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Julia Paris Malaco – UCT17 SP2 – coagulograma Hemostasia A hemostasia é o processo fisiológico para a cessação de uma hemorragia. Sem a hemostasia, surgem várias doenças que manifestam sangramentos. Por outro lado, na vida humana atual, várias doenças inflamatórias e neoplásicas e, principalmente, as alterações vasculares, como a ateromatose arterial, a estase venosa e as dilatações de câmaras cardíacas, favorecem a ocorrência das tromboses e do tromboembolismo. Conclui‐se, por ora, que se trata, de fato, de uma “balança” que equilibra as tendências aos sangramentos (coagulopatias) e às tromboses (trombofilias). A hemostasia compreende: Interação endotélio e plaquetas. Ativação e a regulação dos fatores de coagulação e a polimerização da fibrina. Fibrinólise. Os fatores de coagulação produzidos no fígado pelos hepatócitos com a participação da vitamina K (fatores VII, IX, X e II) são proteases fundamentais na ativação e na regulação. Circulam no plasma por horas a dias até que são ativados pelos fosfolipídios celulares (células endoteliais, leucócitos, plaquetas etc.) juntamente do Ca2+. A trombina, convertida da protrombina, exerce um papel multifuncional. Os cofatores V e VIII e os fatores XI e XIII somam suas ações. Proteínas reguladoras participam modulando a ativação (proteína inibidora do fator tecidual, proteínas S e C, antitrombina). A clivagem dos fibrinopeptídios terminais do fibrinogênio ocorre para a formação da fibrina. Finalmente, a fibrinólise evita a extensão excessiva do trombo. Hemostasia primária: a atua regredindo o sangramento por meio da formação de um trombo ou tampão plaquetário. A formação do tampão de plaquetas em um sítio de injúria vascular requer a integridade de três componentes da função plaquetária: adesão, ativação e agregação. As plaquetas aderem ao colágeno subendotelial, ativam‐se e agregam‐se entre si em um processo intenso e amplificado para a formação do tampão (plugue) plaquetário. A adesão é mediada pela ligação das glicoproteínas de membrana (GPIbe GPIX) ao fator de von Willebrand (FvW – uma glicoproteína multimérica circulante de vários tamanhos) e ao colágeno. A ativação resume‐se em três mecanismos: Mudança da forma discoide da plaqueta para uma esfera com projeções. Produção do tromboxano (TXA2) a partir do ácido araquidônico pela via da cicloxigenase e secreção dos conteúdos granulares (ADP, FvW, fibrinogênio, cálcio, fatores etc.). A ativação pelo colágeno é mantida, inicialmente, pelos TXA2 e ADP (feedback) e, posteriormente, pela trombina. Expressão da glicoproteína GPIIb/IIIa e inversão dos fosfolipídios da membrana com mudança de carga elétrica. Julia Paris Malaco – UCT17 A agregação é mediada pela ligação das GPIIb/IIIa das projeções plaquetárias tendo o fibrinogênio como ponte. Hemostasia secundária: subdividida em via intrínseca (fatores VIII, IX e XI), extrínseca (fator VII) e comum (X, V, protrombina e fibrinogênio), atua evitando o ressangramento, na formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o trombo. Os fatores de coagulação são ativados e regulados em sequência até a formação de uma trama de fibrina sobre o tampão plaquetário. No modelo atual proposto, há 3 complexos formados por um ativador, um regulador, uma protease (fator ativado) e um substrato (fator a ser ativado). A ativação pelo fator tecidual atua principalmente nos fatores VII e X para a formação inicial da trombina. Posteriormente, a própria trombina amplifica sua formação pelos fatores XI, IX e X. A trombina formada, em parte inibida pela anti- trombina, atua tanto potencializando (ativação de plaquetas, co-fatores VIII e V e fatores XI e XIII) quanto regulando (ativação de proteínas S e C, ativador tecidual do plasminogênio). A trombina cliva os fibrinopeptídios terminais do fibrinogênio (‐DED‐) e forma a fibrina (DED). A fibrina polimeriza‐ se e os polímeros são estabilizados com ligações cruzadas pelo fator XIII. O ativador tecidual do plasminogênio (TPA), em parte inibido pelos inibidores (PAI), ativa o plasminogênio em plasmina (P) que, em parte inibida pela antiplasmina (AP), cliva os polímeros estabilizados de fibrina desfazendo o excesso de tampão fibrinoplaquetário (fibrinólise) e formando os produtos de degradação da fibrina (PDF) que circulam, entre eles, o dímero D (DD). Via