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IMUNOLOGIA Objetivos Compreender os mecanismos de ativação do sistema complemento. Identificar as principais moléculas do sistema. Conceituar as atividades clínicas decorrentes do sistema complemento. SISTEMA COMPLEMENTO Esse sistema possui ação complementar aos anticorpos. O sistema complemento compreende um conjunto de cerca de 30 proteínas presentes no sangue, as quais são produzidas por vários tipos de células (desde hepatócitos até macrófagos). Atividades biológicas do sistema complemento Possui quatro atividades biológicas importantes: Opsonização: o sistema complemento pode se ligar a superfície de patógenos e favorecer a fagocitose. Ex: a proteína C3b é a opsonina do sistema complemento, sendo que é ela que faz o revestimento de microrganismos e, com isso, ela estimula as APC’s, principalmente os macrófagos e as células dendríticas, pois essas células tem o receptor CR1 (receptor de quimiocina, citocina e interleucina) especifico para reconhecer a fração C3b sobre a superfície de patógenos, realizando, assim, a fagocitose. Seguindo o mesmo exemple, se há um patógeno revestido por anticorpos, os quais podem apresentar alto peso molecular, ex. IgM que é um pentâmero, associado a um antígeno, ou seja, fazendo a sua opsonização, aumentará ainda mais o seu peso molecular. Isso significa que se houver um aumento na formação de imunocomplexos (antígeno+anticorpos) e o seu consequente acúmulo, eles podem se depositar em tecidos e gerar processo inflamatório por vários mecanismos – tanto pela deposição do tecido, quanto pela produção de mediadores químicos inflamatórios –, levando a lesão tecidual. Assim, não é interessante formar imunocomplexos em grande quantidade e eles ficarem circulando no nosso sangue. Dessa maneira, a molécula C3b realizando a opsonização ela consegue evitar ou remover esses imunocomplexos, pois ela compete com os anticorpos pelos antígenos, fazendo com que a opsonização ocorra com o peso molecular menor ao do imunocomplexo. Consequentemente, para o sistema fagocitário (macrófago, células dendríticas, etc) é mais fácil remover algo de baixo peso molecular (ou seja, um antígeno revestido de C3b) do que remover um antígeno revestido de anticorpo. Dessa maneira, o sistema complemento favorece a remoção ou clearance de imunocomplexos. Ação pró-inflamatória do sistema complemento: todas as vezes em que houver a ação do sistema complemento, moléculas pró-inflamatórias serão produzidas – C3a, C4a (produzida em menor quantidade) e C5a –, as quais estimulam o processo inflamatório, através, principalmente, da estimulação da degranulação dos mastócitos. Lise osmótica: o sistema complemento forma um complexo de ataque à membrana (MAC), formado pelas proteínas C5b, C6, C7, C8 e C9. Quando essas proteínas realizam um complexo sobre superfície dos patógenos, elas formam poros/perfurações na membrana do patógeno. Consequentemente, ocorre a perda dos gradientes de concentração, entrada de água e de íons, tumefação celular e, por fim, rompimento das membranas internas e externas dessas células, levando-a a morte. Dessa forma, o sistema complemento atua por meio de cascata enzimática, ou seja, há enzimas inativas (ou proteínas inativas) que quando se juntam se tornam enzimas ativas, resultando à consequências diversas. Vias de ativação do sistema complemento Basicamente, o sistema complemento possui três vias de ativação, que podem ser determinadas com a presença ou não de anticorpos e a presença de carboidratos específicos. São elas: Via alternativa: é uma via que não necessita de anticorpo, ou seja, ela é independente da presença de anticorpos. Via clássica: para a sua ativação, necessita ter a presença de anticorpos, principalmente os da classe IgM e IgG. Via das lectinas (proteína solúvel no sangue): as proteínas lectinas reconhecem carboidratos complexos de membrana (ex. carboidratos complexos – manose – presentes