Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Graduando do curso de Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL: Artur Bruno Silva Gomes E-mail Institucional: artur.bruno@souunit.com.br Tutor: Alessandra ABDOME AGUDO Quadro patológico com manifestação abdominal, incluindo doenças retroperitoneais, torácicas ou mesmo sistêmicas, com apresentação de dor com duração inferior a uma semana e que necessite de intervenção de urgência, até mesmo cirurgia. Apresentação Clínica Localização: ❏ Dor epigástrica: doenças gastroduodenais (tronco celíaco); Dor periumbilical: jejunoíleo; apêndice e metade proximal do cólon (artéria mesentérica superior); ❏ Dor suprapúbica: metade distal do cólon até o reto; órgãos pélvicos (bexiga, trato geniturinário); ❏ Dor subcostal direita: doenças hepatobiliares; ❏ Dor lombar: nefrolitíase. Intensidade: ❏ Grande intensidade e > 6 horas de duração: considerar doença grave; ❏ Dor transitória com melhora em < 6 horas: considerar doença leve. Evolução: ❏ Dor de início súbito sem sintomas prévios: sugere isquemia, perfuração de víscera oca ou rotura de aneurisma abdominal → quadro grave (abdome agudo vascular; hemorrágico; perfurativo); ❏ Dor de intensidade progressiva e caráter cíclico: dor em tipo cólica, associada a náuseas e vômitos → abdome agudo inflamatório (colecistite aguda; pancreatite aguda); abdome agudo obstrutivo; Dor de caráter vago e origem periumbilical que se torna localizada e aumenta de intensidade: processo inflamatório intra-abdominal com posterior acometimento do peritônio (tamponando) → apendicite aguda; diverticulite aguda; perfuração de víscera bloqueada. Qualidade e periodicidade: ❏ Constante e aguda: víscera oca perfurada (apêndice; duodeno); ❏ Dor em cólica cíclica: obstrução intestinal; ❏ Dor em barra contínua: pancreatite aguda; ❏ Dor surda e constante: isquemia intestinal; ❏ Dor difusa vaga em paciente quieto: peritonite. Irradiação: ❏ Ombro e escápula direita: colecistite aguda; ❏ Dorso: pancreatite; ❏ Região inguinal ou perineal: nefrolitíase. Fatores de agravo ou alívio: ❏ Melhora com alimentação: úlcera duodenal; ❏ Piora com alimentação: úlcera gástrica; colelitíase; isquemia mesentérica crônica; ❏ Piora com movimentação: irritação peritoneal/peritonite. Relação com outros sintomas: Dor precedendo vômitos: patologia cirúrgica (apendicite); ❏ Vômitos precedendo dor: patologia clínica (gastroenterites); ❏ Diarreia aquosa: gastroenterite; ❏ História de diarreia recorrente: doença inflamatória intestinal; ❏ Parada de eliminação de gases e fezes: obstrução Intestinal; ❏ Icterícia: doenças hepatobiliares; Avaliar na história clínica: ❏ Idade acima de 65 anos (risco aumentado); ❏ Imunocomprometidos (HIV, tratamento crônico com glicocorticoides); ❏ Alcoolismo (risco de hepatite, cirrose, pancreatite); ❏ Doenças cardiovasculares (coronariana, vascular periférica, hipertensão, fibrilação atrial); ❏ Comorbidades maiores (câncer, diverticulose, cálculos biliares, doença inflamatória intestinal, pancreatite, insuficiência renal); ❏ Cirurgia prévia ou manipulação recente do trato gastrointestinal (risco de obstrução, perfuração); ❏ Gravidez precoce (risco de gravidez ectópica). Exame Físico Acompanhada de febre baixa: Processo supurativo localizado (apendicite; diverticulite; colecistite). ❏ Acompanhada de febre alta: Processo infeccioso com repercussão sistêmica (colangite; infecção urinária; infecções ginecológicas - doença inflamatória pélvica). ❏ Acompanhada de distensão abdominal: Pensar em obstrução intestinal (sem sinais de ascite); ascite ou sangue intraperitoneal (trauma). Dor à palpação: ❏ Quadrante inferior direito (ponto de McBurney): apendicite aguda; ❏ Quadrante inferior esquerdo: diverticulite; ❏ Quadrante superior direito: colecistite; ❏ Difusa (descompressão dolorosa + sinais de defesa abdominal): peritonite difusa. Percussão hipertimpânica: Obstrução intestinal. Timpanismo sobre o fígado (sinal de Jobert): Pneumoperitônio (perfuração de víscera oca). Abordagem Diagnóstica Laboratório: ❏ Hemograma e bioquímica: eletrólitos, uréia e creatinina; ❏ Pesquisa de cetoacidose: glicemia, ânion gap e cetonemia; ❏ Amilase/lipase; ❏ Suspeita de doença hepatobiliar: bilirrubina; fosfatase alcalina; transaminases; ❏ EAS (urina tipo 1); ❏ Beta-HCG: mulheres em idade fértil; ❏ Lactato e fosfato: suspeita de isquemia mesentérica ou sepse. Radiografia simples (rotina radiológica de abdome agudo): ➔ Inclui as três incidências: abdome AP em ortostase e decúbito, tórax PA; FAZ EM PA PARA AVALIAR AS CÚPULAS DIAFRAGMÁTICAS. PESQUISAR PNEUMOPERITÔNIO. CUIDADO COM BOLHA GÁSTRICA ❏ Radiografia em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais pode ser obtida em pacientes que não conseguem se manter em pé; ❏ Exame de baixo rendimento prático, uma pequena porcentagem é anormal; ❏ Útil na obstrução intestinal, perfuração intestinal ou quando um corpo estranho radiopaco é suspeito; ❏ Diagnóstico de perfuração intestinal pode ser confirmada pela presença de ar livre intraperitoneal na radiografia de tórax (em posição ortostática); ❏ Sensibilidade diminui em pacientes com a cirurgia abdominal anterior ou perfuração bloqueada; ❏ Pneumoperitônio: 5 mL de ar livre é detectado em radiografia, enquanto uma radiografia de tórax na posição vertical detecta tão pouco como 1 a 2 mL após o paciente permanecer na posição vertical por 5 a 10 minutos; ❏ Se o intestino delgado encontra-se dilatado mais do que 2,5 cm sugere obstrução, além de distensão gasosa e níveis hidroaéreos; ❏ Pacientes com isquemia mesentérica apresentam exame normal no quadro inicial, mas tardiamente podem revelar pneumatose intestinal, espessamento da parede intestinal e íleo ao exame de imagem. Ultrassonografia (USG): ❏ Exame de escolha na gravidez, pela ausência de radiação; ❏ É o estudo inicial na suspeita de aneurisma aorta abdominal (AAA) ou doença na vesícula biliar; ❏ Avalia quadros de gravidez ectópica, hemoperitônio, cólica renal/hidronefrose, pancreatite e trombose venosa. Tomografia computadorizada (TC): ❏ Estudo de escolha na avaliação de dor abdominal indiferenciada; ❏ Dois terços dos pacientes que apresentam dor abdominal aguda tem seu diagnóstico definido na tomografia; ❏ Particularmente útil em idosos; ❏ Em pacientes com aneurisma de aorta abdominal estáveis, a TC é um excelente estudo para definir o tamanho da aorta e a extensão do aneurisma; ❏ Útil na hemorragia retroperitoneal; ❏ Não é prejudicada pela presença de gás intestinal ou obesidade e tem sensibilidade de cerca de 100% no diagnóstico de aneurisma de aorta abdominal. Angiografia: Útil no diagnóstico e no tratamento da isquemia mesentérica, mas, se o paciente estiver em estado de choque ou necessitando de vasopressores, o diagnóstico deve ser feito durante a laparotomia; Pearls & Pitfalls: Diagnóstico Rápido As 15 etiologias de abdome agudo: ❏ Pancreatite aguda: dor contínua em abdome superior com irradiação para o dorso + vômitos importantes; ❏ Colecistite aguda: dor contínua em hipocôndrio direito > 6 horas com irradiação escapular após alimentação gordurosa; ❏ Colangite aguda: dor contínua em hipocôndrio direito + febre com calafrios + icterícia (tríade de Charcot); ❏ Apendicite aguda: dor inicialmente periumbilical que migra para dor intensa localizada na fossa ilíaca direita + massa palpável na FID; ❏ Diverticulite aguda: dor inicialmente periumbilical que migra para dor intensa localizada na fossa ilíaca esquerda + massa palpável na FIE; ❏ Peritonite difusa: dor súbita, difusa e de grande