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AULA 1 ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR Prof. Cesar Alberto Sinnecker 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, serão apresentados temas que têm por objetivo familiarizar o aluno com aspectos conceituais da globalização no ambiente das relações internacionais de comércio. Os temas se dividem nos seguintes tópicos: • Tema 1: o mundo globalizado de hoje; • Tema 2: negociação: aspectos introdutórios; • Tema 3: a importância das negociações internacionais; • Tema 4: o ambiente internacional; • Tema 5: riscos políticos e econômicos nos negócios. TEMA 1 – O MUNDO GLOBALIZADO DE HOJE A economia mundial está globalizada, no entanto, o fornecimento e disponibilização de dados e informações é absolutamente desigual entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento cuja renda muitas vezes são geradas através do setor primário, agricultura. Países como EUA, Alemanha e Japão concentram a maior parte da tecnologia de ponta, assim como o uso integrado das grandes redes de comunicação. Grandes empresas desses países tornaram- se imensas multinacionais e detêm a maior parte da riqueza do mundo, maior que de alguns países pequenos e subdesenvolvidos. 1.1 O que é globalização? A globalização é a expansão das relações humanas ao redor do mundo e caracteriza-se pelo processo de intercambio sociocultural, a facilitação do fluxo de pessoas, produção de riquezas e disseminação de informações por todo o planeta. 1.2 A primeira fase da globalização (século XV ao XIX) O início da expansão do fluxo de pessoas se deu com as guerras na Baixa Idade Média e viagens marítimas para descobrimento de terras como uma forma de conquista colonialista. Antes disso, as sociedades eram isoladas e ligadas à agricultura familiar, sem maiores integrações até mesmo com feudos vizinhos. 3 Foi justamente nessa época que houve uma implosão do modelo social vigente, tendo em vista que os meios de transporte e comunicação tiveram avanços significativos possibilitando a conquista de mercados internacionais. A busca por novos mercados e, principalmente, por matérias-primas, como especiarias e metais preciosos, incentivou os navegadores europeus a buscarem novas terras e novas rotas para os diferentes mercados. Um exemplo foi a busca pelas Índias por novos caminhos, após a tomada de Constantinopla pelos turco- otomanos e pela da criação de companhias mercantis, como as Companhias das Índias Orientais. 1.3 A segunda fase da globalização (meados do século XIX e meados do século XX) O avanço ocorreu rapidamente com a expansão marítima e ferroviária abrindo margem para o capitalismo industrial e financeiro. Ao explorar novas colônias, o deslocamento gerou a necessidade de meios de transporte e comunicação mais eficientes, inicialmente por meio de ferrovias e navegação, expandindo para a aviação comercial, gerando um aumento exponencial da velocidade e volume de negócios como nunca se tinha visto antes. O mundo passa a se comunicar mais rápido e explorar novas fronteiras. 1.4 A terceira fase da globalização (Guerra Fria) A guerra fria foi a formação de dois blocos de poder no mundo, com fundamentos políticos e econômicos radicalmente opostos; de um lado, um liderado pelos Estados Unidos, o “bloco capitalista”; de outro, um liderado pela União Soviética, o “bloco socialista”. Apesar de não ter uma guerra armada, ocorreu uma corrida armamentista entre os dois países e a disputa de poder gerou grandes avanços tecnológicos e científicos. Os meios de transporte se tornaram mais velozes, as viagens internacionais mais baratas e populares e o sistema de informação e mídia se tornaram instantâneos através dos avanços aeroespaciais. 