Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

4 
 
ESTUPRO CONJUGAL: POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO E 
FORMAS DE REPRESSÃO OFERECIDAS PELO CÓDIGO PENAL 
 
Thaís Vasco Cavalcante1 
Henrique Geaquinto Herkenhoff2 
 
RESUMO 
Tendo como base a pesquisa exploratória, focada no levantamento bibliográfico, e 
citando autores como Guilherme de Souza Nucci e Damásio Evangelista de Jesus, o 
artigo traz, primeiramente, um breve apanhado sobre o histórico do estupro, bem 
como conceitos de estupro conjugal e do débito no casamento, discorrendo, em 
seguida, sobre os agentes ativo e passivo, objeto jurídico tutelado e consumação e 
tentativa. Há, também, uma análise das divergências doutrinárias sobre a 
possibilidade do marido figurar como agente ativo no crime, citando a produção de 
provas necessária para comprovação do delito e as penalidades aplicadas ao 
agressor, conforme Código Penal. Ao fim, há a conclusão de que o cônjuge pode 
figurar como sujeito ativo quando empreender força ou grave ameaça para obter 
relação sexual com a esposa, não sendo suficiente provar apenas a realização da 
conjunção carnal, devendo haver comprovação da violência ou grave ameaça 
sofrida mediante prova pericial ou testemunhal para que haja caracterização do 
crime de estupro e o agressor seja penalizado com reclusão, incorrendo no aumento 
de pena por ser marido da vítima, estando sujeito, também, a aplicação de 
qualificadoras conforme resultado causado. 
Palavras-chave: estupro conjugal; produção de provas; penalidades. 
 
ABSTRACT 
Based on the exploratory research, focused on the bibliographical survey, and citing 
authors such as Guilherme de Souza Nucci and Damásio Evangelista de Jesus, the 
article first brings a brief account of the history of rape as well as concepts of 
conjugal rape and debt Without marriage, then discussing the active and passive 
agents, legal object guarded and consummation and attempt. There is also an 
analysis of the doctrinal divergences on the possibility of the husband to appear as 
an active agent in the crime, citing the production of evidence necessary for proving 
the offense and as penalties applied to the aggressor, according to the Penal Code. 
At the end, there is a conclusion that the spouse may appear as an active subject 
 
1 Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Vila Velha-UVV/ES. 
2 Professor do Curso de Direito da Universidade Vila Velha-UVV/ES. Doutor em Direito Civil pela 
Universidade de São Paulo. Advogado. 
5 
 
when he undertakes force or serious threat to the sexual relation with a wife, and it is 
not enough to prove only a fulfillment of the carnal conjunction, and there must be 
proof of violence or serious threat based on expert evidence or testimony to 
characterize the crime of rape and the offender is penalized with imprisonment, 
incurring without increased penalty for being the husband of the victim, and is 
subject, also, an application of qualifiers according to the result caused. 
 
Keywords: conjugal rape; production of evidence; penalties. 
 
SUMÁRIO: 
1 INTRODUÇÃO; 
3 CONCEITOS: ESTUPRO, ESTUPRO CONJUGAL E DÉBITO CONJUGAL; 
4 SUJEITO ATIVO, SUJEITO PASSIVO, OBJETO TUTELADO PELO 
ORDENAMENTO JURÍDICO, CONSUMAÇÃO E TENTATIVA; 
5 POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO DO ESTUPRO CONJUGAL; 
6 PRODUÇÃO DE PROVAS; 
7 PENALIDADES PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL, CAUSAS DE AUMENTO DE 
PENA E AÇÃO PENAL; 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS; 
9 REFERÊNCIAS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1 INTRODUÇÃO 
Há algum tempo, as famílias eram patriarcais, ou seja, tinha-se o homem como 
detentor das decisões, como o chefe da família. Todos eram submetidos aos seus 
desejos e deviam respeitar suas ordens. Com as esposas não era diferente, pois as 
mulheres eram vistas como posse do marido, sendo submissas e obedientes às 
suas vontades. Com a ideia de posse, o marido fazia com a mulher o que bem 
entendia, pois a mesma era “sua” e nada poderia ser feito. 
Com o passar do tempo as mulheres foram conquistando seus direitos e buscando 
igualdade perante os homens. Tal fato foi consolidado na Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, inciso I, que versa sobre os direitos 
igualitários entre homens e mulheres. Apesar da conquista de direitos e a teórica 
igualdade legal, a sociedade ainda permanece extremamente machista e fecha os 
olhos para muitos problemas enfrentados pelas mulheres. Muitas delas ainda são 
alvos de homens nas ruas, nos meios de transporte, nas escolas e, inclusive, em 
casa. Muitas esposas acabam, conscientemente ou não, sendo vítimas de seus 
próprios maridos e sofrendo diferentes tipos de agressões, tanto fisicamente como 
moralmente. 
Homens ainda se sentem no direito de exigir que suas parceiras satisfaçam suas 
vontades quando bem entenderem. O débito conjugal, trazido no seio da sociedade, 
faz com que muitos acreditem que é obrigação da mulher satisfazer os desejos 
masculinos a qualquer hora, ocasionando brigas e até mesmo violência física. A 
coação ainda está presente dentro de muitas residências, muitas vezes sem ser 
notada. Desta forma, indaga-se: quais são as formas de repressão oferecidas pelo 
Código Penal Brasileiro a partir da configuração do estupro conjugal? 
Seguindo tal indagação, o presente trabalho visa apresentar um breve histórico do 
estupro, bem como seu conceito, expandindo o tema e conceituando, também, o 
estupro marital e o débito conjugal, fazendo análises sobre o sujeito ativo, sujeito 
passivo, objeto jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico e averiguando as formas 
tentadas e consumadas do crime. Investiga-se, também, a configuração do estupro 
no casamento, considerando as divergências doutrinárias existentes, adentrando-se, 
além de tudo, no quesito da produção de provas para, por fim, discorrer sobre as 
sanções aplicadas ao agressor e sobre as causas de aumento de pena. 
7 
 
