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1 Tutorial 7 – Vitor Benincá CONCEITO É uma doença multissistêmica resultante de uma reação autoimune à infecção por estreptococos do grupo A. Seus sintomas, de maneira geral, regridem completamente. Uma importante exceção é a lesão valvar cardíaca (doença coronariana reumática [DCR]). EPIDEMIOLOGIA A FRA e a DCR são doenças relacionadas à pobreza. Essas condições eram comuns em todos os países até o início do século XX, quando sua incidência começou a declinar nas nações industrializadas. Esse declínio foi atribuído à melhora das condições de vida – em particular habitações com menos aglomeração e melhores condições de higiene –, que resultou em transmissão reduzida dos estreptococos do grupo A. A introdução de antibióticos e a melhora dos sistemas de assistência médica tiveram um efeito suplementar. A DCR é a causa mais comum de doença cardíaca em crianças nos países em desenvolvimento, sendo também uma causa importante de mortalidade e morbidade em adultos. É estimado que entre 15 e 19 milhões de pessoas em todo o mundo são acometidas pela DCR, com cerca de 250 mil mortes a cada ano. Em torno de 95% dos casos de FRA e das mortes por DCR ocorrem atualmente em países em desenvolvimento A FRA é principalmente uma doença que acomete crianças entre 5 e 14 anos de idade. Os episódios iniciais tornam-se menos comuns em adolescentes mais velhos e adultos jovens, sendo raros em indivíduos com mais de 30 anos de idade. Não há uma associação clara entre o sexo e a FRA, porém a DCR afeta mais comumente o sexo feminino, às vezes com uma frequência duas vezes maior que a masculina. PATOGÊNESE Fatores do Microrganismo A FRA é causada exclusivamente por infecção do trato respiratório superior com estreptococos do grupo A Fatores do Hospedeiro A maioria das evidências para fatores do hospedeiro enfoca determinantes imunológicos A Resposta Imune A teoria mais amplamente aceita da patogênese da febre reumática baseia-se no conceito de mimetismo molecular, pelo qual uma resposta imune dirigida contra antígenos estreptocócicos (que se acredita que estejam principalmente na proteína M e na N-acetilglicosamina do carboidrato estreptocócico do grupo A) também reconhece tecidos humanos. Os anticorpos que apresentam reatividade cruzada se ligam a células endoteliais na valva cardíaca com consequente recrutamento de linfócitos ativados e lise de células endoteliais na presença de complemento. Esta última leva à liberação de peptídeos, inclusive laminina, queratina e tropomiosina, o que, então, ativa células T com reatividade cruzada, as quais invadem o coração, ampliando a lesão e causando espalhamento de epítopos. Uma hipótese alternativa propõe que a lesão inicial se deve à invasão estreptocócica de superfícies epiteliais, com ligação da proteína M ao colágeno tipo IV, permitindo que este se torne imunogênico, mas não pelo mecanismo de mimetismo molecular. Tutorial 7 2 Tutorial 7 – Vitor Benincá MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Há um período latente de cerca de 3 semanas (1- 5 semanas) entre a infecção por estreptococos do grupo A e o aparecimento das manifestações clínicas de FRA (coreia e cardite indolente podem levar até 6 meses). Muitos pacientes relatem dor de garganta prévia, a infecção por estreptococos do grupo A precedente costuma ser subclínica; Os aspectos clínicos mais comuns são poliartrite (presente em 60-75% dos casos) e cardite (50- 60%). O eritema marginado e os nódulos subcutâneos agora são raros, sendo encontrados em menos de 5% dos casos. Envolvimento Cardíaco Até 60% dos pacientes com FRA progridem para DCR. O endocárdio, o pericárdio ou o miocárdio podem ser afetados. A lesão valvar é o principal marco da cardite reumática. A valva mitral é quase sempre afetada, algumas vezes em conjunto com a valva aórtica. A lesão das valvas pulmonar ou tricúspide em geral é secundária a pressões pulmonares aumentadas resultantes de doença valvar do lado esquerdo. A lesão valvar inicial leva à insuficiência. Ao longo dos anos subsequentes, em geral como um resultado de episódios recorrentes, pode haver desenvolvimento de espessamento de folhetos, retração cicatricial, calcificação e estenose valvar. Portanto, a manifestação característica da cardite em indivíduos não afetados previamente é a insuficiência mitral, por vezes acompanhada de regurgitação aórtica. A inflamação miocárdica pode afetar as vias de condução elétrica, levando a um prolongamento do intervalo PR (bloqueio AV de primeiro grau ou, raramente, bloqueio de nível mais alto) e ao abafamento da primeira bulha. Em muitos casos, indivíduos com DCR permanecem assintomáticos durante muitos anos antes da sua doença valvar evoluir e causar