Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arquitetura e urbanismo Kátia Martins Cavalcanti RELATÓRIO 4 PALESTRA IGREJA NOSSO SENHOR DOS PASSOS Vitória - ES 2021/1 Kátia Martins Cavalcanti RELATÓRIO 4 PALESTRA IGREJA NOSSO SENHOR DOS PASSOS Trabalho sobre Relatórios da Palestra sobre a Igreja Nosso Senhor dos Passos proferida pela Arquiteta Cora Augusta Duarte Aguieiras apresentada à disciplina de Restauro de Argamassa, Adornos e Pinturas, nono período do Curso de Arquitetura do Centro Universitário Salesiano a Prof.ª Anna Karine Bellini. Vitória - ES 2021/1 RELATÓRIO DA PALESTRA DO RESTAURO DOS BENS CULTURAIS INTEGRADOS MATRIZ NOSSO SENHOR DOS PASSOS. No dia vinte e cinco de fevereiro no ano de dois mil e vinte um, quinta-feira, recebemos via teams a Arquiteta Cora Augusta Duarte Aguieiras a convite da Professora Anna Karine, para apresentar aos alunos do nono período do Curso de Arquitetura e Urbanismo o trabalho do Restauro dos Bens Culturais Integrados Matriz Nosso Senhor dos Passos. Segundo a Arquiteta Cora Aguieiras, é importante os estudantes saberem sobre o Concílio de Trento realizado 1545 a 1563 realizado para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica onde o Cardeal Carlos Borromeo (São Carlos Borromeo), empenhou-se na publicação de suas Atas e do Catecismo Romano, conforme dispunha o Concílio e trabalhou para pôr em prática as resoluções deste grande Concílio da Igreja. Esse documento percorreu o mundo dizendo como deveriam ser construídos os templos, chega ao Brasil primeiro no estado da Bahia em 1707 e fica vigente até 1763. As normativas da igreja vêm Concílio Vaticano II (1962-1965), em relação ao espaço litúrgico. Para fazer qualquer projeto para a igreja o arquiteto tem que conhecer as normativas do Vaticano II. A Comissão Diocesana de Bens Culturais da Igreja de Cachoeiro de Itapemirim é composta por arquitetas, fotógrafo, restaurador, técnico em edificações e um presbítero que representa o Bispo na Comissão. A Matriz Nossa Senhor dos Passos em Cachoeiro de Itapemirim de 1879, importante expressão da arquitetura religiosa remanescente do século XIX. A Capela Nosso Senhor dos Passos era propriedade do Capitão Francisco de Souza Monteiro e Dona Henriqueta Rios de Souza Monteiro (proprietários da Fazenda Monte Líbano), teve sua construção iniciada no dia 01 de junho de 1879 pelos construtores Manoel Caetano da Costa e Antônio Caetano da Costa e foi ampliada e recebeu uma nova intervenção com uma fachada eclética sendo concluída às pressas no ano de 1882 para servir a comunidade pelo fato da Matriz do Divino Espírito Santo ser destruída pela enchente em Cachoeira de Itapemirim. Essa edificação do final do século 19 tem alguns elementos no interior que permanece até hoje por ser de uma época onde se rezava de outra maneira. Doada legalmente à comunidade católica do município de São Pedro do Cachoeiro no ano de 1899 quando da visita de Dom João Batista Corrêa Nery, primeiro Bispo do Estado do Espirito Santo. Foi realizada uma ação na arquitetura e nos elementos integram a igreja, primeiro passou por um processo de intervenção na arquitetura onde refez pintura. O restauro foi desenvolvido junto com uma equipe com conhecimentos bem específicos, foi possível deter uma ação para salvaguardar os bens integrados da Matriz de Nosso Senhor dos Passos, tombada em âmbito estadual em 1985. A Diocese de Cachoeiro de Itapemirim em parceria com a SECULT-ES e o Instituto SINCDES possibilitaram o restauro que contemplou o resgate do retábulo mor que ao fundo do altar do presbitério, os dois altares laterais, o arco cruzeiro em madeira e novas instalações elétricas. As peças foram feitas em talha à base de canivete por um artesão português se tornando peças únicas, não tendo outra igreja no Espírito Santo com essa riqueza desses entalhes. É uma igreja retangular toda em madeira com paredes em tijolo maciço, ao fundo temos o retábulo mor e a camarinha com a imagem do nosso Senhor dos Passos, o arco cruzeiro e os dois altares laterais. Os altares de madeira foram entalhados entre 1882 e 1884 pelo mineiro Domingos Gonçalves de Abreu e Lima, conhecido como Domingos Santeiro e segundo a historiadora Maria Stella Novaes trabalhada a talha em canivete bem afiado. DESCRIÇÃO DO IMÓVEL A Matriz Nosso Senhor dos Passos é expressão da arquitetura eclética. Está implantada em um largo de traçado secular, perto do antigo Porto de Cachoeiro. Possui forma retangular, constituída por nave central e duas naves laterais com altares e retábulos de madeiras com características ecléticas, onde têm elementos da arquitetura mourisca, barroco e do neogótico. Na nave, antes do Arco-Cruzeiro para a capela-mor que contém retábulo em madeira entalhada, existem dois altares laterais dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora da Penha, posteriormente acolhendo a imagem de Nossa Senhora das Dores. Nos