Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COLO DE ÚTERO A maioria das lesões cervicais é de inflamações relativamente banais (cervicites), mas o colo do útero também é local de um dos cânceres mais comuns em mulheres em todo o mundo. CERVICITE - É o quadro de inflamação do colo de útero - As condições inflamatórias do colo do útero são extremamente comuns e estão associadas a corrimento vaginal purulento - As cervicites podem ser subclassificadas como infecciosas ou não infecciosas, embora a diferenciação seja difícil devido à presença de uma flora vaginal normal que inclui várias bactérias - O C. trachomatis é de longe o mais comum dos patógenos causadores, representando até 40% dos casos de cervicite encontrados na clínica de doença sexualmente transmissível - Embora menos comuns, as infecções herpéticas são notáveis porque a transmissão entre bebê e mãe durante o parto pode resultar em infecção herpética sistêmica grave e, às vezes, fatal no recém-nascido - A cervicite comumente chama a atenção no exame de rotina ou devido à leucorreia (corrimento vaginal) - A cultura do corrimento deve ser interpretada com cautela porque (como mencionado anteriormente) microrganismos comensais estão praticamente sempre presentes NEOPLASIAS DO COLO UTERINO - A maioria dos tumores de colo do útero é de origem epitelial e é causada por cepas oncogênicas do papilomavírus humano (HPV) - Com o início da puberdade, a junção escamocolunar (JEC) sofre eversão (ectrópio), tornando o epitélio colunar da endocérvice visível na ectocérvice - As células colunares expostas, no entanto, subsequentemente sofrem metaplasia escamosa, formando uma região chamada zona de transformação (ZT) • A reação metaplásica da ZT possui 3 etapas: 1. Hiperplasia de células de reserva 2. Metaplasia Imatura (persistem restos endocervicais) 3. Metaplasia Madura (não existem mais restos endocervicais) - Lesão precursora do carcinoma escamoso • É qualquer proliferação escamosa associada ao HPV • O HPV, o agente causador da neoplasia cervical, tem tropismo para as células escamosas imaturas da zona de transformação • A maioria das infecções por HPV é transitória e eliminada em poucos meses por uma resposta inflamatória aguda e crônica • No entanto, um subconjunto de infecções persiste, e algumas delas progridem para neoplasia intraepitelial cervical (NIC), uma lesão precursora a partir da qual mais carcinomas invasivos do colo do útero se desenvolvem • A NIC é uma lesão proliferativa do epitélio escamoso, que ocorre na maioria das vezes na ZT e que não infiltra na membrana basal. Morfologicamente, possui como características: • Maturação anormal • Aumento nuclear • Atipias - Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) • Como já visto, a carcinogênese relacionada com o HPV começa com a alteração pré- cancerosa epitelial denominada NIC, que geralmente precede o desenvolvimento de um câncer evidente por muitos anos, por vezes décadas • A incidência de NIC atinge o ponto máximo por volta dos 30 anos de idade, enquanto o carcinoma invasivo atinge o ponto máximo por volta dos 45 anos de idade • A NIC pode ser dividia em 3 níveis, de acordo com a sua evolução: • NIC I = displasia discreta • NIC II = displasia moderada • NIC III = displasia acentuada (carcinoma in situ) • Esse sistema de classificação de 3 níveis foi recentemente simplificado para um sistema de 2 níveis: • Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (L SIL): corresponde ao NIC I • Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (H SIL): corresponde ao NIC II e III • A NIC normalmente começa com displasia de baixo grau (NIC I) e progride para displasia moderada (NIC II) e, então, displasia grave (NIC III) ao longo do tempo • De modo geral, quanto maior o grau de NIC, maior a probabilidade de progressão; é importante destacar, no entanto, que em muitos casos até mesmo lesões de alto grau não evoluem para o câncer, e podem até regredir • A infecção por HPV ocorre nas células escamosas mais imaturas da camada basal; e a replicação do DNA de HPV ocorre em células escamosas sobrejacentes mais diferenciadas; é por isso que o a evolução do NIC ocorre de baixo para cima • A decisão de tratar L SIL e observar H SIL é baseada nas diferenças das histórias naturais desses dois grupos de lesões: - Fatores predisponentes para a NIC e para o CA de colo de utero • Atividade sexual precoce • Múltiplos parceiros ou homem que tenha múltiplas parceiras • HPV: • Existem 70 cepas descritas • Tipo 6 e 11 • —> baixo grau —> condiloma acuminado • Tipo 16, 18, 31, 33 e 35 • —> alto grau —> CA de colo uterino, de laringe e de pênis • Lembrando que uma pessoa pode estar infecta por mais de um tipo de HPV • Herpes vírus do tipo 2 • —> estimula o metabolismo celular —> favorece a absorção de agentes carcinogênicos • Contraceptivos orais • —> estimulam o metabolismo celular—> favorece a