insuficiência cardíaca. Além disso, particularmente em situações de recursos precários, o diagnóstico de FRA muitas vezes não é estabelecido, de modo que crianças, adolescentes e adultos jovens podem ter DCR sem saber. Envolvimento Articular A forma mais comum de envolvimento articular na FRA é a artrite, ou seja, a evidência objetiva de inflamação, com articulações quentes, edemaciadas, vermelhas e/ou dolorosas, e o comprometimento de mais de uma articulação. A FRA quase sempre afeta as grandes articulações – mais comumente os joelhos, os tornozelos, os quadris e os cotovelos – e é assimétrica. A dor é intensa e, em geral, incapacitante até a instituição da medicação anti-inflamatória. As manifestações articulares da FRA são altamente responsivas aos salicilatos e a outros anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Coreia A coreia de Sydenham ocorre comumente na ausência de outras manifestações, segue-se a um período de latência prolongado depois da infecção por estreptococos do grupo A e é encontrada principalmente no sexo feminino. Os movimentos coreiformes afetam particularmente a cabeça (causando os característicos movimentos rápidos da língua) e os membros superiores. Manifestações Cutâneas O exantema clássico da FRA é o eritema marginado, que começa como máculas róseas, exibindo clareamento no centro, deixando uma borda serpiginosa que se espalha. Os nódulos subcutâneos ocorrem como caroços móveis, pequenos (0,5-2 cm) e indolores, localizados sob a pele e sobrejacentes a proeminências ósseas, em particular nas mãos, nos pés, nos cotovelos, na região occipital e, ocasionalmente, sobre as vértebras. Constituem uma manifestação tardia, aparecendo em 2 a 3 semanas depois do início da doença, duram apenas poucos dias até 3 semanas e estão comumente associados à cardite. Outras Manifestações A febre ocorre na maioria dos casos de FRA, embora raramente nos casos de coreia pura. Apesar de a febre alta (≥ 39°C) ser a regra, elevações menores de temperatura não são incomuns 3 Tutorial 7 – Vitor Benincá Evidência De Infecção Prévia Por Estreptococos Do Grupo A Como não há nenhum teste definitivo, o diagnóstico de FRA baseia-se na presença de uma combinação de achados clínicos típicos com evidência de infecção precipitante por estreptococos do grupo A e exclusão de outros diagnósticos. Baixo risco = FRA ≤ 2 a cada 100 mil crianças em idade escolar ou com prevalência de doença cardíaca reumática ≤ 1 a cada 1.000 indivíduos de qualquer idade por ano. Critérios Maiores Artrite A artrite é a manifestação mais comum da FR, presente em 75% dos casos, com evolução autolimitada e sem sequelas. Muitas vezes é o único critério maior presente, principalmente em adolescentes e adultos. A diferenciação entre artrite (critério maior) e artralgia (critério menor) é feita em bases clínicas. Artralgia significa apenas dor articular, enquanto a artrite é definida como a presença de edema na articulaçãoou, na falta deste, pela associação da dor com a limitação de movimentos. Cardite (endo/ mio/ peri) A cardite é a manifestação mais grave da FR, pois é a única que pode deixar sequelas e acarretar óbito. A manifestação ocorre entre 40%-70% dos primeiros surtos, embora séries mais recentes, em que a ecocardiografia foi utilizada para avaliação, demonstrem prevalências mais elevadas. A cardite tende a aparecer em fase precoce e, mais frequentemente, é diagnosticada nas três primeiras semanas. O acometimento pericárdico não é comum, não ocorre isoladamente e não resulta em constrição. A pericardite está sempre associada à lesão valvar e é diagnosticada pela presença de atrito e/ou derrame pericárdico, abafamento de bulhas, dor ou desconforto precordial. Nos casos leves, o acometimento pericárdico é um achado exclusivo do estudo ecocardiográfico. Grandes derrames pericárdicos e tamponamento cardíaco são raros. Coreia de Sydenham A coreia de Sydenham (CS) ocorre predominantemente em crianças e adolescentes do sexo feminino, sendo rara após os 20 anos de idade. Sua prevalência varia de 5%-36% em diferentes relatos, com início insidioso caracterizado, geralmente, por labilidade emocional e fraqueza muscular que dificultam o diagnóstico. Embora possa ocorrer como manifestação isolada da FR, a CS se apresenta, com frequência, associada à cardite clínica ou subclínica e, mais raramente, à artrite. Também pode aparecer no início do surto, mas geralmente ocorre como manifestação tardia até 7 meses após a infecção estreptocócica Nos casos em que a coreia é a única manifestação da FR ou é acompanhada somente por artrite, deve ser solicitado, se possível, o anticorpo antinúcleo para descartar a possibilidade de lúpus eritematoso sistêmico. Anticorpos anticardiolipina têm sido descritos em