fundos possui a sacristia e acesso às tribunas e camarinha vinculada ao retábulo do altar mor. O coro e galerias, tribunas laterais, são sustentados por Pilares com Arcos em madeiras com elementos decorativos. A estrutura é em alvenaria de tijolos maciços cozidos, autoportantes nas paredes e pedras nos blocos da base. A Cobertura de telhas de barro tipo capa-canal sobre engradamento de madeira possui duas águas, a fachada frontal apresenta- se simétrica, com frontão triangular, óculo, porta central ladeada por colunas em relevo e janelas. Nas Fachadas laterais são visíveis as portas-balcões com vergas em arcos abatidos e guarda-corpos em ferro fundido. A fachada posterior possui aberturas que iluminam a camarinha. As esquadrias são diferenciadas, com formas diversas com vergas retas, em ogivas e arcos. Os pisos da nave central e laterais da igreja, bem como do presbitério, é em tábua de madeira, apresentando deterioração em alguns trechos. Figura 1: Locais intervencionados É responsabilidade do arquiteto a coordenação e compatibilização de toda intervenção, primeiro é necessário ter um levantamento do que precisa ser realizado e buscar a assessoria no Núcleo de Conservação e Restauro da UFES. Foi feita uma proposta com a seguinte descrição do serviço de restauro: - Mapeamento de todas as peças de todos os retábulos/Dedetização - Limpeza de toda policromia (remoção das sujidades) - Desmontagem das partes que sejam necessárias desmontar - Remoção da repintura de Diwali nos nichos dos altares laterais Investigação de todos os pontos com ataque de cupins - Consolidação e preenchimento das galerias de cupim mais profundas, utilizando microesfera de vidro, um material sem peso e inerte. - Reconstituição dos ornamentos perdidos - Refixação de policromia - Aplicação de camada de verniz intermediário - Nivelamento das partes que contenham perdas - Reintegração cromática - Aplicação de verniz final Segundo Cora, “tomar certas decisões do que vai ser feito e de grande responsabilidade e muitas vezes doída, o desejo é de salvar” como foi o caso da remoção da repintura de Diwali onde foi optado pela remoção tendo o cuidado de fazer todo o registro fotográfico. Todos os cuidados foram realizados baseados nas Cartas Patrimoniais, também a Carta de Restauro e assim como no restauro e na arquitetura demarcando o que esta sendo feito com técnicas atuais no bem integrado. As dificuldades e desafios nesta intervenção foram o cupim, a água e o padre. Como exemplo, a equipe teve que lidar com algo inesperado, com exigência do padre para montar e desmontar os andaimes toda semana em um pé direito de treze metros devido aos casamentos previstos. Em todo o tempo foram usados os equipamentos de proteção necessária para o trabalho de restauro. Outro imprevisto foi apósfazer toda limpeza do retábulo o padre acendeu todas as velas da camarinha durante um casamento durante o período de uma hora e meia e foi perdido todo o trabalho de uma semana. A primeira ação foi a descupinização das madeiras dos retábulos mor, altares laterais e arco cruzeiro, o técnico em restauro Carlos Alberto Vinte junto com o arquiteto e foram identificando os principais pontos onde os cupins se encontravam e fez pontualmente a aplicação do produto químico por meio de bomba manual e pistola automática. Mesmo tendo todo o cuidado descobriu-se três anos depois uma fissura que começou a abrir entre a alvenaria e a madeira do pilar do arco cruzeiro e foi descoberta uma grande área com uma casa de cupim. Foi feito teste de solvência para saber qual o tipo de solvente trabalhar e também levaram amostras para laboratório para identificar o que tem e qual a proporção para saber que tipo de material irá usar para manter a questão da reversibilidade para poder voltar ao que estava antes. A limpeza de policromia no altar-mor lateral a direita foi realizada mecanicamente com trincha macia e a limpeza química foi realizada com citrato de amônio diluído em agua deionizada toda feita à mão com grandes cotonetes feita pedaço por pedaço. Os excrementos de insetos foram removidos com o auxilio de bisturi. Os adornos encontravam-se quebrados, mas do outro lado havia outro inteiro dando a possibilidade para reconstituir o faltante. Para refazer o pináculo foi decidido fazer com material que pudesse identificar o momento da intervenção que estava sendo feita, poderia ter sido feito em madeira, mas a equipe decidiu deixar demostrado realmente à época do material utilizado, sendo todo o processo registrado. Foram feitas várias prospecções para tomar a decisão de como manter e o que manter o que estava sendo encontrado na igreja. No retábulo-mor algumas peças de madeira teve que ser trocada integramente devido ao ataque de térmitas, não tinha como recuperar, a madeira esfarelava, o mestre em carpintaria Valdir Volpato executou a troca das madeiras por Peroba Mica aparelhada e foram