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METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA Viviane Ribeiro de Souza Cabral Figuras geométricas espaciais e planas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Estimar como as representações geométricas estão presentes em várias situações cotidianas. Analisar as figuras geométricas espaciais exemplificando. Identificar as figuras geométricas planas exemplificando. Introdução Neste capítulo, você vai ver como as representações geométricas estão presentes no cotidiano de crianças e de adultos. Como você sabe, os conhecimentos geométricos são parte importante do currículo escolar desde a educação infantil. Eles levam os alunos a desenvolver habilidades para compreender e representar, de forma organizada, o mundo onde estão inseridos. No dia a dia, as crianças estão rodeadas por figuras geométricas (es- paciais e planas). Desde muito novas, elas desenvolvem o pensamento geométrico pela visualização das formas das figuras e por sua aparência física. Cabe ao processo educativo fazer com que os alunos reconheçam as figuras a partir das suas partes e propriedades. O reconhecimento de figuras geométricas, a identificação de seus ele- mentos e o conhecimento das suas propriedades demandam capacidade de análise. Para isso, é preciso explorar as ideias geométricas das crianças por meio de um trabalho de observação, descrição e representação de diferentes formas. As representações geométricas no cotidiano A geometria é uma criação humana. Porém, muito antes de iniciar a teoriza- ção sobre a geometria, os seres humanos já adaptavam objetos e espaços a fi m de satisfazer as suas necessidades. Como exemplo, você pode considerar as construções das nações indígenas brasileiras, elaboradas com técnicas sofi sticadas. É o caso de malocas, cestos, objetos de caça, objetos de argila e ainda das pinturas utilizadas para cobrir o corpo (SARQUIS SOARES, 2009). Os trabalhos teóricos sobre geometria tiveram início com Euclides, que viveu provavelmente entre 330 e 275 a.C. Suas teorias são aceitas até hoje, coexistindo com outra corrente teórica, chamada geometrias não euclidianas. Porém, você deve considerar que a geometria teórica requer uma maturidade intelectual dos educandos. Por isso, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, o trabalho das representações geométricas deve ser realizado a partir da geometria experimental, na exploração de construções e formas observadas no cotidiano. O conhecimento sobre a geometria permite uma melhor leitura do mundo e do espaço, uma vez possibilita a identificação de representações geométricas da natureza (favos das colmeias, formas das flores, formato da lua, etc.) e de espaços e objetos que sofreram a intervenção do homem (pirâmides do Egito, construções de Oscar Niemeyer, pinturas de Volpi, móveis de uma casa, manifestações artísticas produzidas por diferentes culturas, etc.). Nesse sentido, é importante mostrar para os alunos a relevância dos estudos sobre a geometria para a vida e para o exercício de muitas profissões, seja na cidade ou no campo. O mundo geométrico invisível aos olhos humanos também constitui o conjunto de representações geométricas presentes no cotidiano das pessoas. Entre os elementos que abundam no mundo natural, destaca-se o ADN (ácido desoxirribonucleico), que é uma estrutura geométrica invisível, porém presente em qualquer manifestação de célula viva. Fonseca et al (2001) destacam o uso de alguns elementos do conhecimento matemático geométrico na linguagem do dia a dia. É o caso de metáforas que se relacionam com conceitos matemáticos em expressões da linguagem informal, como “círculo vicioso”, “triângulo amoroso”, “pessoa quadrada”, “sociedade piramidal”, “ver sob outro prisma”, “aparar as arestas” e “sair pela tangente”. O uso cotidiano de expressões como essas, em especial das relacionadas com o conhecimento de representações geométricas, mostra como esse conhecimento contribui para o acesso a bens culturais que extrapolam o campo da matemática. Figuras geométricas espaciais e planas2 Um exemplo de profissional que utiliza a geometria é o engenheiro civil, que se vale desse conhecimento na construção de casas e prédios. A geometria