoidal, sinusoidal ou pós-sinusoidal) e pós-hepática. 2. Não cirróticas: esquistossomose. ETIOLOGIA: As principais etiologias pré-hepáticas de HP são: ✓ Trombose de veia porta; ✓ Trombose da veia esplênica; ✓ Hipertensão portal segmentar – geralmente é causada pela trombose da veia esplênica, desencadeando varizes gástricas isoladas; ✓ Fístula arteriovenosa. As principais etiologias intra-hepáticas são: ✓ Pré-sinusoidal: esquistossomose hepatoesplênica, idiopática (hiperplasia nodular regenerativa) e sarcoidose. ✓ Sinusoidal: cirrose, hepatite crônica e hepatite aguda. ✓ Pós-sinusoidal: doença hepática veno-oclusiva. Já as principais etiologias pós-hepática da HP são: ✓ Síndrome de Budd-Chiari; ✓ Cardiopatia – principalmente a IC direita ou a ICC. FISIOPATOLOGIA: 29 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE O que acontece, geralmente, com o paciente que tem HP? R: O paciente tende a ter uma tendência a uma vasodilatação esplâncnica, porque não chega muito sangue no fígado. Então, sistematicamente, o coração e o SRAA são estimulados por conta dessa alteração, entendendo essa dificuldade de passagem de sangue pelo fígado como um estado de hipovolemia. Respondendo com uma vasodilatação sistêmica, retendo sal e água e, com uma grande tendência à hipotensão. Tentando aumentar o volume plasmático e aumento do índice cardíaco. Só que com o passar do tempo, principalmente, no paciente que tem cirrose, essa resistência vai aumentando e aumentando o grau de insuficiência hepática, intensificando o grau de hipertensão portal, até um momento que não há mais como fazer vasodilatação, e essa hipovolemia se torna efetiva. Gerando um ciclo vicioso de ativação do SRAA, surgindo, por exemplo, ascite e encefalopatia. OBS: O sangramento varicoso é uma das principais complicações e fator de gravidade no paciente com hipertensão portal. Sendo a complicação mais temida. E, 50% dos cirróticos tem varizes gastroesofágicas, por isso, é muito importante sabermos no dia a dia da prática clínica, identificarmos essas varizes precocemente. Tratando de forma agressiva esse paciente, evitando sangramento dessas varizes. Cerca de 30-40% dos pacientes em cirrose compensada apresentam varizes gastroesofágicas. E, até 85% dos pacientes em cirrose descompensada. E, 30% dos pacientes vão apresentar sangramentos varicosos ao longo da vida, sendo que cada episódio apresenta uma taxa de mortalidade em torno de 20%. E, pacientes que já tiveram alguma vez e que ao longo da vida tem uma taxa de recorrência muito grande (50-60%), somado a uma cirrose descompensada, essa taxa de mortalidade é muito maior, chegando a 80-90% de acordo com o nível de descompensação do paciente e as comorbidades apresentadas. QUADRO CLÍNICO: O quadro clínico inicial que nos leva a pensar se o paciente tem ou não uma síndrome da hipertensão portal se baseia em: ✓ Estigmas de cirrose: avaliados no EF e pelos exames laboratoriais (hemograma com plaquetopenia, leucopenia ou até uma pancitopenia). ✓ Presença de circulação colateral: avaliada no EF e em exames de imagem. ✓ Grau de hipertensão portal: relacionado a presença de manifestações clínicas e radiológicas e complicações clínicas. Sendo que temos que saber: CLÍNICA GRADIENTE Normal Menor ou igual 5mmHg Hipertensão portal Maior que 5mmHg Surgimento de varizes Maior que 10mmHg Sangramento varicoso Maior que 12mmHg Sangramento grave Maior que 20mmHg 30 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Sangramento gastroesofágico seja por varizes esofágicas ou gástricas, são sangramentos de alta grau de mortalidade, devido dificuldade de estancamento espontâneo. CIRCULAÇÃO COLATERAL ABDOMINAL CABEÇA DE MEDUSA ESÔFAGO DISTAL NORMAL ESÔFAGO DISTAL COM VARIZES ESOFÁGICAS DE GROSSO CALIBRE GOV 1 GOV 2 31 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE MÉTODOS DIAGNÓSTICOS: O diagnóstico é feito por meio de 2 tipos de exames: 1. Exames não invasivos: laboratório (plaquetas < 150.000), radiologia (circulação colateral) e elastografia (> 20KPa). 