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4 Sistema colonial espanhol

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História da América I
Aula 4: Sistema colonial espanhol
Apresentação
Nesta aula, veremos como se estabeleu a colonização na América espanhola e entenderemos a economia nas colônias
espanholas, sobretudo a dinâmica da atividade de mineração de ouro e prata dentro da lógica mercantilista.
Além disso, veri�caremos como se deu a regulamentação das atividades econômicas dentro do que �cou conhecido
como Pacto Colonial.
Objetivos
Compreender os objetivos da expansão espanhola e como se estabeleceu a conquista e a dominação das terras
americanas.
Identi�car o choque de culturas entre o velho e o novo mundo.
Entender como, segundo a dinâmica do mercantilismo, os Estados absolutistas estabeleceram o monopólio sobre o
comércio com as colônias, favorecendo as metrópoles.
A descoberta da América por Cristóvão Colombo faz parte do processo de expansão do capitalismo europeu. O
comércio , renascido em �ns da Idade Média e desenvolvido no interior da Europa entre as cidades italianas e
�amengas, foi deslocado, no século XIV, para o litoral atlântico.
Dessa forma, a busca de novos caminhos para atingir o Oriente, terra encarada como fonte de riquezas, passou a
constituir uma questão de sobrevivência. Era necessário enfrentar o Atlântico, explorá-lo, buscando saídas, e para
�nanciar um empreendimento desse porte era condição prévia a existência de Estados Nacionais com poder político
centralizado e recursos �nanceiros volumosos. Portugal e Espanha formaram os primeiros Estados Nacionais. Estavam,
portanto, aptos para liderar o expansionismo marítimo e, levados pela necessidade, assim procederam.
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A conquista da América começa logo após o descobrimento, em 1492, tendo início com a ocupação das Antilhas,
seguida pela conquista do Império Asteca (por Hernan Cortez em 1521) e do Império Inca (por Francisco Pizarro em
1533).
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Durante a conquista, funcionava o sistema de adelantado. Nesse sistema, o Rei concedia um título (de adelantado) aos
conquistadores que empreendessem expedições com meios privados e que se convertessem em representantes da Coroa no
território que conquistassem, com a garantia de poderes civis e militares a todos os particulares que empreendessem a
conquista.
Sociedades americanas – diversidade
Os espanhóis encontraram diferentes tipos de sociedades durante o processo de conquista da América. Elas apresentavam
tipos de organização social, política e econômica diferentes e, para cada uma, adotaram uma forma própria de dominação.
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A economia da caça e coleta exigia uma grande extensão de terra. Eram nômades, pois as aldeias ou povoações
permanentes não eram viáveis. Os grupos eram forçados a migrar, sempre que a disponibilidade local de alimentos
começasse a se escassear. As coisas que podiam possuir eram poucas e limitadas ao que pudesse ser transportado de
um lugar para outro. As habitações, geralmente consistiam de simples barracas, tendas, ou cabanas rústicas feitas de
folhas e cascas de plantas ou de peles secas dos animais caçados. Os grupos sociais nunca podiam ser grandes, já que
apenas um número limitado de pessoas podia conviver, sem esgotar rapidamente os recursos alimentares da região.
Caçadores e coletores 
Grupos que residiam permanentemente em uma área de�nida à volta de uma aldeia, em um acampamento permanente
ou em uma área limitada. Praticavam agricultura comunal e possuíam alguns animais para complementar a atividade
agrícola.
Agricultores sedentários 
As sociedades Inca e Asteca, que possuíam um vasto exército, um hierarquizado sistema administrativo e técnicas
próprias de produção, viviam em impérios centralizados. Já Maias, viviam em cidades-Estado independentes.
Impérios e cidades-Estado 
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Aos espanhóis, interessavam-lhes apenas os grupos que pudessem ser úteis aos seus objetivos. Dessa forma, os caçadores e
coletores que não se enquadravam no sistema colonial que pretendiam implantar eram descartados (exterminados ou, quando
não, expulsos da área que ocupavam).
Eram resguardados os grupos que dominavam a agricultura bem como os Impérios estabelecidos (após serem
impiedosamente combatidos e subjugados, posto que possuíam estruturas sociais e políticas aproveitáveis para exploração
comercial). No caso dos Astecas e Incas, notadamente foram aproveitadas as relações de trabalho previamente existentes.
A economia nas colônias espanholas – mineração
Passado o período da conquista e subjugados os nativos, os europeus montaram sua estrutura de exploração nas Américas.
