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1 Anemias Hipoproliferativas - Anemia Ferropriva | Larissa Gomes de Oliveira METABOLISMO DO FERRO Primeiro, é importante lembrar quais as formas que conseguimos o ferro no nosso organismo e como esse ferro é absorvido. Conseguimos o ferro de algumas maneiras, como nos alimentos, através: • Da carne, que da origem ao ferro heme (ferro liberado pela pepsina no estomago para a absorção) • E outra parte é conseguido através de vegetais, que é o ferro inorgânico (que para se absorvido, ele tem que ser reduzido pelo PH do ácido no estomago). Depois de todo esse tratamento, seja pelo ph ou pela pepsina, o ferro será absorvido no nosso intestino, principalmente no duodeno e na parte do jejuno proximal. Porém, a maior parte do ferro que conseguimos na dieta, vai ser eliminado nas fezes. Para isso, o nosso organismo possui alguns mecanismos que regulam se esse ferro será absorvido ou excretado. Há algumas substancias que facilitam a absorção do ferro na dieta, como: • A vitamina C • Ácidos orgânicos • Proteinas da carne E há algumas substancias que dificultam a absorção, como: • Fitatos • Oxalatos (encontrado no cacau, tomate) • Antiácidos (que reduz o ph do estomago, dificultando a absorção) • Cálcio • Alguns medicamentos Chegando no intestino, o ferro pode ter dois destinos ao ser absorvido: → Ou ele é estocado na própria mucosa intestinal, na forma de ferritina (que é a principal reserva de ferro no nosso organismo), formada por: Apoferritina + núcleos hidroxifosfato de ferro OBS: não se encontra ferritina só na mucosa intestinal, a ferritina vai ser encontrada em diversas células e tecidos que vão precisar ter um estoque de ferro, como na medula óssea, no fígado... Se esse ferro não for absorvido, com a descamação da mucosa intestinal, esse ferro vai ser eliminado nas fezes. Se não, se esse ferro for absorvido, ele vai ser transportado regulado pela ferroportina, que levará esse ferro para o plasma. A ferroportina vai sofrer ação da hepicidina que é um hormônio regulador desse transporte de ferro para dentro do plasma, e é um hormônio produzido no fígado. A hepicidina vai fazer uma ação de inibição da ferroportina. (então quanto maior a ação da hepicidina, menor será a absorção da ferritina, pois a hepicidina vai estar 2 Anemias Hipoproliferativas - Anemia Ferropriva | Larissa Gomes de Oliveira dificultando esse processo de transporte do ferro para dentro do plasma). Em situações que o organismo precisa de ferro, como em situações de hipóxia, ou de anemia, quando o ferro estar baixo, o organismo vai diminuir a ação da hepicidina, para que a ferroportina seja melhor absorvida. No plasma, esse ferro não vai ser absorvido facilmente, primeiro ele vai se ligar a trasnferrina pra poder ser levado para todos os tecidos do organismo que precisam dele. Um dos que mais precisa é a medula óssea, porque esse ferro vai ser utilizado na produção de hemoglobina pra os eritrócitos. Na medula óssea esse ferro vai ter dois destinos também: ▪ Ou ele vai ser acumulado na forma de ferritina pra caso a medula óssea precise de mais ferro, já tenha o estoque. ▪ Ou ele vai ser transformado em hemoglobina levado para os eritrócitos. Os eritrócitos vão fazer o seu ciclo de vida normal e depois vão ser destruídos e esse ferro utilizado vai ser reaproveitado, em que no baço, esse ferro vai ser recuperado e vai ser ou estocado na forma de ferritina, ou vai ser liberado de volta para a circulação, se ligando a transferrina e fazendo todo o ciclo do ferro novamente. Desse modo, o ferro fica circulando por muito tempo circulando no organismo. OBS: se nota que a transferrina é a principal proteína associada ao ferro plasmático circulante, enquanto que a ferritina está associada ao ferro armazenado no interior das células. ETIOLOGIA DA ANEMIA FERROPRIVA É a anemia mais comum do mundo. Está associada principalmente a condições de baixa renda, onde se tem carência nutricional, associada a uma higiene precária. O principal diagnostico diferencial, é com Talassemia ou anemia de doença crônica. Há 3 principaos causas de anemia ferropriva: 1. A primeira causa é quando há uma ingesta de ferro menor que a demanda do organismo. Ocorre mais em situações de crianças e adolescentes que estão em fase de crescimento, mulheres em fase menstrual, gestantes, e em casos que há uma dieta pobre em ferro. 2. Outra causa é quando se tem deficiência na absorção desse ferro. Então em casos de enteropatia por glúten (que há alterações do TGI), pessoas que fizeram cirurgia bariátrica que quando há a retirada de parte do estomago e intestino, há alterações no PH e consequentemente na absorção desse ferro. 