2. Exames invasivos: gradiente (mensuração), biópsia hepática (estadiamento e classificação) e EDA (varizes esofágicas). Quando o paciente chega já com um grau de hepatopatia, devemos avaliar o fibroscan e as plaquetas, obrigatoriamente. VIGILÂNCIA ENDOSCÓPICA: Vai depender se o paciente tem varizes, se é de pequeno ou grosso calibre, se a etiologia da hepatopatia está controlada ou não, dentre outras características. Sendo que, na prática, temos que entender que os pacientes que têm etiologia controlada, tem uma menor taxa de progressão. E, os pacientes com varizes de grosso e médio calibre tem uma maior chance de sangramento, devendo ser acompanhados mais de perto. TRATAMENTO: 1. Tratar o agente etiológico; 2. Tratar obesidade; 3. Cessação do álcool; 4. Otimização nutricional; 5. Profilaxias. ➔ PROFILAXIA PRIMÁRIA: -Varizes esofágicas: usamos betabloqueador (carvedilol, propranolol ou nadolol) OU ligadura elástica. 32 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE -Varizes gástricas: usamos betabloqueador (carvedilol., propranolol ou nadolol) OU cianoacrilato. ➔ PROFILAXIA SECUNDÁRIA: -Varizes esofágicas: usamos betabloqueador (propranolol ou nadolol) E ligadura elástica. -Varizes gástricas: usamos betabloqueador (propranolol ou nadolol) E cianoacrilato. **Em casos de pacientes com sangramento refratário podemos fazer o balão esofágico, como uma terapia ponte. E, outras alternativas seriam: colocação de TIPS e alguns procedimentos cirúrgicos, como derivações. E, como terapia definitiva o transplante hepático** 33 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE DIARREIAS AGUDA E CRÔNICA INTRODUÇÃO: O ritmo intestinal normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. O aumento da frequência por mais de três vezes ao dia, com diminuição da consistência das fezes, que provocam urgência ou desconforto abdominal, provavelmente é um quadro de diarreia. A consistência é determinada pela relação entre água fecal e a capacidade de retenção de água dos sólidos insolúveis fecais. É importante ter em mente que diarreia é diferente de urgência fecal e de pseudodiarreia. A primeira, é a eliminação involuntária das fezes, geralmente por distúrbios neuromusculares ou problemas estruturais anorretais, sem alteração do peso e consistência. Já o último, é a eliminação frequente de pequenos volumes de fezes, geralmente com urgência, sem alteração também da consistência e do peso. PDIARREIA – DEFINIÇÃO: É considerado normal evacuar de 1 a 3 vezes por dia, 2 a 3 vezes por semana, sem desconforto, com fezes macias. ✓ Peso fecal: 100g/dia. ✓ Consiste na alteração do hábito intestinal com diminuição da consistência, aumento da frequência e volume das fezes,geralmente associado à presença de elementos patológicos (muco, pus, sangue, restos alimentares, por exemplo). Para avaliação das fezes, usamos a Escala de Bristol: 34 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE FISIOPATOLOGIA DA DIARREIA: • Secretora: hipersecreção de água, eletrólitos, hormônios ou substância secretagogos (gastrinoma, hiperparatireoidismo, insuficiência adrenal). • Osmótica: conteúdo hiperosmolar (deficiência de dissacaridases: deficiência de lactase, intolerância ao glúten), ou ingestão de substâncias hiperosmolares (lactulose). • Exsudativa/inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesão da mucosa, por processo inflamatório ou infiltrativos (doença do intestino irritável, shigelose, colite pseudomembranosa). • Motora: por aumento do trânsito