1.5 O mundo globalizado de hoje A partir de 1989, com a queda do muro de Berlim, cuja hegemonia de poder em dois blocos políticos foi migrada para o capitalismo, a globalização passou a 4 um novo estágio. Os avanços tecnológicos permitem que qualquer ser humano na face da terra ligado em aparelhos telefônicos, televisivos e redes de internet tenha acesso imediato a informações de fatos ocorridos em países longínquos, e o avanço dos meios de transporte permitem o deslocamento com uma rapidez jamais concebida pelo ser humano. De um dia para o outro, atravessamos continentes e meridianos que na Idade Média, quando chegavam, levavam meses ou anos. Considerando que veículos de transporte por tração animal são utilizados desde a Antiguidade, foram necessários menos de 150 anos para a evolução dos veículos automotores, desde as primeiras locomotivas a vapor no início do século XIX à consolidação da aviação comercial logo após a Segunda Guerra Mundial. Quadro 1 – Evolução dos meios de transporte após a Revolução Industrial 1500-1840 A melhor média de velocidade das carruagens e dos barcos a vela era de 16 km/h. 1850-1930 As locomotivas a vapor alcançavam em média 100 km/h: os barcos a vapor, 57 km/h. Anos 1950 Aviões a propulsão: 480-640 km/h. Anos 1960 Jatos de passageiros: 800-1100 km/h. Como se pode observar, foi necessário um século para se chegar aos 100 km/h em meio terrestre, e apenas uma década para ultrapassar a barreira do som na aviação. TEMA 2 – NEGOCIAÇÃO: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS Negociar vem da palavra latina negotiatus, que significa “cuidar dos negócios”. É um processo de relacionamento interpessoal que ocorre quando uma pessoa deseja algo de outra. Segundo o dicionário Michaelis, é uma conversa que ocorre entre pessoas, com o fim de se chegar a um acordo em um assunto qualquer, um ajuste. Negociar é um fato da vida e ocorre desde que nascemos. Negociamos comida e carinho com nossas mães assim que saímos do ventre materno. A negociação faz parte do dia a dia das pessoas, desde a quitanda da esquina até 5 datas e valores a serem pagos no aluguel de sua residência. Não tem a ver com competição de palavras, nem jogo de palavras, mas com a habilidade de explicar e convencer outras pessoas do seu posicionamento ou daquilo que é melhor para você, sem, é claro, infringir normas éticas e costumeiras na sociedade. 2.1 Formas de se obter sucesso em uma negociação Vejamos, a seguir, formas de se obter sucesso em uma negociação. 2.1.1 Deixar de lado o medo e fazer a proposta primeiro As pessoas não gostam de propor em primeiro lugar ou lançar dados antes que os concorrentes por medo de perder oportunidades. Quantas vezes a pessoa deixa de lançar um valor de aluguel para seu imóvel esperando que o inquilino lhe ofereça um valor maior? Quantas vezes você já viu anúncios de produtos sem o valor, principalmente os mais caros? O medo não faz sentido porque a outra pessoa sempre tem conhecimento do valor. Então, seja firme na primeira oferta. O valor é influenciado pelo primeiro valor lançado. A regra é simples: se você está comprando, faça a oferta em primeiro lugar e em valor bem baixo. Se estiver vendendo, comece com oferta alta. 2.1.2 Usar o silêncio como vantagem A maioria das pessoas fala muito quando estão nervosas e acabam falando demais, até os defeitos do produto, que acabam por desvalorizá-lo. Se o comprador faz uma oferta e o vendedor reclama que é muito baixa, silencie e espere pacientemente sem nervosismo. E como acontece na esmagadora maioria das vezes, o vendedor começará a falar para preencher o silêncio listando os motivos pelos quais a oferta é baixa. Dará informações valiosas que farão o comprador amadurecer a ideia da compra, fatos que ele jamais saberia se estivesse falando. 2.1.3 Planejar o pior, mas sempre esperar o melhor Grandes expectativas conduzem a altos resultados. Sempre entre em uma negociação considerando que você pode conseguir o que quer, que você pode 6 fazer um negócio em seus termos. Afinal, você nunca obterá o que deseja se não pedir o que deseja. 