na superfície do fungo Candida pode ser reconhecido pela via das lectinas). A via das lectinas também é denominada de Manose-Binding Protein. Essa via reconhece não só a manose como também outros carboidratos complexos da superfície de fungos, principalmente fungos. Via alternativa A via alternativa acontece na ausência de anticorpos. Nessa via, a molécula inicial que dará início a essa via é a C3, a qual é a principal molécula do sistema complemento e é produzida em grande quantidade pelo fígado e pelos macrófagos – em torno de 1-2 mg/ml. As moléculas C3, assim como todas as outras moléculas do sistema complemento, estão inativadas e somente se tornarão ativas na presença de um patógeno, de anticorpos e de carboidratos complexos. Essa moléculas C3 estão solúveis no sangue na forma inativa devido a ligação S-C=O. Ela se tornará ativa na presença de um patógeno, o qual possui PAMPs (moléculas associadas a padrões de patógenos). Esses PAMPs são reconhecidos pela C3 inativa e, dessa forma, essa última sofre hidrólise, ativa-se e interage de forma covalente com a superfície do patógeno, ligando-se a ele. Dessa forma, o resultado é a C3 hidrolisada ligada covalentemente ao patógeno. Uma vez a ligação covalente entre C3 hidrolisada e o patógeno esteja estabelecida, não haverá como remover a primeira. Dessa forma, inicia-se a via alternativa. Após a ligação de C3, haverá a ativação da proteína B (solúvel no sangue) através do recrutamento realizado pela C3 hidrolisada presente na superfície do patógeno. Dessa forma, B se complexa a C3, no entanto, não apresentam atividade enzimática. Nessa hora, entra a participação da enzima fator D, o qual cliva a enzima em duas partes. Convenções: A fração “a” é solúvel e pode ou não desempenhar ação imunológica. A fração “b” vai ser complexada, ou seja, ficará ligada ao complexo e irá desempenhar uma ação, ativando o complexo na maioria das vezes. Assim, B que está ligado ao complexo C3 recruta a enzima fator D, a qual irá clivar B e formar duas subunidades – “a” (solúvel) e “b” complexado. Bb fica complexado a C3 sobre a superfície do patógeno e Ba vai embora e, por isso, não apresenta atividade imunológica reconhecida. Dessa forma, o novo complexo é formado por C3 hidrolisado + Bb. Agora, esse complexo apresenta atividade enzimática, ou seja, se transformou em uma C3 convertase. Com isso, as C3 presentes no sangue serão recrutadas pela C3 convertase, a qual irá clivar a C3 em duas frações – “a” e “b”, C3a fica solúvel e C3b fica integrado ao complexo. Obs: a C3 convertase possui capacidade quimioatrativa. C3a é uma anafilotoxina e C3b é uma opsonina (realiza opsonização). C3b liga-se à superfície do patógeno para formar um novo complexo, ou seja, recrutará a molécula B e, posteriormente, a enzima com capacidade catalítica de cliva B em duas frações (Ba e Bb), que é a enzima D. Isso resulta em um novo complexo, que também é C uma C3 convertase, no entanto há uma diferença, o primeiro complexo sempre terá a C3 hidrolisada, já essa, como o seu recrutamento foi através do C3 hidrolisada inicial e não sofreu influencia dos PAMPs, apresenta C3b. Agora, a C3bBb secundária formada irá recrutar mais C3 (molécula mais abundante e principal do sistema complemento). Dessa forma, a C3bBb cliva a C3, formando duas frações – C3a e C3b. Assim, o ciclo se repete. Com isso, centenas ou milhares de C3b iram revestir esse patógeno. Isso é importante porque os macrófagos e as células dendríticas apresentam o receptor CR1, o qual reconhece moléculas revestidas pelo C3b e realiza a fagocitose. Assim, podemos dizer que a deposição de C3b facilita a fagocitose, em outras palavras, a opsonização facilita a fagocitose. Opsonização – facilita a fagocitose.Nesse caso, o receptor é o CR1 (receptor de quimiocina, citocina e interleucinas; principal receptor). O macrófago (principalmente) e as células dendríticas possuem outros receptores da fração C3, como: A C3bi (inativada): está