O artigo foi desenvolvido por meio de método dedutivo, com base em pesquisa de 
natureza exploratória, voltada para o estudo bibliográfico. Foram usados materiais já 
produzidos, tais como livros, sendo citados autores como Guilherme de Souza Nucci 
(2014) e Rogério Greco (2013), pois trazem conceitos e debates necessários para 
discussão e análise do tema em questão, tal como a possibilidade do marido figurar 
como sujeito ativo no delito de estupro marital. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
3 CONCEITOS: ESTUPRO, ESTUPRO CONJUGAL E DÉBITO CONJUGAL 
O estupro, crime tipificado no Código Penal, versa sobre o emprego de violência ou 
grave ameaça para a obtenção da conjunção carnal. Ainda que se preconceba de 
outro modo, tanto o agressor como a vítima podem ser homem ou mulher, bastando 
que o primeiro faça uso da força física ou violência moral para obter seu objetivo 
sexual. 
Conforme consta no artigo 213 do Código Penal: “Art. 213. Constranger alguém, 
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir 
que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) 
anos.” (BRASIL, 1940). Desta forma, Dámasio de Jesus entende que o ordenamento 
jurídico protege a livre opção e a necessidade de consentimento nas relações 
sexuais. A pessoa tem o direito de escolher se quer dispor ou não do próprio corpo, 
praticar com liberdade os atos sexuais e escolher seus parceiros. Esse livre-arbítrio 
pode ser violado mediante o uso de força física ou constrangimento moral, havendo, 
então, o comprometimento da disposição de vontade do agente passivo. Sobre o 
constrangimento, ainda de acordo com Damásio: 
 Constranger significa obrigar, forçar. Para que exista o constrangimento é 
necessário que haja o dissenso da vítima. É preciso que a falta de 
consentimento da ofendida seja sincera e positiva, que a resistência seja 
inequívoca, demonstrando a vontade de evitar o ato desejado pelo agente.(2011, p. 127) 
Capez (2015) esclarece que a conjunção carnal consiste na cópula vagínica, ou 
seja, a introdução o pênis na vagina. Explica também sobre o significado de 
constranger, afirmando que tal ato versa sobre o uso da força, coação. Acerca do 
emprego da violência, aborda que o estupro é, na verdade, um tipo de crime em que 
ocorre a imposição ilegal da vontade do agressor, visto que a vítima é constrangida, 
mediante grave ameaça ou violência, a praticar ato sexual com o mesmo. A 
agressão física é capaz de obrigar a vítima a praticar algo diverso da sua vontade, e, 
ainda mais facilmente, a suportar que com ela seja praticado, pois não consegue 
agir, fica impedida de resistir à conjunção. Já a agressão moral é a que atua no 
psicológico da vítima, sendo a potência eficaz para acabar com sua faculdade de 
querer. 
O estupro conjugal é considerado uma modalidade específica do estupro tipificado 
no já mencionado Código Penal. Consiste na violência sexual empregada pelo 
9 
 