Embora semelhante em muitos aspectos, algumas diferenças foram se estabelecendo nas diversas áreas de colonização.
A dominação espanhola estabelece-se tendo por base a extração de mineral, secundada por uma agricultura de subsistência e
de um complexo comercial que permitia a chegada dos minerais à Espanha e dos produtos europeus à América colonial.
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Ao longo dos primeiros duzentos anos de dominação colonial, os espanhóis
desenvolveram um setor mineiro que permitiu a manutenção da economia
metropolitana e da posição internacional espanhola em meio às demais
nações da Europa Ocidental.
As primeiras descobertas de minas ocorreram no México e no Peru, no curto período de vinte anos (1545-65). Os territórios
necessitavam de grande quantidade de mão de obra indígena que, recrutada por sorteio, era encaminhada periodicamente às
minas, retornando a seguir às comunidades de origem para ser substituída por novos contingentes requisitados de igual
maneira.
A mita era prática dos Incas (e dos Astecas, chamada de
Cuatequil), que consistia no trabalho forçado das aldeias
durante quatro meses, com o benefício revertido ao Estado.
Os espanhóis se aproveitaram deste esquema na
mineração, assumindo o antigo papel representado pelos
estados indígenas.
Os horrores desse tipo de mão de obra forçada constituem
uma vasta literatura de exploração.
A encomienda era uma concessão feita pelo Rei da Espanha
e empreendedores particulares, que tinham o direito de
exigir das aldeias indígenas prestação de serviços sem
remuneração, sobretudo na agricultura. A escravidão de
negros africanos foi praticada especialmente na agricultura
de produtos tropicais nas Antilhas.
 Minas de Potosí (Peru). Gravura de Théodore de Bry (1596).
A economia nas colônias espanholas – monopólio
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Como já vimos anteriormente, dentro da lógica
mercantilista, os Estados absolutistas estabeleceram o
monopólio do comércio colonial, concretizado na regulação
do trá�co e na política �scalista da Coroa e na ação de
poucos comerciantes concessionários, permitindo que a
metrópole vendesse caro seus produtos à população das
colônias e comprasse barato as exportações americanas. O
monopólio foi, portanto, um dos veículos de acumulação de
capital comercial na Europa nos tempos modernos.
O Estado espanhol manteve esse monopólio até o século
XVIII, quando, após a derrota na Guerra de Sucessão (1701-
1713), assina o tratado de Utretch, permitindo à Inglaterra
comerciar com as colônias hispânicas da seguinte maneira:
navio de permiso – autorização à Inglaterra para enviar
um navio por ano com capacidade de carga de 500
toneladas para comerciar com as colônias espanholas
e
asiento – permissão dada pelo governo espanhol para
outros países para vender as pessoas como escravos
para as colônias espanholas.
Ordenamento social na América espanhola
Divisão étnica como elemento de divisão de classes:
01
Chapetones – Brancos nascidos na Espanha que monopolizavam os altos cargos da administração, da Igreja, da Justiça e
das forças militares coloniais.
02
Criollos – Brancos nascidos na América, com descendentes nascidos na Europa. Formavam a verdadeira elite econômica,
proprietários de terras e de minas. Eram impedidos de atuar no comércio externo e ocupavam cargosinferiores nas
instâncias burocráticas, militares e religiosas da colônia.
03
Mestiços – Originários da miscigenação entre brancos e índios que ocupavam funções intermediárias, tais como de
artesão, capataz e pequenos negócios.
04
Negros – Eram mais comum nas colônias das Antilhas, sendo a maioria escravos.
05
Indígenas – Os mais numerosos na sociedade. Não podiam ser legalmente escravizados, tendo seu trabalho explorado
através da mita e da encomienda.
Estrutura administrativa: a Casa de contratação
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O principal órgão administrativo referente à colônia de natureza econômica foi a Casa de Contratación de las Índias.
Fundada em 1503, em Sevilha, era destinada a fomentar e regular o comércio e a navegação com os novos territórios.
 A Sevilha do século XVI. Atribuído a Alonso Sánchez Coello (1576 -1600).
A Casa não era uma organização dedicada ao comércio, mas ao seu controle. O comércio cabia exclusivamente a particulares.
