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Aplicação da lei penal no tempo

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Aplicação da lei penal no tempo
Aqui será estudado, duas problemáticas: 
1- Em que momento o crime se considera praticado; 
2- Qual lei é a aplicável a determinado caso concreto em havendo sucessão de leis penais. 
Momento do crime 
· No que tange ao MOMENTO em que se considera que o crime foi praticado, assim dispõe o Art. 4 do Código penal.
· Art.4- Considera-se o crime no momento da ação ou omissão (espécies de conduta), ainda que outra seja o momento do resultado. 
De tal dispositivo é importante que extraiamos e absorvamos as seguintes informações:
· Em primeiro lugar, é o no momento da conduta (ação ou omissão) que iremos verificar se os três elementos do crime estão presentes. É o princípio da coincidência ou congruência. 
Exemplo: caso Pedro, com intenção de matar, atire em Tiago, ainda que Tiago morra em outro momento, é no momento do dispara efetuado por Pedro que a presença dos elementos do crime será analisada. Logo, caso Pedro no momento do disparo (momento da conduta) possuísse idade inferior a 18 anos não haveria crime de homicídio, mas sim ato infracional, pois no momento da conduta o terceiro elemento do crime (culpabilidade) não estava presente. A ele será aplicado o ECA (estatuto da criança e adolescente) e não o Código Penal.
ATENÇÂO 
Observação: em se tratando de crime permanente, será considerada a idade do sujeito ativo no momento de cessação da permanência e não no momento de início desta.
Exemplo: Pedro, então com 17 anos sequestra Tiago e o coloca em cárcere privado (início da permanência). Passados alguns meses, Tiago já contava com 18 anos. Neste caso a idade considerada para fins penais será a do momento de cessação da permanência, ou seja, 18 anos Pedro terá cometido crime e a ele será aplicado o Código Penal. 
Segunda problemática
Sucessão de Leis Penais
· Vigora, no Brasil, como regra, o princípio da continuidade das leis (Art. 2 da LINDB), lei de introdução as normas do Brasil.
· Art. 2 Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
· Exemplo: em marco de 2019 está em vigor a lei penal, em setembro de 2019 entra em vigor a lei penal Z, revogando a X. tivemos, portanto, uma sucessão de leis penas. 
Como saber, em caso de sucessão de leis penais, qual será a aplicável a determinado caso concreto? 
Em primeiro lugar, saibamos que a regra é o tempus regit actum: lei do tempo, desde que ainda vigente, rege o ato. 
Exemplo: uma lei que entra em vigor em 20 de março de 2019 passa a se aplicar para todos os fatos que aconteçam a partir desta data.
Existem, contudo, exceções a esta regra: é possível que uma lei penal retroaja (se aplique para fatos que aconteceram antes de ela existir) ou ultraja-a (continue a reger determinado fato que se deu a seu tempo mesmo após haver sido revogada). 
Essa exceção (retroatividade ou ultra atividade da lei penal) à regra do tempus regit actum é condicionada ao fato de que só pode ocorrer quando for para BENEFICIAR determinado réu em determinado caso concreto. Temos, portanto, que a lei penal mais benéfica ao réu é dotada de EXTRA-ATIVIDADE (possibilidade de retroagir ou ultra-agir desde que para beneficiar o réu). 
Observação: extra atividade é gênero do qual retroatividade e ultra atividade são espécies.
Exemplo de retroatividade benéfica: João, em 01 de março de 2019, pratica um crime cuja pena prevista, naquele momento, era de 2 a 8 anos; em 01 de julho de 2019 entra em vigor uma nova lei penal modificando a pena prevista daquele crime praticado por João, sendo a pena agora de 1 a 4 anos. Neste caso, esta nova lei retroagirá (se aplicará a João mesmo tendo ele praticado o fato antes da nova lei) porque para João esta lei nova (pena prevista de 1 a 4 anos) é mais benéfica que a lei antiga (pena prevista de 2 a 8 anos).
Exemplo de ultra atividade benéfica: Felipe, em 01 de março de 2019, pratica um crime cuja pena prevista, naquele momento, era de 1 a 4 anos; em 01 de julho de 2019 entra em vigor uma nova lei penal modificando a pena prevista daquele crime praticado por Felipe, sendo a pena agora de 2 a 8 anos. Neste caso, esta nova lei NÃO retroagirá (não se aplicará a Felipe com relação ao fato praticado antes da nova lei) porque para Felipe esta lei nova (pena prevista de 2 a 8 anos) é mais maléfica que a lei antiga (pena prevista de 1 a 4 anos). Assim, como a nova lei, sendo pior, não pode retroagir, a antiga, por ser melhor, terá que ultra agir (continuar a reger este fato mesmo após haver sido revogada).
Em se tratando de sucessão de leis penais, portanto, temos que a nova lei penal pode prejudicar ou beneficiar o réu: caso a lei nova seja melhor de qualquer que seja o modo, ela retroagirá e a antiga, por ser pior, não ultra agirá; caso a lei nova seja pior, ela não retroagirá e a antiga, por ser melhor, ultra agirá. 
Duas observações importantes: 
1) a nova lei penal que beneficia (novatio legis in mellius) o réu retroagirá SEMPRE, nada poderá impedir isto. Nem mesmo eventual trânsito em julgado (art. 2º, p. único, CPB); 
2) caso a nova lei penal DESCRIMINALIZE determinada conduta temos o que se conhece por abolitio criminis e, neste caso, são cessados todos os efeitos PENAIS. Os extrapenais, contudo, permanecem (art. 2º, caput, CPB).