2.1.4 Nunca fornecer uma margem As pessoas adoram pedir númerosaproximados. Não os forneça; figuras aproximadas também fixam âncoras. Por exemplo, não diga: "meu palpite é que o custo será entre R$ 5.000 e R$ 10.000”. O comprador naturalmente desejará que o custo final seja o mais próximo possível de R$ 5.000 – e apresentará muitos motivos pelos quais seu preço deve estar na extremidade inferior da faixa. Se você não estiver pronto para cotar um preço, diga que não tem certeza e continue fazendo perguntas até ter certeza. 2.1.5 Nunca dar sem receber Caso um comprador lhe peça para diminuir seu preço, você deve sempre ter algo para tirar da negociação. Cada redução de preço ou aumento de valor deve envolver algum tipo de compensação. Se não houver compensação, significa apenas que seu preço inicial foi aumentado. Siga a mesma lógica se você for o comprador. Se você fizer uma segunda oferta e mais alta, sempre peça algo em troca por esse preço mais alto. 2.1.6 Tentar não negociar sozinho Embora você provavelmente tenha a palavra final, se o outro lado sabe que você é o tomador de decisão final, isso pode às vezes deixá-lo sem saída. Sempre tenha um motivo para se afastar e obter o aceite final de outra pessoa, mesmo que essa outra pessoa seja apenas você. É melhor se sentir inseguro do que ceder à pressão de tomar uma decisão que você não quer. 2.1.7 Usar o tempo como vantagem Mesmo que você não concorde com nada, nunca tente encerrar uma negociação o mais rápido possível apenas para concluí-la. A pressa sempre resulta em desperdício de negociação. Quanto mais tempo o outro lado dedicar, mais eles desejarão fechar o negócio e maior será a probabilidade de eles fazerem concessões para fechar o negócio. 7 2.1.8 Ignorar negociações ousadas ou emocionais Nunca presuma que tudo que você ouve é verdade. Quanto mais ousada, mais alta e mais emocional uma negociação for, mais provável é que a negociação seja uma tática de intimidação ou um sinal de insegurança. Se você se sentir intimidado, afaste-se. Se você se sentir atraído emocionalmente, fique um pouco distante. Talvez você decida dar ao outro lado o que ele "precisa", mas certifique- se de que a decisão seja mesmo uma decisão e não uma reação emocional. TEMA 3 – A IMPORTÂNCIA DAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS As relações internacionais têm seus conhecimentos iniciais construídos a partir da ruptura do Império Romano e se desenvolvem até os tempos atuais, caracterizadas por um volume antes nunca visto de negociações entre governos. O comércio entre diferentes países garante benefícios para o crescimento das economias, além de proporcionar a todas as nações a possibilidade de ter os melhores preços e produtos do mundo. Com a globalização, a comunicação foi facilitada entre diversas partes do mundo e as empresas perceberam que há muita vantagem econômica em explorar mercados exteriores. As distâncias diminuíram, a facilidade de entrega vem acelerando os destinos, a qualidade de um produto pode ser estudada em qualquer parte do mundo e novos produtos, a partir do primeiro, surgem como probabilidade de novas opções. Há povos que são culturalmente mais diretos e objetivos em suas negociações, como os americanos e europeus. Estes rapidamente propõem o que querem e vão logo desenvolvendo para não perder tempo. São as culturas do "tempo é dinheiro". Outros povos, como os brasileiros e alguns árabes, preferem negociar muito. O brasileiro chega a marcar várias reuniões, em diversos países, antes de fechar um acordo internacional. Não são objetivos, precisam de tempo para se certificar que estão realmente fazendo um bom negócio. Existem culturas em que as negociações não são feitas durante as refeições, porque para eles esse momento é sagrado e merece respeito. Com a intensificação do processo de globalização no final da década de 1980, acentuou-se o debate em torno de como o comércio internacional afeta o crescimento econômico. No entanto, ao analisar o comércio internacional, considerando as exportações e importações, a empresa iniciante deve buscar a 8 análise da relação entre comércio internacional dos produtos básicos, semimanufaturados e