absorção de agentes carcinogênicos • Fumo • —> causa diminuição das células de Langerhans (células de defesa que estão no colo de útero) VÍRUS DO PAPILOMA HUMANO (HPV) - Os sorotipos reconhecidos de HPV podem ser classificados como tipos de alto ou baixo risco com base em sua propensão para induzir carcinogênese: 1. HPV de alto risco • A infecção de alto risco por HPV é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de NIC e carcinoma • Duas cepas de alto risco de HPV, os tipos 16 e 18, são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de NIC e carcinoma cervical • Em geral, infecções com sorotipos de alto risco de HPV são mais propensos a persistir, o que é um fator de risco para a progressão para o carcinoma • Esses subtipos de HPV também apresentam propensão a integrar o genoma da célula hospedeira, um evento que está ligado à progressão 2. HPV de baixo risco • Cepas de baixo risco de HPV (ex: tipos 6 e 11), por outro lado, estão associadas ao desenvolvimento de condilomas do trato genital inferior e não se integram ao genoma do hospedeiro, permanecendo como DNA viral livre epissômico - Apesar da forte associação da infecção pelo HPV com o câncer do colo do útero, o HPV sozinho não é suficiente para conduzir o processo neoplásico - Como mencionado, várias lesões precursoras de alto grau de infecção por HPV não progridem para câncer invasivo - A progressão de displasias cervicais para câncer do colo do útero tem sido atribuída a diversos fatores, como estado imune e hormonal ou coinfecção com outros agentes sexualmente transmissíveis HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA PAPANICOLAU E VACINAÇÃO - Lesões pré-cancerosas do colo do útero estão associadas a anormalidades em preparações citológicas (exame de Papanicolau) que podem ser detectadas muito antes que qualquer anormalidade seja visível na inspeção macroscópica - A detecção precoce de alterações displásicas é a razão para o teste de Papanicolau (PAP), no qual as células são raspadas da zona de transformação e microscopicamente examinadas - Até hoje, o exame de Papanicolau continua sendo o teste de triagem para câncer mais bem- sucedido já desenvolvido - A vacina quadrivalente contra o HPV para os tipos 6, 11, 16 e 18 é muito eficaz na prevenção de infecções de HPV e, com isso, espera-se que reduza em muito a frequência das verrugas genitais e cânceres de colo de útero associados a esses sorotipos de HPV - Apesar da sua eficácia, a vacina não substitui a necessidade do exame de rotina para o câncer de colo de útero — muitas mulheres em situação de risco já estão infectadas, e a vacina protege apenas contra alguns dos muitos sorotipos oncogênicos de HPV LESÃO DE BAIXO GRAU (L SIL) - Lesão correspondente ao NIC I - Características microscópicas: • NIC I é caracterizado por alterações displásicas no terço inferior do epitélio escamoso, com núcleo hipercromáticos e desorganização celular • Ocorrem alterações coilocitóticas nas camadas superficiais do epitélio: • O HPV quebra as citoqueratinas, que possuema função estrutural na célula, e as jogam para a periferia • Sem esse arcabouço celular, instala-se um halo citoplasmático • A célula com essas características é denominada coilócito (“célula que tem buraco”) e é praticamente patognomônico das lesões de baixa grau - Características macroscópicas: • Quando se trata de lesão de baixo grau, há duas formas colposcópicas: a lesão vegetante e a lesão plana - Conduta: • O NIC I é assintomático e chama a atenção clínica através do resultado anormal do Papanicolau • Esses casos são acompanhados por colposcopia, durante a qual o ácido acético é usado para realçar a localização de lesões e áreas a serem biopsiadas • Mulheres com L SIL documentada via biópsia são tratadas de maneira conservadora, com observação cuidadosa • É realizado o acompanhamento por 4 a 6 meses e então repete-se o exame • Em mais de 70% dos pacientes essa lesão regride espontaneamente por conta do sistema imunológico - Persistência da Lesão: • Se essa lesão não regredir trata-se de um quadro chamado de persistência, o que é um sinal de alerta, ou seja, tendência de evoluir para uma lesão de alto grau • Essa lesão pode persistir por 2 motivos: • Falha no sistema imune • Infecção mista de HPV (subtipos de alto grau + subtipos de baixo grau) • Quanto menor a imunidade da mulher, maior a chance infecção por tipos mistos de HPV (ex: pacientes HIV+) • Nesses casos, para se descobrir se há uma infecção mista de HPV, existem 2 principais métodos: • Imunohistoquímica: • Busca pela proteína p16 • Quanto maior o risco de HPV de alto grau, maior a expressão da p16 • Captura híbrida para DNA-HPV: • Exame molecular capaz de diagnosticar o vírus do HPV ainda que não tenham aparecido os primeiros sintomas da doença • Nesse exame é raspado uma amostra e separada em grupo A (HPV de alto risco) e grupo B (HPV de baixo