Teve, inicialmente, as funções de uma alfândega, examinando as cargas e as importações e exportações, bem como
recolhendo os tributos, especialmente os que iam para a Coroa. Registrava os passageiros que saíam para as Índias e era
também responsável pelo controle técnico: armava e aprovisionava os navios que navegavam por conta da Coroa e
inspecionava os navios particulares, antes de zarparem, para assegurar-se de que estavam em condições de navegabilidade.
O Conselho das Índias
Na terceira década do século XVI, tendo a Espanha se tornado a maior potência da Europa, o poder real, que começara a se
a�rmar, promove uma série de mudança no setor administrativo, com tendência claramente centralizadora, como
manifestação de sua a�rmação. O interesse da realeza era recuperar cada vez mais os seus poderes para arrecadar com mais
e�ciência as rendas dos novos territórios ultramarinos.
A Coroa passou, então, a implantar um complexo aparelho
administrativo e �scal. O poder político passou dos conquistadores
para os funcionários da máquina estatal, pagos pelo erário régio.
A autoridade suprema para todas as questões coloniais, em Madri, era o Conselho das Índias . Inicialmente, após o retorno
de Colombo de sua segunda viagem, a Rainha Isabel escolheu alguns membros do Conselho de Castela, para sob a direção de
seu capelão Juan Rodríguez de Fonseca, gerir os assuntos americanos.
3
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Vice-Reinos
O cargo político mais importante nos territórios ultramarinos espanhóis era o de vice-rei, que recebia uma alta remuneração.
Eram representantes diretos do Rei da Espanha e responsáveis por comandar os exércitos coloniais, controlar armas, �scalizar
a conversão dos índios, com poderes para intervir em todos os assuntos da colônia. Entretanto, o vice-rei não podia, entre
outras coisas, tornar-se independente do controle da metrópole, nem tampouco dispor do dinheiro público por sua própria
autoridade.
Tinham os poderes limitados apenas pelas Audiências (tribunal de apelação de estrutura colegiada – principal órgão de justiça
de Castela, criado por Henrique II em 1369) e pelos Juízes de Visitação, mandados da Europa para �scalizar a administração.
Em 1535, foi criado o Vice-reino de Nova Espanha, abrangendo o México e parte da América Central; em 1544, o Vice-reino do
Peru, englobando boa parte da América do Sul espanhola (atuais Bolívia, Peru, Equador, Paraguai e Argentina). Quanto à sua
formação, o vice-rei podia ser advogado, eclesiástico ou um militar aristocrata.
O seu poder era grande: exercia o cargo de governador da província pertencente à sua capital, presidia à audiência do vice-reino
e era também capitán general. Ao vice-rei não cabiam atribuições jurídicas ou administrativas concretas. Como representante
do poder real, ele dispunha de uma autoridade política geral e sua esfera de in�uência foi delineada inicialmente para o México
e para Lima. O Império colonial não estava dividido em dois vice-reinos representando entidades administrativas fechadas em
si.
Os poderes e atribuições do vice-rei eram regulados pela Coroa: as nomeações para as sedes episcopais e a organização de
tropas pagas para repelir uma invasão, por exemplo, tinham de ter a prévia aprovação do rei. Além disso, ele era vigiado e, de
certo modo, contido pelos juízes de audiência e, como os demais funcionários, deveria ser submetido a uma residência, ou seja,
uma investigação judicial quanto ao desempenho de seu cargo, ao �nal de seu mandato. Na prática, o poder do vice-rei
dependia de sua habilidade.
Audiências
Antes mesmo da criação do primeiro vice-reino, um importante passo na organização administrativa das colônias havia sido
dado pela metrópole, com a criação, em 1511, da audiência de Santo Domingo. Um tribunal de apelação de estrutura colegiada,
a audiência era um composto por juízes pro�ssionais, os oidores, que tinham formação jurídica e seguiam o direito civil geral.
A Audiência foi um instrumento e�caz de controle das autoridades
representantes da Coroa contra o abuso de poder. Embora fosse uma
instância de caráter exclusivamente jurídico, desempenhou um papel
altamente político durante a história colonial.
Cabildos
Cabildos eram as corporações municipais (câmaras), responsáveis pelos assuntos legislativos e judiciários locais. Eram
compostos pela elite dos criollos.
Eram uma importante instituição de autogoverno na colônia, que futuramente centralizariam os movimentos de
independência.
Atividade
1. Os espanhóis encontraram diferentes tipos de sociedades durante o processo de conquista da América. Os grupos que
residiam permanentemente em uma área de�nida à volta de uma aldeia se denominavam:
a) caçadores e coletores.
b) agricultores sedentários.
c) impérios e cidades-Estado.