na natureza A natureza é um rico banco de dados. Nela você pode encontrar diferentes fi guras geométricas. Assim, a partir dos elementos da natureza, é possível explorar formas, conceitos e propriedades. A proporção, o padrão, a regula- ridade, a beleza e o equilíbrio encontrados nas formas despertam o interesse por uma observação mais aprofundada. Assim, você pode envolver as crianças nesse mundo de cores e formas. Você ainda deve notar que o modo como o ser humano percebe a beleza está muito associado à simetria. A simetria é definida pela possibilidade de se dividir uma figura em partes que coincidem perfeitamente quando sobrepostas. Como exemplo, considere as asas das borboletas, que possuem simetria axial (figura espelhada em relação a uma reta), como mostra a Figura 1. Figura 1. Simetria axial presente nas asas da borboleta. Fonte: Cool Kids (2018, documento on-line). 3Figuras geométricas espaciais e planas A geometria na arte A observação de algumas obras artísticas permite a identifi cação de certos elementos geométricos, como paralelismo, perpendicularidade, perspectiva, profundidade, simetria e assimetria, proporção, entre muitos outros. A arti- culação entre a matemática e a arte permite um trabalho interdisciplinar no contexto escolar. Assim, além de trabalhar os conceitos geométricos matemá- ticos, você pode dar aos alunos a oportunidade de conhecerem a vida e a obra de diferentes artistas. Isso enriquece o seu conhecimento cultural e mostra a eles que a geometria está presente em diferentes contextos. Alfredo Volpi (1896–1988) foi um famoso pintor italiano que viveu no Brasil. Ele utilizava a harmonia das formas e das cores para compor os seus trabalhos. É o caso da sua famosa obra Bandeirinha, produzida em 1958. Figuras geométricas espaciais O processo de ensino e aprendizagem que visa a desenvolver a percepção geométrica dos alunos deve fazer com que eles visualizem diferentes fi guras geométricas, planas e espaciais. A ideia é que os estudantes discriminem e classifi quem essas fi guras por meio de suas características (atributos), identi- fi cando número de lados (ou faces) e vértices. Eles ainda devem reconhecer padrões, regularidades e propriedades de fi guras geométricas. O trabalho com figuras geométricas espaciais é recomendado desde a educação infantil. Afinal, essas figuras estão presentes nos objetos e cenários com os quais as crianças têm contato. Segundo Smole, Diniz e Cândido (2014), o trabalho com sólidos geométricos permite o desenvolvimento do vocabulário das crianças relacionado às características dessas figuras. Assim, elas podem conhecer termos como “vértice”, “aresta” e “face”, bem como o nome dos próprios sólidos geométricos. Você deve notar que a primeira noção dos sólidos geométricos surge no contato com os objetos do cotidiano; posteriormente, deve ocorrer a exploração mais direcionada das propriedades desses elementos. As figuras geométricas espaciais podem ser classificadas em poliedros (todas as faces são poligonais) e não poliedros (pelo menos uma das faces Figuras geométricas espaciais e planas4 não é poligonal, ou seja, eles rolam). Exemplos de não poliedros são: o cone, o cilindro e a esfera. Na Figura 2, a seguir, você pode ver as características das figuras espaciais. Figura 2. Características das figuras geométricas espaciais. (Continua) 5Figuras geométricas espaciais e planas Figura 2. Características das figuras geométricas espaciais. Fonte: Smole, Diniz e Cândido (2014, p. 132-133). Cones, cilindros e esferas (não poliedros) Cones Possuem uma base circular (r) formada por segmentos de reta que têm uma extremidade num vértice (V) em comum. Além disso, o cone possui a altura(h) caracterizada pela distância do seu vértice em relação ao plano da base. Os cones também são compostos pela geratriz, ou seja, a lateral do cone, (Continuação) Figuras geométricas espaciais e planas6 formada por qualquer segmento que tenha uma extremidade no vértice e a outra na base do cone. Os cones podem ser classificados em: cone reto — possui eixo perpendicular à base, ou seja, a altura e o centro da base do cone formam um ângulo de 90º; cone oblíquo — o eixo não é perpendicular à base da figura. Cilindros São sólidos