marido com o intuito de obter a união conjugal contra a vontade da esposa, podendo 
ocorrer tanto através da agressão física, como da agressão moral. 
Segundo Capez (2008), o emprego de violência ou grave ameaça pelo marido para 
realizar a conjunção carnal, constrangendo a mulher ao exercício de tal prática, 
também implica o crime de estupro. A violência ocorre da mesma forma que no 
crime de estupro comum, porém a diferença está nos sujeitos ativo e passivo do 
crime, pois enquanto no crime comum o feito pode ser realizado por qualquer 
pessoa, no estupro marital o delito tem os cônjuges como agente e vítima. 
Dessa forma, entende-se que o estupro conjugal é uma modalidade do estupro 
comum, sendo diferido apenas quanto ao sujeito ativo e passivo, pois no crime de 
estupro os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa, enquanto no delito 
que ocorre dentro do casamento figuram como sujeitos do crime o marido e a 
mulher. 
O inciso II do artigo 1566 do Código Civil versa sobre “vida em comum, no domicílio 
conjugal”, utilizando de um eufemismo para designar a convivência “íntima”. Assim, 
embora de maneira transversa, o ordenamento jurídico ainda admite o “débito 
conjugal”, ou seja, o dever recíproco de manter relações sexuais. Segue o artigo 
1566, que diz: 
 Art.1566. São deveres de ambos os cônjuges: 
I – fidelidade recíproca; 
II – vida em comum, no domicílio conjugal; 
III – mútua assistência 
IV – sustento, guarda e educação dos filhos; 
V – respeito e consideração mútuos. (BRASIL, 2002) 
De fato, conforme Venosa (2007), a união de corpos e espíritos é consequência da 
vida em comum prevista no ordenamento jurídico, não podendo ser levianamente 
não exercida. Explica que tal consequência é o débito conjugal, expressão vinda do 
Direito Canônico, e que significa a mútua entrega dos cônjuges para satisfazer as 
necessidades sexuais do outro e propiciar a reprodução. Desta forma, o débito 
conjugal é a satisfação recíproca dos desejos sexuais do cônjuge, visando manter a 
fidelidade e a união de espíritos entre o casal, bem como permitir a perenização da 
espécie. 
Nesse contexto, nota-se que o débito conjugal, enraizado na sociedade, torna mais 
difícil a identificação do crime de estupro no casamento, pois entende que a vida 
10 
 
íntima do casal inclui relações sexuais. Desta forma, o crime depende de vasta 
produção de provas para ser caracterizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
4 SUJEITO ATIVO, SUJEITO PASSIVO, OBJETO TUTELADO PELO 
ORDENAMENTO JURÍDICO, CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Muitos autores discutiram acerca da possibilidade de o marido ser sujeito ativo do 
crime de estupro. Atualmente, porém, é praticamente pacífico o entendimento 
doutrinário de que é possível ao cônjuge praticar o estupro, por ser a liberdade (e a 
dignidade) sexual um direito inviolável e preponderante sobre o débito conjugal. 
Sobre a divergência acerca da possibilidade do marido figurar no polo passivo da 
ação, Delmanto (2000) explica que os doutrinadores conservadores partiam da 
consideração de que o estupro é uma espécie de constrangimento ilegal, e 
sustentavam que, sendo direito do marido manter relações sexuais com a própria 
esposa - estando ela, portanto, obrigada ao ato sexual - não havia nisto 
constrangimento contrário ao direito; o marido responderia tão-somente pela 
violência de que se servisse, não pelo crime de estupro. 
Para Fuhrer (2009), é cada vez mais sólido o entendimento jurisprudencial 
considerando não ser mais possível a exigência violenta do débito conjugal, 
podendo o marido ser sujeito ativo no crime de estupro contra a esposa. Sobre o 
tema, versa Damásio de Jesus: 
 Entendemos que o marido pode ser sujeito ativo do crime de estupro 
contra a própria esposa. Embora com o casamento surja o direito de manter 
relacionamento sexual, tal direito não autoriza o marido a forçar a mulher ao 
ato sexual, empregando contra ela violência física ou moral que caracteriza 
o estupro. Não fica a mulher, com o casamento, sujeito aos caprichos do 
marido em matéria sexual. (1999, p.213) 
Atualmente, não há mais o que se discutir a respeito da possibilidade do marido ser 
o executor do estupro, visto que é inegável e reconhecido legalmente o direito da 
mulher à integridade de seu corpo, sendo proibido que o mesmo seja violado por 
formas ilícitas, tais como a violência física ou moral. (CAPEZ, 2015; BITENCOURT, 
2010). 
Sobre a possibilidade de a esposa ser sujeito passivo no estupro marital, discorre 
Bitencourt (2010) que a ilegalidade da coação realizada pelo cônjuge para efetivar a 
união sexual forçada não é considerada exercício regular do direito, pois a 
autonomia sexual é direito da mulher, não se levando em conta qualquer 
característica da mesma, podendo ela ser casada, solteira, virgem etc. 
12 
 