relacionada à regulação do sistema complemento, dessa forma, pode-se ter a ligação de forma espontânea de C3 com outras moléculas próprias – nesse caso será inativado por vários mecanismos. Assim, formará a fração C3bi, que da mesma maneira, será reconhecida pelo receptor CR3 e CR4. Obs: se tiver C3b no complexo, será reconhecida por CR1. O complexo C3bBb + C3b, ao ser formado, ganha a capacidade de clivar mais uma molécula. Assim, além de clivar C3, cliva também C5, dessa forma, esse complexo (C3bBb + C3b) é denominado de C5 convertase. Obs: continua clivando C3!!! Ao ser recrutado, C5 é clivado em C5a e C5b, sendo que somente C5b se deposita no complexo, pois C5a fica solúvel. Ao se ligar, C5b, que é uma fração fortemente quimioatrativa específica, atrai C6, que por sua vez atrai C7, o qual atrai C8, que, finalmente, atrai C9. Assim, uma é quimioatrativa da outra (C5 de C6, C6 de C7 e assim por diante). Obs: a partir de C6 não ocorre mais clivagem em “a” e “b”. C9 é uma proteína laminar, dessa forma, quando ela for recrutada, ela irá perfurar a membrana do patógeno, formando complexo de ataque à membrana (MAC), o qual possui poros que causam a lise por quebra da osmolaridade. Obs: o MAC é consequência do complexo C5b, C6, C7, C8 e C9. - Anafilotixinas C3a, C5a e C4a (essa última pertencente não acontece na via alternativa, e sim na via clássica e na via das lectinas) são anafilotoxinas. Quando as anafilotoxinas são liberadas e ficam solúveis no sangue, elas se dirigem aos mastócitos, estimulam os seus receptores CR1 (receptores de citocina, quimiocina e interleucinas) a degranularem. Obs: os mastócitos possuem grânulos de histaminas, prostaglandinas, leucotrienos e outras moléculas que são, a maioria, fortemente vasoativas. Realizam vasodilatação, aumentam a permeabilidade capilar de agrupamento de leucócitos, que, por sua vez, promovem o processo inflamatório. Dessa forma, quanto maior a ativação do sistema complemento, maior será a resposta inflamatória que o indivíduo irá apresentar. Os mastócitos também podem ser ativados por outros meios, como traumas (com outras interleucinas relacionadas) e neuropeptídios, que podem fazer a estimulação dos mesmos receptores. - Remoção de imunocomplexos (IC) Está relacionada a via alternativa e todas as demais vias. Imunocomplexos podem se formar ao longo de toda a vida de um indivíduo, o entanto, somente não pode ocorrer o acúmulo, pois em excesso, geram problemas. A presença de antígeno e anticorpo resulta em imunocomplexos. Portanto, os imunocomplexos são formados pela interação entre antígeno e anticorpo. Existem três tipos de IC: (1) por excesso de anticorpos; (2) por excesso de antígenos; (3) em equivalência (anticorpos = antígenos). O principal responsável pela remoção IC é o sistema fagocitário mononuclear, ou seja, os macrófagos e as células dendríticas. No entanto, para evitar a formação desses IC e, consequentemente, favorecer a sua remoção, a C3b pode agir, pois, com ela, pode-se haver a opsonização, que resulta em uma fração proteica com peso molecular muito mais baixo do que se estivesse na presença de anticorpos. Assim, fica mais fácil para o macrófago ou para a célula dendrítica fagocitar a molécula opsonizada por C3b do que a molécula opsonizada por anticorpo. Resumindo, o sistema complemento compete com os anticorpos pelo sítio de ligação do antígeno, assim, consequentemente favorecem a fagocitose e, até mesmo, solubilizam os ICs. Dessa forma, evitam a agregação/acúmulo dos IC em órgãos específicos como em peles, articulações e vasos, que levam a doenças importantes como Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), glomerulonefrite, podendo resultar na morte do indivíduo. Via clássica O antígeno, revestido por anticorpos do tipo IgM ou IgG – que são os principais anticorpos relacionados a ativação da via clássica – e C1qrs – C1q é uma proteína estrutural do sistema complemento, que, aderida a ela, possui