pacientes com CS. Eritema Marginatum Manifestação rara (<3%). Caracteriza-se por eritema com bordas nítidas, centro claro, contornos arredondados ou irregulares, sendo de difícil detecção nas pessoas de pele escura. As lesões são múltiplas, indolores, não pruriginosas, podendo haver fusão, resultando em aspecto serpiginoso. As lesões se localizam principalmente no tronco, abdome e face interna de membros superiores e inferiores, poupando a face. 4 Tutorial 7 – Vitor Benincá Nódulos Subcutâneos Os nódulos subcutâneos são raros, presentes apenas em 2%-5% dos pacientes, e estão fortemente associados à presença de cardite grave. São múltiplos, arredondados, de tamanhos variados (0,5-2 cm), firmes, móveis, indolores e recobertos por pele normal, sem características inflamatórias. Localizam-se sobre proeminências e tendões extensores, sendo mais facilmente percebidos pela palpação do que pela inspeção. Ocorrem preferencialmente em cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região occipital, tendão de Aquiles e coluna vertebral. O aparecimento é tardio (uma a duas semanas após as outras manifestações), regride rapidamente com o início do tratamento da cardite e raramente persiste por mais de um mês Critérios Menores Artralgia A artralgia isolada afeta as grandes articulações e se caracteriza pela ausência de incapacidade funcional, cuja presença distingue a artrite. Febre A febre é frequente no início do surto agudo e ocorre em quase todos os surtos de artrite. Não tem um padrão característico. Pacientes com cardite podem ter febre baixa; com coreia, afebris. Interavlo PR O intervalo PR pode estar aumentado em pacientes com febre reumática, mesmo na ausência de cardite, assim como em indivíduos normais. O eletrocardiograma deve ser solicitado em todos os pacientes com suspeita de FR e repetido para registrar o retorno à normalidade. Na criança, considera-se o intervalo PR aumentado quando apresenta valores acima de 0,18 s e, nos adolescentes e adultos, acima de 0,20 s Reagentes de Fase Aguda As provas de atividade inflamatória ou reagentes de fase aguda não são específicas da FR, porém auxiliam no monitoramento da presença de processo inflamatório (fase aguda) e da sua remissão. A velocidade de hemossedimentação (VHS) se eleva nas primeiras semanas de doença. Ressalte-se que, na presença de anemia, a VHS pode estar superestimada, bem como subestimada, nos pacientes com insuficiência cardíaca. A proteína C reativa (PCR) se eleva no início da fase aguda e seus valores diminuem no final da segunda ou da terceira semana. Sempre que possível deve ser titulada, sendo mais fidedigna que a VHS. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Artrite Infecciosas virais: rubéola, caxumba, hepatite. Bacterianas: gonococos, meningococos, endocardite bacteriana. Reativas: pós-entéricas ou pós-infecções urinárias. Doenças hematológicas: anemia falciforme. Neoplasias: leucemia linfoblástica aguda. Doenças reumáticas: lúpus eritematoso sistêmico, artrite idiopática juvenil, vasculites. Cardite Infecciosas virais: pericardites e perimiocardites. Doenças reumáticas: artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistêmico. Outros: sopro inocente, sopro anêmico, aorta bicúspide, prolapso de valva mitral. Coreia Infecciosas: encefalites virais. Doenças reumáticas: lúpus eritematoso sistêmico. Outros: síndrome antifosfolípide, coreia familial benigna. Nódulos Subcutâneos Doenças reumáticas: artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistêmico. Outros: nódulos subcutâneos benignos. Eritema Marginado Infecciosas: septicemias 5 Tutorial 7 – Vitor Benincá Reações a drogas Doenças reumáticas Idiopático TRATAMENTO Testes recomendados para todos os casos: Leucograma Velocidade de hemossedimentação Proteína C-reativa Hemoculturas, se febril Eletrocardiograma (havendo intervalo P-R prolongado ou outra anormalidade do ritmo, repetir em 2 semanas, e, se ainda estiver anormal, novamente em 2 meses) Radiografia de tórax, se houver evidência clínica ou ecocardiográfica de cardite Ecocardiograma (considerar a repetição depois de 1 mês, se negativo) Swab de garganta (preferivelmente antes da administração de antibióticos) – cultura para estreptococos do grupo A Sorologia antiestreptocócica: Exames para diagnósticos alternativos, a depender dos achados clínicos: Hemoculturas repetidas, se houver possibilidade de endocardite Punção articular (microscopia e cultura) para possível artrite séptica Cobre, ceruloplasmina, fator antinuclear, triagem toxicológica para movimentos coreiformes. Sorologia e marcadores autoimunes para artrite por arbovírus, autoimune ou reativa Antibióticos Todos os pacientes com FRA devem receber antibióticos suficientes para tratar a infecção