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@resumosdamed_ 1 ENDEMIAS E EPIDEMIAS ENDEMIA Endemia pode ser conceituada como a ocorrência de um agravo dentro de um número esperado de casos para aquela região, naquele período, baseado na sua ocorrência em anos anteriores não epidêmicos. Desta forma, a incidência de uma doença endêmica é relativamente constante, podendo ocorrer variações sazonais no comportamento esperado para o agravo em questão. Obs.: a incidência é o número de casos novos. TERMOS Os termos “conglomerado”, “surto” e “epidemia”, entre outros, têm habitualmente conotações diversas, principalmente quando são empregados fora do âmbito técnico. Em epidemiologia, contudo, é importante fazer a diferença entre eles. Essa diferença tem a ver, basicamente, com sua posição relativa em uma escala hierárquica de magnitude populacional do problema. Assim, esses três termos estão associados à transmissão da doença na população, ao tempo de evolução do problema e também ao tipo de evidência geradora. Eles também orientam a magnitude da resposta, em investigação e controle, diante do problema. CONGLOMERADO É um agrupamento de casos de um evento relativamente pouco comum em um espaço ou um tempo definidos em uma quantidade que se acredita ou se supõe ser maior a que caberia esperar aleatoriamente. Teoricamente, um conglomerado (espacial ou temporal) poderia ser a expressão inicial de um surto e, portanto, a identificação de um conglomerado, após a respectiva confirmação dos casos, seria a maneira mais precoce de identificar um surto. Na prática, a busca de conglomerados, usualmente a partir de rumores locais, pode ser uma forma de vigiar a ocorrência de possíveis surtos subsequentes na população. Em resumo: conglomerado é a agregação rara, real ou aparente, de eventos de saúde que estão agrupados no tempo e/ou no espaço. SURTO Um surto é uma situação epidêmica limitada a um espaço localizado. @resumosdamed_ 2 Como situação epidêmica, portanto, um surto é o aparecimento súbito e representa um aumento não esperado na incidência de uma doença. Como situação limitada, um surto implica a ocorrência num espaço especificamente localizado e geograficamente restrito, como por exemplo, uma comunidade, um povoado, um barco, uma instituição fechada (escola, hospital, quartel, mosteiro) Um surto baseia-se em evidência sistematicamente coletada, em geral, a partir dos dados de vigilância em saúde pública e eventualmente seguida de uma investigação epidemiológica que sugere uma relação causal comum entre os casos. Em teoria, um surto seria a expressão inicial de uma epidemia e, portanto, a identificação oportuna de um surto seria a maneira mais precoce de prevenir uma epidemia subsequente. Na prática, a identificação de surtos é uma atividade básica dos sistemas de vigilância e a investigação de surtos, um requisito importante para a implementação de medidas de prevenção e controle oportunas e efetivas no nível local. Em resumo: Surto é o aumento pouco comum no número de casos relacionados epidemiologicamente, de aparecimento súbito e disseminação localizada num espaço específico. EPIDEMIA Uma epidemia é, essencialmente, um problema de saúde pública, de grande escala, relacionado à ocorrência e propagação de uma doença ou evento de saúde claramente superior à expectativa normal e que usualmente transcende os limites geográficos e populacionais próprios de um surto. Em geral, uma epidemia pode ser considerada como a agregação simultânea de múltiplos surtos em uma ampla zona geográfica e usualmente implica a ocorrência de muitos casos novos em pouco tempo, claramente maior do que o número esperado. Todavia, pela sua conotação de “situação de crise” em função das metas e objetivos em saúde pública, uma epidemia não necessariamente é definida por um grande número de casos. Por exemplo, no cenário de erradicação da poliomielite aguda por poliovírus selvagem nas Américas, a ocorrência de um só caso confirmado se define como epidemia. Em resumo: Epidemia é a ocorrência de casos de doença ou outros eventos de saúde com uma incidência maior que a esperada para uma área geográfica e períodos determinados. O número de casos que indicam a presença de uma epidemia varia conforme o agente, o tamanho e o tipo de população exposta, sua experiência prévia ou ausência de exposição à doença, e o lugar e tempo de ocorrência. CONGLOMERADO, SURTO E EPIDEMIA Os conceitos de conglomerado, surto e epidemia têm em comum a descrição de uma alteração do comportamento de uma doença na população; ou seja, são gerados por comparação entre o observado e o esperado: a incidência observada de uma doença é @resumosdamed_ 3 maior do que a incidência esperada dessa doença em um lugar e tempo específicos. PANDEMIA Quando uma epidemia atinge vários