intestinal (doenças metabólicas e endócrinas, ressecções cirúrgicas). A maioria dos casos de diarreia são decorrentes de alteração do transporte de líquidos e eletrólitos e pouco dependente da motilidade da musculatura lisa. Normalmente, cerca de 9L penetra no TGI em um dia, sendo apresentado ao duodeno, cerca de 2L. E, apenas 0,2L é excretado nas fezes. A nível celular, ocorre excesso de líquido no lúmen intestinal quando há deficiência na capacidade de transporte de eletrólitos do intestino delgado ou grosso ou quando se cria um gradiente osmótico desfavorável que não pode ser suplantado pelos mecanismos normais de absorção de eletrólitos. Na membrana basolateral dos enterócitos, a atividade da bomba de sódio/potássio/ATPase mantém baixas concentrações intracelulares de sódio. Forçando um fluxo absortivo contínuo deste eletrólito junto com água. ** Se solutos pouco absorvíveis ou não absorvíveis estão presentes no lúmen, como lactose em indivíduos com deficiência de lactase, ou mesmo presença de substâncias, como a enterotoxina da E. coli e toxina da cólera, os mecanismos de absorção de sódio serão incapazes de criar esse gradiente favorável, levando a permanência de líquido no lúmen, formando a base para diarreia osmótica e secretória** A diarreia inflamatória se caracterizada por lesão e morte de enterócitos, atrofia de vilosidades e hiperplasia de criptas. 35 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CLASSIFICAÇÃO DA DIARREIA: A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração dos sintomas, nas características clínicas e topográficas e na fisiopatologia. De acordo com o tempo de duração dos sintomas, a diarreia por de classificada em: • Diarreia aguda: duração de até 2 semanas (até 14 dias), sendo a causa mais comum infecções. • Diarreia crônica: duração acima de 4 semanas (>28 dias). • Diarreia persistente: duração entre 2 e 4 semanas (14-28 dias). Quanto ao mecanismo fisiopatológico, são categorizadas em osmótica, secretória, inflamatória, disarbsortivas e funcional, sendo as 4 primeiras diarreias orgânicas e a última não orgânica. Quanto as características clínicas e topográficas, a diarreia é dividida em: DIARREIA AGUDA: Inicialmente, as primeiras suspeitas para um quadro de diarreia aguda, são infecções e intoxicação alimentar. 36 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Aproximadamente 80% das diarreias agudas se devem a infecções por vírus, bactérias, helmintos e protozoários. O restante ocorre devido à ingestão de medicamentos, açúcares pouco absorvidos, impactação fecal, inflamação pélvica ou isquemia intestinal. Assim, as principais etiologias da gastroenterite são por: A maioria das diarreias infecciosas é adquirida pela transmissão fecal-oral pela água, alimentos ou contato interpessoal. Pacientes com diarreia infecciosa se queixam de náuseas, vômitos e dor abdominal, apresentando diarreia aquosa, com má absorção ou com sangue (disenteria). OBS: Importante que diarreia é diferente de disenteria. A diarreia aguda apresenta uma instalação abrupta, sendo autolimitada (até 14 dias de duração). E, o principal estímulo são os agentes infecciosos. No Brasil, 5 em cada 1000 mortes (em 2007) foram causadas por diarreia infecciosa. E, 30% dessas mortes ocorreram em menores de 14 anos e 50% em maiores de 60 anos. DADOS IMPORTANTES NA HISTÓRIA CLÍNICA DO PACIENTE COM DIARREIA AGUDA: • Características das fezes e presença de elementos anormais, deve-se investigar a presença de fatores associados (febre, lipotimia, turvação visual, distensão abdominal, dor, etc.). • Local e as condições em que a diarreia foi adquirida. • Investigar sobre a ingestão recente de água, frutas ou verduras potencialmente contaminadas, alimentos suspeitos. • Viagens recentes. • Pessoas próximas acometidas. • Uso recente de antibióticos e outros fármacos. • História sexual. • Banhos em locais públicos e contatos com animais. • Período de incubação (horas até 2 semanas). 