registrados os tamanhos de todas as peças mapeando mostrando onde estava entrando. A reintegração cromática a maior parte foi feita com folhas de ouro e outra parte que já havia passado por outro processo teve o douramento reintegrado com tintas guaches “talens” em dois tons dourados. A instalação elétrica precisava ser trocada com urgência e foram feitas a troca de toda a fiação existente, a substituição de todas as lâmpadas para LED, novo quadro de distribuição interno com barramento e aterramento, substituição de disjuntores para norma DIN curva "C", execução de iluminação de emergência e troca de tomadas e interruptores, executada pelo engenheiro eletricista Diogo Eugênio de Luca e o eletricista Fabrício Brito onde. Nos altares laterais havia pinturas de carinhas de anjinhos do Diwali em placas de Eucatex e quando começou a intervencionar tiveram a surpresa de encontrar por trás uma pintura de 1882 a 1884 de valor artístico e histórico, essa pintura não havia referência para fazer a reintegração e foi tomada a decisão em deixar exposto o que foi encontrado para agregar um valor diferente ao bem existente. Com isso teve que enfrentar o Padre e a comunidade, o Padre pelo fato de querer colocar papel de parede com estrelinhas para cobrir a pintura descoberta e desbotada e a comunidade por não entender e pensar ser feio e inacabado. Algumas pessoas conseguiram reconhecer o valor e a representatividade dessas pinturas que demarcam a influência barroca. Foi uma decisão difícil dos altares laterais ficarem com essa pintura que foi descoberta e que ficou a mostra, mas foi muito bem fundamentado e de forma consensual com a equipe técnica foi decidido continuar com essa pintura antiga, sendo que a total responsabilidade continua sendo do arquiteto. O desafio do arquiteto é escolher uma equipe coesa e competente e acompanhar todo o processo de nivelamento, preenchimento, reconstrução, reintegração e finalizado, fazer entrevistas e antes de intervencionar saber onde cada profissional irá atuar e à medida que vai desenvolvendo o trabalho. É necessário ter um cronograma financeiro com todo o levantamento realizado pelos técnicos de modo poder executar o restauro até o final, à medida que vai intervencionando e vai surgindo dificuldades e não teria como ter mais recursos por parte da igreja, caso contrário ficaria partes sem a salvaguarda. Nas intervenções às vezes se descobre algo que precisa de outro tipo de ação. Por exemplo, quando o piso foi levantado para saber o que estava acontecendo com o arco cruzeiro, foi descoberto do lado direito embaixo do piso seis ossadas, quando acontece isso o primeiro passo é comunicar ao órgão que tombou, no caso a SECULT e imediatamente chamar o IPHAN por ser um achado arqueológico. O técnico do IPHAN está sendo aguardado, para fazer todo o registro e exumar para tentar conseguir a referência de quem são essas ossadas, mas no momento está tudo parado devido à pandemia. A intervenção aconteceu de dezembro de 2015 a outubro de 2016, hoje está na eminência de começar uma nova intervenção que vai contemplar por baixo do piso, novamente a base do arco cruzeiro, pintura interna e externa. A presença da Comissão de Bens Culturais é de extrema importância às decisões devem ter a anuência dos técnicos da comissão de bens culturais e autorização do Bispo Diocesano no caso de uma edificação religiosa e os padres não tem autorização para decidir nada. Devemos escolher os profissionais com cuidado, muitos se apresentam como restauradores e não o são podendo a vir descaracterizar o local. Toda intervenção deve ser registrada tendo a presença de um fotografo e anotar todas as informações possíveis, precisamos estar capacitados para coordenar uma equipe multidisciplinar para poder intervencionar em uma edificação onde terá uma ação de restauro, de revitalização no que é remanescente de outra época é necessário todo o levantamento preliminar, cadastral tudo bem detalhado e identificar qual profissional que irá atuar nas várias etapas, sempre referenciado nas Cartas Patrimoniais e também na Carta de Restauro. Os arquitetos que tem interesse na área deve procurar fazer uma especialização em arte sacra e espaço litúrgico e temos o dever de lutar para o que é falso não aconteça. Segundo Cora a “equipe teve todo o cuidado para que não existisse nenhum tipo de intervenção que implicasse num falso histórico”. O arquiteto quando está à frente de uma intervenção fica muito exposto e não consegue agradar a todos, precisa estar com o psicológico e o emocional preparado e ser firme nas decisões, estar sempre atualizado e estudando a fundo sobre a edificação a ser intervencionada, procurar ajuda de profissionais que tem maior conhecimento e vivência e seguindo com simplicidade, tranquilidade e firmeza para salvaguardar e ser um guardião para prolongar a história a ser contada para outras gerações.
Compartilhar