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LESÕES TRAUMÁTICAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE As lesões esqueléticas são mais comuns na criança já que ela se expõe mais ao trauma (porém recebe traumatismos menores - são exceção dessa regra os traumas de alta energia, como acidentes de trânsito). Quando comparamos o osso de um adulto com o de uma criança existem algumas particularidades que fazem com que o tratamento e conduta sejam diferenciados. As fraturas nas crianças tendem a evoluir sem intercorrências e sem deixar sequelas. O tratamento conservador com imobilização gessada predomina. Porém, há um grupo de fraturas que tendem a evoluir com sequelas e deve receber tratamento diferenciado. Propriedades mecânicas O osso imaturo é mais flexível e se deforma mais antes de fraturar, por isso as fraturas são mais simples. Possui grande capacidade de consolidação e remodelação, fazendo com que as fraturas se consolidem mais facilmente e rapidamente. Possui também grande capacidade de correção de desvios residuais, inclusive encurtamentos. Placa epifisária/fisária ou fise Estrutura ímpar do osso infantil. Também chamada de placa ou cartilagem de crescimento. É uma placa de cartilagem hialina localizada na metáfise da terminação dos ossos longos (comprimento maior que a largura). É encontrada em crianças e adolescentes e desaparece na fase adulta, quando se funde completamente ao osso. Tem a função de auxiliar no crescimento ósseo. É uma região mecanicamente mais frágil e que se sofrer lesões pode acarretar em sequelas tardias. Separa a epífise da metáfase. Local de crescimento do osso. Crescimento longitudinal (comprimento) e circunferencial (largura). Possui 4 zonas - germinativa - proliferativa - hipertrófica (lesões ocorrem com maior frequência) - ossificação endocondral É avascular, ou seja, não possuem vasos sanguíneos que passam pela fise, depende das artérias que vem da epífise e da metáfise. Nutrição por difusão do complexo arterial epifisário e metafisário. Em diversas partes do osso existe influência para o crescimento ósseo, cada parte do osso possui uma porcentagem de influência no crescimento (potencial de crescimento). Essa porcentagem é maior nas fises (principalmente do joelho e cotovelo). Anatomia do osso longo - Fise: separa a epífise da metáfase - Diáfise (corpo): parte longa do osso, tem a função de proporcionar resistência. É composta de tecido ósseo compacto - Epífise: extremidades/pontas alargadas de um osso longo. Tem função de articular o osso ou ligá-lo a outro osso através de uma articulação. Composta por uma fina camada de osso compacto que reveste o osso esponjoso e recobertas por cartilagem. - Metáfise: parte da diáfise mais próxima das extremidades, que começa a se expandir e dilatar para formar a epífise. Osso da criança - Maior consolidação: cicatrização mais rápida - Maior remodelação: tende a não crescer torto, vai se alinhando/remodelando e fica muito parecido com o normal. Quanto menor a criança, maior a capacidade de remodelação. - Maior flexibilidade - Menor resistência mecânica (quebra mais facilmente) Particularidades do osso imaturo - Torus: amassamento do osso, não chega a fraturar e ter o separamento da cortical - (compactação por forças compressivas, característica do osso metafisário). - Galho verde: fratura em apenas uma das corticais, ou seja, apenas uma delas quebra totalmente (parte do osso é lascada ou trincada, mas o lado oposto permanece intacto). - Deformidade plástica: envergamento ou entortamento do osso. É mais comum na ulna (as corticais permanecem íntegras) - Fraturas epifisárias: envolvem a placa de crescimento. Lesões fisárias Lesões que acometem a placa epifisária (cartilagem do crescimento). São responsáveis por 15% das lesões ósseas e distúrbios de crescimento ósseo em crianças. Mais comum em meninos que em meninas (2:1). Mais comum nos membros superiores (rádio, úmero e fíbula distal) já que a criança usa os braços de apoio nas quedas. Mais comum na região hipertrófica. Classificação Salter-Harris Divide as lesões em seis tipos: - I: acomete a cartilagem e a fise (fratura fisária completa, trajeto intrafisário). - II: acomete a fise e vai se estendendo através da metáfise (produz microfratura na borda metafisária, trajeto fise-metafisário, poupando a epífise). - III: acomete a fise e vai se estendendo através da epífise (trajeto epifisário-fise, poupando a metáfise) - IV: acomete tanto a fise, como a metáfise e epífise. (trajeto epifisário-fise-metafisário) - V: lesão por compressão de epífise, diminuição na percepção do espaço entre epífise e diáfise (não é visível no raio x). - VI: acomete o anel pericondral (anel feito de cartilagem que fica ao redor da cartilagem de crescimento) - geralmente lesão por tração. Tipo I e II: extra articulares, tratamento conservador Tipo III e IV: intra articulares, tratamento