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Letícia Huguenin Farmacologia Farmacodinâmica: Alvos Farmacológicos ALVOS FARMACOLÓGICOS Para produzir seu efeito, os fármacos precisam se ligar a constituintes específicos das células → alvos farmacológicos 4 proteínas reguladoras atuam como alvos farmacológicos: • Enzimas • Canais iônicos • Moléculas transportadoras • Receptores ENZIMAS Vários fármacos utilizam as enzimas como alvo, como inibidores da ECA Quando o fármaco utiliza a enzima como alvo, ele pode atuar de duas formas: 1. Inibidor: se ligar ao sítio do substrato endógeno, impedindo a ligação da substância endógena e produção do metabolito normal da célula ✓ Inibe a ação da enzima ✓ Se ligam na enzima e impendem a ação da enzima de produzir o metabólito normal 7 ✓ Inibição da reação normal ✓ NÃO produz metabólito 2. Substrato falso: reação em que este substrato engana a enzima, acaba catalisando uma reação que produz um metabólito anormal, alterando alguma função da célula ✓ Fármaco atua como um substrato falso ✓ Fármacos que se ligam e possuem características semelhantes ao substrato utilizado pela enzima ✓ Quando a enzima utiliza o fármaco como substrato falso, o metabólito produzido é anormal ✓ Produção de um metabólito anômalo ✓ PRODUZ metabólito anormal ✓ Exemplo: Fluoruracila (antineoplásico) que substitui a uracila na biossíntese de purinas, bloqueando a síntese de DNA e impedindo a divisão celular Pró-fármaco: existem algumas drogas que quando administradas apresentam problemas relacionados à fase farmacocinética: ▪ Absorção incompleta através das membranas biológicas, tais como células da mucosa gastrintestinal ▪ Biodisponibilidade sistêmica incompleta devido ao metabolismo pré-sistêmico ▪ Absorção ou excreção muito rápidas do fármaco, quando são desejáveis longos períodos de ação ▪ Toxicidade relacionada à irritação local ou à distribuição em outros tecidos Em alguns casos é possível que os pró fármacos, que se encontram na forma inativa, após serem catabolizadas por enzimas, tornam-se ativos . . . . . . .. .. . . . . . . . . .. . . . . . . . . .. . .. . .. . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . . . . .. . . .. . . . . Alguns exemplos de fármacos que utilizam enzimas como alvo: ▪ Neostigmina: inibe acetilcolinesterase ▪ Captopril: inibe a ECA ▪ Aspirina: inibe a ciclo-oxigenase CANAIS IÔNICOS Grandes “portões” que permitem seletivamente a passagem de íons pela membrana Fármacos cuja ação é direcionada para os canais iônicos podem exercer impacto significante sobre as principais funções orgânicas, já que através dos canais várias delas são controladas (neurotransmissão, condução cardíaca, contração muscular, etc) ▪ Fármacos são utilizados para facilitar a passagem, utilizados como moduladores, ou bloqueadores dos canais iônicos Os fármacos envolvidos possuem ação muito ampla, ou seja, não são muito especificas. Além disso, possuem uma ação mais rápida Estão envolvidos principalmente na transmissão sináptica rápida ✓ Ex: receptores nicotínicos da acetilcolina Existem várias famílias estruturais, sendo a mais comum a organização heteromérica de quatro ou cinco subunidades, com hélices transmembranas dispostas em torno de um canal central aquoso ✓ Exemplo: canais de sódio ❖ Constituídos por 5 subunidades ❖ Fármaco se liga em alguma subunidade, promovendo a abertura ou fechamento do canal Os fármacos agem sobre os canais iônicos de duas formas: 1. Bloqueadores: bloqueio da permeação Exemplo: bloqueadores dos canais de cálcio, como vasodilatadores e bloqueadores de canais de sódio, como anestésicos locais 2. Moduladores: aumento ou diminuição da probabilidade de abertura • Exemplo: Benzodiazepínicos realizam o aumento da frequência de abertura dos canais de cloreto, permitindo a hiperpolarização e, consequentemente, produzindo efeitos inibitórios SNC MOLÉCULAS TRANSPORTADORAS São proteínas carreadoras de íons e pequenas moléculas orgânicas que estão presentes na membrana celular Os fármacos interagem com os transportadores e atuam impedindo a ligação do substrato endógeno ou atuam como falso substrato (resultando em acúmulo