37 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • A apresentação clínica da diarreia aguda é bastante semelhante, independente do agente causador. EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM DIARREIA AGUDA: No exame físico do paciente com queixa de diarreia aguda, devemos ficar atentos em relação aos sinais de alerta, tais como: ✓ Sinais de alerta para desidratação: boca seca, diurese concentrada, oligúria, pele e mucosas desidratadas, hipotensão postural e taquicardia. ✓ Dor abdominal e irritação peritoneal. ✓ Sinais de toxemia e maior gravidade: febre alta e persistente, taquidispneia, vasodilatação periférica com hipotensão, pulsos célere e fino. DIAGNÓSTICO DA DIARREIA AGUDA: Na grande maioria das vezes, não está recomendada investigação laboratorial maior. Sendo importante direcionarmos a entrevista e exame físico de forma detalhada, na tentativa de identificar fatores agravantes ou de risco para má evolução e instabilidade clínica é mandatória – sinais de desidratação e sinais de alerta e de gravidade. ✓ Pesquisa de leucócitos fecais – não é patognomônico de infecção (inflamação também pode resultar em exame positivo). ✓ Coprocultura – para identificar o patógeno, geralmente indicado na suspeita de patógenos enteroinvasivos. ✓ Pesquisa de toxinas e antígenos patogênicos: Clostridium difficile A e B, Elisa nas fezes e rotavírus). ✓ Exame de imagem – em geral, serve para avaliar complicações (megacólon tóxico, perfuração, íleo paralítico). ✓ Endoscopia: retossigmoidoscopia em casos de necessidade de biópsia. DIARREIA CRÔNICA: Relativamente frequente, com uma prevalência de 5% da população norte-americana. Existindo inúmeras causas, podendo acometer intestino delgado ou cólon (ou ainda podem intercalar entre as duas localizações), sendo importante reconhecermos bem as possíveis causas e mecanismos envolvidos. As causas mais frequentes de diarreia crônica são: ✓ Doença intestinal inflamatória; ✓ Síndrome do intestino irritável; ✓ Síndrome de má absorção; ✓ Infecção crônica (helmintos, protozoários); ✓ Medicamentos, manifestação de uma doença sistêmica (hipertireoidismo); ✓ Tumores neuroendócrinos (peptídeos vasoativos intestinais, serotonina); ✓ Tumor de cólon (geralmente tem alternância com obstipação e frequentemente diarreia com sangue). 38 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE HISTÓRIA CLÍNICA DA DIARREIA CRÔNICA: Diferentemente da diarreia aguda, é mais difícil a definição diagnóstica exclusivamente pelo quadro clínico, devido a suas possíveis etiologias serem de maior complexidade. Por isso, devemos estar atentos a: ✓ Viagem para regiões endêmicas para parasitoses intestinais; ✓ Relação dos sintomas de diarreia com alimentos específicos (lactose, glúten); ✓ Comorbidades – DM, hipertireoidismo; ✓ História familiar de DII ou celíaca (herança genética); ✓ Uso de álcool, abuso de produtos dietéticos com sacarídeos não absorvíveis; ✓ Medicamentos; ✓ Periodicidade dos sintomas (cólica, intermitente, contínua); ✓ Dor e características(dor do que melhora com a evacuação, predominantemente diurna, pode sugerir SII); ✓ Presença de elementos anormais (sangramento na DII, esteatorreia na insuficiência pancreática); ✓ Sinais e sintomas concomitantes (emagrecimento, por exemplo). De acordo com a origem, a diarreia apresenta algumas diferenças: INVESTIGAÇÃO DA DIARREIA CRÔNICA: A investigação propedêutica será guiada pelo julgamento clínico (história clínica detalhada e exame físico cuidadoso), associado a exames laboratoriais e de fezes. Laboratório: o Hemograma completo (anemia, leucocitose, linfopenia, eosinofilia, plaquetose, microcitose ou Macrocitose – demonstram envolvimento e repercussão sistêmica, má absorção de nutrientes); o Provas de atividade inflamatórias (VHS, PCR, alfa 1 glicoproteína); o Status nutricional – dosagem de proteínas e albumina. o Marcadores específicos – TSH, pesquisa de anticorpos anti-endomísio, anti- gliadina, anti-transtutaminase, anti Saccharomyces cerevisiae (ASCA), anticitoplasma de neutrófilo pernuclear (p-ANCA). 