intrínseca (hemostasia secundaria): Trauma vascular fator XII ativa fator XI e citocinas pro inflamatórias ativação do fator IX fator IX + fator VIII ativação do fator X fator X ativado se junta ao fator V formação do complexo ativador de protrombina trombina coagulação. Via extrínseca (hemostasia secundaria): Lesão tecidual fator tecidual (fator III) + fator VII ativa fator X fator X + fator V ativa o complexo ativador de protombina formação da trombina coagulação. Fator II, VII, IX, X → dependente de vitamina K Via comum: ativação do fator X(Xa), a conversão de trombina a partir da protrombina pela ação do fator Xa, formação de fibrina estimulada pela trombina e estabilização da fi brina pelo fator XIIIa. Todos os fatores de coagulação são sintetizados no fígado, exceto o fator VIII. O resultado final e comum das duas vias é fator X fator X + fator V complexo ativador da protrombina trombina transformação para fibrinogênio fibrina (instável) ação do fator VIII fibrina (estável) coagulação Coagulograma Atualmente, o coagulograma consiste na realização dos seguintes exames: Contagem de Plaquetas (avaliação morfológica de plaquetas) TAP: Tempo de protrombina TTPa: Tempo de tromboplastina parcialmente ativada Tempo de trombina TS: Tempo de sangramento por metodologia de Ivy *Sugestão de exame complementar: D- Dímero (em casos de trombofilias) O coagulograma, além da anamnese e exame físico, tem fundamental importância em: Na identificação de pacientes com tendências a hemorragias ou a formação de coágulos; No monitoramento da resposta a medicação anticoagulante; No prognóstico de pacientes com falência hepática; No rastreamento de coagulação intravascular disseminada (cid) em pacientes com sepse; No rastreamento de sangramento oculto previamente à cirurgia ou outro procedimento invasivo. Julia Paris Malaco – UCT17 Coleta de sangue A amostra de sangue deve ser obtida por punção venosa minimamente traumática, evitando‐se a hemólise dos eritrócitos, a agregação de plaquetas e a ativação dos fatores de coagulação. O sangue deve ser rapidamente misturado ao anticoagulante presente no tubo por meio de inversões manuais em movimentos suaves, garantindo a melhor homogeneização da amostra sem a formação de pequenos coágulos. O tubo de coagulograma é identificado com a tampa azul e contém o citrato de sódio a 3,2%, um trocador de cálcio plasmático que impede a coagulação e conserva os fatores de coagulação para a análise. Hemólise: A presença de hemólise na amostra talvez seja uma das principais fontes de erros. A princípio deve ser descartada a menos que não seja possível fazer outra coleta. A hemólise dilui os fatores de coagulação, por liberação de líquido intracelular para o meio extracelular, e ocorre a exposição de componentes intracelular e de membrana que ativam a coagulação sanguínea. Como resultado, a presença de hemólise pode tanto encurtar como prolongar os testes de coagulação. Avaliação da hemostasia primaria Contagem de Plaquetas Tempo de Sangramento (TS) Método de Ivy -antebraço Método de Duke - Lobo auricular Prova do laço –em desuso (até 4 petequias é normal) Avaliação da hemostasia secundaria TTPa (Tempo de tromboplastina parcialmente ativada): Via intrínseca e vida comum TAP (Tempo de protrombina): Avalia via extrínseca e via comum TT (Tempo de trombina): Avalia o fibrinogênio Tempo de protrombina (TP ou TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA ou KTTP) O TP e o TTPA são tempos cronometrados para que o plasma (PPP) coagule. A coagulação decorre da polimerização da fibrina, o produto da ação da trombina sobre o fibrinogênio (fator I). Ambos são chamados de tempos de recalcificação do plasma citratado, visto que dependem da adição de cloreto de cálcio para a ativação do complexo protrombinase (fatores X e V), que atuará sobre a protrombina (fator II). Deste modo, a via final comum ao TP e ao TTPA é a ativação dos fatores X, V, II e I. A diferença está no início da ativação: TP (ou TAP): a ativação começa no fator VII, pela ação do reagente tromboplastina, um ativador tecidual da chamada via extrínseca. TTPA (ou KTTP): a ativação começa nas calicreínacininas e no fator XII, pela ação dos reagentes cefalina e ácido elágico ou sílica, um ativador de contato da chamada via intrínseca que segue na ativação dos fatores XI, IX e VIII. A presença dos anticorpos