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9 A crise do sistema colonial na América

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História da América I
Aula 9: A crise do sistema colonial na América
Apresentação
Nesta aula, estudaremos os motivos da crise do sistema colonial na América. Veremos ainda que essa crise deve ser
analisada a partir dos eventos dos dois lados do Atlântico (Europa e América).
Objetivos
Entender o que provocou o enfraquecimento do sistema colonial europeu na estrutura colonial da América.
Identi�car que o avanço do capitalismo em países como Inglaterra e França provocaram mudanças na dinâmica da
economia mundial.
Conhecer a lógica mercantil comercial praticada pelas potências ibéricas.
Motivos da crise no sistema colonial
O �m do Antigo Regime, nas últimas décadas do século XVIII, foi consequência das transformações ideológicas, econômicas e
políticas produzidas pelo Iluminismo, Revolução Industrial, Independência dos Estados Unidos e Revolução Francesa.
Esses acontecimentos, que se condicionaram e se in�uenciaram reciprocamente, desempenharam um papel decisivo para o
rompimento do antigo modo de exploração das colônias, desferindo um golpe decisivo que desembocou no processo de
independência da América colonial.
Iluminismo
As elites da América colonial encontraram na �loso�a iluminista o embasamento ideológico para seus ideais libertários.
 Primeira página da "Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos
ofícios", de Diderot e D'Alembert.
A luta pela autonomia política encontrava sua justi�cativa no direito
dos povos subjugados de lutarem contra quem os oprimia e à luta
pela liberdade econômica na substituição do monopólio comercial
pelo regime de livre concorrência.
Industrial Revolução
Veja, a seguir, a evolução do processo produtivo a partir da Revolução Industrial.
antes depois
forma de produção artesanato manufatura mecanização
unidade produtora doméstica grande oficina fábrica
relação entre produtor e
produto final
trabalho realizado por
uma pessoa
divisão do trabalho (linha
de produção)
aumento da divisão do trabalho (crescimento das
linhas de produção)
Como consequência da Revolução Industrial inglesa, que
inaugurava a era da indústria fabril e da produção
mecanizada, viu-se a necessidade de substituir o monopólio
comercial pela livre concorrência. A exportação das
mercadorias inglesas exigia a abertura dos mercados
americanos ao livre comércio e esbarrava nos entraves
criados pelo pacto colonial.
O exclusivo comercial favorecia apenas as metrópoles que
lucravam duplamente revendendo os produtos coloniais à
Europa e as manufaturas inglesas às suas colônias. Essa
política monopolista, entretanto, prejudicava tanto a
burguesia inglesa quanto as elites coloniais e, assim, o
desenvolvimento do moderno capitalismo industrial
acelerou a crise do antigo sistema colonial mercantilista.  
Fonte: Google.
Revolução Francesa
O maior impacto veio, entretanto, da Revolução Francesa, cujas consequências se �zeram sentir tanto na Europa quanto
na América.
A ascensão de Napoleão Bonaparte, a imposição da supremacia francesa à Europa e o estabelecimento do Bloqueio
Continental contra a Inglaterra desferiram um golpe de morte no decadente sistema colonial ibero-americano.
 Fonte: Google.
A crise na visão dos especialistas
Para um melhor entendimento, apresentaremos as posições consagradas de alguns historiadores que estão entre os maiores
estudiosos do assunto.
Clique nos botões para ver as informações.