39 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Fezes: o Parasitológico de fezes; o Pesquisa de leucócitos fecais; o Pesquisa de sangue oculto nas fezes; o Pesquisa de gordura fecal; o Eletrólitos, osmolaridade e pH fecal. Endoscopia Digestiva Alta: nos casos suspeitos para diarreia alta (doença de Wilson, doença celíaca e parasitose alta. Ou, em casos que for preciso biópsia do intestino delgado (2ª e 3ª porção do duodeno). Colonoscopia: na suspeita de diarreia baixa e íleo distal (DII, colite colagenosa e linfocítica, neoplasia, etc.). E, em casos de necessidade de biópsias seriadas (mesmo com a mucosa macroscopicamente normal). Exames de imagem (TC): para avaliar trânsito intestinal. 40 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE SEMIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO – ABDÔMEN AGUDO CASO CLÍNICO 1 – ABDÔMEN AGUDO INFLAMATÓRIO – APENDICITE EM ADOLESCENTE: • AMO, 11 anos, negro, natural e procedente de Piracicaba, morador do bairro Morada do Sol, iniciou há 2 dias com dor periumbilical, mal definida, que há 1 dia tem se localizado na fossa ilíaca direita, associado a anorexia, náuseas e vômitos e 2 episódios de evacuação com fezes amolecidas, sem aumento da frequência, sem sangue, de coloração normal. Associado, a mãe observou febre de 38º e diz que a criança está andando meio “torto” porque relata piora da dor ao se movimentar ou ficar em pé. • Nega quadro semelhante anterior. Nega doenças prévias. Mãe relata que a vacinação está em dia. • AF: Mãe é hipertensa e o Pai obesidade. • Ao exame físico: PA=110/80mmHg; P=72ppm; FR=18irpm; T=37,8º, eutrófico. • BEG, consciente, orientado, colaborativo, fascie atípica, acianótico, anictérico, sem edema, bpp, hidratado, corado. • ACV= BRNF 2T sem sopros • AR: MV+ sem RA • AGI: Abdômen plano, posição preferencial do paciente sentado com o tórax sobre o abdômen, presença de defesa voluntária à palpação de FID, Sinal de Rovsing positivo, Sinal do Psoas positivo, Murphy negativo, RHA+ e normais, DB-. • Exames laboratoriais: Hb/Ht=13,6/32,0; leuco=12300(B=5%; S=72%; L=20%); plaquetas=350000; Creatinina=0,5; Ureia=25; Na=138; K=4,5; amilase=230; lipase=210; albumina=3,5. RADIOGRAFIA DE ABDÔMEN – fezes no ceco (indicativo de apendicite aguda) ULTRASSONOGRAFIA DE ABDÔMEN – inflamação do apêndice 41 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • Etiologias relacionadas: apendicite, colecistite, colangite, pancreatite, diverticulite, peritonite, doença inflamatória pélvica, linfadenite mesentérica, megacólon tóxico, tiflite, pielonefrite e gastrenterite. CASO CLÍNICO 2 – ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO – TUMOR DE SIGMOIDE: • Mulher, 74 anos, branca, natural e procedente de Piracicaba, moradora do Bairro Vila Rezende, relata que há 3 meses vem apresentando dor abdominal tipo desconforto, mal definida, empachamento pós-prandial progressivo, e vômitos biliares, o que vem fazendo com que ela coma cada vez menos para se adaptar e não apresentar esse quadro. Relata perda de peso de 5Kg nesse período, que associa com a baixa ingesta. • Procurou assistência médica que indicou colonoscopia. Durante o preparo, a paciente relata que conseguiu tomar todo o laxativo, porém evoluiu com distensão abdominal significativa