países de diferentes continentes, passa a ser denominada pandemia. COMO DEFINIR UMA EPIDEMIA? Um aspecto fundamental nessa característica comum é que tal alteração do comportamento da doença inesperada refere-se implicitamente a um aumento na transmissão da doença, ou seja, que o aumento observado da incidência da doença é atribuído à existência de um conjunto de causas comuns entre os casos, e não a outra razão (daí a necessidade de investigar um surto). É importante destacar isso, posto que é possível observar um aumento da incidência, maior do que a esperada, sem que estejamos diante de uma situação epidêmica. O primeiro passo para se definir uma condição como epidêmica ou endêmica é estabelecer quais seriam os níveis habituais de ocorrência dessa doença ou condição de saúde na população de determinada área naquele período de tempo. Para tal, deve-se realizar o levantamento do número de casos novos (incidência) desse agravo em um período não epidêmico. LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES: COMO PODE SER FEITA Esse levantamento pode ser feito pela própria equipe de Saúde da Família por meio de uma análise de registros da Unidade Básica de Saúde ou então pode ser feita uma consulta à vigilância epidemiológica do município que possui bancos de dados específicos como, por exemplo, aquele relacionado ao sistema nacional de agravos de notificação (SINAN). O aumento da incidência de uma doença pode ocorrer por mudanças súbitas em seu numerador ou seu denominador. Por exemplo, mudanças na definição de caso, nos procedimentos de notificação, no tipo de vigilância (principalmente quando se decide passar de um sistema de vigilância passiva a um de vigilância ativa), ou no acesso aos serviços de saúde ou melhoras nos procedimentos diagnósticos, podem provocar um "excesso" súbito de casos. Outro aspecto-chave a ser considerado diante de possíveis situações epidêmicas, é que tal alteração do comportamento observado da incidência de doença não se refere exclusivamente à frequência da mesma, mas também à sua distribuição. Prestar atenção somente ao número total de casos observados ou incidência geral observada na população e constatar que se encontra nos limites esperados pode ser insuficiente para garantir que não se está diante de um surto. @resumosdamed_ 4 CÁLCULO DA TAXA DE INCIDÊNCIA Após o cálculo da taxa de incidência de determinado agravo, é necessário determinar se a ocorrência desse agravo está ocorrendo dentro de limites endêmicos ou se está diante de uma situação epidêmica. MÉDIA HISTÓRICA Para isto, será preciso comparar a taxa de incidência encontrada com a média ou mediana histórica de ocorrência do agravo para aquele local, naquela época do ano. Para se conhecer a linha de base de ocorrência do agravo de interesse, é preciso calcular a média (ou mediana) da incidência (ou da taxa de incidência) nos últimos anos (não epidêmicos) para os quais se têm dados disponíveis. DESVIO-PADRÃO. Além da média de ocorrência do agravo, é preciso calcular um outro valor, que corresponde à variabilidade que essa média podeapresentar sem que necessariamente esteja ocorrendo uma situação epidêmica. Em vigilância epidemiológica, pode ser avaliada utilizando-se uma medida denominada DESVIO-PADRÃO. LIMIAR ENDÊMICO Desta forma, para uma situação ser definida como epidêmica, o número de casos precisa superar essa margem de erro, ou seja, precisa estar acima de um valor denominado limiar epidêmico (ou limiar endêmico superior). O limiar epidêmico é calculado a partir da soma do valor da média para aquele local naquele período de tempo com aproximadamente o dobro do desvio-padrão. DIAGRAMA DE CONTROLE @resumosdamed_ 5 Os valores calculados até o momento (taxa de incidência, média história, limiar epidêmico) podem ser representados de maneira gráfica na forma de um diagrama de controle. Esse diagrama é um instrumento útil e frequentemente empregado pela vigilância epidemiológica para monitorar a situação epidemiológica de determinado agravo em determinada região FATORES DETERMINANTES E CONDICIONANTES DA SAÚDE ENFRENTAMENTO DAS SITUAÇÕES ENDÊMICAS E EPIDÊMICAS Entre as ações a serem planejadas, destacam-se: 1. vigilância do território, 2. organização assistencial, 3. articulação intersetorial e 4. trabalho em conjunto com a equipe de controle de zoonoses. VIGILÂNCIA DO TERRITÓRIO A definição de território é um conceito-chave em Atenção Primária à Saúde. De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2011b), o território constitui espaço privilegiado para práticas de vigilância em saúde e esta é fundamental para a integralidade da atenção a ser oferecida pela ESF. A análise da situação de saúde da população adscrita à unidade básica de saúde permite o monitoramento da ocorrência de problemas de saúde e dos possíveis condicionantes e determinantes desses agravos. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Definida na Lei 8080 de 19 de setembro 1990 (BRASIL, 1990) como “o conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças e agravos”. Sistema de coleta, análise e disseminação de informações relevantes para a prevenção e o controle de um problema de saúde pública, de forma sistemática e rotineira: @resumosdamed_ 6 • Reconhece as principais doenças de notificação compulsória e investiga epidemias que ocorrem em territórios específicos; • Age no controle dessas doenças específicas. Brasil - Notificação via Sistema de Informação – Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Em sentido amplo, uma investigação epidemiológica de surto executa-se em duas importantes atividades de campo: • Uma atividade descritiva, que caracteriza o surto em tempo, lugar e pessoa. à O produto dessa etapa é normalmente suficiente para determinar a fonte e modo de transmissão do agente e identificar aqueles indivíduos que estão primariamente em risco de desenvolver a doença. Nessa fase, geram-se hipóteses pelo menos temporárias, que são suficientes para adotar medidas de controle imediato. • Uma atividade analítica, quando a etapa descritiva é insuficiente para determinar a fonte, modo, riscos e exposições importantes na propagação do surto na população. à Basicamente, a etapa analítica consiste na comparação de grupos de pessoas doentes e saudáveis da população, a fim de identificar e quantificar a força de associação entre determinadas exposições e a presença de doença, que são aplicadas para estabelecer as medidas de controle definitivas. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA - FONTES DE DADOS Notificação compulsória de dados (de acordo com a lista de doenças de notificação compulsória): é a principal fonte de dados para a VE. Trata-se da “comunicação da ocorrência de doença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes”. Prontuários médicos: as anotações encontradas em prontuários por ocasião das internações são importantes fontes de dados que permitem não só completar informações desconhecidas por ocasião da notificação do caso como, também, identificar casos não notificados. Atestados de óbito: assim como prontuário médico, os atestados de óbito permitem identificar casos não notificados, além de funcionarem como mecanismos de alerta para detecção de epidemias. @resumosdamed_ 7 Resultados de laboratórios e bancos de sangue: os resultados de exames laboratoriais permitem complementar os dados de casos notificados, bem como identificar casos novos, não notificados. Da mesma forma, bancos de sangue permitem realizar a triagem sorológica de doadores de sangue, o que informa sobre casos subclínicos e sobre a importância e a distribuição geográfica da infecção. Investigação de casos e epidemias: os achados de investigação epidemiológica de casos e de surto complementam as informações da notificação, além de permitirem a descoberta de casos novos. Inquéritos comunitários: tratam de investigações realizadas na comunidade por meio de entrevistas, questionários, exames laboratoriais e físicos, entre outros. Tem o intuito de conhecer a frequência, a distribuição e fatores relacionados a um determinado evento, além de permitir detectar surtos e epidemias, mudança no comportamento epidemiológico de uma determinada doença, dificuldade de avaliação das coberturas vacinais, entre outros; Imprensa e população: informações oriundas dos meios de comunicação e da população são, muitas vezes o 1o. alerta do início de um surto ou epidemia, e essas notícias e rumores devem sempre ser levados em conta, principalmente em regiões onde é precário o sistema de VE. Sistemas sentinelas: fornecem informações que permitem monitorar indicadores-chave que servem de alerta precoce para o sistema de vigilância. • Evento sentinela – detecção de doença prevenível, incapacidade ou morte inesperada, cuja ocorrência serve como um sinal de alerta de que a prevenção ou qualidade terapêutica deve ser questionada. MÉTODOS DE COLETA DE DADOS Comparação de dados em momentos distintos. Busca ativa de casos por pistas (utilizando todas as fontes de dados). É a procura de novos casos, de um evento específico ou não, em locais onde podem estar presentes. Ex: é possível realizar busca ativa de casos em laboratórios, onde se podem identificar casos novos de várias doenças de notificação e analisar o padrão da presença delas no local. MEDIDAS DE CONTROLE EPIDEMIOLÓGICA Controle: é um conjunto de ações, programas ou operações contínuas voltadas à redução da incidência e/ou prevalência de um dano à saúde em níveis tais que deixem de constituir um problema de saúde pública. 