de compostos anômalos dentro das células) Os fármacos podem utilizar os transportadores para: 1. Introduzir o fármaco na célula e, consequentemente, produzir seu efeito • Exemplo: Anfetamina 2. Impedir que as moléculas transportadoras transportem algo para dentro das células • Exemplo: Omeprazol o Inibidor da bomba de prótons (molécula transportadora de íons H+): protetor gástrico por impedir a liberação de H+ RECEPTORES Proteínas possuidoras de um ou mais sítios de ligação ➢ Sítio de ação: locais onde as substâncias endógenas ou exógenas interagem para produzir uma resposta Podem ser ativadas por substância endógenas (agonistas) e produzir uma resposta fisiológica OU produzir ação farmacológica pela ligação de um fármaco Exemplos de famílias de Receptores: ▪ Receptores de acetilcolina (nicotínico e muscarínico) ▪ Receptores de noradrenalina (a1, a2, b1, b2 e b3) ▪ Receptores do Gaba (GABAA e GABAB) ▪ Receptor de insulina, receptores de hormônios Tipos de receptores: 1. Receptores inotrópicos: ligados a algum canal iônico ▪ Escala de tempo: milissegundos ▪ Exemplo: receptor nicotínico e do GABA 2. Receptores metabotrópicos: acoplados à proteína G ▪ Escala de tempo: segundos ▪ Exemplo: receptor muscarínico e adrenérgico ▪ Maioria dos fármacos se ligam nesse tipo de receptor ▪ Quando o fármaco se liga, a proteína G será responsável por ativar um segundo mensageiro que desencadeará um efeito celular ▪ Pode ser excitatória, quando ativa o segundo mensageiro ou inibitória, quando impede a ação do segundo mensageiro 3. Receptores ligados a quinases: receptores citoplasmáticos ▪ Escala de tempo: horas ▪ Exemplos: receptores de citocinas e de insulina ▪ Agem dentro das células através da fosforilação de proteínas 4. Receptores nucleares: ▪ Escala de tempo: horas ▪ Exemplo: receptor de hormônios esteroides e de hormônios da tireoide ▪ Agem pela ação da transcrição gênica ▪ Efeitos mais prolongados RECEPTORES ACOPLADOS À PROTEÍNA G Chamados de receptores metabotrópicos Engloba muitos receptores: muscarínicos de ACh, adrenérgicos, receptores de dopamina, receptores 5-HT, receptores opioides, receptores para muitos peptideos, receptores de purinas e muitos outros Apresentam estrutura hepta-helicoidal (atravessam 7 vezes a membrana) Transdução de sinal da proteína G: Trímero → α, β e γ → porção β e γ permanece junta enquanto que a porção α é ligada ao um nucleotídeo GDP Quando o receptor é ocupado pelo agonista → gera uma afinidade pela PtnG → o acoplamento da subunidade α a um receptor ocupado promove a troca de GDP pelo GTP O complexo α-GTP então se dissocia do receptor e do complexo βγ → interage com a proteína-alvo (enzima ou canal iônico) Quando a proteína-alvo é ligada → estimula a hidrólise do GTP para GDP → fazendo com que a subunidade α volte a ligar- se com βγ. ➢ Proteína G direciona o tipo de resposta celular que será desencadeada Alvos da Proteína G Principalmente enzimas que estão presentes na membrana celular e vão produzir a partir de sua ativação um segundo mensageiro O tipo de resposta celular depende do tipo de proteína G: ➢ Excitatória ➢ Inibitória Sistema adenilato ciclase: PtnG inibitória ✓ Ativação da PtnG inibitória → diminuição da formação de AMPc → gera outros tipos de efeitos celulares ✓ Acetilcolina se liga ao receptor M2, que é um receptor inibitório, por estar acoplado a uma proteína G inibitória. Com isso, há a inibição da adenilato ciclase e, consequentemente, não há AMPc, promovendo a diminuição da atividade cardíaca Canais Iônicoscomo alvo da Ptn G Os receptores para proteínas G podem controlar diretamente a função dos canais iônicos através de mecanismos que não envolvem segundos mensageiros, como AMPc, DAG e IP3 Agonista se liga ao receptor de ptnG → o receptor ativa a ptnG e ela ativa diretamente o canal iônico Ex: canal de potássio presente no coração → hiperpolarização e diminui atividade elétrica RECEPTORES TRANSMEMBRANA Receptores transmembrana com domínios citosólicos enzimáticos: receptores ligados a quinases e receptores correlatos Esses receptores são bastantes diferentes dos canais controlados por ligantes dos GPCRs, tanto em