e vômitos, que culminaram com desidratação e queda do estado geral. Não foi possível realizar a colonoscopia devido ao preparo de cólon insatisfatório. • AP: DM há 20 anos, HAS, nega doença intestinal na família. Faz uso de Glifage XR 500mg 2xdia, Glibenclamida 5mg/dia, Losartana 50mg/dia. • Ao exame físico: REG, consciente, pouco sonolenta, edema +, palidez CM++/+4; bpp, anictérica, acianótica, desidratada ++/+4; sem febre. PA=100/70mmHg; P=118ppm; FR=24irpm, emagrecida. • ACV= BRNF taquicárdica, SS +/4 holossitólico. • AR= abdômen globoso, distendido, dor à palpação difusa, RHA+++, timbre metálico, DB-, timpanismo difuso. • AR= MVF sem RA. • Exames laboratoriais: Hb/Ht=11,5/31; leuco=4500(3200); VCM=84; plaquetas=480000; Creatinina=1,2; ureia=73; Na=145, K=4,7; Mg=1,6; albumina=3,1. • Etiologias associadas: mecânico (bridas/aderências, hérnias parietais, hérnias internas, neoplasia, vólvulo, DII, radiação prévia, intussupecção, fecaloma, íleo biliar, corpo estranho, bolo de áscaris e cápsula endoscópica impactada) ou funcional (íleo funcional ou síndrome Olgivie). RADIOGRAFIA DE ABDÔMEN EM DECÚBITO DORSAL E ORTOSTÁTICA 42 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CASO CLÍNICO 3 – ABDOME AGUDO PERFURATIVO – ÚLCERA DUODENAL PERFURADA: • Homem, 42 anos, branco, evangélico, natural e procedente de Piracicaba, morador do bairro Jupiá, iniciou há 2 horas com dor lancinante em região epigástrica, tipo facada que irradia para dorso, associada a vários episódios de vômitos biliares. Esposa relata que o paciente vinha se queixando de dor epigástrica de longa data, que melhorava temporariamente com antiácidos. Anamnese dificultada pela fala entrecortada e dor do paciente. • AP: Nega doença prévia, nega bebida alcoólica, nega tabagismo, nega episódio semelhante anterior. • AF: Nega DM, HAS. • Ao exame físico: REG, fascie agudamente enfermo, posição antálgica (flexão do tórax sobre o abdômen), gemente, com fala entrecortada, palidez CM++/4, taquisfigmia (pulso acelerado e fino), acianótico, anictérico, sem edema, eutrófico. PA=100/60mmHg; P=120ppm; FR=28irpm, T=36,7oc • AGI: abdômen plano, em tábua, dor difusa a palpação, DB+, RHA ausentes, timpanismo difuso. • Exames laboratoriais: Hb/Ht=14,3/38; leuco=5600(2400); plaquetas=250000, Creatinina=0,8; Ureia=48; Na=135; K=5,4; amilase=300; lipase=250; VHS=50; proteina C reativa=3,5. TOMOGRAFIA DE ABDÔMEN RADIOGRAFIA DE TÓRAX 43 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • Etiologias associadas: úlcera péptica, neoplasia, corpo estranho, perfuração espontânea de vísceras, DII, megacólon tóxico e complicação de procedimento endoscópico. ABDOME AGUDO – DEFINIÇÃO: O abdome agudo é definido como toda condição dolorosa de início súbito ou de evolução progressiva, localizada no abdômen, que requer decisão terapêutica rápida, preferencialmente após definição diagnóstica. HISTÓRIA CLÍNICA DO ABDÔMEN AGUDO: 1. Identificação: idade, sexo, raça, profissão, naturalidade e procedência. 2. Condições socioeconômicas e hábitos de vida: hábito sexual, criminalidade, condições precárias de vida. 3. Antecedentes pessoais e familiares: cirurgia prévia, doenças prévias, histórico de doença na família. TIPOS DE DOR NO ABDÔMEN AGUDO: Dor visceral: • Peritônio visceral e os órgãos abdominais revestidos por ele são inervados por fibras tipo C; • SNA a uma velocidade 0,5 a 2m/s; • Sensíveis a distensão, isquemia, tração, compressão e torção; • Dor difusa, de início lento e duração longa, capaz de produzirmanifestações sistêmicas como náuseas, sudorese, queda da PA e da FC. Dor somática: • Peritônio parietal e a raiz do mesentério possuem fibras do tipo A; • Conduzem o estímulo nervoso a uma velocidade de 12-30m/s (rápida resposta); RADIOGRAFIA DE ABDÔMEN 