2 cenários possíveis: • Cenário epidêmico • Cenário não-epidêmico CENÁRIO EPIDÊMICO Controle significa conseguir rapidamente uma curva descendente e, eventualmente, esgotar a epidemia, ou seja, o retorno aos níveis esperados. Aqui, a dimensão temporal do termo controle sempre envolve o curto prazo (o retorno aos níveis esperados o mais rapidamente possível). CENÁRIO NÃO EPIDÊMICO Controle - conotação prática do termo controle é dependente da dimensão temporal: @resumosdamed_ 8 • No curto prazo, controle denota equilíbrio da situação não- epidêmica, ou seja, manter o número observado de casos igual ao número esperado (seja esse o nível endêmico ou a ausência de casos). • No longo prazo, controle envolve a redução do risco de adoecer na população (redução da incidência) a níveis tais que não representem um problema de saúde pública (ou seja, a clássica definição de controle). CONCEITOS IMPORTANTES Controle da doença: Refere-se à aplicação de medidas populacionais voltadas a conseguir uma situação de controle da doença - redução da incidência da doença a níveis nos quaisela deixe de ser um problema de saúde pública. • As medidas de controle estão voltadas à redução primária da morbimortalidade • Exemplo é o acompanhamento de pessoas sintomáticas respiratórias na comunidade, que é uma medida efetiva para a detecção de casos de tuberculose, (particularmente, bacilíferos positivos) cujo objetivo é a redução da prevalência de tuberculose pulmonar, e em menor medida, a redução de sua incidência. Eliminação da doença: refere-se à aplicação de medidas populacionais direcionadas a conseguir uma situação de eliminação da doença. • Aquela na qual não existem casos de doença, embora persistam as causas que podem potencialmente produzi-la. • Exemplo: em zonas urbanas infestadas pelo Aedes aegypti, mesmo na ausência da circulação do vírus da febre amarela, ou da dengue, a simples presença do vetor constitui um risco potencial para a eventual ocorrência de casos. O sarampo representa um modelo de doença em fase de eliminação na região das Américas. Erradicação da doença: refere-se à aplicação de medidas populacionais voltadas a conseguir uma situação de erradicação da doença. • Aquela na qual não somente foram eliminados os casos, mas também as causas da doença, em especial, o agente. • É importante destacar que a erradicação de uma doença adquire seu real significado quando alcançada numa escala mundial. • Exemplo, embora a poliomielite tenha sido “erradicada” das Américas, a eventual importação de casos das zonas infectadas pode comprometer a erradicação. Até o momento, essa situação de erradicação mundial só foi obtida com a varíola. CONDICIONANTES DA EFETIVIDADE DAS MEDIDAS DE CONTROLE: A factibilidade operacional das medidas de prevenção ou de controle está condicionada pela possibilidade de serem usadas a um nível adequado de cobertura e intensidade que permita a redução ou interrupção da transmissão. Os seguintes fatores devem ser considerados no processo para determinar a factibilidade operacional das medidas: • A extensão e a organização dos serviços de saúde. • O valor ou custo da medida que se pretende aplicar (drogas, vacinas, inseticidas, material educativo, melhoramento da moradia, etc.). @resumosdamed_ 9 • O tipo e quantidade de pessoal requerido: algumas medidas podem ser aplicadas por pessoal auxiliar (vacinações, pulverização de residências), outras precisam de profissionais especializados (tratamento médico, despoluição ambiental). • A equipe e o instrumental necessários e a complexidade de sua administração; por exemplo, o tratamento sindrômico das doenças de transmissão sexual e seu tratamento etiológico. • A frequência de aplicação da medida: algumas vacinas são usadas em dose única (sarampo, rubéola, antimeningocócica, antiamarílica), outras em doses múltiplas (tétanos, coqueluche, hepatite B); o tratamento da tuberculose deve ser feito diariamente pelo menos durante dois meses; a vacinação antirrábica canina deve ser repetida anualmente; a cloração da água deve ser um processo contínuo; o tratamento antibiótico de dose única para as doenças de transmissão sexual • Os efeitos secundários das medidas: por exemplo, no ser humano, as reações digestivas, cutâneas e de outro tipo podem ocorrer por causa da administração de drogas ou vacinas; ou no ambiente, a aplicação de pesticidas pode resultar na contaminação de alimentos e água. • A aceitabilidade da população: a aceitação por parte da comunidade tem um papel determinante na seleção das medidas de controle a serem aplicadas. Elementos como o custo para o usuário, as reações secundárias, as crenças individuais e coletivas, são parte importante no processo de seleção das medidas de controle e de seu impacto potencial. REFERÊNCIAS: 1. Rouquayrol: Epidemiologia e Saúde
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