intensidade que piora com movimentação + sinais de defesa abdominal + descompressão súbita dolorosa; ❏ Úlcera duodenal: dor subesternal em queimação que alivia com alimentação e uso de antiácidos; ❏ Aneurisma roto de aorta abdominal: dor mesogástrica súbita + massa pulsátil + hipotensão; ❏ Isquemia mesentérica aguda: dor difusa desproporcional ao exame + acidose metabólica + fibrilação atrial; ❏ Obstrução intestinal mecânica: dor difusa em cólica + distensão abdominal + hiperperistaltismo,seguido de aperistalse; ❏ Obstrução intestinal funcional: dor difusa em cólica + distensão abdominal + hipoperistaltismo; ❏ Dor de parede abdominal: dor que piora com a contração do abdome; ❏ Nefrolitíase/pielonefrite: dor lombar + disúria + punho-percussão positiva (+ febre com calafrios na pielonefrite); ❏ Cetoacidose diabética: dor abdominal + desidratação + hiperglicemia + acidose; ❏ Gastroenterite: dor em cólica + náuseas e vômitos + diarreia aquosa. Abordagem Terapêutica Estabilização Avaliar estado hemodinâmico: ❏ Sinais vitais e nível de consciência; descartar hemorragia e hipovolemia; ❏ Em caso de instabilidade hemodinâmica: acesso venoso periférico + reposição volêmica + monitorização cardíaca + oxigênio suplementar + manter as vias aéreas pérvias + avaliar necessidade de hemotransfusão; ❏ Prioridade é identificar condições que ameacem a vida do paciente; ❏ Pacientes em choque ou com sinais de peritonite necessitam de avaliação cirúrgica imediata; ❏ Enquanto as avaliações do especialista e dos exames de imagem são realizados, mantenha o paciente estável com reposição volêmica, transfusão de hemoconcentrados, aminas vasoativas ou outras manobras que auxiliem no tratamento da causa subjacente, sempre respeitando suas indicações e contraindicações. Alívio Sintomático Analgésicos e antieméticos: ❏ Os opióides podem alterar o exame físico dos pacientes com dor abdominal aguda, mas eles não interferem negativamente na conduta; ❏ Monitorização cuidadosa dos efeitos das drogas, principalmente a depressão respiratória no uso de opioide; ❏ Pacientes com dependência de opiáceos ou dor crônica requerem doses maiores; ❏ O objetivo da analgesia é reduzir a dor, tornando-a suportável pelo paciente, deixando o mesmo mais cooperativo para o exame abdominal, e nunca eliminá-la por completo ou provocar sonolência. Mulher Excluir gestação e doenças pélvicas: ❏ Exame físico (incluindo ginecológico) + beta-HCG; ❏ USG transabdominal/transvaginal (se necessário). TRAUMA ABDOMINAL Paciente admitido com instabilidade hemodinâmica de foco indeterminado = busca ativa de sangramento abdominal; A avaliação da circulação no atendimento primário inclui a identificação precoce de hemorragia de origem abdominal/pélvica em paciente de trauma contuso Ferimentos penetrantes no tronco entre mamilos e períneo também devem constar a avaliação para possível lesão intraperitoneal Apresentação Clínica ➔ Mecanismo de trauma (contuso/penetrante/misto); ● Número de vítimas e seu estado clínico; ● Tempo decorrido entre o trauma e atendimento; ● Volume de sangue perdido presente na cena do acidente; ❏ Contuso: tipo de colisão (capotamento, frontal, lateral, posterior); velocidade; uso de dispositivos de segurança (air bag, capacete, cinto de 2 ou 3 pontas); ejeção do veículo; ❏ Penetrante: tipo de arma utilizada: arma de fogo ou branca; distância entre agressor e vítima; tamanho da arma branca; trajetória/trajeto do PAF; ❏ Queixa de dor abdominal: localização; intensidade; irradiação. 