pode ser identificada quando não há correção do tempo prolongado na mistura do plasma do paciente com um plasma normal. Um modo de relatar o prolongamento dos tempos é pela relação (normalizada): R = tempo do paciente ÷ tempo normal. É aceitável como normal uma relação até 1,2. A relação superior a 1,5 é considerada alterada e aumenta o risco de sangramento em procedimentos invasivos e cirurgias. A relação superior a 5 é considerada resultado crítico. Para controle da heparinização por via endovenosa (EV) com heparina não fracionada (HNF), preconiza‐se a R do TTPA entre 1,5 e 2,5. Para controle da anticoagulação por via oral (VO), com antagonistas da vitamina K – AVK (warfarina, femprocumona), preconiza‐se a R do TP, em geral, entre 2 e 3. Para a obtenção de resultados comparáveis com diferentes reagentes, as tromboplastinas são testadas e padronizadas recebendo um valor chamado índice de sensibilidade internacional (ISI). A relação normalizada torna‐se internacional (RNI) quando é corrigida pelo ISI: RNI = RISI . *O INR só é utilizado realmente para acompanhar os pacientes usando anticoagulante oral* Tempo de atividade da protrombina (TAP ou TP) Via extrínseca e a via comum (TAP): Fatores VII, X, V Protrombina (II) Fibrinogênio (I) Fatores VII, X, Protrombina (II) - dependentes de vitamina K O valor de referência do TAP para uma pessoa saudável deve variar entre 10 e 14 segundos. Já Julia Paris Malaco – UCT17 no caso do INR, o valor de referência para uma pessoa saudável deve variar entre 0,8 e 1. . No caso de se estar utilizando anticoagulantes orais o valor deve estar entre 2 e 3. Assim, o tempo de protrombina estará aumentado em casos de deficiência de fibrinogênio Deficiencia de protrombina Deficiência de qualquer um dos fatores mencionados anteriormente - II,V,VII ou X em pacientes que fazem uso de anticoagulantes nas doenças hepáticas e deficiência de vitamina K, pois os fatores II, VII e X são dependentes desta vitamina. O TAP é realizado adicionando-se ao plasma descalcificado pelo citrato, um excesso de fator tecidual (tromboplastina). Considerando que a protrombina é convertida em trombina num tempo uniforme, a adição de cálcio com quantidade conhecida de cloreto de cálcio produz a coagulação do plasma. O tempo entre a adição do cálcio e a coagulação é chamado tempo de protrombina. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA ou KTTP) Tempo de tromboplastina parcial ativada, TTPa ou KTTp, corresponde ao tempo gasto para ocorrer a coagulação do plasma recalcificado em presença de cefalina. Via intrínseca e a via comum (TTPA): Fatores VIII, IX, XI e XII e X, V, II Fibrinogênio Fatores II (protrombina), IX e X - dependentes de vitamina K Fotor VIII: anti-hemofilico A Fator IX: anti-hemofilico B O valor de referência do TTPa para uma pessoa saudável deve variar entre 24 a 40 segundos O TTPA estará aumentado quando o paciente tiver deficiência de fatores da via intrínseca (fatores XII, XI, IX e VII) deficiência de fatores da via comum (X, V, II e fibrinogênio) da cascata da coagulação. É o caso de pacientes com hemofilias A e B, doenças hepáticas, uso de anticoagulantes e deficiência de vitamina K, uma vez que os fatores II, IX e X dependem desta vitamina Tempo de trombina (TT) Avalia o tempo em que o fibrinogênio se transforma em fibrina, na presença de uma quantidade padronizada de trombina Avaliação do fibrinogênio Quantidade padronizada de Trombina cálcica A trombina utilizada no TT deve ser de concentração aproximadamente 4 U/ml para a obtenção do tempo normal de aproximadamente 20 segundos. Assim, o teste terá sensibilidade suficiente para detectar anormalidades leves do fibrinogênio. D-dimero Dímero D (DD) ou D-dímero é um produto da degradação da fibrina pela plasmina Sua determinação é útil no diagnóstico da trombose venosa profunda (TVP) e do tromboembolismo pulmonar (TEP) >500 ug/L Níveis elevados de DD tem sensibilidade superior a 90% na identificação de TEP, confirmada a cintilografia ou angiografia. Entretanto, devemos ressaltar sua baixa especificidade. Níveis elevados também são encontrados nas seguintes situações: infarto agudo do miocárdio, sepses, neoplasias, pós-operatórios (até 1 semana), coagulação intravascular disseminada, anemia falciforme, insuficiência cardíaca e pneumonias.
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