manufaturados e crescimento econômico do mercado nacional. Percebendo que o mercado brasileiro é consumista e que as empresas nacionais pecam por não desenvolverem suas empresas e funcionários com cursos de aperfeiçoamento, um grande número de empresas estrangeiras se estabeleceram no país para disputar o crescente mercado brasileiro, ou estabelecer bases de apoio às suas operações globais ou então para otimizar sua presença global. Por outro lado, a proteção de mercado das empresas aqui instaladas diminui gradativamente em razão de compromissos firmados pelo governo brasileiro em acordos multi e bilaterais. A melhor maneira de se manter competitivo neste ambiente global é pesquisar os mercados externos tanto para se avaliar a adaptação necessária em produtos, processos e funções, quanto para examinar a possibilidade de diminuir custos através da integração com fornecedores de insumos externos. No ambiente competitivo atual, quanto maior o conhecimento que a empresa possui sobre seus clientes, produtos e mercados, maior a sua chance de se manter competitiva. Figura 1 – Crescimento da economia e do comércio mundial Fonte: FMI, World Economic Outlook, 2019. 9 As negociações internacionais estão presentes atualmente de forma muito intensa nas nossas vidas. O ser humano pensa globalmente, pois as relações internacionais deixaram de ser temas apenas de discussões acadêmicas. Os negócios multinacionais vêm sofrendo um aumento explosivo nos últimos anos. Várias empresas possuem receitas maiores que o Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países. Das 150 maiores entidades do mundo em 2005, 100 eram empresas, conforme Oliveira (2008). TEMA 4 – O AMBIENTE INTERNACIONAL O ambiente internacional está presente nos mais diversos contextos históricos e culturais ao redor do mundo. Cada negociação internacional deverá respeitar a cultura do país, as pessoas, símbolos, o processo de poder do local, ou seja, o contexto de cada país. Compreender o universo cultural em que ocorrerá a negociação internacional é uma estratégia de negócio, visto que os aspectos legais que regem o acordo devem estar em conformidade com o sistema legal de forma a evitar futuros constrangimentos e garantir que a troca de interesses será legalizada. 4.1 Navegando por diferentes culturas 4.1.1 Linguagem, símbolos e valores locais É necessário que a interação entre pessoas de culturas diferentes respeite a diferença de linguagem, símbolos e valores sociais da sociedade em que o membro está inserido. Práticas adotadas em determinado mercado podem não ser usadas em outro e podem até mesmo ser degradantes em um contexto cultural diferente. 4.1.2 Verificando a cadeia decisória do negociador É importante entender com quem você está negociando e a relação dela com a empresa que está representando para que, desse modo, não se perca oportunidade de negociar com quem não vai ter o poder de decisão final. 10 4.1.3 Conhecendo a expressão cultural por meio da linguagem corporal Entender a linguagem corporal é importante na vida. Se você quer ou precisa fechar um acordo internacional, é necessário conhecer a fala dos movimentos e gestos corporais. Olho no olho, não ficar tocando no outro enquanto fala, verificar se o outro se mexe muito, se o seu modo de falar causa algum incômodo, ficar digitando ao celular, tudo isso sugere informações que não são ditas. Falar muito rápido pode significar que a pessoa pensa rápido, mas na maioria das vezes, transparece nervosismo. Sorrisos nem sempre significam alegria ou satisfação, mas podem representar algum tipo de constrangimento; americanos preferem fechar negócios com quem detém o poder decisório, o francês confia no “olho no olho”de quem está propondo o negócio, o chinês não gosta e prefere não falar muito enquanto negocia, e sua concordância com a cabeça não significa aceite para o negócio – é apenas uma linguagem cultural de respeito. 