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5 O trabalho compulsório na América Ibérica

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História da América I
Aula 5: O trabalho compulsório na América Ibérica
Apresentação
Nesta aula, conheceremos as estruturas sociais, políticas e econômicas dos sistemas produtivos coloniais, que tinham
por objetivo o monopólio das colônias em favor das metrópoles.
Veremos também as diferenças entre os tipos de trabalho compulsórios implantados na América Ibérica e identi�caremos
as necessidades da implementação do trabalho escravo africano nos sistemas coloniais das Américas espanhola e
portuguesa.
Objetivos
Observar como se deu a implantação do trabalho compulsório na América Ibérica.
Compreender como se estruturou o sistema produtivo colonial Ibérico.
Entender os vários tipos de sistema de trabalho compulsórios e quais os ambientes mais adequados à sua
aplicação.
Aprender como, por que e onde se deu a introdução do escravismo africano nas Américas.
Estrutura do sistema produtivo do sistema colonial ibérico
As necessidades que abarcavam o sistema produtivo ibérico, notadamente o hispânico, não se limitavam à mão de obra.
Os trabalhadores precisavam de alojamentos, armazéns, igrejas, tavernas. Por sua vez, as minas precisavam de escoras
para os poços, de alvenaria, de cabrestantes, de escadas e de grande quantidade de couro.
Necessitava-se, igualmente, de mulas e cavalos para transportes das barras para os locais de cunhagem e portos de
exportação, para o transporte de produtos das plantações e das estâncias e para o carregamento das mercadorias
europeias que aportavam ao litoral e que eram requisitadas pelos centros de mineração (utensílios de ferro e aço, artigos
de luxo e, acima de tudo, o mercúrio, utilizado na amalgamação da prata a partir dos minérios brutos).
A mineração criou, igualmente, um mercado interno voltado para o consumo da produção colonial de têxteis de lã e algodão
elaborados por artesãos individuais. Apesar das proibições, essa produção artesanal expandiu-se bastante já que os
atacadistas importadores-exportadores manipulavam com exclusividade as lãs e sedas de excelente qualidade e altos preços
fornecidos pela Europa Ocidental ou Extremo Oriente.
Os espanhóis necessitaram de setenta e oito anos para ocupar o território que viria a se tornar o seu império na América e
levaram duzentos anos em tentativas e erros para estabelecer os elementos de uma economia colonial vinculada à Espanha e,
através desta, à Europa Ocidental.
Por volta de 1700, a estrutura do seu sistema produtivo era composta pelos seguintes elementos:
01
Uma série de enclaves (territórios) de mineração, no México e no Peru.
02
Áreas de agricultura e pecuária situadas na periferia dos enclaves de mineração e voltadas para o fornecimento de gêneros
alimentícios e matérias-primas.
03
Um sistema comercial planejado para permitir o escoamento da prata e do ouro (em espécie ou em lingotes) para a
Espanha que, de posse dessa riqueza, adquiria os artigos produzidos na Europa Ocidental e escoados através de portos
espanhóis para as colônias americanas.
Em se tratando de América portuguesa, a colonização por
meio de agricultura tropical, como a inauguraram
pioneiramente os súditos da Coroa, aparece como solução
inicial através da qual se tornou possível valorizar
economicamente as terras descobertas, e dessa forma
garantir-lhes a posse (pelo povoamento).
Ou seja, isso permitiu enquadrar as novas áreas no esforço
de recuperação e expansão econômica que se vinha
empreendendo, ao contrário do que ocorreu com a América
espanhola, onde a mineração é que permitirá o ajustamento
das condições americanas aos estímulos da economia
europeia. No entanto, o caráter da empresa é evidentemente
idêntico.
O sistema de colonização que a política econômica mercantilista visa desenvolver tem em mira os mesmos �ns mais gerais do
mercantilismo e a eles se subordina. Por isso, a primeira preocupação dos Estados Colonizadores será de resguardar a área de
seu império colonial face às demais potências. Dessa forma, a administração se fará a partir da metrópole e a preocupação
�scal dominará todo o mecanismo administrativo. No entanto, a espinha dorsal do sistema, seu elemento de�nidor, reside no
monopólio do comércio colonial.
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Em torno da preservação do monopólio, assumido inteiramente pelo Estado
ou reservado à classe mercantil da metrópole ou parte dela, é que gira toda
a política do sistema colonial. E aqui reaparece o caráter de exploração
mercantil, que a colonização incorporou na expansão comercial, da qual foi
um desdobramento.