risco) • Mas perceba que não diz qual o tipo de HPV, apenas informa se é de alto ou baixo risco • Em países mais desenvolvidos a captura híbrida é utilizada até mesmo como uma exame preventivo, devido a sua acessibilidade LESÃO DE ALTO GRAU - Lesão corresponde ao NIC II e III - Características Microscópicas: • Em NIC II: • A displasia estende-se para o terço médio do epitélio e toma a forma de maturação retardada dos queratinócitos • Também está associada a alguma variação na célula e tamanho nuclear, heterogeneidade da cromatina nuclear e presença de mitoses acima da camada basal que se estende para o terço médio do epitélio • A camada superficial de células mostra alguma diferenciação e, ocasionalmente, demonstra as alterações coilocitóticas descritas • Em NIC III: • É marcado pela perda quase completa de maturação, variação ainda maior na célula e tamanho nuclear, heterogeneidade da cromatina, orientação desordenada das células e mitoses normais ou anormais • Essas alterações afetam praticamente todas as camadas do epitélio • A alteração coilocitótica geralmente está ausente - Características macroscópicas: • São esbranquiçadas e planas (lesões acetobrancas) • se jogar ácido acético na lesão ela fica branca (teste de Schiller) - Conduta: • Diferentemente das lesões de baixo grau, as lesões de alto grau devem ser retiradas e não apenas acompanhadas • Uma das formas de fazer isso é a cirurgia de alta freqüência (CAF), que pode ser feita até mesmo no consultoria • Outra forma é a conização, que utiliza uma incisão mais profunda e requer centro cirúrgico e anestesia • Esfregaços e exame clínico de acompanhamento são obrigatórios durante a vida em pacientes com lesão de alto grau, visto que essas mulheres permanecem em risco para cânceres vaginal, vulvar e de colo do útero associados ao HPV CÂNCER DE COLO UTERINO - Tripé clássico da propedêutica do colo uterino: 1. Citopatologia do colo uterino 2. Colposcopia 3. Histopatologia do colo uterino • OBS: existe ainda a vacina contra o HPV, mas ela não foi oficialmente adicionada a esse tripé - Os carcinoma de colo uterino podem ser divididos de acordo com sua origem: • Carcinoma escamoso / epidermóide (CEC): originado das células escamosas da ZT — 70% • Adenocarcinoma: originados em endocérvix — 30% - obs: antigamente o papanicolau era realizado apenas na ZT. Mas como 30% dos carcinomas de colo uterino podem se originar na endocérvix, atualmente é obrigatório a realização do exame em ambas as regiões - Todos esses tipos de carcinomas são causados por HPV - Carcinoma VS. NIC • A principal diferença entre o carcinoma e a neoplasia intraepitelial é que o carcinoma ultrapassa a membrana basal - Carcinoma Microinvasor VS. Carcinoma Invasor • O carcinoma escamoso pode se manifestar de duas formas gerais: 1. Carcinoma escamoso microinvasor: quando a lesão tem menos de 7mm de diâmetro e menos de 5mm de largura 2. Carcinoma escamoso invasor: quando a lesão ultrapassa essas dimensões • Essa distinção é importante pois vai influenciar totalmente no prognóstico CARCINOMA ESCAMOSO INVASOR - O carcinoma de células escamosas tem um pico de incidência por volta dos 45 anos, 10-15 anos após a detecção do precursor NIC - Os tumores que circundam o colo do útero e penetram o estroma subjacente produzem um colo do útero em barril, que pode ser identificado por meio de palpação direta - Classificação histológica: • Além das classificações já apresentadas, o carcinoma escamoso invasor pode ser subclassificado em alto grau ou baixo grau, dependendo da análise histológica - Classificação macroscópica: • Pode ser classificado em 3 formas: 1. Lesão exofítica (A) 2. Lesão endofítica (B) 3. Lesão ulcerada (C) - pode ser confundida com cervicite ulcerada - Classificação microscópica: 1. Lesão de grandes células queratinizante (A) 2. Lesão de grandes células não queratinizante (B) 3. Lesão de pequenas células (C) - forma mais agressiva - Estadiamento do carcinoma escamoso invasor: • Estadio 1 = câncer limitado ao colo (90% de sobrevida) • TTO: conservador ou cirurgias pouco invasivas • Estadio 2 = câncer no terço superior da vagina e se estende para os limites do colo do útero (70% de sobrevida) • TTO: pan-histerectomia (tira trompas, ovários, útero e esvaziamento pélvico) • Estadio 3 = câncer se estende ao terço inferior da vagina e pelve (40% de sobrevida) • TTO: pan-histerectomia (tira trompas, ovários, útero e esvaziamento pélvico) • Estadio 4 = câncer infiltra órgãos adjacentes, como bexiga e reto (20 - 30% de sobrevida) • TTO: quimioterapia, radioterapia e TTO paliativo • OBS: O estadiamento é o melhor critério para prognóstico ADENOCARCINOMA ENDOCERVICAL - Aspecto macroscópico: • A lesão geralmente ocorre dentro do canal cervical (infiltrativa), uma vez que não há como fazer uma lesão endofítica ou exofítica - Aspecto clínico: • A grande marca clínica é a mucorreia
Compartilhar