Quando o crime de estupro ocorrer contra a mulher, o fato de ela ser virgem importa 
somente enquanto circunstância agravante, visto que a violação tende a ser mais 
intensa e traumática ao passo que o fato de ser solteira ou casada já não tem muita 
relevância. O objetivo da norma é resguardar o direito à individualidade, de poder 
dispor voluntariamente do próprio corpo; (MIRABETE, 2000) nos dias que correm, a 
não há necessidade, na dosimetria da pena, de levar em consideração a dificuldade 
maior ou menor em contrair matrimônio. 
Com a criminalização do estupro, o legislador moderno teve como objetivo proteger 
a liberdade sexual e garantir o direito de livre escolha na prática das relações 
sexuais. A respeito da objetividade jurídica, Mirabete (2004) afirma que com a 
criminalização do estupro não se busca defender apenas a integridade física 
feminina, mas o direito de dispor de seu corpo conforme sua vontade, não devendo 
ser submetida a qualquer ato que não seja de sua pretensão. Ainda sobre a tutela 
jurídica, versa Romeu de Almeida Salles Jr.: 
 A expressão ‘liberdade sexual’ deve ser interpretada no sentido amplo, 
abrangendo todas as manifestações normais e anormais do instinto sexual. 
Equivale à liberdade carnal, direito da pessoa de dispor do próprio corpo 
nas relações sexuais. A coletividade se interessa pela proteção desse bem 
jurídico, embora seja ele essencialmente individual. É necessário para a 
moralidade pública. (1996, p. 213) 
A proteção da integridade sexual surge a partir do valor da vida humana, ocorrendo 
irradiação no ordenamento jurídico. A dignidade humana norteia o aplicador da lei. 
Portanto, a tutela da integridade sexual está ligada à livre escolha da vítima, 
preservando seu estado corporal, mental e psicológico. Capez (2015) ressalta, 
ainda, que o ordenamento jurídico sempre buscou proteger a liberdade sexual para 
que as relações de cunho sexual com alguém não ocorramsenão de forma 
voluntária. 
O objeto jurídico defendido, a partir da criminalização do uso de violência para 
realização de atos sexuais, é a liberdade que a pessoa possui de escolher seus 
parceiros, não podendo ser submetida a nenhum tipo de coação. Ela pode se 
recusar à conjunção carnal quando bem entender, inclusive ao próprio cônjuge 
(BITENCOURT, 2010), ainda que, neste último caso, se a recusa for injustificada, 
possa surgir uma justa causa para o divórcio, nos sistemas legais nos quais isso 
seja relevante. 
13 
 
O estupro conjugal, assim como o comum, pode ocorrer na forma tentada ou 
consumada. A consumação consiste da plena realização do ato, enquanto a 
tentativa compreende a interrupção do feito por motivos diversos à vontade do 
sujeito ativo, circunstâncias alheias ao que pretendia o causador do delito. 
Na copulação vaginal, a consumação se dá com a completa ou parcial introdução do 
membro viril na vagina, enquanto o mero contato entre os órgãos genitais configura 
a tentativa. Quando não houver o contato, mas as circunstâncias deixarem clara a 
intenção do agente ativo de realizar a conjunção carnal, também será considerado 
crime tentado. Caso não tenha havido contato, mas houver o emprego de grave 
ameaça ou violência física, e o agressor desistir voluntariamente da prática dos atos, 
este responderá pelo constrangimento ilegal causado, visto que, conforme 
entendimento, quando há desistência voluntária o sujeito ativo responde apenas 
pelos atos já praticados. (CAPEZ, 2015). É considerada possível a tentativa do 
estupro em casos que houver o constrangimento para a prática de relação sexual, 
porém o ato pode não se consumar devido a circunstâncias alheias à vontade do 
sujeito ativo. (MIRABETE, 2000). Acerca da tentativa, esclarece Romeu de Almeida 
Salles Jr: 
 A tentativa é admissível. Pela estrutura do tipo tem-se que o processo 
executivo pode ser fracionado. O agente pode constranger a vítima, através 
de violência ou grave ameaça, e não conseguir a introdução do pênis em 
sua vagina, por circunstâncias alheias à sua vontade. (1996, p.213) 
Desta forma, tem-se que o marido pode figurar como sujeito ativo do crime contra 
sua esposa, independentemente de ser o delito consumado ou tentado. Basta que 
haja violência física ou coação moral para que o crime seja punível, pois o 
ordenamento jurídico visa tutelar a liberdade sexual e garantir o direito de liberdade 
quanto aos atos sexuais. 
 
 
 
 
 