Monopólio comercial
O monopólio do comércio das colônias pela metrópole de�ne o sistema colonial porque é através dele que as colônias
preenchem a sua função histórica, ou seja, respondem aos estímulos que lhe deram origem, que formam a sua razão de ser,
en�m, que lhes dão sentido.
Reservando para si, com exclusividade, a aquisição de produtos coloniais, a burguesia mercantil metropolitana  pode forçar a
baixa de seus preços até o mínimo, além do qual a produção se tornaria antieconômica. Dessa forma, a revenda na metrópole
ou em outro lugar a preço de mercado cria uma margem de lucro apropriada pelos mercadores intermediários
A colonização agrícola no Brasil já se inicia dentro da
estrutura monopolista do sistema colonial. O princípio já
tinha se �xado nas experiências anteriores e derivava das
próprias condições histórico-econômicas em que se
processara a expansão marítima.
Alguns setores da exploração da América portuguesa
reservam-se diretamente à Coroa, os chamados “estancos”,
como o Pau-Brasil e sal, por exemplo. No mais, o grande
comércio açucareiro �ca dentro do monopólio da classe
mercantil portuguesa.
O período de domínio espanhol, União Ibérica (1580-1640), assinala um enrijecimento desse regime monopolista. No entanto,
após a restauração (1640), as mudanças da dinastia bragantina face ao equilíbrio europeu obrigaram-na a algumas
concessões, todavia, sempre se buscava contornar algumas das cessões consignadas nos tratados.
Por outro lado, em um esforço para revigorar o comércio ultramarino português e inspirando-se no êxito da experiência
holandesa, a política colonial lusitana se orienta para o regime das companhias de comércio (Cia. Geral do Comércio do Brasil
– 1649), que representam um fortalecimento do regime monopolista.
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Encomienda (1509)
A encomienda foi a primeira forma institucionalizada de uso de trabalho indígena. Desenvolveu-se durante a segunda década
do século XVI, em substituição à escravidão, ou como um compromisso o�cial entre a escravidão extrema praticada pelos
primeiros colonos e o sistema de trabalho livre, teoricamente aprovado pela Coroa.
No sistema de encomienda, o rei espanhol, na �gura de seus administradores, concedia uma permissão à �gura de um
encomendero. Este, por sua vez, poderia utilizar-se da mão de obra de toda uma comunidade indígena, podendo exigir-lhes
trabalho (encomienda de serviços) e gêneros (encomienda de tributos).
Em troca, o encomendero era obrigado a oferecer a catequização a todos os indígenas postos sob a sua responsabilidade.
O encomendero não poderia tomar as terras das comunidades indígenas e a sua concessão era repassada somente às duas
gerações seguintes. Apesar dessas restrições, o sistema de encomienda também foi marcado pelo abuso e a exploração
intensa das populações nativas.
Uma das maiores provas da violência e imposição dos espanhóis pode ser observada no rápido processo de dizimação das
várias comunidades indígenas americanas.
A encomienda proporcionou o enriquecimento de muitos conquistadores e primeiros colonizadores, tendo sido a base das
primeiras fortunas coloniais. Hernán Cortés, por exemplo, utilizou-se de uma encomienda (aproximadamente 400 índios) para
extrair ouro, construir estaleiros e barcos e manter soldados nas terras recém-descobertas. Ainda que não houvesse conexão
legal entre esse sistema e propriedade de terra, ao menos nas zonas mais importantes doimpério, a relação era clara.
Para barrar a catástrofe demográ�ca e os ímpetos senhoriais dos encomienderos, em 1542, foram promulgadas as Leyes
Nuevas (novas leis), proibindo a escravidão indígena. Essas leis retiravam as encomiendas das autoridades civis e eclesiásticas,
impediam a concessão de novas encomiendas e proibiam a sua hereditariedade.
Em 1549, proibiu-se também a prestação de serviços dos índios aos encomenderos, mantendo-se a obrigação de tributos.
Na segunda metade do século XVI, a instituição de encomienda foi sendo progressivamente abandonada no México e no Peru,
persistindo por muito tempo em áreas periféricas como o Paraguai, Tucumán, Chile, Yucatán, inclusive com o direito de
prestação de trabalho.
Repartimiento
O sistema de repartimiento de índios substituiu a encomienda, ainda que esta tenha subsistido ao seu lado por algum tempo.
Era um sistema já conhecido pelas populações indígenas, antes exploradas pelo império Inca (mita) e asteca (cuatéquil).
Nesse sistema, índios selecionados por sorteio deveriam trabalhar compulsoriamente durante certo tempo. Em geral, os
indígenas eram submetidos às realizações de tarefas desgastantes em um ambiente bastante adverso. Ao �m da jornada,
esses índios recebiam uma compensação �nanceira de baixo valor.