“Não é possível explorar a colônia sem desenvolvê-la; isto signi�ca ampliar a área ocupada, aumentar o povoamento, fazer
crescer a produção. É certo que a produção se organiza de forma especí�ca, dando lugar a uma economia tipicamente
dependente, o que repercute também na formação social da colônia. Mas, de qualquer modo, o simples crescimento
extensivo já complica o esquema; a ampliação das tarefas administrativas vai promovendo o aparecimento de novas
camadas sociais, dando lugar aos núcleos urbanos, etc. Assim, de pouco em pouco vão se revelando oposições de
interesse entre colônia e metrópole, e quanto mais o sistema funciona, mais o fosso se aprofunda. Por outro lado, a
exploração colonial, quanto mais opera, mais estimula a economia central, que é o seu centro dinâmico. A industrialização
é a espinha dorsal desse desenvolvimento, e quando atinge o nível de uma mecanização da indústria (Revolução
Industrial), todo o conjunto começa a se comprometer porque o capitalismo industrial não se incomoda nem com as
barreiras do regime de exclusivo colonial nem com o regime escravista de trabalho.”
Fonte: NOVAIS, Fernando A. As dimensões da independência. In: MOTA, Carlos G. 1882: dimensões. São Paulo:
Perspectivas, 1972, p. 23.
Fernando Novais 
“Uma das grandes falhas da historiogra�a brasileira, no passado e ainda hoje, consiste em dissociar o processo da
Independência brasileira do conjunto em que se desenvolveu, seja pelo esquecimento das transformações operadas na
Europa desde os �ns do século XVIII, que se re�etiram nas áreas coloniais e impulsionaram a solução da autonomia, seja
pela omissão do que ocorreu na própria América. O processo da Independência dos povos coloniais americanos,
entretanto, foi único, embora tivesse encontrado diferenças e particularidades, conforme as condições dominantes nas
diversas zonas, desde o Vice-Reinado do México até o do Brasil, passando por Nova Granada, Peru e Prata.”
Fonte: SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1973.
p. 130-131.
Nelson Werneck Sodré 
Saiba mais
Clique aqui para saber mais sobre a visão de Nelson Werneck Sodré.
A forte presença inglesa no Brasil
Como já foi dito, os interesses ingleses estiveram presentes de forma muito clara no processo de emancipação política da
América Latina.
Com relação ao Brasil, sabe-se que a presença inglesa já era notada desde o século XVIII, através do contrabando e
principalmente devido à sujeição de Portugal, em parte, devido ao Tratado de Methuen (tratado assinado entre
a Inglaterra e Portugal, em 27 de Dezembro de 1703).
Foram seus negociadores o embaixador extraordinário britânico John Methuen, por parte da Rainha Ana da Inglaterra, e
D. Manuel Teles da Silva, Marquês de Portugal. Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis
britânicos e, em contrapartida, os britânicos consumiam os vinhos de Portugal. Com três artigos, é o texto mais reduzido da
história diplomática europeia).
A vinda da família real portuguesa para o Brasil, sob a proteção dos ingleses, veio colocar a nu esses interesses e a
presença inglesa tornou-se marcante e sem disfarces.
A Abertura dos Portos foi a primeira exigência inglesa, mas o marco fundamental do predomínio britânico é, sem sombra
de dúvida, o Tratado de 1810.
Melhor dizendo: os tratados, pois, naquela ocasião, Portugal e Inglaterra �rmaram o Tratado de Aliança e Amizade e o de
Comércio e Navegação. Através deste último, concediam-se determinados privilégios alfandegários aos produtos
ingleses.
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Com efeito, quando ocorreu a Abertura dos Portos, estabeleceu-se uma taxa de 24% ad valorem para todo e qualquer produto
importado, independente de sua origem.
Produtos portugueses: taxa de
16%
Posteriormente, e com a �nalidade
de bene�ciar os produtos que
viessem de Portugal ou
transportados pelos navios
portugueses, estabeleceu-se que
estes pagariam apenas 16%.
Produtos ingleses: taxa de 15%
Com o tratado de 1810,
mantiveram-se esses percentuais,
mas de�niu-se que os artigos
ingleses somente pagariam 15%.
Os resultados dessa submissão portuguesa aos interesses ingleses logo
�caram claros: a Inglaterra passou a ter o controle quase exclusivo de nosso
mercado, ao mesmo tempo em que possíveis iniciativas industrializantes
�caram seriamente prejudicadas.