4.1.4 Tempo de negociação O estudo do tempo em diversos ambientes culturais é importante, pois são interpretados de várias formas diferentes. Enquanto o americano é objetivo e leva a sério a frase “tempo é dinheiro”, no Japão, apesar da objetividade, se o negociador for rápido demais, isso pode ser confundido com falta de interesse. 4.1.5 Treinamentos interculturais Conhecer práticas e comportamentos é fundamental para fornecer conhecimento e ferramentas necessários sobre o lugar onde haverá a negociação. Utilizar os instrumentos que há em seu próprio ambiente cultural pode ser um diferencial no momento de fechar um negócio. 4.1.6 Identificar o interlocutor do negociador Caso a pessoa seja muito individualista, ela sempre se coloca em primeiro lugar, só fala em primeira pessoa e nas suas experiências pessoais. Por outro lado, o coletivista tentará fazer amizade, posicionar-se sempre como um time, agir como grupo. Quando se identifica a estratégia da pessoa, fica mais fácil falar a língua dela. 11 4.1.7 Pontualidade Em cada sociedade, há diferentes padrões de comportamento social com relação a compromissos. Na maioria das vezes, atraso é sinônimo de irresponsabilidade. Em contrapartida, a pontualidade é sinal de respeito e pessoa correta. No Brasil, chegar atrasado pode ser tolerado em algumas situações, como por exemplo em cerimônias de casamento. Já em outras culturas, como nos Estados Unidos e na Alemanha, chegar atrasado é inapropriado e, muitas vezes, pode acabar com um negócio. 4.1.8 Respeitar a cultura da outra parte não significa submissão Em vez de se criar barreiras com línguas, jeitos de ser e comportamentos culturais, convém respeitar a outra parte de forma a transformar o encontro em um relacionamento duradouro e de confiança. O mercado está cada vez mais competitivo, e ter alguém que demonstre ser de confiança de longa data é importantíssimo. Torna-se até estratégia de sobrevivência no mundo dos negócios. O gráfico a seguir demonstra a crescente tendência em interesse por pesquisas relacionadas às dimensões culturais, em que o número 100 representa o interesse máximo em pesquisas. Figura 2 – Interesse de pesquisas relacionadas às dimensões culturais Fonte: Google Trends, 2013. Para toda relação comercial internacional, o sucesso vem acompanhado do bom entendimento da cultura do país com o qual se faz negócios. 12 TEMA 5 – RISCOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS NOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Todas essas estratégias de internacionalização dependem de decisões aliadas a recursos corporativos que vão precisar de estratégias institucionais que tornem possível o ingresso dos produtos no mercado internacional. Ademais, é necessário conjugar tecnologia, capital humano, gerenciamento ou outros recursos de uma empresa nos mercados internacionais. 5.1 Estratégias de internacionalização e o risco político Ao realizar a análise interna corporativa com relação à expansão de seus produtos para mercados internacionais, a empresa deve observar quais os riscos e formas de internalização dos produtos. A doutrina costuma apontar cinco maneiras básicas de expansão do mercado: 1. Franquias; 2. Contratos (serviço, gerenciamento, produção); 3. Exportações diretas ou indiretas; 4. Aquisições ou novos empreendimentos; 5. Subsidiária própria. Kobrin (1978) dizia que, ao expandir internacionalmente, a empresa enfrenta riscos econômicos e políticos diferentes do seu estado natal. Intuições e manobras ingênuas não são toleradas na seara internacional. Há o cenário político que muda constantemente e frequentemente pode surpreender o infante exportador. Não adianta conhecer o nome do Presidente e forma de governo do Estado hospedeiro, mas deve-se estudar o modus operandi da nação, com seus consectários jurídicos e legislação tributária para se entender exatamente o que deve ser feito, os impostos que devem ser recolhidos e o passo a passo de desenvolvimento do produto naquele país. A ocorrência de uma situação política qualquer, como golpes de Estado, guerras, revoluções, acidentes