2 - OBJETIVO: APENDICITE Inflamação do apêndice cecal, importante causa de abdome agudo. Fisiopatologia Início do quadro se dá por obstrução do apêndice cecal por: ➢ Fecalitos/apendicolitos; ➢ Hiperplasia de folículos linfóides; ➢ Neoplasias apendicular ou cecal (carcinoide, adenocarcinoma, cistoadenoma mucinoso); ➢ Parasitas; ➢ Corpos estranhos. Segue com aumento da produção de muco intraluminal, distensão e proliferação bacteriana, inflamação intensa com aumento da tensão transmural e risco de necrose e perfuração. Microbiologia: aeróbios e anaeróbios, principalmente E. coli, Bacterioides spp. Epidemiologia Causa mais comum de abdome agudo; Mais comum nas 2ª e 3ª décadas de vida; Discreta predileção pelo sexo masculino; Emergência cirúrgica não obstétrica mais comum durante a gestação; Risco aumentado em três vezes em membros de famílias que possuem história positiva; Risco de malignidade associada é de 1%; Apresentação Clínica Dor abdominal difusa, com posterior migração para a fossa ilíaca direita (FID); Devido a sua localização variada, o apêndice pode gerar padrões variados de dor: ➢ irradiação lombar; hipocôndrio direito; hipogástrica; Anorexia (sinal mais precoce); Náuseas ou vômitos; Febre; Queda do estado geral. Exame Físico Dor à palpação no ponto de McBurney; Sinal de Blumberg: dor à descompressão súbita no ponto de McBurney (localizado na fossa ilíaca direita); Sinal de Rovsing: dor na fossa ilíaca direita à palpação da fossa ilíaca esquerda. ➢ Palpação no cólon descendente desloca os gases para o cólon ascendente, atingindo o apêndice inflamado hipersensível, provocando dor; Sinal de Lenander: temperatura retal maior que a temperatura axilar em mais de 1ºC; Sinal de Dunphy: dor na FID que piora com a tosse; Sinal de Aaron: dor epigástrica referida à palpação do ponto de McBurney; Sinal do Iliopsoas: dor à extensão e abdução da coxa direita com o paciente em decúbito lateral esquerdo. Presente no apêndice retrocecal; Sinal de Lapinsky: dor à compressão da FID enquanto se eleva o membro inferior direito esticado. Presente no apêndice retrocecal; Sinal do obturador: dor hipogástrica à flexão e rotação interna do quadril. Presente no apêndice pélvico; Sinais de peritonite: dor abdominal difusa, localizada, descompressão dolorosa, abdome em tábua; ➢ Dor à percussão, soluços ou tosse (comum em crianças); ➢ Massa abdominal (suspeita de abscesso); ➢ Plastrão abdominal localizado; ➢ Redução do peristaltismo ou até mesmo ausência. Abordagem Diagnóstica Clínico, dispensando exames complementares confirmatórios. Exames Laboratoriais Avaliação de gravidade do comprometimento sistêmico e sepse. Possíveis achados: leucocitose com ou sem desvio à esquerda, elevação de PCR, piúria. Importante solicitação de teste de gravidez (ß-HCG) em mulheres em idade reprodutiva para diagnóstico diferencial. Exames Complementares A) Ultrassonografia de abdome: Exame de eleição em gestantes e crianças; Sensibilidade moderada (86%), especificidade (81%); Achados: espessamento, sinal do alvo, líquido pélvico, estrutura tubular não compressível > 6 mm; Limitações: operador dependente, obesos, grande distensão de alças; Ultrassonografia pélvica/transvaginal são relevantes na avaliação de mulheres; B) Tomografia de abdome: Dúvida no diagnóstico clínico (em crianças, adultos mais velhos, mulheres em idade fértil, diabetes, obesidade e imunossupressão); Considerar em quadros de risco intermediário; Melhor avaliação em pacientes obesos, pela limitação da ultrassonografia; Inicialmente, solicita-se TC de abdome total sem contraste, sendo o exame com contraste oral e venoso considerado em casos duvidosos; Não realizar TC de abdome em crianças antes da realização de ultrassom abdominal; Importante papel em idosos por conta de quadros neoplásicos simulando apendicite aguda; Principais achados: Diâmetro > 6 mm, com oclusão do lúmen; Espessamento da parede do apêndice (> 2 mm); Densificação da gordura periapendicular; Apendicolito. C) Ressonância magnética de abdome: Utilizada como alternativa