estreptocócica do grupo A precipitante. Penicilina (fármaco de escolha) ou amoxicilina. Salicilatos e AINEs Estes podem ser usados para o tratamento da artrite, da artralgia e da febre, uma vez confirmado o diagnóstico. Não têm valor comprovado no tratamento de cardite ou coreia. O ácido acetilsalicílico é o fármaco de escolha. Em doses mais altas, o paciente deve ser monitorado para sintomas de toxicidade por salicilato, como náuseas, vômitos ou zumbido; se os sintomas aparecerem, doses mais baixas devem ser usadas Insuficiência Cardíaca Congestiva O uso de glicocorticoides na FRA permanece controverso. Muitos clínicos tratam os casos graves de cardite (que causam insuficiência cardíaca) com glicocorticoides, na crença de que possam reduzir a inflamação aguda e resultar em resolução mais rápida da insuficiência. Entretanto, os benefícios potenciais desse tratamento devem ser balanceados contra os possíveis efeitos adversos. Exemplo de medicamento: prednisona ou prednisolona. Manejo da Insuficiência Cardíaca Repouso no Leito O repouso no leito deverá ser prescrito, quando necessárioenquanto a artrite e a artralgia estiverem presentes e para os pacientes com insuficiência cardíaca. Estando os sintomas bem controlados, a mobilização gradual pode começar, conforme tolerada. Coreia Os casos mais leves podem ser tratados em geral pelo provimento de um ambiente tranquilo. Em pacientes com coreia grave, prefere-se a carbamazepina ou o valproato sódico. Uma resposta pode não ser vista em 1 a 2 semanas; a medicação deve ser mantida por 1 a 2 semanas depois que os sintomas regredirem. Imunoglobulina Intravenosa Estudos pequenos sugeriram que a imunoglobulina intravenosa (IgIV) pode levar à resolução mais rápida da coreia, mas não mostra benefício em curto ou longo prazo sobre o resultado da cardite na FRA sem coreia. PROGNÓSTICO A FRA não tratada dura, em média, 12 semanas. Com tratamento, os pacientes geralmente são liberados do hospital dentro de 1 a 2 semanas. Os marcadores inflamatórios devem ser monitorados a cada 1 a 2 semanas até que tenham se normalizado (em geral, em 4-6 semanas), devendo ser realizado um ecocardiograma após 1 mês para determinar se houve progressão da cardite. Os casos com cardite mais grave necessitam de monitoração clínica e ecocardiográfica frequente em longo prazo. 6 Tutorial 7 – Vitor Benincá PREVENÇÃO Prevenção Primária Implica na eliminação dos principais fatores de risco para infecções estreptocócicas, em particular a superlotação domiciliar, porém isso é difícil de conseguir na maioria dos lugares onde a FRA é comum. A base da prevenção primária para FRA continua sendo a profilaxia primária (i.e., o tratamento oportuno e completo com antibióticos de uma faringite causada por estreptococos do grupo A). Se a penicilina for iniciada dentro de 9 dias do início da faringite (conforme delineado anteriormente para o tratamento da FRA), prevenirá quase todos os casos de FRA que, caso contrário, se desenvolveriam. Prevenção Secundária O principal controle da FRA e da DCR é a prevenção secundária. Como os pacientes com FRA têm um risco significativamente mais alto do que a população geral de desenvolver um novo episódio de FRA após uma infecção estreptocócica do grupo A, devem receber profilaxia com penicilina em longo prazo para prevenir recorrências. Devem receber penicilina G benzatina a cada 4 semanas. A penicilina V oral (250 mg) pode ser administrada 2 vezes por dia, porém é menos efetiva do que a penicilina G benzatina. Pacientes alérgicos à penicilina podem receber eritromicina (250 mg) 2 vezes por dia. Tempo de profilaxia (secundária): Paciente com febre reumática sem cardite = por 5 anos depois do último ataque ou até os 21 anos de idade (a que for mais longa) Paciente com febre reumática com cardite, mas sem doença valvar residual = por 10 anos depois do último ataque ou até os 21 anos de idade (a que for mais longa) Paciente com febre reumática com doença valvar persistente, evidente clinicamente ou ao ecocardiograma = por 10 anos depois do último ataque ou até os 40 anos de idade (a que for mais longa); algumas vezes, profilaxia pelo resto da vida 7 Tutorial 7 – Vitor Benincá CONCEITO A lesão típica da endocardite infecciosa, a vegetação, consiste em uma massa de plaquetas, fibrina, microrganismos e escassas células inflamatórias. A infecção geralmente envolve mais as valvas cardíacas, mas também pode ocorrer no lado de baixa pressão de um defeito septal ventricular, no endocárdio mural lesionado por jatos sanguíneos aberrantes ou por corpos estranhos, ou ainda sobre dispositivos intracardíacos. O processo análogo que envolve shunts arteriovenosos ou arterioarteriais (ducto arterioso persistente) ou coarctação da aorta é chamado de