naturais, expropriação, tributação, desvalorização, controles de câmbio e restrições às importações no país de origem ou no estrangeiro, pode causar uma perda de potencial de lucro e/ou de ativos em uma operação internacional de negócios. Esses fatores definem risco político que são as forças sociogeoeconômicas e culturais que podem alterar a relação de uma sociedade com empresas 13 estrangeiras. Decisões políticas podem afetar diretamente a empresa que deseja investir em outro país: controle de câmbio; mudanças na moeda e política fiscal ou monetária; restrições tributárias; exigências trabalhistas e mão de obra local. Segundo Demirbag, M., Glaister, K. W. e Tatoglu (2007), os custos de transação são baseados em vários fatores, incluindo os relacionados com a firma e com o país de acolhimento: tamanho da matriz, experiência multinacional da matriz, intensidade do investimento em pesquisa e desenvolvimento da matriz, tamanho relativo dos investimentos, grau de diversidade de produtos e experiências adquiridas no estrangeiro. Exemplos típicos dos fatores relacionados ao país de acolhimento são o nível de desenvolvimento e o tamanho do mercado do país. 5.2 Riscos de comércio internacional As empresas que atuam no comércio internacional precisam lidar não somente com os riscos locais e regionais, mas também com outros riscos de desenvolvimento de negócios, como ética, transporte, propriedade intelectual, crédito, moeda e muito mais. Esses riscos podem impor barreiras aos negócios e, portanto, devem ser tomadas ações mitigadoras para limitar seus efeitos e as chances deles ocorrerem. Entre os diversos riscos de negócios no mercado, seis riscos enfrentados por empresas envolvidas no comércio internacional são os mais comuns. 5.2.1 Risco de crédito O risco de contraparte ou de crédito é o risco associado com a não cobrança de uma conta a receber. Existem várias maneiras pelas quais as empresas podem se proteger contra esse risco enquanto se expandem para os mercados globais. Uma forma de mitigar esse risco pode ser aceitar o pagamento total ou uma porcentagem razoável do valor adiantado, antes de prestar os serviços no momento da colocação de um pedido, processo que pode ser usado para reduzir despesas administrativas e encargos financeiros. Isso elimina o risco de não pagamento. Apesar de poder ser difícil para novos negócios e exportadores, pode ser resolvido com poucas negociações. 14 Outra forma de mitigação reside no uso de Cartas de Crédito ou Seguro Garantia, um compromisso emitido por uma instituição financeira (ou uma seguradora, no caso do Seguro Garantia) em que a instituição concorda em pagar um valor definido ao fornecedor do serviço/produto em troca da entrega dentro de um prazo determinado. Isso oferece proteção ao vendedor e ao comprador. Inclui uma descrição detalhada da remessa, bem como os termos de venda. 5.2.2 Risco de propriedade intelectual Esse risco envolve terceiros que fazem uso não autorizado de informações estratégicas de um negócio ou propriedade, que afetam o valor dos serviços ou produtos oferecidos por uma empresa de forma direta ou indireta. Esses riscos aumentam ao se fazer negócios no exterior devido às dificuldades que existem para derrotar os direitos comerciais remotamente. Isso pode ser evitado registrando-se os nomes corporativos, bem como as marcas registradas, antes de assinar um contrato em qualquer país. Também será benéfico modificar e melhorar constantemente seus serviços ou produtos para permanecer à frente da concorrência.5.2.3 Risco cambial Isso geralmente se refere às contas a pagar e a receber de contratos que estão, ou estariam em vigor. As taxas de câmbio estrangeiras estão em constante mudança. Consequentemente, as empresas seriam forçadas a fazer conversões dos fundos gerados no exterior a taxas menores do que o orçado. Por isso, é fundamental que as empresas tenham uma política cambial adequada. É necessário identificar os riscos cambiais para estruturar uma política eficaz. Também é essencial reconhecer as ferramentas disponíveis para a cobertura desses riscos e realizar uma análise comparativa periódica para selecionar a melhor ferramenta disponível. 