à tomografia em gestantes ou crianças; Achados: líquido pélvico, linfadenopatia, edema do íleo terminal. Escore de Alvarado - Boa sensibilidade, porém baixa especificidade. Define a probabilidade diagnóstica de apendicite aguda a partir da análise da soma de 8 parâmetros clínico-laboratoriais, com pontuação máxima de 10: ❏ Três sintomas: Anorexia (1 ponto); Náusea e/ou vômitos (1 ponto); Dor típica migratória (1 ponto); ❏ Três sinais: Dor em fossa ilíaca direita (2 pontos); Defesa à descompressão (1 ponto); Temperatura ≥ 37,3 °C (1 ponto); ❏ Dois achados laboratoriais: Leucocitose > 10.000/mm³ (2 pontos); Polimorfonucleares (PMN) ≥ 75% (1 ponto). Classificação e conduta: ● 0-3: baixo risco: Orientação para retorno se não melhora ou piora da clínica; Probabilidade de apendicite aguda: 3,7% adultos e 1,9% em crianças; ● 4-6: risco moderado: Admissão para observação e reavaliação; Se a pontuação continuaa ser a mesma em 12 horas, indica-se cirurgia; Se paciente do sexo feminino, considerar TC de abdome; Probabilidade de apendicite aguda: 45% adultos e 12% em crianças ● ≥ 7: alto risco: Se paciente do sexo masculino, proceder à apendicectomia; Se paciente do sexo feminino não grávida, indica-se laparoscopia diagnóstica ou TC de abdome; Probabilidade de apendicite aguda: 87% adultos e 67% em crianças. Classificação Apendicite simples (não complicada): Edematosa/flegmatosa: Forma reversível; ❏ Aspecto macroscópico: congestão, alteração de coloração, aumento no diâmetro, exsudato, pus; ❏ Aspecto microscópico: inflamação transmural, ulceração ou trombose com ou sem pus extramural. Apendicite complicada/complexa: Gangrena: Aspecto macroscópico: apêndice friável, arroxeado/esverdeado ou enegrecido; Aspecto microscópico: inflamação transmural com necrose; Perfuração iminente; Perfuração: Aspecto macroscópico: perfuração visível; Maior risco de complicações pós-operatórias; Mais comum em homens e idosos; Abscessos (pélvico/abdominais): Aspecto macroscópico: massa identificada durante o exame ou abscesso em imagem pré-operatória ou durante a cirurgia; Aspecto microscópico: inflamação transmural com pus com ou sem perfuração; Maior risco de complicações pós-operatórias. Abordagem Terapêutica Analgesia: Combinações de analgésicos comuns (dipirona, paracetamol), anti-inflamatórios não esteroidais e opióides; O controle álgico não aumenta significativamente o risco de intervenção cirúrgica tardia ou desnecessária, assim como não altera o escore de Alvarado. ➢ Hidratação, correção de distúrbios hidroeletrolíticos. ➢ Monitorização dos sinais vitais. Tratamento Conservador: primeira linha de tratamento Indicação: Apendicite simples não complicada tanto para crianças quanto para adultos. Antibioticoterapia: ➢ Cobertura para aeróbios e anaeróbios; ➢ Uso intravenoso por pelo menos 1-3 dias, depois seguir para via oral; ➢ Observação hospitalar; ➢ Total de terapia: 7-10 dias. Resultados: ➢ Resposta adequada inicialmente em 90% dos casos. Os 10% restantes necessitam de cirurgia de resgate; ➢ Comparado com o tratamento operatório, os pacientes de tratamento conservador apresentaram dor menor ou similar, menores doses de opioides, retorno precoce ao trabalho e não apresentaram maior risco de perfuração; ➢ Cerca de 20-40% dos pacientes necessitam de apendicectomia durante o primeiro ano após o tratamento, tanto adultos quanto crianças. ➢ Preditores: PCR < 60 mg/L, leucograma < 12.000, idade < 60 anos. Controversas/ressalvas: ➢ Dificuldade da tomografia abdominal em definir o quadro complicado; ➢ Maior risco para pacientes idosos, imunossuprimidos ou comorbidades. Seguimento: ➢ Risco de 1,2% de malignidade associada aos quadros tratados conservadoramente; ➢ Seguimento com colonoscopia ou colonoscopia, indicado para abscessos