Cada comunidade deveria fornecer um número proporcional à sua população de homens adultos que trabalhariam
periodicamente nas empresas coloniais (minas, haciendas e serviços públicos) em troca de um jornal diário (o que se recebia
por uma jornada), retornando depois à sua aldeia.
Os trabalhadores eram designados pela autoridade comunal indígena, que
os entregava a um “juiz repartidor” espanhol, que, por sua vez, os distribuía
entre os colonos espanhóis.
O cargo de “juiz repartidor” passou a ser disputado por criollos pobres, que o perceberam como uma forma de enriquecimento:
os índios e as comunidades subornavam os juízes para obterem isenções do trabalho e
os hacendados espanhóis, para obterem um maior número de trabalhadores ou para que fossem ignorados
alongamentos da temporada laboral ou as condições adversas de trabalho
A vigência do repartimiento de índios signi�cou a vinculação de�nitiva da população indígena ao processo econômico
comandado pelos espanhóis, em condições de dominação e exploração crescentes. A imposição do novo sistema de trabalho
produziu mudanças profundas nas comunidades.
No período anterior à conquista e durante
o da encomienda, o indígena produzia seus
meios de subsistência e o excedente
imposto por seus dominadores,
geralmente no mesmo espaço e sob as
mesmas condições de produção.
No entanto, com o repartimiento houve
uma cisão.

A produção dos meios de subsistência
continuou a ser efetuada nas terras
comunais, enquanto o trabalho excedente
era realizado fora delas, sob condições de
produção distintas, em atividades
especializadas da economia espanhola
(mineração, agricultura e pecuária), com
meios de produção e comandos alheios à
comunidade.
Eram os funcionários espanhóis, e não mais as autoridades indígenas, que �xavam os tempos do trabalho compulsório, suas
condições de execução, o salário e a divisão dos trabalhadores.
O novo sistema se apresentava mais vantajoso para a Coroa e para muitos colonos: sua consequência imediata seria o
afastamento dos índios do controle arbitrário dos encomenderos, diminuindo sua riqueza e poder político que, de certa forma,
interessava à Coroa. O novo sistema também colocava os índios à disposição do crescente número de espanhóis que
chegavam ao Novo Mundo (em 1570 apenas 4 mil dos 23 mil espanhóis possuíam encomiendas).
Hacienda
Largamente praticado, o sistema de hacienda consistia no endividamento de trabalhadores, a�m de retê-los na
propriedade.
A relação é amplamente conhecida como peonaje, na qual o trabalhador recebia como salário um crédito na tienda de
raya (onde retirava alimentos, roupas etc), além de um lote mínimo de subsistência.
Suas contas eram manipuladas pelo hacendado de modo a tornar insolvente a dívida do peão, que �cava obrigado a
pagá-la com trabalho. En�m, muitos índios se dirigiam voluntariamente para as haciendas, sobretudo no século XVII, a
�m de escaparem do repartimiento, dispondo-se a trabalhar gratuitamente para os fazendeiros em troca de um exíguo
lote de subsistência.
 Fazenda espanhola do século XVI (Xochitepec, México).
Introdução do escravismo africano no sistema colonial ibérico
Na colonização espanhola, os escravos africanos passaram a ser um recurso estratégico, pois eram vistos, ao mesmo tempo,
como mais con�áveis, resistentes e �exíveis do que a população nativa, e capazes de serem levados para pontos fracos do
sistema imperial. No entanto, a permissão para sua entrada foi dada com cautela, e mesmo assim em pequeno número, já que
havia sempre o risco de que exacerbassem a situação instável e delicada das primeiras décadas.
Até o ano de 1550, só estava registrada a importação de cerca de 15.000
escravos africanos pela América espanhola. Alguns africanos
acompanharam as expedições iniciais de conquista, na comitiva dos
principais conquistadores.
Os primeiros escravos africanos levados para o Novo
Mundo vinham quase sempre das Ilhas Canárias ou da
própria Península Ibérica, por isso, sabiam falar espanhol e
já haviam adaptado suas habilidades à sociedade colonial.
Em 1510, foi permitida a exportação de 250 escravos de
Lisboa, e, em 1518, foi preparado o primeiro asiento
(tratado ou acordo  através do qual um grupo de
comerciantes recebia da coroa espanhola uma rota
comercial ou o monopólio de um produto) para o comércio
de escravos.
Esses escravos eram admitidos por meio de uma licença,
pela qual pagava-se uma taxa. Além disso, judeus, mouros,
estrangeiros e hereges – na verdade, todos que não eram
súditos de Castela ou não tinham o sangue puro – estavam
formalmente excluídos das Índias.