5.2.4 Risco ético É vital manter um alto padrão ético ao oferecer qualquer produto ou serviço em um mercado global. As empresas podem enfrentar certas questões relativas aos seus valores a qualquer momento ao fazerem comércio internacional. 15 As condições sociais e os costumes variam de país para país e, portanto, é necessário estar especialmente vigilante. Você precisa se certificar de que seus fornecedores e parceiros estrangeiros sigam seus valores e regras, independentemente de onde operem. 5.2.5 Risco de transporte Esteja você enviando mercadorias para o exterior ou localmente, poderá enfrentar problemas como contaminação, apreensão, acidente, vandalismo, roubo, perda e quebra. Antes de enviar qualquer mercadoria para os compradores, você precisa ter certeza de ter seguro suficiente. A Câmara de Comércio Internacional estabeleceu regras para cada parte envolvida no comércio internacional e suas responsabilidades em relação ao risco do transporte. É melhor seguir as regras e tomar as medidas de precaução necessárias. 5.2.6 Risco político São barreiras comerciais não tarifárias, regulamentações cambiais do banco central ou proibição da venda de certos produtos em países específicos. Vários países, por exemplo, baniram produtos obtidos de espécies animais ameaçadas. Há certos elementos que nunca estarão sob seu controle, como sanções, e você deve estar preparado para superá-las. É possível encontrar mais informações sobre essas restrições verificando o site oficial do Ministério das Relações Exteriores e Comércio do país em questão. 5.3 Variáveis econômicas Segundo Simon (1985), risco econômico é a capacidade de um país de cumprir as suas obrigações financeiras. A primeira análise econômica a ser realizada pela empresa que quer internacionalizar produtos são as seguintes: • Transferências financeiras (bancos e concessão de empréstimos); • Exportações para o mercado do país de acolhimento; • Investimento direto estrangeiro (varejo, manufatura, mineração e outras). 16 Um dado importante a ser analisado, que é uma variável econômica do país a ser instalada a empresa, é o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (Organização das Nações Unidas). Ele analisa três fatores principais: saúde, educação e renda, cálculo por pessoa em dólar. Atribui-se ao país o IDH e sua análise é um fator importante para entender a situação qualitativa da mão de obra, dos valores que serão despendidos aos colaboradores e a probabilidade de conhecimento deles. 17 REFERÊNCIAS ANDRADE, R.; ALYRIO, R.; MACEDO, A. Princípios de negociação: ferramentas e gestão. São Paulo: Atlas, 2007. COHEN, H. Você pode negociar qualquer coisa. Rio de Janeiro: Record, 1982. DEMIRBAG, M.; GLAISTER, K. W.; TATOGLU, E. Institutional and Transaction Cost Influences on MNEs’ Ownership Strategies of their Affiliates: Evidence from an Emerging Market. Journal of World Business, v. 42, n. 4, p. 418-434, 2007. GRANDE, I. Marketing Cross Cultural. Madrid: Esic Editorial, 2004. HARVEY, D, A. condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989, p. 220. KOBRIN, S. J. Political Risk; a Review and Reconsideration. Journal of International Business Studies, v. 10, n. 1, p. 67-80, 1979. LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo, Cia das Letras, 2011. MIRA, M. C. O global e o local: mídia, identidades e usos da cultura. Revista Margem, n. 3, p. 131-149, dez. 1994. SILVA, M. A. O. M. et al. Cultura nacional e orientação empreendedora: um estudo comparativo entre Brasil e Portugal. Comportamento Organizacional e Gestão, v. 14, n. 1, p. 65-84, 2008. SIMON, J. D. Political Risk Forecasting. Futures, v. 17, n. 2, p. 32-148, 1985. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/232328916_Political_risk_forecasting> . Acesso em: 1 jan. 2021.
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