3. E sangramento (que é a principal etiologia) Principalmente sangramento crônico (sangramento agudo dificilmente vai levar a uma anemia ferropriva). A principal parte onde se encontra esse sangramento crônico, vai ser no TGI, então esses pacientes precisam ser investigados se tem alguma gastrite, ou até um tumor. Além disso, tem o sangramento uterino e em pacientes se sofrem com o aumento do 3 Anemias Hipoproliferativas - Anemia Ferropriva | Larissa Gomes de Oliveira fluxo menstrual... podem também desenvolver anemia ferropriva QUADRO CLÍNICO O paciente vai ter uma anemia microcítica e hipocromica, então ele vai ter os sinais típicos de anemia. OBS: As anemias microcíticas e hipocrômicas são caracterizadas pelo pequeno tamanho dos eritrócitos (VCM<80fL), concentração baixa de hemoglobina (CHCM<32%) com índice elevados de RDW (valor de referência: 12 a 14,4 %). Desse modo, esse paciente vai apresentar fadigam palidez de mucosas, dispneia aos esforços. Além de “boqueira” que é um machucado do lado da boca, a unha em forma de colher (coiloníquia), além de perversão do apetite (querer comer gelo, terra... coisas que não tem valor nutricional adequdo). Em algumas mulheres, principalmente idosas, pode desenvolver o que é chamado de síndrome de Plummer-Vinson ou Paterson-Kelly, que é a presença de uma membrana que se forma entre a hipofaringe e o esôfago, que pode ser revertida com a reposição adequada de ferro. Em alguns casos, pode apelar com interferência com endoscopia para resolver esse processo. DIAGNÓSTICO Os sintomas da anemia ferropriva dependem da progressão da doença, então quanto pior a anemia ferropriva, mais crônica ela for e menor estoque de ferro, mais grave será esse quadro clinico. EXAMES LABORATORIAIS No hemograma encontramos microcitose (hemácias com tamanho menor que o normal), além de hemácias em alvo e hemácias em forma de lápis. Também no hemograma, encontramos hematócrito (Ht) baixo, o VCM também vai estar baixo porque as hemácias vão estar com volume diminuído e um RDW aumentado (que quer dizer que as hemácias possuem tamanhos diferentes entre si). A ferritina é o principal marcador de ferro no nosso organismo, então ele vai ser o primeiro marcador a se alterar e é o melhor indicador laboratorial do estoque de Fe. Como a clinica da anemia ferropriva só começa quando o estoque de Fe começa 4 Anemias Hipoproliferativas - Anemia Ferropriva | Larissa Gomes de Oliveira a acabar, então o primeiro ponto será uma ferritina diminuída. Só que a ferritina tem um ponto importante, porque ela também é uma proteína de fase aguda, então situações inflamatórias, pode encontrar uma ferritina aumentada. Outros exames laboratoriais específicos do ferro, são: dosagem de ferro sérico que também vai estar baixo, saturação de transferrina que vai estar baixa, ou seja, esse carreador do ferro não vai estar saturado com ferro, o estoque de ferro para ele levar vai estar baixo. Além da capacidade total de ligação do ferro/TIBCvai estar alta. O exame padrão ouro para o diagnostico é o mielograma com pesquisa de ferro medular. Mas é um exame que não é pedido muito, porque com os exames laboratoriais já citados acima, o quadro clinico consegue ser fechado e o mielograma é um exame mais invasivo. TRATAMENTO A anemia sempre deve ser investigada, porque ela não é só uma doença em si, ela pode ser o sinal de uma coisa mais grave. Outro ponto, é que dieta sozinha não resolve, então, além disso, alguns medicamentos devem ser indicados, tais como: ▪ Ferro por via oral. A forma mais utilizada é o sulfato ferroso, que tem 200 mg/comp e cada comp. desse vai conter 67mg de ferro elementar. A dose pra o adulto é de 2 a 3 mg/kg/dia de Fe elementar. Então o adulto vai tomar de 2 a 4 comprimidos por dia. Lembrando que pra administrar esse comprimido por via oral, deve ser com o estomago vazio, pra não sofrer interferência daquelas substancias mencionadas que dificultam a absorção. E de preferencia que seja com uma substancia acida, como o suco de laranja, que tem vitamina C, sendo duas coisas que vão facilitar a absorção desse ferro (o Ph e a vitamina C). Os principais efeitos colaterais do tratamento por via oral, são: náuseas, dor abdominal, constipação/diarréia, pode sentir gosto amargo na boca e escurecimento das fezes. O objetivo desse tratamento, é normalizar o hemograma desse paciente e repor o estoque de ferro, que vai ser analisado pelo estoque de ferritina e isso demora cerca de 6 meses de tratamento para que esse estoque seja normalizado. Entretanto, ainda se pode ter falhas no tratamento por via oral devido a algumas causas como: dose inadequada pra esse paciente, baixa adesão, problema de absorção, persistência da causa base de anemia. E para esses casos, é utilizado o ferro parenteral, onde os principais utilizados são (o ferro-dextran, o gluconato férrico de sódio, o ferro-sucrose e o feromoxitol). O principal efeito colateral dessas medicações: é um caso de anafilaxia grave que pode dar principalmente com o ferro- dextran. 5 Anemias Hipoproliferativas - Anemia Ferropriva | Larissa Gomes de Oliveira REFERÊNCIAS HOFFBRAND, Victor A., et al. Fundamentos em hematologia. Moss, 7ª edição – 2018. Editora Artmed. ZAGO, Marco Antonio, et al. Tratado de Hematologia, 1ª Edição – 2013. Editora Atheneu.
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