geométricos classifi cados como corpos redondos, já que rolam ao serem colocados sobre uma superfície plana levemente inclinada. Os cilindros são classificados como retos ou oblíquos: cilindro reto — suas geratrizes (segmentos com extremidade nas circunferências das bases) são perpendiculares às bases; cilindro oblíquo — suas geratrizes são oblíquas às bases. Quando é feita a planificação do cilindro, são obtidas duas circunferências congruentes e um paralelogramo (no caso dos cilindros oblíquos) ou um retângulo (no caso dos cilindros retos). Esferas A esfera é um sólido geométrico simétrico formado pela rotação do semicírculo em torno de um eixo. É composta por uma superfície fechada, na medida em que todos os pontos estão equidistantes do centro (O). Poliedros A palavra “poliedro” signifi ca muitas (“poli”) faces (“edros”). Os poliedros são sólidos geométricos formados por vértices, arestas e lados. Cada face de um poliedro é um polígono (triângulos, quadriláteros, pentágonos ou outros). Assim, os poliedros permanecem sempre em equilíbrio quando deixados sobre uma superfície plana, pois todas as suas faces são planas. Além disso, os poliedros podem ser divididos em subgrupos de acordo com as suas ca- racterísticas, como você pode ver a seguir. 7Figuras geométricas espaciais e planas Prismas Todos os prismas possuem área da base, área lateral, área total e volume. Essas medidas dependem do formato do polígono que se encontra nas bases. O número de faces do prisma é exatamente igual ao número de lados do polígono que constitui suas bases (superior e inferior). Os prismas podem ser classifi cados de acordo com o número de lados: triangular — base constituída de triângulos; quadrangular — base constituída de quadriláteros; pentagonal — base constituída de pentágonos; hexagonal — base constituída de hexágonos; heptagonal — base constituída de heptágonos; octogonal — base constituída de octógonos. Os prismas também podem ser classificados em retos ou oblíquos, de acordo com a inclinação de suas arestas laterais. Os prismas retos são aqueles em que a aresta lateral forma com a base um ângulo de 90º. Já os oblíquos são aqueles em que as arestas formam ângulos diferentes de 90º. Pirâmides As pirâmides são um grupo de poliedros cujas faces laterais — no caso da pirâmide triangular, também a base — são triangulares. A pirâmide é composta por uma base e um vértice. Suas faces laterais convergem e encontram-se em um único ponto (vértice). Como exemplos, você pode considerar: pirâmide reta de base triangular, pirâmide reta de base quadrada e pirâmide reta de base hexagonal. Em relação à inclinação da sua base, as pirâmides são classificadas de duas maneiras: pirâmides retas — formam um ângulo de 90º; pirâmides oblíquas — apresentam ângulos diferentes de 90º. Poliedros que não são prismas nem pirâmides Esses poliedros são designados apenas pelo número de faces que possuem. Veja o Quadro 1. Figuras geométricas espaciais e planas8 Fonte: Adaptado de Toledo e Toledo (2009) e Smole, Diniz e Cândido (2014). Nome do poliedro Número de faces Tetraedro 4 Pentaedro 5 Hexaedro 6 Heptaedro 7 Octaedro 8 Decaedro 10 Dodecaedro 12 Icosaedro 20 Quadro 1. Poliedros Os demais poliedros em geral são nomeados com base no total de suas faces. Por exemplo: poliedro de 9 faces, poliedro de 11 faces, etc. Segundo Toledo e Toledo (2009), os cinco poliedros regulares (tetraedro, hexaedro [cubo], octaedro, dodecaedro e icosaedro) já eram conhecidos no século IV a.C. Pro- vavelmente foi o filósofo grego Platão quem descreveu esses poliedros em 388 a.C. Figuras geométricas planas Na escola, você deve abordar as fi guras planas após o trabalho com as fi guras espaciais. Afi nal, ao manipularem os poliedros, os alunos podem desconstruí- -los e observar as suas faces, percebendo as características das fi guras planas. As figuras planas são bidimensionais (duas dimensões), possuem largura e comprimento. Diferentemente das figuras espaciais, as planas não possuem volume. As figuras planas são polígonos, uma vez que são formadas apenas por 9Figuras geométricas espaciais e planas segmentos de retas que não se cruzam, a não ser em suas extremidades. Esses segmentos de retas, nos polígonos, são chamados de