endarterite infecciosa A endocardite pode ser classificada segundo a evolução temporal da doença, o local ou a causa da infecção ou conforme um fator de risco predisponente A endocardite aguda é uma doença febril consumptiva que lesiona rapidamente as estruturas cardíacas, que se dissemina por via hematogênica para locais extracardíacos e que, quando não tratada, evolui em semanas para o óbito. A endocardite subaguda tem uma evolução indolente; causa lesões cardíacas estruturais apenas lentamente, se é que chega a fazê-lo; raramente lança metástases; e evolui de modo gradual, a menos que venha a complicar-se por um evento embólico importante ou pela ruptura de um aneurisma micótico. EPIDEMIOLOGIA Nos países desenvolvidos, a incidência de endocardite varia de 4 a 7 casos por 100 mil habitantes por ano e tem permanecido relativamente estável durante as décadas recentes. A incidência de endocardite é notavelmente maior em idosos. Nos países desenvolvidos, 25 a 35% dos casos de endocardite das valvas nativas (EVN) estão associados aos cuidados de saúde, e 16 a 30% de todos os casos de endocardite envolvem valvas protéticas (EVP). O risco de EVP é maior durante os primeiros 6 a 12 meses após a substituição da valva, com redução gradual, até alcançar uma taxa baixa e estável; e é semelhante em dispositivos mecânicos ou bioprotéticos. ETIOLOGIA Embora muitas espécies de bactérias e fungos causem episódios esporádicos de endocardite, poucas espécies bacterianas causam a maioria dos casos Estreptococos, Pneumococos, Enterococus, Straphylococcus aureus, Estafilococos coagulase-negativa, Cocobacilos Gram-negativos fastidiosos, Bacilos Gram-negativos, Cândida, Polimicrobianos, Difteroides. A EVP que surge até 2 meses após a cirurgia valvar – EVP precoce – é geralmente hospitalar e resulta de contaminação intraoperatória da prótese ou de complicação bacterêmica no pós- operatório. Essa origem hospitalar se reflete nos principais microrganismos causadores: S. aureus, CoNS, bacilos Gramnegativos facultativos, difteroides e fungos. A endocardite de DEIC envolve o dispositivo ou o endotélio em pontos de contato com o dispositivo. Ocasionalmente, há infecção aórtica ou da valva mitral simultâneas. Trinta e três por cento dos casos de endocardite por DEIC se apresentam em 3 meses após o implante ou a manipulação do dispositivo, outros 33% se apresentam em 4 a 12 meses, e outros 33% em > 1 ano. A maioria é causada por S. aureus e CoNS A endocardite que ocorre entre usuários de drogas injetáveis, especialmente aquela envolvendo a valva tricúspide, é comumente causada por S. aureus. De 5 a 15% dos pacientes com endocardite têm hemoculturas negativas; em 33 a 50% dos casos, as culturas são negativas por causa de exposição prévia a antibióticos. 8 Tutorial 7 – Vitor Benincá PATOGÊNESE O endotélio normal é resistente à infecção pela maioria das bactérias e à formação de trombos. A lesão endotelial permite ora a infecção direta por microrganismos virulentos, ora a formação de um trombo não infectado de plaquetas e fibrina – distúrbio denominado endocardite trombótica não bacteriana (NBTE). Esse trombo serve como local de inserção bacteriana durante a bacteremia transitória. As alterações cardíacas que mais comumente resultam em NBTE são insuficiência mitral, estenose aórtica, insuficiência aórtica, comunicações interventriculares e cardiopatias congênitas complexas. Os microrganismos que causam endocardite geralmente entram na corrente sanguínea a partir das superfícies mucosas, da pele ou de locais de infecção focal. Exceto pelas bactérias mais virulentas (p. ex., S. aureus), que podem aderir diretamente ao endotélio intacto ou ao tecido subendotelial exposto, os microrganismos presentes no sangue aderem aos locais de NBTE. Na ausência de defesa do hospedeiro, os microrganismos, entremeados na crescente vegetaçãode fibrinas e plaquetas, proliferam formando densas microcolônias. Os microrganismos também induzem a deposição plaquetária e um estado pré-coagulante localizado, extraindo o fator tecidual do endotélio e, no caso do S. aureus, também dos monócitos. O depósito de fibrina combina-se à agregação plaquetária e à proliferação de microrganismos, dando origem a uma vegetação infectada. Os microrganismos situados na profundidade da vegetação são inativos do ponto de vista metabólico (não proliferam) e relativamente resistentes à destruição por antimicrobianos. Os microrganismos que proliferam na superfície são continuamente liberados na corrente sanguínea As consequências fisiopatológicas e as manifestações clínicas da endocardite – outras que não incluem os sintomas constitucionais, que provavelmente resultam da produção de citocinas – decorrem de lesão das estruturas intracardíacas; da embolização de fragmentos de vegetação, levando à infecção ou ao infarto de tecidos distantes; da infecção hematogênica de locais a distância durante a bacteremia; e de lesões teciduais causadas pelo depósito de imunocomplexos circulantes ou às respostas imunes a antígenos bacterianos depositados. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A síndrome clínica de endocardite é altamente variável e abrange todo um contínuo entre as apresentações aguda e subaguda. O microrganismo causal é o principal responsável pela evolução temporal da endocardite. Os estreptococos βhemolíticos, o S. aureus e os pneumococos geralmente dão origem a uma doença de evolução aguda, embora o S. aureus às vezes cause doença subaguda. A endocardite causada por Staphylococcus lugdunensis (espécie coagulasenegativa) ou por enterococos pode apresentar-se de forma aguda. A endocardite subaguda é geralmente causada por estreptococos viridans, enterococos, CoNS e pelos microrganismos do grupo HACEK. A endocardite causada por espécies de Bartonella, T. whipplei ou C. burnetii é excepcionalmente indolente. Em pacientes com apresentações subagudas, a febre costuma ser baixa e raramente excede 39,4°C; ao contrário, temperaturas de 39,4 a 40°C são frequentemente observadas na endocardite aguda Manifestações Cardíacas Embora habitualmente os sopros cardíacos indiquem a presença de lesão cardíaca predisponente e não de endocardite, a lesão valvar e a ruptura das cordas tendíneas podem resultar em novos sopros de regurgitação. Na endocardite aguda que acomete uma valva normal, os sopros podem estar a princípio ausentes, mas, no final da evolução, são 9 Tutorial 7 – Vitor Benincá detectados em 85% dos casos. Em 30 a 40% dos pacientes, surge insuficiência cardíaca congestiva (ICC), geralmente em consequência da disfunção valvar ou, algumas vezes, por fístulas intracardíacas. A extensão da infecção para além das cúspides valvares, ou seja, para o interior do tecido anelar ou miocárdico adjacente, resulta em abscessos perivalvares, os quais podem causar fístulas intracardíacas que determinam novos sopros. Os abscessos do anel da valva aórtica podem escavar e progredir para o interior do septo ventricular superior, onde eles podem interromper o sistema de condução, levando a vários graus de bloqueio atrioventricular. A embolização de uma artéria coronária ocorre em 2% dos pacientes e pode resultar em infarto agudo do miocárdio. Manifestações Não Cardíacas As clássicas manifestações periféricas não supurativas da endocardite subaguda (lesões de Janeway) estão relacionadas à infecção prolongada; com o diagnóstico e o tratamento precoce, tornaram-se infrequentes. Em contrapartida, a embolização séptica que simula algumas dessas lesões (hemorragia subungueal, nodos de Osler) é comum em pacientes com endocardite aguda por S. aureus. A dor musculoesquelética em geral remite prontamente com o tratamento, mas deve ser diferenciada dos sintomas causados por infecção metastática focal, que pode complicar 10 a 15% dos casos. A infecção focal de origem hematogênica ocorre com mais frequência em pele, baço, rins, sistema esquelético e meninges. Os êmbolos arteriais, 50% dos quais precedem o diagnóstico de endocardite, são clinicamente aparentes em até 50% dos pacientes. A oclusão arterial embólica causa dor regional ou disfunção orgânica induzida por isquemia. Embolias cerebrovasculares apresentando-se como AVC ou, ocasionalmente, como encefalopatia complicam 15 a 35% dos casos de endocardite; porém, evidências de embolia clinicamente assintomática são encontradas na ressonância magnética (RM) em 30 a 65% dos pacientes com endocardite esquerda. Outras complicações neurológicas incluem meningite asséptica ou purulenta, hemorragia intracraniana causada por infartos hemorrágicos ou aneurismas micóticos rotos, e convulsões. Microabscessos no cérebro e nas meninges ocorrem comumente na endocardite por S. aureus. O depósito de imunocomplexos na membrana basal do glomérulo causa glomerulonefrite difusa com queda dos níveis séricos de complemento e disfunção renal, que geralmente melhora com tratamento antimicrobiano eficaz. Os infartos renais embólicos causam dor no flanco e hematúria, mas raramente produzem disfunção renal. Manifestações De Condições Predisponentes Específicas Quase 50% dos casos de endocardite associada ao uso de drogas injetáveis são limitados à valva tricúspide e se apresentam com febre, mas com sopro leve ou ausente e sem manifestações periféricas. Os êmbolos pulmonares sépticos, que são comuns com a endocardite tricúspide, causam tosse, dor torácica pleurítica, infiltrados pulmonares e, ocasionalmente, empiema ou piopneumotórax. A infecção das valvas aórtica ou mitral se apresenta com