Escravos africanos eram usados como criados, pedreiros,
carpinteiros, coureiros, lavadeiras e cozinheiras, além de seu
emprego nas plantations e obrajes, ou o�cinas têxteis, nas
quais predominava a mão de obra indígena.
Bartolomé de Las Casas, o dominicano que lutou contra os
maus-tratos impostos aos índios, achou aceitável a
escravidão de africanos em seu período inicial, e propôs,
num texto de 1516, que os colonos tivessem permissão de
utilizar africanos em vez de índios.
Essa proposta foi uma reação ao impacto completamente
destrutivo da exploração, pelos colonos espanhóis, daqueles
que lhes haviam sido con�ados, retratando de maneira
impressionante a ganância, a rapacidade sexual e a
arrogância do encomendero.
A situação dos africanos lhe parecia diferente, eles
sobreviviam às condições de vida nas ilhas tão bem ou
melhor que os espanhóis. Eram tratados como criados e
eram mais estimados porque sabiam como cuidar de si
mesmos e, por extensão, como cuidar de seus donos.
Las Casas reveria suas opiniões sobre a aceitação da
escravidão africana quando grande número desses
escravos �cou disponível e foi submetido aos trabalhos
mais pesados. Essa mudança de opinião representou em
parte um aprofundamento de sua hostilidade em relação
aos colonizadores. No �m de sua vida, escreveu que se
arrependia amargamente de ter recomendado a importação
de mais escravos africanos, e não tinha certeza se Deus o
perdoaria por isso.
 Bartolomé de Las Casas.
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“A escravidão africana e o comércio atlântico de escravos
acabaram dando uma contribuição expressiva para a fórmula
imperial espanhola. A introdução de escravos africanos no
novo mundo tinha dois aspectos positivos principais: em
primeiro lugar, a venda de licenças para a entrada de
africanos gerava dinheiro para o tesouro real, sempre uma
preocupação importante. Em segundo lugar, ajudava o poder
colonizador a fornecer mão de obra aos centros urbanos e
aos novos empreendimentos, numa época em que a
população nativa já tinha sido dizimada.”
(BLACKBURN, 2003, p.166).
A taxa de importação de africanos aumentoucom o decorrer do século, porque não havia escravos índios disponíveis nos
principais centros e também porque os colonos espanhóis tinham dinheiro para comprá-los. Como as autoridades foram lentas
em sua reação, corsários e intrusos ingleses e franceses passaram a contrabandear escravos em meados do século.
É importante registrar que apesar da redução assustadora do tamanho das populações indígenas, elas ainda representavam
uma ameaça potencial aos conquistadores. Além disso, durante um período considerável, suas instituições preservaram a
vitalidade.
Atenção
Apesar de diferente da escravidão negra adotada no Brasil, a exploração do trabalho indígena também é tratada por muitos
historiadores como escravismo. No entanto, o termo predominante nos livros de história é trabalho compulsório.
Já o trabalho negro adotado em Cuba e nos países da América do Sul espanhola se assemelha muito ao trabalho escravo do
Brasil, ao contrário do trabalho escravo negro adotado no sul dos Estados Unidos, onde os escravos eram bem tratados,
incentivados a formar famílias, a se reproduzirem, como forma de reposição de mão de obra, sem que houvesse grande
miscigenação de raças.
Escravismo como fator de produção agrícola em grande escala
Nas colônias onde não foi possível se dedicar imediatamente à mineração dos metais nobres, como na América espanhola, a
colonização se especializaria na produção de produtos agrícolas tropicais. Dentre eles, o açúcar ocupava no início do século
XVI uma posição excepcional no mercado europeu.
Cultivado nas ilhas atlânticas portuguesas, comercializado nas praças �amengas, a sua procura crescia na medida em que, por
um lado, se desalojavam antigos centros de ofertas (produção siciliana), e, por outro, em função da elevação geral do nível de
renda da população europeia nesta fase de desenvolvimento.
Além disso, a comercialização nas praças �amengas assegura à distribuição do produto os recursos das mais adiantadas
técnicas de negócios da época.
Engenho de Pernambuco (século XVII).
A cultura da cana e o fabrico do açúcar nas regiões quentes e úmidas do Brasil tropical apresentam-se,
assim, na quarta década do século XVI, como uma solução que permitia ao mesmo tempo valorizar
economicamente a extensa colônia, integrando-a nas linhas do grande comércio europeu, e promover o
seu povoamento e ocupação  efetiva, facilitando a sua defesa ante a concorrência colonial das grandes
potências.
VISCONTI, Eliseu. Marco de sesmaria. 1921. Óleo sobre tela, 60 cm x 80 cm.