lados. De acordo com o número de lados, os polígonos recebem um nome específico. As principais figuras planas são: triângulo, quadrado, retângulo, círculo, trapézio e losango. No estudo das figuras planas, são usados dois conceitos importantes, o de área e o de perímetro: área é o tamanho da superfície da figura e o seu valor sempre é dado em cm², m² ou km²; perímetro é a soma de todos os lados da figura e o seu valor sempre é dado em cm, m ou km. Veja, no Quadro 2, alguns polígonos e seus nomes. Fonte: Adaptado de Toledo e Toledo (2009). Nome do polígono Número de lados Triângulo 3 Quadrilátero 4 Pentágono 5 Hexágono 6 Heptágono 7 Octógono 8 Eneágono 9 Decágono 10 Undecágono 11 Dodecágono 12 Pentadecágono 15 Icoságono 20 Quadro 2. Polígonos Figuras geométricas espaciais e planas10 Um recurso didático interessante para se trabalhar as figuras planas é o tangram, um jogo chinês formado por sete peças. Por meio dessas peças, é possível com- por e decompor figuras. Além disso, as crianças podem brincar com as formas geométricas. Descrição das figuras planas Triângulo É um polígono formado por três lados. Os triângulos são classifi cados de acordo com a medida dos seus lados (equilátero, isósceles e escaleno) e de acordo com a medida dos seus ângulos (retângulo, obtusângulo e acutângulo). Quadrado É um quadrilátero regular formado por quatro lados de mesma medida. Ele é formado por quatro ângulos internos de 90º, chamados de ângulos retos. Retângulo É um quadrilátero formado por quatro lados, sendo que dois deles estão na vertical e dois, na horizontal. Da mesma forma que o quadrado, ele apresenta quatro ângulos internos de 90º (retos). Círculo Apresenta uma forma circular e também é chamado de disco. Possui raio (representa a medida entre o ponto central da fi gura e uma das extremidades) e diâmetro (equivale a duas vezes o raio, posto que representa o segmento de reta que passa pelo centro do círculo, dividindo-o em duas metades iguais). 11Figuras geométricas espaciais e planas Trapézio Chamado de quadrilátero notável, possui duas bases paralelas e dois lados, sendo que uma base é maior do que a outra. A soma de seus ângulos internos totaliza 360º. Losango É um quadrilátero equilátero pois possui quatro lados iguais. Apresenta dois lados e ângulos opostos congruentes e paralelos, com duas diagonais que se cruzam perpendicularmente. Ele possui dois ângulos agudos (menores que 90º) e dois ângulos obtusos (maiores que 90º) (TOLEDO; TOLEDO, 2009; SMOLE; DINIZ; CÂNDIDO, 2014). Na Figura 3, a seguir, você pode ver mais detalhes sobre as formas geométricas. Figura 3. Características das figuras geométricas planas. (Continua) Figuras geométricas espaciais e planas12 (Continua) (Continuação) Figura 3. Características das figuras geométricas planas. 13Figuras geométricas espaciais e planas Figura 3. Características das figuras geométricas planas. Fonte: Smole, Diniz e Cândido (2014, p. 46-48). Acesse, no link a seguir, o site da TV Escola (a televisão pública do Ministério da Edu- cação), que oferece uma série de materiais educativos.https://goo.gl/1HVGAX (Continuação) Figuras geométricas espaciais e planas14 COOL KIDS. Borboleta. 2018. Disponível em: <https://beira.pt/coolkids/pais-e-profs/ tracas-borboletas-e-a-lagarta-magica/attachment/borboleta/>. Acesso em: 20 set. 2018. FONSECA, M. C. F. R. et al. O ensino da geometria na escola fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. SARQUIS SOARES, E. Ensinar matemática: desafios e possibilidades. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I.; CÂNDIDO, P. Figuras e formas. Porto Alegre: Penso, 2014. (Coleção Matemática de 0 a 6, v. 3). TOLEDO, M.; TOLEDO, M. Teoria e prática da matemática: como dois e dois. São Paulo: FTD, 2009. Leituras recomendadas NASCIMENTO, A. et al. Primeiros elementos da Geometria. In: BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabe- tização na idade certa: geometria. Brasília: MEC, 2014. PIRES, C. M. C.; CURI, E.; CAMPOS, T. M. M. Espaço e forma: a construção de noções geométricas pelas crianças das quatro séries iniciais do ensino fundamental. São Paulo: PROEM, 2000. 15Figuras geométricas espaciais e planas Conteúdo:
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