14 
 
5 POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO DO ESTUPRO CONJUGAL 
Há, ou melhor, houve até pouco tempo atrás divergências doutrinárias e 
jurisprudenciais acerca possibilidade da configuração do estupro na relação marital. 
Alguns autores avaliavam o uso da violência pelo marido como exercício regular do 
direito, enquanto a maioria entendia ser ilícita tal atitude, todavia sem constituir 
estupro, respondendo o agressor apenas pela violência efetivamente praticada. 
Hoje, todavia, a doutrina é uníssona em considerar a conduta ilícita e, mais 
importante, penalmente tipificada como estupro, e não apenas como lesões 
corporais - se as houvesse. 
As duas primeiras correntes, hoje já superadas, entendiam que o constrangimento 
empregado pelo marido configurava exercício regular do direito, e seria justificado 
em casos em que houver a recusa da mulher, em praticar os atos sexuais, por mero 
capricho ou por motivos fúteis, podendo, então, o homem exigir o cumprimento da 
conjunção carnal amparado pelo dever do débito conjugal (NUCCI, 2014). Apenas 
se dividiam esses autores quanto à prática de violência de que resultassem lesões 
corporais. 
Ainda seguindo tal pensamento, Noronha (2002) afirmava que, ao se matrimoniar a 
esposa aceita a vida em comum. Portanto, não poderia, por mera pirraça ou por 
motivos fúteis, negar ter relações sexuais com seu marido, cuja finalidade é a 
perpetuação da espécie. Caso o homem utilizasse de força física ou 
constrangimento moral para consumar a conjunção carnal, não seria considerado 
estupro, mas o agente poderia responder por algum excesso. 
Tal ideia também era aceita por Fragoso (1977), que versa em sua obra sobre a 
impossibilidade de o marido figurar como estuprador em casos de constrangimento 
por recusa sem justo motivo da mulher. Para, ele a mulher não pode se privar de ter 
relações de cunho sexual com cônjuge, pois, ao se casar, aceita os deveres do 
débito conjugal, que, a seu ver, inclui o a obrigatoriedade de conjunção carnal. 
Veja-se que essa discussão tomava lugar em um sistema legal que não admitia o 
divórcio, no contexto de uma sociedade preocupada com a possibilidade de extinção 
da espécie humana, não com a superpopulação mundial. Admitir que qualquer dos 
cônjuges se recusasse ao débito conjugal implicava condenar o outro, de maneira 
permanente, à insatisfação de uma necessidade natural de atividade sexual e à 
15 
 
irrealização da reprodução individual, ao mesmo tempo em que ameaçava a 
sociedade com a queda das taxas de natalidade. 
Atualmente, não há sentido discutir tal assunto, pois nem a Humanidade está à beira 
da extinção, nem o casamento é irresolúvel. Não há incoerência entre o débito 
conjugal e a possibilidade de o marido ser sujeito ativo do crime de estupro: o dever 
de “coabitação” existe; ele só não pode ser exigido à força ou mediante ameaça; a 
relação sexual só pode acontecer com o consentimento da esposa. (GRECO, 2013). 
Sobre o tema, Mirabete afirma: 
 Embora se tenha negado essa possibilidade, quando não há justa causa 
para a recusa da mulher, entendemos que há crime na conjunção carnal 
forçada do marido contra a esposa por ser ato incompatível com a 
dignidade da mulher. A recusa imotivada da mulher pode, entretanto, dar 
causa à separação judicial. (2000, p.1245) 
Eluf (1999) se posiciona totalmente contrária aos entendimentos doutrinários e 
jurisprudenciais que justifiquem o constrangimento nas relações sexuais dentro do 
casamento, afirmando que deve haver a concordância da mulher para a prática da 
conjunção carnal e que ignorar isso é o mesmo que ignorar a dignidade da esposa. 
Assim sendo, apesar da existência de uma corrente doutrinária antiga que defendia 
a impossibilidade do estupro conjugal, atualmente é majoritária, para não dizer 
única, a corrente que considera possível configuração do estupro na constância do 
casamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
6 PRODUÇÃO DE PROVAS 
Acredita-se que um dos possíveis motivos para a dificuldade de encontrar casos de 
estupro marital seja a produção de provas. Em casos comuns de estupro, há a 
possibilidade de identificação do crime através do sêmen encontrado na mulher. 
Ocorre que, no caso do estupro marital, tal prova não é suficiente, visto que há a 
presunção de que o sêmen encontrado na esposa tenha ocorrido de uma relação 
sexual consensual devido ao casamento. No que diz respeito a prova testemunhal, 
as pessoas não costumam acompanham o que ocorre no seio familiar, tendo só a 
visão externa do casal, não percebendo, muitas vezes, que a mulher tem sido 
submetida a práticas carnais contra sua vontade e a violências físicas e 
psicológicas. 
A prova do estupro conjugal, de fato, é ainda mais complexa que no crime comum. 
Para começo, nem de longe é suficiente a comprovação de que houve a conjunção 
carnal, pois as circunstâncias não permitem admitir uma prova frágil de resistência 
por parte da vítima. É necessária a verificação cabal de que a conjunção 
efetivamente ocorreu mediante agressão física ou moral. (CAPEZ, 2015) 
Deve-se considerar, também, a dificuldade em determinar a fidedignidade das 
acusações da vítima, especialmente em um contexto que pode envolver desavenças 
e vinganças, disputas patrimoniais ou pela guarda de filhos e outros conflitos 
relacionais. Além disso, há fatos bastante complexos a comprovar:a recusa 
certamente não se presume e ademais é necessário que tenha sido percebida, pois, 
ao contrário de um desconhecido, é razoável que o parceiro habitual e, com mais 
forte razão, o marido não aguarde assentimento incontroverso; outrossim, muitos 
casais praticam “brincadeiras” sexuais um tanto violentas por pura fantasia etc. 
Assim, em circunstâncias relativamente frequentes, restará dúvida acerca do dolo 
por parte do marido, conduzindo a uma absolvição por insuficiência de provas. 
Assim, na produção de provas do estupro conjugal, é necessária a comprovação da 
real e inequívoca negação da vítima, seguida pela obtenção dolosa e violenta da 
conjunção carnal. A recusa da vítima deve ser clara, deixando o marido consciente 
de que a esposa realmente não quer praticar atos sexuais, fazendo com que o seja 
necessário utilizar a força ou a coação moral. A respeito da verdadeira negatória do 
sujeito passivo, explica Capez: 
17 
 