44 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • Estimuladas por agentes irritantes como conteúdo gastrointestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue e pus. E, por substâncias como bradicinina, histamina e enzimas proteolíticas; • Dor aguda, bem localizada, de curta duração e com componente sistêmico fraco; • Piora com o movimento, tosse e pode acarretar contratura muscular (reflexa à inervação comum do peritônio parietal e da musculatura abdominal). Dor referida: • Percebida em local diferente do estímulo que a gerou; • Um estímulo gerado em um nociceptor da serosa abdominal pode provocar contratura reflexa da musculatura do dermátomo correspondente, que apresenta inervação comum, ou mesma origem embrionária. HISTÓRIA CLÍNICA DO PACIENTE COM ABDÔMEN AGUDO: Alguns itens importantes para avaliarmos no paciente com suspeita de abdômen agudo são: ✓ Náuseas; ✓ Vômitos (alimentar, bilioso, fecalóide ou sanguinolento); ✓ Febre (avaliar grau e característica); ✓ Anorexia; ✓ Hábito intestinal; ✓ Hábito urinário; ✓ Ciclo menstrual. EXAME FÍSICO DO PACIENTE COM ABDÔMEN AGUDO: O exame físico é divido em: ✓ Qualitativo (Ectoscopia): avalia fascies, marcha, decúbito preferencial, mucosas, pele e ingurgitamento jugular. ✓ Quantitativo: pressão arterial, frequência cardíaca, pulso, frequência respiratória. Exame físico específico – semiologia do abdômen agudo: 45 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE CLASSIFICAÇÃO DO ABDÔMEN AGUDO: Existem 5 tipos de abdômen agudo, são eles: 1 – ABDÔMEN AGUDO INFLAMATÓRIO: De início insidioso, com sintomas vagos, acompanhado de náuseas, anorexia, vômitos e alteração do trânsito intestinal. Podendo vir acompanhado de parada de eliminação de fazes e fezes ou mesmo diarreia. A dor é inicialmente mal definida, evoluindo para bem localizada quando acomete o peritônio parietal. E, as principais causas de abdome agudo inflamatório são: ✓ Apendicite, colecistite, colangite, pancreatite, diverticulite, peritonite, doença inflamatória pélvica, linfadenite mesentérica, megacólon tóxico, tiflite, pielonefrite e gastrenterite. 2 – ABDÔMEN AGUDO PERFURATIVO: De início súbito, geralmente dramático, já começando de forma intensa e rapidamente atingindo seu pico. O exame físico revela silêncio abdominal e rigidez muscular, detectada como abdômen em tábua. 46 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE Ocorre extravasamento de secreção contida no TGI para dentro da cavidade peritoneal (peritonite). E, as principais causas de abdome agudo perfurativo são: ✓ Úlcera péptica, neoplasia, corpo estranho, perfuração espontânea de vísceras, doença inflamatória intestinal, megacólon tóxico e complicação de procedimento endoscópico. 3 – ABDÔMEN AGUDO OBSTRUTIVO: O sintoma cardinal é a cólica intestinal. A dor é visceral, localizada na região periumbilical, nas obstruções de delgado, e hipogástrica nas obstruções de cólon. Vômitos geralmente após a crise de dor. O peristaltismo encontra-se aumentado, exacerbado, sendo chamado de peristaltismo de luta. E, as causas de abdome agudo obstrutivo se dividem em mecânicas e funcionais: 47 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 4 – ABDÔMEN AGUDO VASCULAR: É uma patologia grave e com alto índice de mortalidade (80% dos casos) e que acomete, preferencialmente, indivíduos idosos com múltiplas comorbidades. Sendo a dor o principal sintoma, geralmente intensa, fora de proporções com os achados clínicos, que são inespecíficos. A chave para o diagnóstico precoce é valorizar os sinais, em pacientes com fatores de risco. E, as principais causas de abdome agudo vascular são: ✓ Embolia da artéria mesentérica superior, trombose da artéria mesentérica superior, trombose da veia mesentérica superior, isquemia mesentérica aguda não oclusiva e colique isquêmica. 