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1 Juliele Bueno Hepatites virais ] HEPATITE A Hepatite A. O vírus da hepatite A (HAV, do inglês, hepatitis A virus) causa uma doença normalmente benigna e autolimitada, com um período de incubação de 2 a 6 semanas. O HAV não causa hepatite crônica ou um estado de portador e apenas raramente causa insuficiência hepática aguda, por isso a taxa de fatalidade associada ao HAV corresponde apenas de 0,1% a 0,3%. -→ O HAV ocorre em todo o mundo e é endêmico em países com falta de higiene e saneamento. → Muitas pessoas nesses países possuem anticorpos anti- HAV detectáveis aos 10 anos de idade. A doença clínica tende a ser leve ou assintomática e é rara após a infância. → sintomas: fadiga, perda de apetite e frequentemente desenvolvem ICTERÍCIA. Dificilmente evolui para cronicidade. Paciente estrangeiro que veio para o brasil. 2 Juliele Bueno HEPATITE B O vírus da hepatite B (HBV) pode produzir (1) hepatite aguda seguida por recuperação e eliminação do vírus, (2) hepatite crônica não progressiva, (3) doença crônica progressiva terminando em cirrose, (4) insuficiência hepática aguda com necrose hepática maciça e (5) um estado de portador assintomático “saudável”. A doença hepática crônica induzida por HBV é também um fator precursor importante para o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, mesmo na ausência de cirrose. 3 Juliele Bueno →Aproximadamente 65% dos adultos que adquiriram o HBV não são sintomáticos ou apresentam sintomas leves e não desenvolvem icterícia. Os demais 25% apresentam sintomas constitucionais inespecíficos, como anorexia, febre, icterícia e dor no quadrante superior direito. → A doença crônica ocorre em 5% a 10% dos indivíduos infectados. A hepatite fulminante (insuficiência hepática aguda) é rara, ocorrendo em aproximadamente 0,1% a 0,5% dos indivíduos infectados de forma aguda. → O HBV geralmente não causa lesão hepatocitária direta. Em vez disso, a lesão é causada por células T citotóxicas CD8+ que atacam as células infectadas. → A idade no momento da infecção é o melhor preditor de cronicidade. Quanto menor a idade no momento da infecção por HBV, maior é a probabilidade de cronicidade. Apesar do progresso no tratamento de infecção crônica por HBV, é extremamente difícil alcançar a cura completa, mesmo quando tratada com agentes antivirais altamente eficazes. A dificuldade em conseguir a cura tem sido atribuída à capacidade do vírus de se inserir no DNA do hospedeiro, limitando, assim, o desenvolvimento de uma resposta imune eficaz (desenvolvimento de HBsAb). Isso permite que o vírus persista mediante os medicamentos que prejudicam a sua replicação. Por isso, a meta do tratamento da hepatite B crônica consiste em retardar a progressão da doença, reduzir a lesão hepática e prevenir cirrose hepática ou câncer do fígado. → A hepatite B pode ser prevenida por vacinação e pela triagem de sangue, órgãos e tecidos de doadores. A vacinação induz uma resposta protetora de anticorpos anti-HBs em 95% dos lactentes, crianças e adolescentes. HEPATITE C 4 Juliele Bueno O vírus da hepatite C (HCV) é uma importante causa de doença hepática em todo o mundo, com aproximadamente 170 milhões de pessoas afetadas. os fatores de risco mais comuns para infecção por HCV são: • Abuso de drogas intravenosas (54%). • Múltiplos parceiros sexuais (36%). • Realização de cirurgia nos últimos 6 meses (16%). • Ferimento por picada de agulha (10%). • Contatos múltiplos com uma pessoa infectada por HCV (10%). • Atividade profissional na área médica ou odontológica (1,5%). • Desconhecido (32%). → Ele é um vírus RNA pequeno, envelopado, de fita única Um aspecto característico da infecção por HCV, portanto, consiste em surtos repetidos de lesão hepática, resultantes da reativação de uma infecção preexistente ou da emergência de uma cepa endógena que tenha sofrido uma mutação recente. Infecção persistente e hepatite crônica são as marcas registradas da infecção por HCV, apesar da natureza geralmente assintomática da doença aguda. Em contraste com o HBV, a doença crônica ocorre na maioria dos indivíduos infectados por HCV (de 80% a 90%), e a cirrose eventualmente ocorre em 20% dos indivíduos com infecção crônica por HCV. Os mecanismos que levam à cronicidade da infecção por HCV não são bem compreendidos, porém é evidente que o vírus tem desenvolvido várias estratégias para escapar da imunidade antiviral do hospedeiro. O HCV é capaz de inibir ativamente a resposta antiviral celular mediada pelo IFN em vários passos, incluindo a sinalização do receptor Toll-like em resposta ao reconhecimento do RNA viral e a sinalização associada de receptores de IFN, que de outra forma teriam efeitos antivirais. clínico bastante característico da infecção crônica por HCV são as elevações episódicas das aminotransferases séricas. Seus níveis aumentam e diminuem, mas raramente se tornam normais. Uma característica única para a infecção da hepatite C é a associação