cirúrgico na maioria das vezes. Tipo II é o mais comum. Tipos mais comuns de fraturas em crianças 1. Fraturas incompletas a. galho verde b. torus c. deformação óssea 2. Fraturas envolvendo a placa epifisária. Tratamento das lesões fisárias O tratamento depende de uma série de fatores: - gravidade - localização - classificação - idade do paciente (faz diferença pela capacidade de remodelação, crescimento e consolidação, quanto mais perto da maturidade óssea, menor o potencial de consolidação, remodelação e crescimento) - potencial de crescimento da fise acometida - úmero proximal: 30% - úmero distal: 70% - fêmur proximal: 30% - fêmur distal: 70% - rádio proximal: 25% - rádio distal: 75% - ulna proximal: 80% - ulna distal: 20% - fíbula proximal: 60% - fíbula distal: 40% - tíbia proximal: 55% - tíbia distal: 45% Lesões tratadas de maneira conservadora (sem cirurgia): o tratamento depende da imobilização, caso haja desvio, primeiro é necessário alinhar para depois imobilizar. Lesões tratadas com cirurgia: ocorre quando há falha na redução fechada (sem abertura da pele e contato com a fratura), fraturas expostas ou fraturas articulares desviadas (salter-harris tipo III e IV). Complicações das lesões fisárias - Aceleração de crescimento (rara) - Parada de crescimento (mais comum) - total: problema no comprimento - parcial: problema angular - exemplo: lesão na porção distal do fêmur, que possui 70% da capacidade de crescimento, logo vou ter uma perda total do crescimento, mas se a lesão for na parte interna da fise, uma parte cresce e a outra não, fazendo com que o osso desalinhe e fique torto - Rigidez articular: a fise está próxima a uma articulação, e toda lesão pode gerar rigidez na articulação. Fraturas mais comuns e importantes Punho, clavícula, cotovelo e fêmur. - Punho extremidade distal do rádio e ulna. é a mais comum. a principal causa é que na queda coloca a mão para proteção. mais comum em meninos influência sazonal (maior no verão). é mais discreta, difícil de observar. quadro clínico - dor - edema (pode ser grave ou não) - desvio (depende da energia do trauma, quanto maior a energia, maior é o desvio. Observar a direção do desvio antes de iniciar o tratamento - dorsal, volar, lateral ou medial). fazer exame neurovascular, pois no punho passam vários nervos e artérias. imobilização de tala entre articulação antebraquial palmar ou axilopalmar, sem necessidade da inclusão dos dedos. a imobilização em garrafa é utilizada em fraturas da mão (metacarpos) - extensão de 15º a 20º da extensão do punho e 70º da articulação carpometacárpica. a gravidade dessa fratura é variável. o tratamento é na maioria das vezes conservador, algumas vezes é necessário intervir para colocar a fratura no lugar e imobilizar. - conservador: tala ou gesso, fraturas sem desvio ou com desvio mínimo, redução estável. - cirúrgico: redução fechada e fixação percutânea (fio de aço ou fio de kishiner), redução aberta e fixação. - inclui o cotovelo dependendo do grau de instabilidade da lesão (quando não imobiliza o cotovelo, os movimentos de supinação e pronação permanecem, gerando movimento no punho). Em torus não tem problema não incluir, mas quandoé uma fratura instável, que precisa de cirurgia ou de colocar no lugar e corre o risco de sair é importante incluir. - quando não consegue posicionar o osso o tratamento é cirúrgico, pode incluir o cotovelo em casos mais graves. deformidade em garfo é típica dessa fratura. - Cotovelo articulação extremamente complexa, tanto do ponto de vista biomecânico, como anatômico. articulação com diversos acidentes ósseos. diversos núcleos de calcificação, diversas cartilagens de crescimento que aparecem em idades diferentes. é uma lesão difícil de interpretar, se é fratura ou fisio, é importante ter em mente a sequência de ossificação. fratura supracondiliana do úmero ou fratura da extremidade distal do úmero (50-86% dos casos). área de fragilidade mecânica (extremidade mais grossa e centro mais fino). mais comum em meninos de 5 e 6 anos. mecanismo de trauma: queda com a mão no chão (palma espalmada) para tentar se defender, queda de alturas um pouco maiores que a fratura de punho. região altamente vascularizada, lesões graves podem atingir vasos e nervos agravando o caso. é importante a realização de exame neurovascular. quadro clínico: dor, edema, limitação funcional e neurovascular, hematoma, complicações neurológicas e/ou vasculares (artérias medial e radial), síndrome compartimental. Síndrome compartimental: - edema intenso - a pressão dentro do compartimento aumenta pelo edema e hematoma, as estruturas passam a sofrer devido ao aumento da pressão. - a gravidade depende do desvio - analisar (apertando a extremidade distal dos dedos): cor, temperatura e enchimento capilar. - análise rápida da gravidade, apalpação do pulso é mais difícil de conseguir. solicitar que o paciente