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Anamnese e exame f sico nos í adolescentes Introdu o consulta m dica çã – é do adolescente A consulta precisa avaliar mais que as morbidades e questões biológicas, como crescimento, desenvolvimento, avaliação nutricional e observação de fatores de risco de doenças. Deve-se avaliar também as condições sociais do paciente, os aspectos emocionais, a dinâmica familiar, a vida escolar, os relacionamentos, as aspirações profissionais e os ideais de vida. Além disso, é fundamental investigar se há exposição a situações de violência e comportamentos de risco que resultem em doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, uso abusivo de drogas lícitas/ilícitas e transgressões da lei, estabelecendo estratégias para afastar o adolescente das condições de vulnerabilidade e identificar fatores protetores para a promoção da saúde integral. Atenda o adolescente de maneira diferenciada, respeitando sua individualidade e mantendo uma postura de acolhimento, centrada em valores de saúde e bem-estar O adolescente tem o direito de ser atendido sem a presença dos pais ou responsáveis no ambiente da consulta, garantindo-se a privacidade, a confidencialidade e o direito de escolha sobre procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou profiláticos, para que ele assuma integralmente seu tratamento. #Bônus Quebra do sigilo médico– A quebra do sigilo médico e a participação e o consentimento dos pais ou responsáveis são necessários em situações consideradas de risco (gravidez, aborto, uso abusivo de drogas, não adesão a tratamentos recomendados, doenças graves, risco à sua vida ou à de terceiros) e em face da realização de procedimentos de maior complexidade (biópsias e intervenções cirúrgicas). Nessas situações, o adolescente deve ser informado da quebra de sigilo, justificando-se os motivos para essa atitude. No caso de risco de vida para si (risco de suicídio, por exemplo) ou para terceiros, o sigilo pode ser quebrado sem o seu consentimento. Apesar de ser fundamental a participação da família nas decisões, como na realização de exames complementares e na compra de medicamentos, o adolescente deve ser incentivado a participar ativamente das resoluções, já que é capaz de expor seus problemas e de emitir julgamentos. Ao lidar com um adolescente, o(a) médico(a) deve considerar as situações especiais vivenciadas nesse período, como a luta pela conquista da própria identidade, o que inclui necessariamente conflitos com o mundo adulto, representado por sua família.. Ora o(a) médico(a) é visto(a) pelo adolescente como parte desse mundo, ora como um representante da própria família. Assim, a habilidade do(a) médico(a) em estabelecer uma relação construtiva consiste em saber compreender a adolescência. Dicas pr ticas para a consultaá Como médico(a), mantenha sua postura de adulta e não aja como um adolescente. Assuma uma atitude acolhedora e compreensiva, que inspire confiança e respeito, sem autoritarismos, sem preconceitos ou julgamentos, dando oportunidade para que o paciente fale sobre seus problemas, sua relação com a família, com a escola e com os amigos, e sobre sua sexualidade. Para isso, faça uso de uma linguagem clara, simples e objetiva, que facilite a comunicação. Em relação à pressão, declarada ou velada, para que o(a) médico(a) posicione-se em um dos lados conflitantes (pais x adolescente), aja de forma atento e evite escolher um lado. Seu papel deve restringir-se a compreender os conflitos e facilitar sua compreensão pelas duas partes, colaborando para a sua solução. Quando necessário, recorra à colaboração de profissionais de outras especialidades médicas, como psiquiatras, endocrinologistas e neurologistas, o que evita uma visão fragmentada do adolescente e contribui para a otimização do plano de ação e tratamento. OBS.: É altamente recomendável que o atendimento de adolescentes seja realizado por uma equipe multiprofissional. #Bônus Etapas da consulta– Para assegurar privacidade e confidencialidade ao adolescente, a consulta médica costuma ser dividida em momentos/etapas: um em que a família está presente; outro no qual o(a) médico(a) atende apenas o adolescente; e um último quando a família está presente mais uma vez para a conclusão da consulta e o estabelecimento dos planos de tratamento. OBS.: A ordem dos tempos pode variar conforme a necessidade do caso, as circunstâncias e os protocolos do serviço. Às vezes, a família necessita de um tempo específico para si e o solicita ao clínico. Anamnese No início da consulta, quando o acompanhante e o adolescente estão juntos, o segundo é interrogado sobre o motivo da consulta ou queixa principal e sobre a história da doença atual. Aproveitando a presença do acompanhante, são averiguados também: antecedentes familiares, pessoais e fisiológicos. Ex.: Gestação, tipo de parto, peso ao nascimento, condições do nascimento, período neonatal e intercorrências; crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor; amamentação e alimentação nos dois primeiros anos de vida; morbidades pregressas pessoais e familiares, como doenças da infância, cirurgias, convulsões ou desmaios, internações, alergias, uso de medicamentos; imunização atual e da infância; alimentação atual, a partir de diário alimentar com horários. No segundo momento, em que está presente apenas o adolescente, deve-se perguntar sobre a queixa principal e a história da doença atual, agora sob sua perspectiva., o que pode coincidir com o relato do familiar, mas