apendiculares tratados conservadoramente em pacientes com ≥ 40 anos ou com sintomas, sinais laboratoriais/radiológicos suspeitos para malignidade colônica. Apendicite Aguda Não Complicada É a apendicectomia realizada por via aberta ou laparoscópica. Tempo: No paciente estável, pode ser realizada dentro de 12 horas; Postergar a realização do procedimento em mais de 48 horas aumenta o risco de infecção de sítio cirúrgico e outras complicações; Fatores de risco para perfuração: Idade avançada, três ou mais comorbidades, sexo masculino, longo período entre o início dos sintomas e o diagnóstico/cirurgia. Antibióticos: Antibioticoprofilaxia: deve ser aplicada antes de 60 minutos da incisão Amplo espectro para gram negativos e anaeróbios; Opções: cefoxitina, cefazolina + metronidazol, ciprofloxacino/levofloxacino/gentamicina + clindamicina/metronidazol; Metronidazol com cefalosporinas ou piperacilina-tazobactam (suspeita de apendicite complicada); Continuação do antibiótico com fim terapêutico, conforme a gravidade do quadro: ➢ Não manter além de 24 horas em quadros simples; ➢ Manter por 3-5 dias, por via venosa, em quadros complicados/perfuração (tempo variável conforme sinais clínicos, como ausência de febre por 24 horas, boa tolerância da dieta - duas refeições consecutivas, mobilização independente, analgesia oral); Informar ao paciente do risco de formação de abscessos no pós-operatório em apendicite perfurada. Vias: Laparoscópica apresenta vantagens como: menor taxa de infecção de sítio cirúrgico, menor dor no pós-operatório imediato, menor tempo de internação hospitalar, menor formação de aderências; Vantagens de via aberta incluem: menor taxa de abscessos intra-abdominais, menor tempo cirúrgico; Preferência pela via laparoscópica: Dúvida diagnóstica: Obesos; Idosos. Novas modalidades terapêuticas existem na literatura, incluindo cirurgia laparoscópica por incisão única, cirurgia endoscópica transluminal por orifício natural (NOTES), via transvaginal ou transgástrica, sendo ainda controversas. Cuidados pós-operatórios: ➢ Iniciar com dieta leve dentro de 24-48 horas da cirurgia conforme aceitação; ➢ Em quadros não complicados, não continuar os antibióticos; ➢ Mobilização precoce. Apendicite Aguda Complicada Embora seja suspeitada em casos de evolução mais prolongada, pode ocorrer em 20% dos casos dentro das primeiras 24 horas. O seu manejo depende da condição do paciente, natureza da perfuração (contida ou livre) ou se abscessos/flegmão estão presentes. Pacientes instáveis ou com perfuração livre: Relacionada à peritonite difusa ou fecal; Pacientes sépticos, necessitando de reanimação pré-operatória; Indicada apendicectomia de emergência com drenagem e irrigação da cavidade peritoneal; Deve-se realizar a drenagem de todos os abscessos, irrigação copiosa da cavidade; Drenos não são necessários mesmo nos casos complicados. Pacientes estáveis (com abscessos ou flegmão): Pode ser indicada cirurgia de urgência ou tratamento não operatório; Idealmente, tratamento de forma conservadora com antibioticoterapia venosa, repouso intestinal e drenagem percutânea guiada por imagem de abscessos acessíveis, com monitorização intra-hospitalar; Antibióticos: ertapeném; piperacilina-tazobactam; cefuroxima, ceftriaxona, ciprofloxacino ou levofloxacino associados com metronizadol; Cirurgia imediata associada com aumento de morbidade (RR 3.3, IC 95%) e risco de ressecção ileocecal desnecessária; Falha do tratamento conservador indica apendicectomia de imediato: obstrução intestinal, sepse, dor persistente, febre, leucocitose; Havendo redução da leucocitose, febre e dor, dieta pode ser reintroduzida gradativamente após 3-5 dias; Revisão em 6-8 semanas após alta hospitalar. Aqueles com mais de 40 anos deverão ser submetidos à colonoscopia; Deve-se realizar apendicectomia de intervalo, após o quadro inicial tratado de forma conservadora, com o objetivo de diagnosticar neoplasia e evitar recorrência; 4 - OBJETIVO: APENDICETOMIA CONVENCIONAL 1. Posicionamento do paciente em decúbito dorsal horizontal. 