2. A autoridade suprema para todas as questões coloniais, em Madri, era:
a) Cúria romana.
b) Conselho das Índias.
c) Conselho de Castela.
3. É característica dos Cabildos:
a) ser composto pela elite dos Chapetones.
b) tratar-se de corporações municipais (câmaras), responsáveis pelos assuntos legislativos e judiciários locais.
c) Ser composto por juízes profissionais, que possuíam formação jurídica e seguiam o direito civil geral.
Notas
Comércio 1
A escassez de metais preciosos provocava falta de moeda em circulação, agravando os problemas já existentes. As nações da
costa atlântica (Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda), detentoras do comércio sobrevivente, eram as que mais
sofriam com a crise e, para superá-la, precisavam encontrar metais preciosos para valorizar suas moedas. Por outro lado,
dependiam das cidades italianas para o fornecimento das mercadorias orientais trazidas pelos árabes, que dominavam o
comércio Mediterrâneo.
Conquista do Império Asteca 2
Para começar, consideraremos as explicações geralmente propostas para a vitória fulgurante de Cortez. Uma primeira razão é
o comportamento ambíguo, hesitante e até mesmo melancólico, bastante próprio de Montezuma, que não opõe a Cortez
quase nenhuma resistência (fato relacionado à primeira fase da conquista, até a morte dele).
Esse comportamento talvez tenha, além de motivos culturais, razões pessoais. É importante ressaltar que, em vários aspectos,
esse comportamento difere dos demais dirigentes astecas. Tendo os espanhóis chegado à sua capital, o comportamento de
Montezuma é ainda mais singular. Não somente se deixa prender por Cortez e seus homens, como também, uma vez preso, só
se preocupa em evitar qualquer derramamento de sangue.
Diante dos inimigos, prefere não usar seu imenso poder, como se não tivesse certeza de querer vencer; como diz Gomara,
capelão e biógrafo de Cortez:
Mesmo promovendo a destruição da cultura dos povos dominados, Cortez relata que as maravilhas que vê são as maiores do
mundo, senão vejamos:
“Nossos espanhóis nunca puderam saber a verdade, porque na época não
compreendiam a língua, e depois já não vivia nenhuma pessoa com quem
Montezuma pudesse ter compartilhado seu segredo.”
- Gomara“Não há nenhum príncipe conhecido no mundo que possua coisas de tal qualidade”;
“No mundo todo não se poderia tecer vestimentas como essas, nem feitas com cores
naturais tão numerosas e tão variadas, nem tão bem trabalhadas”; “Os templos são
tão bem construídos, que não se poderia fazer melhor em parte alguma. Tão
finamente executados em ouro e prata que não há joalheiro no mundo capaz de
fazer melhor” e “Essa cidade – do México – é a coisa mais bela do mundo.”
- (das crônicas de Bernal Díaz del Castillo, citado por Todorov)
Conselho das Índias 3
A este grupo de conselheiros encarregados de todos os assuntos referentes aos territórios recém descobertos deu-se o nome
de Real y Supremo Consejo de las Índias. Sua existência separada e legal foi decretada pelo imperador Carlos V, em 1524.
O conselho foi, predominantemente, um órgão legal e suas decisões dependiam somente do Rei. Inicialmente, a composição
do Conselho era variável, bem como o seu lugar de residência, seguindo a peregrinação da Corte. O Conselho das Índias, além
de ser uma autoridade administrativa era também um tribunal superior em todas as causas cíveis e penais referentes aos
territórios americanos. Estava constituído por um presidente e seus conselheiros, juristas burgueses, chamados de letrados,
legistas oriundos da pequena nobreza e da burguesia, formados na ciência jurídica universitária, além de estar composto por
eclesiásticos.
As decisões do Conselho se estendiam a todas as instâncias da vida colonial: consultivas, legislativas e jurídicas. Como cabeça
hierárquica de toda a autoridade administrativa, ele dirigia a administração civil, militar, fazendária e de justiça, além de estar
encarregado do padroado régio. Nessa função, controlava a administração eclesiástica nas Índias, bem como o contato entre o
clero colonial e a Cúria romana.
Referências
FURTADO, Celso. A economia latino-americana: formação histórica e problemas contemporâneos. 4. ed. São Paulo: Cia. das
Letras, 2007.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos - a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2007.
PINSKY, Jaime et al. História da América através de textos.10. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
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