 É ínsito ao crime de estupro que haja o dissenso da vítima, sendo 
necessário que ela não queira realizar a conjunção carnal ou ato libidinoso 
diverso, cedendo em face da violência empregada ou do mal anunciado. A 
resistência física do sujeito passivo, no entanto, não é imprescindível, pois, 
muitas vezes, o temor causado pode ocasionar a paralisação dos 
movimentos da vítima ou a perda dos sentidos. (2015, p. 29) 
Como não bastasse, pelo fato de a agressão geralmente ocorrer dentro do lar, 
frequentemente não haverá exposição do crime nem testemunhas (NUCCI, 2014). 
Por outro lado, a violência empregada no estupro dentro do casamento muitas vezes 
não deixa marcas, vez que o delito pode ser realizado através do constrangimento 
moral ou violência sem trauma corporal duradouro. Nessa modalidade, não há 
violência física, pois a coação consiste em ameaças proferidas pelo sujeito ativo, ou 
a violência não deixa vestígios. 
O elemento subjetivo do crime de estupro é o dolo. Ele deve consistir na pretensão 
de constranger a vítima à conjunção carnal. Não há necessidade de caracterização 
do dolo específico, pois o homem que constrange a mulher para obter a prática de 
atos sexuais não age com nenhuma finalidade específica para além do resultado 
típico, apenas atua com consciência e desejo de consumar a ação. (CAPEZ, 2015) 
Quando a execução do crime, pelo modo como houver ocorrido, houver de deixar 
marcas na vítima, é indispensável realizar o exame de corpo delito, direto ou 
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado, conforme dispõe o artigo 158 
do Código de Processo Penal. Aqui importa constatar tanto a conjunção carnal 
quanto eventuais lesões corporais, decorrentes do coito ou da violência empregada 
para obtê-lo. 
Acerca da materialidade e autoria do crime de estupro, Capez (2015) esclarece que 
a agressão pode não deixar vestígios, como em casos que não chega a haver a 
conjunção carnal, ficando o delito apenas como tentado. Nessas situações, 
raramente existem itens a serem periciados junto à vítima e, mesmo em casos 
consumados, as provas materiais podem desaparecer com o tempo. Em casos de 
que restarem vestígios, é necessária a realização do exame de corpo delito, pois 
não pode o julgador buscar provas através de nenhum outro meio, seja pela 
declaração do acusado, seja pelos depoimentos da vítima e de testemunhas, pois a 
segurança jurídica exige a prova pericial para se reconhecer a materialidade do 
delito. Dessa forma, nos casos em que for possível a realização da perícia, ela se 
torna obrigatória, e sua falta implicará a nulidade das provas que forem produzidas 
18 
 
para substitui-la. Sobre a inadmissibilidade das provas que visam substituir o exame 
de corpo de delito, explica Capez: 
 O artigo 167 somente se aplica aos casos em que o exame direto já não 
era possível ao tempo do descobrimento do delito, em face do 
desaparecimento dos vestígios. Se havia a possibilidade de realizar o 
exame de corpo de delito direto, a omissão da autoridade em determina-lo 
não pode ser suprida por nenhuma outra prova, sob pena de afronta à 
determinação expressa da lei. (2015, p.37) 
Já nos casos em que não houver mais nenhum vestígio do delito, é imprescindível a 
presença de prova testemunhal, conforme artigo 167 do Código de Processo Penal. 
Por tais razões, é quase impossível determinar com que frequência ocorrem 
estupros conjugais. De um lado, além das naturais dificuldades em denunciar o 
próprio cônjuge, as barreiras na produção de provas do crime de estupro podem 
explicar o baixo índice de queixas criminais acerca do delito. A mulher vítima de 
estupro marital por diversas vezes queda silente, seja por não perceber 
perfeitamente a ilicitude de que foi vítima, seja por temer a condenação da 
sociedade ou a exposição de sua privacidade, especialmente quando depende 
economicamente do marido e/ou por ter constituído família. (BARBOSA, 2014). De 
outro lado, pode ocorrer que muitas mulheres, por várias razões, denunciem seus 
maridos, motivadas pelo sentimento de vingança, como instrumento de pressão em 
disputas patrimoniais ou como razão para pleitear a guarda exclusiva dos filhos. 
Ante o exposto, nota-se a relação entre os obstáculos na elaboração das provas e o 
silêncio das vítimas que, além de se sentirem desprotegidas devido à formalidade 
legal (posto que realmente necessária) e às outras dificuldades probatórias, também 
temem o julgamento da sociedade, a perda do esteio econômico, a condenação do 
pai de sua prole etc. 
 