2. Cuidados de assepsia e antissepsia e colocação de campos operatórios. 3. Incisão: à McBurney (oblíqua) / à Rockey-Davis (transversa) / Mediana infraumbilical. 4. Diérese por planos. 5. Ao inventário da cavidade: descrever presença de coleções, sinais de peritonite, fezes ou pus livre em cavidade, aspecto do apêndice cecal e seu posicionamento, presença de lesões suspeitas, definir a coleta de material para cultura. 6. Isolamento do apêndice cecal das demais estruturas até sua base. 7. Isolamento no mesoapêndice, ligadura/ clipagem da artéria apendicular, com posterior secção da mesma. 8. Apendicectomia (definir a técnica utilizada): Com grampeador linear (especificar carga); Secção e ligadura do coto com fio absorvível (categute 2-0, vicryl 3-0). 9. Invaginação do coto apendicular por meio de bolsa de tabaco com fio de prolene 3-0 (se aplicável). 10. Lavagem copiosa da cavidade com solução fisiológica. 11. Revisão da hemostasia. 12. Colocação de dreno aspirativo (opcional conforme o caso). 13. Síntese da aponeurosecom prolene 0-0 / vicryl 0-0 (plano único ou múltiplo). 14. Síntese cutânea com nylon 3-0 / monocryl 4-0. 15. Curativo APENDICECTOMIA VIDEOLAPAROSCOPICA 1. Posicionamento do paciente em decúbito dorsal horizontal. 2. Cateterização vesical de demora. 3. Cuidados de assepsia e antissepsia e colocação de campos operatórios. 4. Incisão transumbilical. 5. Confecção do pneumoperitônio (especificar técnica Hasson, agulha de Veres). 6. Colocação dos trocartes de trabalho: 11-12 mm umbilical, 5 mm suprapúbico, 10 mm fossa ilíaca esquerda. 7. Ao inventário da cavidade: Descrever presença de coleções, sinais de peritonite, fezes ou pus livre em cavidade, aspecto do apêndice cecal e seu posicionamento, presença de lesões suspeitas, definir a coleta de material para cultura. 8. Isolamento do apêndice cecal das demais estruturas até sua base. 9. Isolamento no mesoapêndice, ligadura/clipagem da artéria apendicular, com posterior secção da mesma. 10. Apendicectomia (definir a técnica utilizada): Com grampeador linear (especificar carga); Clip metálico; Hemolock. 11. Retirada do apêndice protegido pelo trocarte umbilical. 12. Lavagem copiosa da cavidade com solução fisiológica. 13. Revisão da hemostasia. 14. Colocação de dreno aspirativo (opcional conforme o caso). 15. Retirada dos trocartes de trabalho sob visualização direta. 16. Síntese da aponeurose umbilical com prolene 0-0 / vicryl 0-0. 17. Síntese cutânea com nylon 3-0 / monocryl 4-. 18. Curativos. CEFALOTINA SÓDICA OU CEFALOTINA Classe : Cefalosporina de 1ª geração. Mecanismo de Ação: Inibe a síntese da parede celular bacteriana pela ligação a proteínas de ligação à Penicilina (PBPs) que, por sua vez, inibe a etapa final de transpeptidação da síntese de peptidoglicano nas paredes celulares bacterianas, inibindo assim a biossíntese da parede celular. METRONIDAZOL Classe: Derivado imidazólico. Mecanismo de Ação: Interage com o DNA para causar perda da estrutura helicoidal do DNA e quebra da fita, resultando em inibição da síntese de proteínas e morte celular em organismos suscetíveis. CLORIDRATO DE CIPROFLOXACINO Classe: Quinolona. Mecanismo de Ação: Inibe a topoisomerase bacteriana do tipo II (DNA girase) e a topoisomerase IV, necessárias para a replicação, transcrição, reparo e recombinação do DNA bacteriano. USO: na Apendicite perfurada, abscesso local ou peritonite: Ciprofloxacino 400 mg EV de 12/12 horas + Metronidazol 500 mg EV de 8/8 horas;
Compartilhar