estrutura como em função Controlam a função celular em nível de transcrição gênica Envolvidos no controle da divisão, crescimento e diferenciação celular, inflamação, apoptose, etc. ✓ EXEMPLO: receptor de insulina (receptor tirosina quinase) ▪ Insulina se liga a subunidade alfa, mas existem duas subunidades que são transmembranas (domínios de ligação no citoplasma) ▪ Quando se ligam leva a ativação das quinases que gera o efeito ▪ Resíduos de tirosina fosforilados recrutam outras proteínas citsolicas (Ptn do substrato do receptor de insulina) ▪ Diabetes Tipo II à defeitos na sinalização pós receptor de insulina RECEPTORES NUCLEARES Família com 48 receptores solúveis que podem detectar lipídeos e sinais hormonais, e modular a transcrição gênica Receptores intracelulares: o fármaco deve entrar na célula (precisa ser lipossolúvel), os receptores são nucleares e citoplasmáticos Após a ligação do hormônio → as tirosinas se autofosforilam e são capazes de reconhecer substratos → ativa uma cascata de quinase, resultando num efeito da célula: produção de ptns, enzimas, divisão celular, etc. Os hormônios esteroides atravessam a membrana plasmática e se ligam a esses receptores e esse complexo hormônio – receptor se dimeriza e é deslocado para o núcleo A ligação do complexo hormônio–receptor - se liga em sequencias nucleotídicas chamadas de elementos responsivos a hormônios e promove uma maior afinidade da RNA polimerase pelo seu promotor → controla a transcrição de determinados genes →RNAm vai para citoplasma → síntese de proteínas à divisão e diferenciação celular EXEMPLO: Receptores de Glicocorticoides CONCEITOS RELACIONADOS A FUNÇÃO DOS RECEPTORES Dessensibilização, taquifilaxia e tolerância: o efeito de um fármaco diminui gradualmente quando ele é administrado de maneira continua ou repetida ✓ Dessensibilização ou taquifilaxia: quando esse tipo de mecanismo ocorre de forma muito rápida; poucos minutos ▪ Não consegue perceber, produz um efeito muito rápido ▪ Ocorre próximo a administração do fármaco ✓ Tolerância: perda de efeito mais prolongada dias ou semanas ▪ Relacionado ao uso crônico do fármaco ✓ Resistência: termo utilizado para a perda de eficácia dos fármacos antimicrobianos ou antitumorais Origens desse fenômeno: ➢ Alteração nos receptores ➢ Perda de receptores ➢ Depleção de mediadores ➢ Alteração no metabolismo dos fármacos ➢ Adaptação fisiológica ➢ Extrusão ativa do fármaco das células Alteração nos receptores ou dessensibilização nos receptores Ocorre alteração conformacional dos receptores: ✓ Os receptores, normalmente, possuem duas formas: ativa e inativa ✓ No entanto, quando é ativado diversas vezes, pode assumir uma terceira conformação: conformação dessensibilizado ✓ Receptor fica sem se sensibilizar com a presença do fármaco Acredita-se que o estado dessensibilizado é devido a alta concentração do agonista Exemplo: receptor nicotínico muscular Perda de receptores ou Down Regulation Ocorre a internalização dos receptores: endocitose ➢ Fármaco se liga ao seu receptor e, após se desligar, o receptor sofre endocitose ➢ Fármaco não consegue se ligar mais ➢ Efeito vai estar diminuído pela perda de receptores, logo, terá que aumentar a dose de fármaco Exemplo: após 8h de administração contínua de isoprenalina, o número de receptores B-adrenérgicos cai para cerca de 10% do normal Depleção de medicadores Ocorre a depleção de uma substância intermediária essencial Exemplo: esgotamento dos depósitos de aminas durante a administração contínua de anfetaminas Alteração no metabolismo dos fármacos Administração repetida da mesma dose leva a uma redução progressiva da concentração plasmática do fármaco, em virtude do aumento de sua degradação metabólica → torna as enzimas mais potentes Exemplo: etanol., barbitúricos Adaptação Fisiológica O efeito é anulado por uma resposta homeostática Exemplo: redução do efeito hipotensor dos tiazídicos pela ativação do SRAA Extrusão ativa do fármaco das células Ocorre por meio da ação, principalmente, da glicoproteína P Exemplo: resistência com o uso de fármacos citotóxicos
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