 
 
 
 
19 
 
7 PENALIDADES PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL, CAUSAS DE AUMENTO DE 
PENA E AÇÃO PENAL 
A violência física ou moral empregada pelo marido para obter relações sexuais com 
a esposa, contra a vontade da mesma, caracteriza o estupro marital. Sabe-se que a 
mulher tem plena liberdade sobre seu corpo, não podendo ser submetida a qualquer 
prática sexual contrária aos seus desejos. O ordenamento jurídico brasileiro 
assegura a dignidade sexual em seu Código Penal, repreendendo práticas forçadas 
para satisfazer o desejo carnal. Assim sendo, o referido Código traz em seu artigo 
213 a penalidade aplicada ao delito: “Constranger alguém, mediante violência ou 
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se 
pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.” (BRASIL, 
1940) 
O crime de estupro está sujeito a causas especiais de aumento de pena, previstas 
no Código Penal. Sobre os agentes passivos, a pena é aumentada da quarta parte 
quando o delito for cometido por dois ou mais sujeitos. Já em casos em que o 
agente ativo é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, 
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima, a pena é aumentada em 50%. 
(FAYET, 2011) O artigo 213 do Código Penal cita sobre qualificadoras conforme o 
resultado da ação: 
 Art. 213. § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou 
se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 
§ 2o Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (BRASIL, 1940) 
Nucci (2014) explica que as formas qualificadas do estupro exigem o dolo na prática 
antecedente - violência física ou coação moral gerando o constrangimento - e dolo 
ou culpa no que diz respeito ao resultado que tornará o crime qualificado - lesão 
corporal ou morte. Assim, o legislador previu um crime único, não podendo o juiz 
julgar o crime com base em concurso material - estupro e homicídio. Não existe 
concurso de crimes, mas sim um delito qualificado. 
Apesar de antiga dúvida e debate a respeito do tema, o estupro é, atualmente, 
considerado crime hediondo, não havendo mais dúvida sobre a questão devido ao 
artigo 1º, V, daLei 8.072/90, que o colocou no rol dos crimes hediondos, tanto em 
20 
 
sua forma consumada quanto tentada. Assim sendo, há consequências de todas as 
privações impostas a tais crimes, como: aumento de tempo para livramento 
condicional, impossibilidade de indulto, graça ou anistia, elevação do prazo para 
progressão de regime, dentro outros. (NUCCI, 2014) 
O estupro era, em regra, denunciado por ação penal privada. Com o advento da Lei 
12.015, a ação penal passou a ser pública condicionada à representação. Em caso 
excepcional, quando a vítima for menor de 18 anos, a ação penal será pública 
incondicionada. (MASSON, 2014) 
A exceção da ação penal sendo pública incondicionada também é aplicada nos 
casos em que a vítima for pessoa vulnerável. Para os crimes sexuais que possuírem 
resultado de lesão corporal de natureza grave ou morte, há a aplicação da Súmula 
608 do Supremo Tribunal Federal, tendo, assim, também a ação como pública 
incondicionada. (JESUS, 2011) A Súmula 608 versa sobre a aplicação da ação 
penal pública incondicionada em casos de estupro praticado mediante violência real. 
Por violência real entende-se o emprego de força física, impossibilitando a liberdade 
de agir da vítima, não podendo a mesma dispor de sua vontade. 
Ante o exposto, além de ter a pena aumentada por ser cônjuge da vítima, o marido 
agressor também responde pelos resultados causados. O ordenamento brasileiro 
claramente visa proteger as possíveis vítimas através da aplicação de altas penas 
repressoras, tentando, desta forma, amedrontar e evitar possíveis delitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Muito se discutia a respeito da possibilidade de caracterização do estupro dentro do 
casamento, pois se acreditava que a relação sexual era uma obrigação, um dever, e 
deveria ser feita a qualquer tempo, independentemente de vontade. Com isso, 
surgiram divergências doutrinárias, em que alguns autores, como Fragoso (1977), 
acreditavam que o uso de força para consumação da relação sexual seria 
considerado apenas exercício regular do direito, enquanto para outros caracterizava 
o estupro. Apesar de tal conflito entre doutrinadores, hoje é pacífico o entendimento 
de ser possível a configuração do estupro dentro das relações conjugais em 
situações de emprego de violência, independentemente da existência ou não do 
débito no casamento. 
Desta forma, o cônjuge pode aparecer como sujeito ativo do crime de estupro dentro 
do casamento em casos de emprego de violência física ou moral. com o objetivo de 
obter relação sexuais contrária a vontade da esposa. O crime pode ocorrer na forma 
consumada ou tentada, sendo punível em ambos os casos, pois o objeto tutelado 
pela legislação é a liberdade sexual, não podendo a mesma ser infringida por 
ninguém, nem mesmo pelo marido. 
No ordenamento jurídico brasileiro, mais precisamente no Código Penal, há 
tipificado o crime de estupro, sendo a pena prevista é a de reclusão de 6 a 10 anos, 
porém a mesma é dobrada quando o agente for, dentre outras possibilidades, 
cônjuge da vítima. Desta forma, o cônjuge agressor seria penalizado com o dobro da 
pena restritiva de liberdade. Há, também, o aumento de pena quando a ação 
delituosa obtiver resultado de lesão corporal de natureza grave, morte ou quando a 
vítima for menor de 18 anos ou maior de 14. 
Uma das dificuldades da condenação do agente ativo consiste na árdua coleta de 
provas. A simples comprovação da conjunção carnal não é prova cabal para tipificar 
o crime de estupro, pois a relação sexual é considerada “parte” do casamento, 
devido ao débito conjugal. A complexidade na produção de provas também abrange 
a prova testemunhal, visto que pelo crime ocorrer no ambiente familiar, raros são os 
casos em que alguém presencie o ato. Desta forma, o crime só será punido quando 
houver prova inequívoca da violência - física ou moral - empregada, evitando 
condenações injustas. 
22 
 