algumas vezes podem ser obtidas informações complementares e/ou histórias diferentes e até mesmo contraditórias. OBS1.: Às vezes, a consulta é motivada mais pela preocupação da família do que a do próprio adolescente. OBS2.: Em alguns casos, os adolescentes podem estar disfarçando problemas comportamentais e/ou queixas emocionais, manifestadas somaticamente. Nessas circunstâncias, o(a) médico(a) tem de usar sua perspicácia e sensibilidade para captar o verdadeiro motivo da consulta. Em seguida, aplica-se o interrogatório sintomatológico, de acordo com as normas gerais para os diversos sistemas, sendo importante pesquisar: apetite, atividade, ganho ou perda de peso recente, características dos ciclos menstruais, data da última menstruação, sono, estado emocional, mal-estar. Investigam-se também: as condições socioeconômicas, como moradia, saneamento básico, renda familiar; os hábitos de vida, como tempo de tela no dia (eletrônicos), prática de exercícios, uso e experimentação de tabaco, álcool e drogas lícitas/ilícitas; a vida escolar, como série em curso, dificuldades de aprendizagem e socialização; as relações familiares, como conflitos, disfunções, violências, posição e papel que ocupa na família; as relações sociais, como religião, amigos, namoro, sexualidade, trabalho, lazer); a saúde sexual e reprodutiva, se recebeu informação a esse respeito e quais são suas dúvidas. As perguntas devem ser feitas com cuidado, respeitando-se a idade, o desenvolvimento puberal e o interesse manifestado pelo adolescente. Podem ser abordados assuntos como: importância do autocuidado e do cuidado com o outro, medidas de proteção, atividade sexual, masturbação, afetividade, prazer e questões relativas à orientação sexual quando necessário ou demandadas. Quando o paciente mostra-se pouco comunicativo ou hostil, podem-se usar algumas estratégias, tais como iniciar a conversa com temas do interesse do jovem ou com um interrogatório sintomatológico, para aos poucos chegar ao problema principal. Exame f sicoí Como as modificações corporais que ocorrem nesse período fazem com que o adolescente se preocupe muito com seu corpo, o exame físico deve ser conduzido com muito tato e tranquilidade, de modo a proporcionar segurança ao paciente. É essencial respeitar o pudor e esclarecer sobre os procedimentos a serem realizados e a importância do exame. Deve-se garantir privacidade ao adolescente, de modo queele perceba que a porta do recinto onde está sendo realizado o exame está trancada e que não haverá nenhum perigo de ser invadido por qualquer pessoa. É preciso manter no recinto, além do médico, outro profissional de saúde (atendente ou auxiliar de enfermagem, por exemplo) durante o exame físico. Deve-se explicar ao adolescente, de modo claro, compreensível e cuidadoso, sobre qualquer problema de saúde que tiver sido encontrado, para evitar o aumento de sua ansiedade. O exame físico deve ser completo e detalhado, possibilitando a avaliação do crescimento, do desenvolvimento e da saúde como um todo, incluindo o estadiamento puberal pelos critérios de Tanner. No exame físico geral, deve-se avaliar o aspecto geral, o peso, a estatura, o índice de massa corporal (IMC), a temperatura, a pressão arterial e as frequências cardíaca e respiratória. OBS.: O registro da estatura e do IMC nas curvas de crescimento é fundamental para a análise do crescimento e da nutrição. Na pele, deve-se observar se há acne, muito frequente nessa faixa etária. No pescoço, a tireoide pode ter um aumento fisiológico, mas, em algumas situações, exige investigação especializada. O exame dos genitais deve ser precedido de esclarecimento sobre a sua necessidade, sendo respeitada a possível recusa do paciente. OBS.: Nesse caso, é possível adiá-lo para outra consulta. Nas mamas do adolescente do sexo masculino, deve-se atentar para a possível ocorrência de ginecomastia. Além de determinar a maturação sexual, deve-se verificar a fimose e palpar os testículos No sexo feminino, deve-se examinar a vulva (pequenos e grandes lábios, hímen) e verificar se há secreção vaginal. #Bônus Quando realizar o exame ginecológico – completo? O exame ginecológico completo feito por ginecologista é indicado a adolescentes com atividade sexual, vulvovaginites não responsivas aos tratamentos de rotina, amenorreia primária ou secundária, suspeita de abuso sexual ou de gravidez, dismenorreia não responsiva aos tratamentos de rotina, dentre outras situações. Deve-se avaliar a coluna vertebral e eventuais alterações osteomusculares dos membros inferiores. Também é preciso examinar a postura e a marcha, os principais reflexos. Devem ser observados o comportamento, a atenção, o humor, a capacidade de concentração e a verbalização. Formação da hipótese diagnóstica Ao término da consulta, formulam-se as hipóteses diagnósticas (diagnósticos principais e secundários) a fim de estabelecer os tratamentos necessários, planejando as condutas. Deve-se incluir necessariamente instruções educativas para a promoção de hábitos saudáveis, visando à manutenção da saúde e à prevenção de doenças e comportamentos de risco e agravos. Ao fim da consulta médica, para a condução de muitas situações identificadas, pode ser necessária a discussão em equipe multiprofissional e com outros setores além do da saúde. Referência bibliográfica: PORTO, Celmo Celeno Semiologia médica / Celmo Celeno Porto ; coeditor Arnaldo Lemos Porto. - 8. ed.. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
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