Abolitio Criminis x Continuidade normativo-típica. 
Trata-se da revogação de um tipo penal pel
Superveniência de lei descriminalizadora. Isto é, se concretiza quando nova lei exclui do ordenamento pátrio um fato que até então era considerado criminoso.
Assim, a abolitio representa supressão formal e material da figura criminosa (norma penal), expressando o desejo do legislador em não mais considerar determinada conduta como crime. É o que ocorreu com o crime de adultério que estava expresso no art. 240, do CP, mas que fora revogado pela Lei nº 11.106/2005.
Por outro lado, o fenômeno jurídico da abolitio criminis temporalis ocorre quando a lei prevê descriminalização transitória de uma determinada conduta. O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), nos arts. 30 a 32, autorizou a extinção da punibilidade no tocante aos responsáveis pelos crimes de posse e porte ilegal de arma de fogo que efetuaram voluntariamente a entrega das armas de fogo permitido dentro dos prazos neles estabelecidos.
O que estes institutos têm em comum?
Em ambos ocorre a revogação de um tipo penal.
O que os diferencia?
Na abolitio criminis a revogação do tipo penal é FORMAL (o tipo penal é retirado da lei) e, também, MATERIAL (a conduta deixa de ser considerada criminosa pelo legislador). 
Exemplo: a lei 11.106/05 retirou o tipo penal do artigo 240 (adultério) do Código Penal (revogação formal) e a descriminalizou (revogação material). 
Na continuidade normativo-típica a revogação do tipo penal é SOMENTE FORMAL, ou seja: o tipo penal é retirado da lei, mas a conduta continua a ser considerada criminosa pelo legislador através de outro tipo penal (transmudação geográfico-típica).
Exemplo: a lei 12.015/09 retirou o tipo penal do artigo 214 (atentado violento ao pudor) do Código Penal (revogação formal) mas dita conduta continuou a ser considerada criminosa pelo legislador, não mais como atentado violento ao pudor, mas então como estupro (art. 213, CPB)
É possível aplicar lei mais benéfica durante o período de vacatio legis? 
Não. Durante o período de vacatio legis a lei não tem vigência, logo não pode surtir efeitos.
Admite-se a combinação de leis penais (lex tertia)? 
Não.
Neste sentido, temos a súmula 501 do STJ: é cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. 
E, de forma não sumulada, o STF: “...Não seria lícito, portanto, combinar a pena mínima de uma norma com a minorante de outra, criada para incidir sobre pena-base maior. Ressaltou que, ao assim proceder, o juiz criaria nova lei e atuaria como legislador positivo…” (STF. RE 600817/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski,7.11.2013. RE-600817)
Qual juízo é competente para aplicar a lei penal mais benéfica? Sempre será o Juízo do momento processual. Nesta linha, temos a súmula 611 do STF: transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. 
É necessário haver pedido da parte interessada? 
Não. Embora possa haver, em se tratando de matéria de ordem público o juiz pode aplicar de ofício.
CASOS ESPECIAIS: 
a) LEIS EXCEPCIONAIS E LEIS TEMPORÁRIAS. 
•Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
As leis excepcionais (tem data de início de vigência mas não de término, vigorando durante todo o período de excepcionalidade) e as leis temporárias (tem data de início e data de término de vigência) são exceções ao princípio da continuidade das leis: em primeiro lugar porque elas não precisam, para fim de vigência, de uma nova lei que a revogue, elas são autorrevogáveis; em segundo lugar porque elas sempre são ultra ativas, ou seja, sempre continuarão a surtir efeitos para os fatos que aconteceram durante suas vigências mesmo após o término de suas existências. 
Exemplo: determinada lei temporária tornou crime a conduta X e esta lei vigorará de 01 de março de 2019 até 30 de março de 2019. Caso João pratique a conduta x no dia 29 de março de 2019, esta lei temporária continuará se aplicando a João, de modo que mesmo com o término de sua vigência em 30 de março de 2019 João ainda responderá pelo crime.
b) SUCESSÃO DE LEIS PENAIS EM CASO DE CRIME CONTINUADO OU CRIME PERMANENTE. 
Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
A correta leitura da súmula é: nos casos de crime permanente e de crime continuado, tendo havido sucessão de leis penais após o início da conduta, a nova lei penal será a aplicável sempre que ela seja a que esteja em vigor quando do momento de cessação da permanência ou da continuidade, independentemente se mais grave ou mais benéfica à lei do momento de início da conduta.
c) LEI INTERMEDIÁRIA. 
•. Ocorre quando em determinado caso concreto, tendo havido sucessão de leis penais, a lei aplicável ao caso nem é a lei que vigorava quando da prática da conduta e nem é a lei que atualmente vigora.
Exemplo: Felipe praticou determinado fato criminoso previsto como crime pela lei X em março de 2019; em julho de 2019 entrou em vigor a lei Y que revogou a X e descriminalizou a conduta praticada por Felipe; em setembro de 2019 entrou em vigor a lei Z que revogou a lei Y e voltou a criminalizar aquela conduta praticada por Felipe.
ATENÇÃO: Perceba que neste caso a lei vigente à época da conduta era a lei X, a qual previa dita conduta como criminosa; após a conduta, entrou em vigor a lei Y, a qual descriminalizou a conduta: neste momento a lei Y (nova) é melhor que a lei X (antiga) e, portanto, retroagirá; depois entrou em vigor a lei Z, que voltou a criminalizar aquela conduta: neste momento a lei Z (nova) é pior que a lei Y (antiga) e, portanto, não poderá retroagir, sendo caso, então, da lei Y precisar ultra agir.

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