com a síndrome metabólica, em especial com o genótipo 3 de HCV. Aparentemente, o HCV pode dar origem à resistência à insulina e à doença hepática gordurosa não alcoólica. → potencialmente curável. HEPATITE D Também conhecido como “o agente delta”, o vírus da hepatite D (HDV) é um vírus de RNA único que depende do seu ciclo de vida no HBV A coinfecção de HBV e HDV resulta na hepatite aguda, que é indistinguível da hepatite aguda B. Ela é autolimitada e é normalmente seguida pela eliminação de ambos os vírus. No 5 Juliele Bueno entanto, há uma maior taxa de insuficiência hepática aguda em usuários de drogas intravenosas. A superinfecção ocorre quando um portador crônico de HBV é exposto a um novo inóculo de HDV. Isso resulta em doença 30 a 50 dias após, apresentando-se como uma hepatite aguda grave em um portador de HBV não reconhecido anteriormente, ou como uma exacerbação de infecção preexistente da hepatite B crônica. A infecção crônica por HDV ocorre em praticamente todos esses pacientes. A superinfecção pode ter duas fases: uma fase aguda, com replicação ativa de HDV e supressão de HBV com altos níveis de transaminase, e uma fase crônica, na qual a replicação de HDV diminui, a replicação de HBV aumenta, os níveis de transferase flutuam e a doença progride para cirrose e, algumas vezes, carcinoma hepatocelular. HEPATITE E O vírus da hepatite E (HEV) é uma infecção transmitida entericamente pela água, que ocorre principalmente em jovens e adultos de meia-idade. → O HEV é uma doença zoonótica com hospedeiros animais, como macacos, gatos, porcos e cães. → Um aspecto característico da infecção por HEV é a alta taxa de mortalidade entre gestantes, chegando a 20%. Na maioria dos casos, a doença é autolimitada; o HEV não está associado à doença hepática crônica ou viremia persistente em pacientes imunocompetentes. A infecção crônica por HEV ocorre em pacientes com AIDS e pacientes transplantados imunossuprimidos → Antes do início da doença clínica, o HEV do RNA e virions de HEV podem ser detectados por PCR nas fezes e no soro. As primeiras manifestações de elevação das aminotransferases séricas, doença clínica e elevação dos títulos de IgM antiHEV são praticamente simultâneas. Os sintomas cedem em 2 a 4 semanas, e nesse período a IgM é substituída por anticorpos persistentes de IgG anti-HEV. 6 Juliele Bueno Diagrama representando as características morfológicas das hepatites aguda e crônica. Observe que há pouquíssima infiltração mononuclear portal na hepatite aguda (às vezes, não há nenhuma), enquanto, na hepatite crônica, as infiltrações portais são densase proeminentes, representando a alteração característica da hepatite crônica. Necrose e fibrose em ponte são mostradas apenas na hepatite crônica, mas a necrose em ponte também pode ocorrer nos casos mais severos de hepatite aguda. As reações ductulares são mínimas na hepatite crônica durante os estágios iniciais da cicatrização, mas tornam-se extensas nos estágios tardios da doença. HEPATITE VIRAL AGUDA Na análise macroscópica, os fígados acometidos por hepatite aguda leve parecem normais ou ligeiramente manchados. Na outra extremidade do espectro, na necrose hepática maciça o fígado pode diminuir bastante, conforme descrito anteriormente, sob insuficiência hepática aguda imagem 18-6. Microscopicamente, tanto a hepatite aguda como a crônica evocam um infiltrado linfoplasmocítico (mononuclear). A inflamação portal na hepatite aguda é mínima ou inexistente. Grande parte da lesão do parênquima fica dispersa por todo o lóbulo hepático como “necrose focal” ou hepatite lobular. Conforme descrito, a lesão hepatocelular pode resultar em necrose ou apoptose. No primeiro caso, o citoplasma aparece vazio com grumos dispersos de restos citoplasmáticos. Eventualmente, há a ruptura das membranas celulares que leva ao “desaparecimento” dos hepatócitos, deixando a malha de reticulina de colágeno sinusoidal rompida; macrófagos marcam a região do desapareciemnto de hepatócitos (Fig. 18-2). Com a apoptose, os hepatócitos encolhem, tornando- se intensamente eosinofílicos, e seus núcleos se tornam picnóticos e fragmentados; células T efetoras podem estar presentes na região circundante Na hepatite aguda grave, a necrose confluente de hepatócitos é observada ao redor das veias centrais (Fig. 18- 6B). Nessas áreas pode haver restos celulares, fibras de reticulina rompidas, congestão/hemorragia e inflamação variável. Com o aumento da gravidade, há a necrose em ponte central-portal, seguida por um colapso ainda mais acentuado do parênquima (Fig. 18-4B). Em alguns casos, a necrose hepática maciça e a insuficiência hepática aguda ocorrem em seguida, conforme descrito. Em casos pontuais, a lesão não é grave o suficiente para causar a morte (ou exigir transplante), e o fígado sobrevive, embora com cicatrizes abundantes, geralmente com substituição das áreas de necrose confluente. Nesses casos, alguns pacientes desenvolvem cirrose pós-hepatite rapidamente. Há uma