48 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE 5 – ABDÔMEN AGUDO HEMORRÁGICO: Além da dor súbita, chama a atenção o rápido comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia acentuada. E, apesar da dor forte, não se encontra contratura muscular no hemoperitônio, visto que o sangue não é tão irritante para a serosa peritoneal. Os exames mostram queda progressiva dos níveis hematimétricos. E, as principais causas de abdome agudo hemorrágico são: ✓ Gravidez ectópica rota, ruptura espontânea de vísceras parenquimatosas, pós- operatório e ruptura vascular espontânea (aneurisma da aorta e de seus ramos viscerais). 49 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE HEPATITES VIRAIS VÍRUS E AGENTES HEPATOTRÓPICOS: Definição de hepatite: inflação do fígado, multifatorial (autoimune, medicamentoso, esteatose) – nem sempre alteração de transaminases vai denotar uma etiologia infecciosa ou de um vírus hepatotrópico. No entanto, a hepatite pode ocorrer decorrente de etiologia viral, a qual vai causar necrose hepatocelular, o vírus invade o fígado e causa uma resposta inflamatória que o hospedeiro faz na tentativa de eliminar o vírus e, acaba agredindo o hepatócito. O que é muito importante de entendermos é que o vírus chega no fígado, faz o quadro inicial citado, faz uma doença aguda e desparece, mas, no entanto, tem alguns vírus que tem mecanismos de escape, ou seja, acabam cronificando. E, fígado com doença crônica pode evoluir com problemas importantes, tais como, cirrose e carcinoma hepatocelular. HEPATITES: As hepatites infecciosas podem ser causadas por vírus ou bactérias e protozoários, os quais podem gerar lesões primárias e secundárias. Existindo vírus que causam infecções sistêmicas que cursam com hepatite (febre amarela, CMV, EBV, dengue) e vírus hepatotrópicos em si (A, B, C, D e E). VÍRUS HEPATOTRÓPICOS: Os principais vírus hepatotrópicos do mundo são o HAV, HBV e o HCV. Tendo importância global pelo impacto econômico que eles causam, pela morbimortalidade, principalmente, dos vírus que cronificam (HBV e HCV). Sendo importante conhecermos a epidemiologia de cada um deles, tendo em vista que cada um diferente muito do outro. Alguns vírus cronificam e outros geram quadros limitados, alguns têm tratamento e outros não tem, alguns as terapêuticas são infinitas durante o tempo de vida e outras são por um tempo só, as complicações que esses vírus podem causar também são muito diferentes e, alguns podem causar um quadro de hepatite fulminante/agudo e outros um quadro de hepatite crônico. EVOLUÇÃO CLÍNICA DAS HEPATITES VIRAIS: • O vírus causa uma necrose hepática (a própria resposta ao hospedeiro vai agredir o hepatócito). • O diagnóstico dessas hepatopatias é feito por meio da sorologia, uma vez que, o quadro clínico é igual. • A apresentação clínica é variada, podendo ser assintomática, oligossintomática, icterícia febril, hepatite fulminante, etc. 50 LETÍCIA MARABESI FERREIRA – MEDICINA T1 – 7° SEMESTRE • Do ponto de vista sindrômico, é uma icterícia febril que na minoria das vezes vai evoluir para uma hepatite fulminante, uma vez que a maioria dos casos é oligossintomático – o paciente tem sorologia positiva e nunca teve um quadro clínico de febre, icterícia febril. QUADRO CLÍNICO: • Período de incubação: período vírus-dependente, dura dias até meses. • Período pré-ictérico: período de viremia, paciente começa a ter febre, náuseas, aumento das transaminases (ALT, AST). • Período ictérico: período em que há pico das transaminases (ALT/AST), icterícia, sem febre e ao exame físico presença de hepatomegalia. DIAGNÓSTICO: Na abordagem inicial, temos que avaliar a gravidade também, então, o diagnóstico
Compartilhar