proteínas menores, as proteínas C1r e C1s, as quais são enzimas. C1r e C1s realizam um papel muito semelhante ao fator D, assim, essas enzimas irão clivar as demais moléculas. E como isso ocorre? Quando um anticorpo interage com um antígeno, ele muda a região/conformação de FC, o que favorece o recrutamento de C1qrs. Assim, C1qrs se liga ao lado de um anticorpo (IgM ou IgG), com isso, haverá o recrutamento de C4. Quando C4 se aproximar, C1qrs irão clivar C4 em duas frações – C4a e C4b. Assim, C4b se liga a superfície do patógeno e recruta a próxima molécula – a C2. Quando C2 se aproximar de C1qrs também será clivada em C2a e C2b. No entanto, não se sabe ao certo qual das frações irá se ligar a superfície do patógeno, mas é mais aceito que a fração ligante seja a C2a. Dessa forma, outro complexo é formado, o C4bC2a, que é uma C3 convertase, pois possui a capacidade de clivar C3. Com isso, haverá o recrutamento de C3, que será clivado em C3a (solúvel; anafilotoxina) e C3b – fração ligante ao patógeno. Esse novo complexo C4bC2aC3b ganha a capacidade de clivar C5, sendo, portanto, uma C5 convertase. A partir daí, o processo continua da mesma maneira como ocorre na via alternativa – ou seja, recruta C5, que cliva em C5a e C5b; C5b se deposita ao patógeno e recruta C6, que recruta C7, que recruta C8 e que, por fim, recruta C9, formando poros na membrana do patógeno e resulta, consequentemente, na lise osmótica. Via das lectinas A lectina é uma proteína construída de forma endógena no nosso organismo, entretanto, o substrato para a sua formação provém da alimentação. Essas proteínas podem se ligar a carboidratos complexos de patógenos, como a manose (Mannan-Binding Protein ou MPB; presente no fungo Candida) ou a N- acetilglicosamina (GlcNAc) – presente na superfície de diferentes microrganismos. Avia das lectinas possui, principalmente, a função de combater patógenos que apresentam carboidratos complexos em sua superfície, os quais são diferentes dos carboidratos presentes no organismo humano, sendo, assim, considerados PAMPs. Dessa forma, a ligação de MBP ativa a via das lectinas. Assim, ao encontrar um patógeno que apresenta carboidratos complexos em sua membrana, as lectinas (MBP) se aproximam junto a outras proteínas – a MASP1 e MASP2 (MBL – associated serine protease). Então, a lectina é estrutural, da mesma forma que ocorria na via clássica, no entanto, ao invés de CR1s e CR1r, agora são as enzimas MASP1 e MASP2 (além da proteína sMASP – small – descrita em algumas literaturas. Com isso, se houver um carboidrato complexo haverá o recrutamento de lectina e, junto, as MASP1, 2 e a sMASP. Por sua vez, essas irão recrutar C4, que irá ser clivada por uma das MASP’s em frações C4a e C4b. C4b se complexa com o patógeno e recruta a próxima molécula, a C2, que também é clivada, mas dessa vez, quem se junta ao patógeno é a C2a. Esse novo complexo formado, C4BC2a, é uma C3 convertase, dessa forma, haverá o recrutamento C3, que será clivada em C3a e C3b, e esse ultimo se juntará ao patógeno enquanto o primeiro se solubilizará no sangue. Quando formar o complexo C4bC2aC3b, essas três frações proteicas terão a capacidade, além da função de C3 convertase, de clivar C5, ou seja, sendo também uma C5 convertase. Assim, recrutará C5, clivará, C5b se juntará ao complexo da membrana do patógeno e daí em diante começa a recrutar C6, que recruta, C7, que recruta C8 e que, por fim, recruta C9, ocasionando poros no patógeno, gerando como consequência a lise osmótica. Com essemapa mental, concluímos que a principal molécula do sistema complemento é a C3, sem ela, não há como ocorrer a ativação da via alternativa, no entanto, as vias clássica e lectina irão ser ativadas, embora essas não terão sequência de suas atividades biológicas na ausência de C3, já que para todas as atividades biológicas, essencialmente, há a necessidade da presença de C3.
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