as características clínicas típicas da endocardite, incluindo manifestações periféricas. A endocardite associada à assistência médica tem manifestações típicas se não for associada a dispositivo intracardíaco ou mascarada por sintomas de comorbidades simultâneas. DIAGNÓSTICO 10 Tutorial 7 – Vitor Benincá Critérios de Duke Só é possível estabelecer o diagnóstico de certeza de endocardite infecciosa quando as vegetações são submetidas a exames histológicos e microbiológicos. Entretanto, foi desenvolvido um esquema diagnóstico altamente sensível e específico – conhecido como critérios de Duke modificados – com base nos achados clínicos, laboratoriais e ecocardiográficos comumente encontrados em pacientes com endocardite A endocardite definitiva é estabelecida pela documentação de dois critérios maiores, de um critério maior e três critérios menores, ou de cinco critérios menores Hemoculturas O isolamento do microrganismo causal nas hemoculturas é fundamental para o diagnóstico e para planejar o tratamento. Com resultados de culturas pendentes, o tratamento antimicrobiano empírico não deve ser instituído em pacientes com suspeita de endocardite subaguda que estejam estáveis do ponto de vista hemodinâmico. Outros Exames que Não Incluem a Hemocultura Os testes sorológicos podem ser usados para investigar microrganismos cujo isolamento é difícil nas hemoculturas: Brucella, Bartonella, Legionella, Chlamydia psittaci e C. burnetii. Em vegetações recuperadas em cirurgias ou por embolectomia, os patógenos também podem ser identificados por cultura. O PCR também permite a identificação de bactérias e fungos. Exames de Imagem Cardíacos A ecocardiografia confirma anatomicamente e dimensiona as vegetações, detecta complicações intracardíacas e avalia a função cardíaca. A ecocardiografia transtorácica (ETT) é não invasiva e excepcionalmente específica; entretanto pode não visualizar vegetações com < 2 mm de diâmetro e, em 20% dos pacientes, as imagens são inadequadas. A ecocardiografia transesofágica (ETE) é segura e detectavegetações em > 90% dos pacientes com endocardite definitiva. Quando há probabilidade de endocardite, um resultado de ETE negativo não exclui o diagnóstico, mas sim indica a necessidade de repetição do estudo em 7 a 10 dias. Além disso, a tomografia por emissão de pósitrons com F18-fluorodesoxiglicose (FDGPET)/TC, uma técnica que ainda está sendo avaliada, pode identificar infecção perivalvar ou perienxerto que não tenha sido vista na ETE em pacientes com EVP ou infecção de enxerto protético aórtico 11 Tutorial 7 – Vitor Benincá Outros Exames Muitos exames sem poder diagnóstico – ou seja, hemogramas completos, dosagem de creatinina, provas de função hepática, radiografias de tórax e eletrocardiogramas – são importantes no tratamento de pacientes com endocardite. A velocidade de hemossedimentação, o nível da proteína C-reativa, o fator reumatoide e o título de imunocomplexos circulantes mostram-se comumente aumentados na endocardite. TRATAMENTO Tratamento Antibiótico Para curar a endocardite, todas as bactérias na vegetação devem ser erradicadas. Contudo, é difícil erradica-las, porque as defesas locais do hospedeiro são deficientes e porque as bactérias, em sua maior parte, não estão se multiplicando e se encontram em um estado de inatividade metabólica, tornando, assim, difícil essa tarefa para os antibióticos. Desse modo, o tratamento deve ser bactericida e prolongado. A decisão de iniciar o tratamento empiricamente depende da confrontação entre a necessidade de se estabelecer um diagnóstico microbiológico e o potencial de progressão da doença ou a necessidade de cirurgia urgente. Infecção simultânea em outros locais (como as meninges), alergias, disfunção de órgãos-alvo, interações com as medicações concomitantemente administradas e riscos de eventos adversos devem ser considerados na seleção da terapia. Microrganismo Fármaco Estreptococos, S. gallolyticus Penicilina, Ceftriaxona, Vancomicina, Gentamicina Enterococos Penicilina, Ampicilina, Vancomicina Estafilococos Nafcilina, Oxacilina, Flucloxacilina, Cefazolina, Vancomicina, Rifampicina, Gentamicina Microrganismos HACEK Ceftriaxona, Ampicilina Coxiella burnetii Doxiciclina Bartonella spp. Doxiciclina Terapia empírica e tratamento da endocardite com culturas negativas Ao formular a terapia a ser administrada antes que se conheçam os resultados das culturas ou quando as culturas são verdadeiramente negativas, deve-se considerar as indicações clínicas para a etiologia (p. ex., apresentação aguda vs. subaguda, EVN, EVP precoce ou tardia, predisposições do paciente), bem como as indicações epidemiológicas (região de moradia, exposição a animais). Assim, o tratamento empírico da endocardite aguda em um