mexa os dedos. classificação de gartland - tipo 1: fratura sem desvio, embora haja fratura supracondilar, o deslocamento inexiste ou é mínimo; a fratura pode ser visualizada em radiografias oblíquas. - tipo 2: fratura com desvio, traço de fratura evidente, mas existe contato entre as corticais (cortical posterior intacta), embora a fratura tenha deslocamento posterior, a integridade posterior da córtex óssea está preservada; é necessário considerar radiografias contralaterais para ajudar a determinar a anatomia normal do cotovelo. - tipo 3: fratura com desvio completo, sem contato com as corticais (cortical posterior lesada, desvio póstero-lateral ou póstero-medial). Nas radiografias em AP o deslocamento pode ser póstero-lateral ou póstero-medial; a rotação do fragmento distal também deve ser considerada, embora possa ser difícil de determinar. Nestes casos a tomografia computadorizada pode ser de grande ajuda. tratamento (gartland) - tipo 1: tratamento conservador, fratura menos grave, geralmente tala gessada (4 a 6 semanas). - tipo 2: tratamento conservador, gravidade média, redução fechada (para reduzir o desvio) e tala gessada (4 a 6 semanas), depois gesso ou tala gessada na região axilopalmar (a tala é utilizada no início devido o edema, para evitar a compressão, algia e síndrome compartimental, diminuindo o edema passa para o gesso), o gesso é da axila até o metacarpo. - tipo 3: pode ser tratamento conservador ou não, forma mais grave, muito instável. - tratamento conservador: redução fechada (feito tração e flexão - sem corte) + fixação percutânea (passa o fio de kishiner sem fazer via de acesso - passa através da pele + imobilização gessada (4 a 6 semanas) - não conservador: redução aberta (abre para colocar o osso no lugar) + fixação percutânea + imobilização gessada (4 a 6 semanas) complicações: perda de movimento, perda de alinhamento, não consolidação, lesão vascular, lesão neurológica, síndrome compartimental e infecção. - Clavícula muito frequente em crianças, principalmente em duas situações: - idade escolar: (7-8 anos), a criança geralmente cai ao brincar. - recém nascido: 90% dos casos de fratura na clavícula são obstétricas e ocorrem no parto. a região da clavícula é uma região nobre, pois ali passa vasos sanguíneos (como a artéria subclávia) e o plexo braquial: - o plexo braquial é um conjunto de 5 raízes nervosas (C5, C6, C7, C8 e T1) que se originam da região cervical e torácica e formam um emaranhado nervoso que segue próximo a região da clavícula. - situado no pescoço e axila - o membro superior é inervado pelo plexo braquial existem alguns diagnósticos diferenciais: - lesão do plexo braquial na obstetrícia - por causa do fórceps ou força, depende do grau de energia no momento do parto pode acabar ocorrendo a fratura da clavícula, mas também pode estar associada a lesão do plexo braquial. - pseudoparalisia de parrot - sífilis congênita que gera um processo inflamatório muito grande e a criança para de se movimentar. tratamento - no rn não existe imobilização eficaz, pois quando a criança para de sentir dor volta a se movimentar. - conservador na maioria dos casos, no rn a imobilização é fazer com que o braço fique mais pertinho do tórax com um alfinete na roupa, junto faz analgesia (2 a 3 semanas). - não enfaixar o tórax porque atrapalha a criança respirar (expansão torácica) - Quando é criança já pode imobilizar e usar tipoia - Orientar aos pais em relação a formação de calos, que realinha, remodela, diminui e volta ao normal - cirúrgico: casos raros, quando é fratura exposta e existe lesão neurovascular - Fêmur osso resistente, precisa de energia muito alta para ter fratura, mais comum em meninos (2:1) causa: queda, acidente, maus tratos (em crianças que não andam, 80% dos casos é maus tratos) em crianças maiores: alta energia/politrauma (examinar o XABCDE do trauma tendo cuidado triplicado) quadro clínico: dor intensa, deformidade do membro e lesões associadas tratamento - idade e grau do desvio (principalmente quando o membro foi encurtado) interferem na escolha, a idade dita qual o potencial de remodelação da lesão - maioria conservador - 0 a 6 meses: conservador, pode ser por suspensório de pavlik (também usado na displasia de quadril) ou gesso pélvico podálico (GPP, é bastante utilizado, mas é inconveniente para a criança e o cuidador - 6 meses a 6 anos: GPP, tração + GPP, cirurgia (hastes flexíveis - haste metálica que fica dentro do osso ou fixador externo - dois pinos de antes e depois da fratura e barra externa, tira após 6 semanas). Geralmente a tração e o GPP resolvem - 6 a 12 anos: GPP + tração ou GPP + cirurgia (hastes flexíveis ou fixador externo). Geralmente utiliza-se a cirurgia. complicações: encurtamento do membro, hipercrescimento, não consolidação (raro), necrose vascular, infecção tipos de fraturas:
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