sobreposição morfológica considerável na hepatite aguda causada por vários vírus hepatotrópicos. No entanto, diferenças sutis podem ser observadas; por exemplo, o infiltrado mononuclear na hepatite A pode ser especialmente rico em plasmócitos. A, Necrose maciça, secção do fígado. O fígado é pequeno (700 g), impregnado pela bile, macio e congesto. B, Necrose https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0015 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0015 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0035 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0035 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0025 7 Juliele Bueno hepatocelular causada por superdosagem de acetaminofeno. A necrose confluente pode ser observada na região perivenular (zona 3) (seta larga). Tecido normal residual indicado pelo Hepatite B aguda, aglomerados de macrófagos com citoplasma eosinofilico indica focos onde houve necrose nos hepatócitos. Focos de hepatite lobular na hepatite C crônica, mostram hepatócitos apoptóticos corpos acidófilos setas- e um foco de infiltrado mononuclear onde houve lesão de hepatócitos com coloração mais escura ( setas duplas) HEPATITE CRÔNICA A característica histológica definidora da hepatite viral crônica é a infiltração mononuclear portal. Ela pode ser de eve a grave e variável, de um trato portal para o próximo (Fig. 18-14). Há também, muitas vezes, além da hepatite obular, a hepatite de interface, que se distingue pela sua localização na interface entre o parênquima hepatocelular e o estroma do trato portal. A característica da lesão hepática crônica progressiva é a cicatriz. No início, apenas tratos portais exibem fibrose, mas em alguns pacientes, com o tempo, septos fibrosos (bandas de cicatrizes densas) se estendem entre os tratos portais. Em paralelo ao aumento da formação de cicatrizes há também o aumento da reação ductular, refletindo a ativação das células- tronco. Nos casos mais graves, cicatrizes continuadas e a formação de nódulos levam ao desenvolvimento de cirrose, conforme descrito (Fig. 18-8). A avaliação clínica da hepatite crônica muitas vezes requer biópsia hepática, além de dados clínicos e sorológicos. A biópsia hepática é útil na confirmação do diagnóstico clínico, excluindo condições concomitantes comuns (p. ex., doença hepática gordurosa, hemocromatose), avaliando características histológicas associadas com um aumento no risco de malignidade (p. ex., displasia de pequenas e grandes células, descrita mais adiante), graduando a extensão da lesão hepática e da inflamação e estadiando a progressão da cicatrização. A graduação histológica e o estadiamento da hepatite crônica na biópsia do fígado são muitas vezes fundamentais para determinar o tratamento da doença subjacente. Uma variedade um pouco maior de características histológicas distingue uma infecção viral de outra na hepatite crônica. Na hepatite crônica B, os hepatócitos em “vidro fosco”, células com retículo endoplasmático preenchidos por HBsAg, são uma característica do diagnóstico. A coloração imune pode confirmar a presença do antígeno viral (Fig. 18-15). A hepatite crônica C normalmente mostra agregados linfoides ou folículos linfoides totalmente formados (Fig. 18-16). Muitas vezes, a hepatite C, particularmente de genótipo 3, mostra a alteração gordurosa (esteatose) dos hepatócitos, embora a infecção possa também causar alterações sistêmicas que conduzem à síndrome metabólica e, portanto, uma doença hepática gordurosa não alcoólica sobreposta no fígado (veja https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0075 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0045 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0080 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000180.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#f0085 8 Juliele Bueno adiante). A lesão do ducto biliar também é proeminente em alguns indivíduos com hepatite C, imitando potencialmente a cirrose biliar primária (veja a seguir); no entanto, parâmetros clínicos distinguem essas duas doenças facilmente. As principais causas de insuficiência hepática crônica em todo o mundo incluem hepatite B crônica, hepatite C crônica, doença hepática gordurosa não alcoólica e doença hepática alcoólica. Nos Estados Unidos, a doença hepática crônica é a 12ª causa mais comum de mortalidade, representando a maioria das mortes relacionadas com o fígado. A insuficiência hepática na doença hepática crônica é associada mais frequentemente com a cirrose, uma condição marcada pela transformação difusa de todo o fígado em nódulos parenquimatosos regenerativos,circundados por faixas fibrosas e graus variáveis de derivações (shunts) vasculares (muitas vezes portossistêmicos). No entanto, nem todas as cirroses levam inexoravelmente à insuficiência hepática crônica, e nem todas as doenças hepáticas crônicas de estágio final são cirróticas.
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