usuário de droga ilícita injetável ou da EVN associada a cuidados de saúde deve cobrir o MRSA e os bacilos Gram-negativos potencialmente resistentes a antibióticos. O tratamento com vancomicina mais gentamicina ou cefepima, iniciado imediatamente após a obtenção das amostras sanguíneas para cultura, cobre esses microrganismos bem como várias outras potenciais causas. Para o tratamento empírico da EVN com apresentação subaguda, é razoável utilizar a vancomicina mais a ceftriaxona Terapia Antimicrobiana Ambulatorial Os pacientes clinicamente estáveis que aderem plenamente ao tratamento, não são mais bacterêmicos e não apresentam febre nem achados clínicos ou ecocardiográficos sugerindo uma complicação iminente podem completar o tratamento ambulatorialmente. São necessários acompanhamento cuidadoso e boas condições domiciliares, bem como a possibilidade de um acesso IV e o uso de antimicrobianos estáveis em solução. Terapia Antitrombótica Os pacientes com endocardite infecciosa podem ter condições coexistentes com indicação de anticoagulação. Dessa forma, na ausência de contraindicação (i.e., ausência de evidências clínicas ou radiográficas de um grande AVC embólico recente, hemorragia intracerebral ou aneurisma micótico), a terapia anticoagulante é administrada a pacientes com válvula protética mecânica, fibrilação atrial com estenose mitral ou escore CHADS2 ≥ 2, ou com tromboflebite de veia profunda Tratamento Cirúrgico As complicações intracardíacas e do sistema nervoso central na endocardite são importantes causas de morbidade e de morte. Em alguns 12 Tutorial 7 – Vitor Benincá casos, o tratamento eficaz dessas complicações requer cirurgia. Indicação para intervenção cirúrgica De emergência (mesmo dia): Disfunção valvar com edema pulmonar ou choque cardiogênico Insuficiência aórtica aguda com fechamento precoce da valva mitral Abscesso do seio de Valsalva roto para o átrio direito Ruptura para o saco pericárdico De urgência (até 2 dias) Obstrução valvar pela vegetação Próteses instáveis (deiscentes) Insuficiência aguda aórtica ou mitral com insuficiência cardíaca (classe III ou IV da New York Heart Association) Perfuração de septo Extensão perivalvar da infecção com ou sem novas alterações eletrocardiográficas do sistema de condução Inexistência de tratamento antibiótico eficaz Eletiva (precoce geralmente preferida) Insuficiência protética paravalvar progressiva Disfunção valvar com infecção persistente após ≥ 7-10 dias de tratamento antimicrobiano Endocardite fúngica (fungos filamentosos) Indicações: Insuficiência cardíaca congestiva Infecção perivalvar Infecção não controlada Endocardite por S. aureus Prevenção de embolia séptica Endocardite por DEIC DESFECHO CLÍNICO A endocardite é uma doença heterogênea que ocorre em populações de pacientes extremamente heterogêneas. Muitos fatores podem afetar adversamente o resultado; eles incluem idade avançada, comorbidades graves e diabetes, diagnóstico atrasado, envolvimento de valvas protéticas ou da valva aórtica, um patógeno invasivo (S. aureus) ou resistente ao antibiótico (P. aeruginosa, levedura), complicações intracardíacas e neurológicas maiores e uma associação com os cuidado de saúde. Muitas vezes, a morte ou um resultado adverso não estão relacionados com falha da antibioticoterapia, mas com interações entre a comorbidade e complicações dos órgãos-alvo inerentes à endocardite. PREVENÇÃO Os comitês de especialistas concluíram que as evidências favorecendo a profilaxia antibiótica para a endocardite são insuficientes para que se recomende esse tratamento como padrão de cuidados disseminado. Após considerar os potenciais benefícios, ou possíveis efeitos adversos e os custos associados à profilaxia por antibióticos, a American Heart Association e a European Society of Cardiology recomendam agora antibióticos profiláticos apenas para os pacientes com risco mais alto de morbidade grave ou morte pela endocardite A manutenção de boa higiene dental nos pacientes de risco é fundamental e é um objetivo recomendado. A profilaxia é recomendada apenas quando há manipulação do tecido gengival ou da região periapical do dente ou quando há perfuração da mucosa oral Lesões cardíacas de alto risco para as quais é aconselhável a profilaxia da endocardite antes de procedimentos dentários: Valvas cardíacas protéticas Endocardite prévia Cardiopatia congênita cianótica não corrigida, incluindo os shunts e derivações paliativas Defeitos cardíacos congênitos completamente corrigidos, nos 6 meses que se seguem à correção Cardiopatia congênita com correção incompleta, com defeitos residuais contíguos ao material protético Desenvolvimento de valvulopatia após o transplante cardíaco
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