É assim que, com a instituição das donatárias, se inicia na América portuguesa as cessões territoriais (os
donatários, além da porção de que se apropriavam, podiam e deviam ceder terras em nome do rei – as
“sesmarias”) com vistas a implantação da cultura canavieira e manufatura do açúcar para o mercado
europeu.
Mercado consumidor
A produção para o mercado europeu posteriormente se desdobrará nos outros produtos tropicais (tabaco, algodão etc.) em
toda a América colonial (portuguesa, espanhola, inglesa, francesa); mas será sempre em torno deste tipo de produção – ou da
mineração – que se desenvolverá a economia colonial.
A especialização da economia colonial em produtos complementares à produção europeia e seu caráter “monocultor” se
inserem na mesma lógica da época mercantilista, e deriva das condições histórico-econômicas em que se estabeleceu.
A maneira de se produzir os produtos coloniais �ca subordinada ao sentido geral do sistema, ou seja, a produção devia se
organizar de modo a possibilitar aos empresários metropolitanos ampla margem de lucratividade, o que obviamente impunha a
implantação de regimes de trabalho necessariamente compulsórios, semisservis ou propriamente escravistas nas colônias.
Escravismo, trá�co negreiro, formas variadas de servidão formam, portanto,
o eixo em torno do qual se estrutura a vida econômica e social do mundo
ultramarino valorizado para o mercantilismo europeu. A estrutura agrária
fundada no latifúndio se vincula ao escravismo e, através dele, às linhas
gerais do sistema.
A grande demanda estabelecida de mercado para a produção só encontra rentabilidade, efetivamente, se organizada em
grandes empresas. Daí também decorre o atraso tecnológico e o caráter predatório que assume a economia da colônia. A
sociedade se divide em grupos sociais, em castas incomunicáveis, com os privilégios da camada dominante juridicamente
de�nidos, que é a estrutura fundamental do sistema de colonização da época mercantilista.
O Brasil-Colônia se encaixa com exatidão no quadro representativo do antigo sistema colonial e, pode-se dizer, o representa de
forma exemplar. Assim, observando os movimentos históricos dos três séculos de nossa formação colonial é possível enxergar
seus desdobramentos até os dias atuais.
Atividade
1. O sistema colonial espanhol na América se baseava na exploração de metais preciosos no México e no Peru e também na
exploração das terras através da cultivo de gêneros agrícolas como o milho, o tabaco, batata e a cana-de-açúcar.
Essa produção era feita uma unidade de produção e era abastecida de mão-de-obra por outra estrutura do sistema colonial
espanhol.
Assinale a opção que nomeia corretamente o sistema produtivo e o fornecedor de mão de obra dessa produção colonial.
a) cabildo e repartidor
b) cabildo e encomendero
c) hacienda e capitão-mor
d) hacienda e encomendero
2. Baseados em um sistema mercantil em que a metrópole teria o máximo ganho comercial sobre as colônias, os sistemas de
trabalho compulsório introduzidos pelos colonizadores europeus se manifestaram com diversas variações.
A respeito desses sistemas de trabalho compulsório, assinale a opção falsa.
a) Muitos encomenderos acabaram sendo responsáveis pela dizimação de grandes quantidades de população indígena.
b) A encomienda funcionava através da delegação de poderes de exploração do trabalho indígena ao encomendero, que muitas vezes
abusava desse direito.
c) Mesmo não sendo formalmente um tipo de escravidão, a prática hacienda prendia os trabalhadores indígenas a renas controladas pelos
espanhóis por meio de dividas.
d) Desconhecido pelos ameríndios, o repartimiento foi um sistema brutal de exploração do trabalho, que não promoveu nenhum tipo de
integração dos indígenas ao sistema económico europeu.
e) O uso do trabalho escravo africano na América espanhola supriu a escassez de mão de obra, após a dizimação de vastas populações
indígenas, além de garantir arrecadação à Coroa com a venda das licenças de tráfico.
NotasReferências
BLACKBURN, Robin. A construção do escravismo no novo mundo: do Barroco ao Moderno (1492-1800). Rio de Janeiro: Record,
2003.
FURTADO, Celso. A economia latino-americana: formação histórica e problemas contemporâneos. 4. ed. São Paulo: Cia. das
Letras, 2007.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos - a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos.10. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
Próxima aula
A introdução do sistema colonial anglo-saxônico na América.
A luta inglesa para ocupar áreas territoriais na América e estabelecer seu sistema de exploração colonial.
A ocupação prioritária das áreas da América do Norte.
O estabelecimento do modelo de colonização das treze colônias.
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