Considerando tais análises, nota-se que a dificuldade na produção de provas do 
crime de estupro no casamento pode ser um grande empecilho para que a esposa 
agredida procure uma Delegacia para reportar o delito sofrido. Esse pode ser um 
dos motivos do baixo conhecimento e divulgação de casos de estupro marital, bem 
como o enraizamento do débito conjugal na sociedade, gerando falta de 
conhecimento e informação para algumas mulheres. 
Ante o exposto, conclui-se que, apesar de pouco comentado, o tema abordado no 
presente artigo é de extrema importância nos dias atuais. Os casos de violência 
doméstica são frequentes, porém no que diz respeito às violências sexuais ocorridas 
no seio familiar, pouco se ouve falar. Torna-se, então, necessária a continuação de 
busca por soluções e repressões, bem como campanhas de conscientização e 
informações sobre o tema, visando alcançar a igualdade de gêneros e diminuir a 
violência contra a mulher. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
9 REFERÊNCIAS 
BARBOSA, Celísia. Violência sexual nas relações conjugais e a possibilidade 
de configurar-se crime de estupro marital. Disponível em: 
<http://ienomat.com.br/revista/index.php/judicare/article/view/65/191> Acesso em: 15 
de maio 2017. 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Especial V.4. 4.ed. 
São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de 
outubro de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> 
Acesso em: 27 de maio de 2017.a 
 
______. Lei nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940: institui o Código Penal Brasileiro. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 27 de maio de 2017.b 
 
______. Lei nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941: institui o Código de Processo 
Penal Brasileiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689.htm> Acesso em: 27 de maio de 2017.c 
 
______. Lei no 10.406, de 10 de Janeiro de 2002: institui o Código Civil Brasileiro. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso 
em: 27 de maio de 2017.d 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Brasileiro. Brasília: Inesc, 2008. 
 
 
______. Curso de Direito Penal: parte especial V.3. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 
2015. 
 
DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 5.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 
2000. 
 
ELUF, Luiza Nagib. Crimes contra os costumes e assédio sexual: doutrina e 
jurisprudência. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1999. 
 
FAYET. Fabio Agne. O delito de estupro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2011. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.406-2002?OpenDocument
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm
24 
 
 
FRAGOSO, Heleno Claudio. Lições de Direito Penal. 3.ed. São Paulo: José 
Bushatsky,1977. 
 
FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Novos crimes sexuais. São Paulo: 
Malheiros,2009. 
 
GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 7.ed. Niterói: Impetus, 2013. 
 
HERKENHOFF, Henrique Geaquinto. Do patriarcalismo à democracia: evolução dos 
princípios constitucionais do direito de família. In: FERNANDES, Maria Fernandes; 
HIRONAKA, Novaes (coord). Direito Civil. São Paulo: EPD – Escola Paulista de 
Direito, 2005. 232-255 
 
JESUS, Damásio Evangelista de. Código Penal Anotado. 9.ed. São Paulo: 
Saraiva,1999. 
 
______. Direito Penal: parte especial. V.3. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
 
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado: parte especial. V.3. 4.ed. Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. 
 
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2000. 
 
______. Manual de DireitoPenal. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2004. 
 
NORONHA, Edgard Magalhães. Direito Penal. V.3. 26.ed. São Paulo: Saraiva, 
2002. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 14.ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2014. 
 
______. Manual de Direito Penal. 10.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte especial. V.3. 4.ed. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. 
 
SALLES JR., Romeu de Almeida. Código Penal Interpretado. São Paulo: Saraiva, 
1996. 
25 
 
 
VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 7.ed. São Paulo: Atlas, 
2007.

Mais conteúdos dessa disciplina