Como se poderia abrir fábricas no Brasil para concorrer com os produtos ingleses? É evidente que a qualidade e os preços de
produtos aqui fabricados não se igualariam aos da Inglaterra. Portanto, apesar de D. João VI ter revogado o Alvará de1785,
tornando possível a abertura de fábricas, estas não apareceram.
Os impactos da crise no sistema colonial espanhol
O caso do sistema colonial espanhol é ainda mais complexo do que o caso do Brasil. A desconstrução do modelo de
exploração de�nido pelos espanhóis começou, como já vimos, no Tratado de Ultrech, em 1713.
Com o Tratado de Ultrech, os espanhóis
foram obrigados a ceder aos interesses
ingleses, permitindo que produtos ingleses
chegassem às suas colônias, mesmo que
em quantidades pequenas. Dessa forma,
possibilitaram que os colonos
percebessem as vantagens de
comercializar sem a Metrópole como
intermediária.
Este universo do comércio de produtos das
colônias espanholas com os ingleses
ampliou-se signi�cativamente com o
contrabando autorizado pelo governo de
Sua Majestade Britânica.

Posteriormente, as guerras napoleônicas,
os bloqueios e contrabloqueios
conectaram ainda mais os interesses
comerciais dos criollos com os do
britânicos, que  passaram a estimular sem
pudores a independência das colônias
hispânicas.
As reformas bourbônicas não surtiram o
efeito esperado, ao contrário,
aprofundaram ainda mais as rivalidades
entre criollos e chapetones.
O maior poder, atribuído pela Coroa espanhola aos nascidos
na Espanha, contribuiu para a disseminação do sentimento
entre as elites coloniais de que eles eram súditos de
segunda classe. Soma-se a isso o fato de que as ideias
liberais tinham grandes adeptos nas hostes coloniais e
esses próceres estavam dispostos a liderar o processo de
libertação.
A pressão econômica oriunda da Revolução Industrial
inglesa, a in�uência política da revoluções francesa e
estadunidense, com peso maior para esta última pelo fato
de ser independentista, as questões das disputas internas
entre criollos e chapetones, os interesses econômicos desta
mesma elite criolla são todos causa e efeito da crise do
sistema colonial espanhol, que já se dissolvia pela própria
fragilidade intrínseca do binômio absolutismo e
mercantilismo.
 Fonte: Wikipedia.
Atividade Dissertativa
1. Quais acontecimentos históricos foram fundamentais para a crise e ruptura do sistema colonial no continente americano?
2. Como o desenvolvimento do Capitalismo Industrial, sobretudo, na Inglaterra e na França, contribuiu para a alteração da
economia mundial?
Notas
Carlos II 1
Carlos II, El hechizado (O enfeitiçado)
O seu apelido veio a partir de sua inclinação para bruxaria e má aparência.
Parece que os sucessivos casamentos entre consanguíneos na família real provocaram tal degeneração que Carlos cresceu
atro�ado, doentio e curto de inteligência, além de estéril.
Suspeitava-se estar sofrendo da síndrome de Klinefelter, o que levou a um sério con�ito de sucessão, pois morreu sem �lhos e
sem deixar herdeiros para o ramo espanhol dos Habsburgos.Referências
BETHELL, Leslie; CESCATO,Maria Clara. História da América Latina. São Paulo: EdUSP, 1997.
BLACKBURN, Robin. A construção do escravismo no novo mundo: do Barroco ao Moderno (1492-1800). Rio de Janeiro: Record,
2003.
FURTADO, Celso. A economia latino-americana: formação histórica e problemas contemporâneos. 4. ed. São Paulo: Cia. das
Letras, 2007.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos - a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.
NOVAIS, Fernando A. As dimensões da independência. In: MOTA, Carlos G. 1882: dimensões. São Paulo: Perspectivas, 1972.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos.10. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1973.
Próxima aula
A independência da América Ibérica.
A construção dos Estados Nacionais na América.
O con�ito entre as nações por faixas de territórios.
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