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INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA Principais conceitos anatômicos, fisiológicos e patológicos da Nefrologia. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ANATOMIA RENAL • Morfologia: Formato de “feijão”, mede em torno de 12 cm de extensão. • Pesa em torno de 150g • Porção externa: Córtex renal, em torno de 1cm. o Cápsula renal: Membrana de tecido conjuntivo que reveste os rins. o Fáscia de Gerota: Gordura perirrenal. • Porção interna: Medula! Possui várias estruturas que chamam atenção: o Pirâmides de Malpighi: Estruturas pirami- dais, com a base voltada para o córtex e o ápice para a medula. A união da pirâmide + córtex é chamada de lobo renal. o Papila renal: A urina goteja nas papilas, seguindo o seu trajeto pelos cálices. o Cálice menor: É o primeiro contato da urina depois de adentrar pelas papilas. São ductos condutores. o Cálice maior: A união de 2-3 cálices meno- res forma o cálice maior. o Pelve renal: A união dos cálices maiores forma a pelve renal, *A papila renal é o último lugar do parênquima a ser perfundido: Por isso, em situações de hipoperfusão, a papila pode isquemiar, causando dor lombar e até sangrar, causando necrose de papila. VASCULARIZAÇÃO RENAL • O objetivo principal da vascularização renal é a filtração e não a perfusão: Por isso a artéria renal vai perfundir primeiro o córtex e depois a medula! VASCULARIZAÇÃO CORTICAL • Artéria interlobar: Entre os lobos renais, é um ramo da artéria renal, alvo da PAN (poliarterite nodosa), com formação de microaneurismas. • Artérias arqueadas ou arciformes: Da bifurcação da artéria renal, são artérias na transição córtex- medula. • Artérias interlobulares: “Perfurando” o córtex, são vários ramos da artéria arqueada, é o local de dano da hipertensão arterial sistêmica e esclerodermia. • Arteríola aferente: Em cada artéria interlobular temos muitas arteríolas aferentes. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O MOSTRANDO A ILUSTRAÇÃO NA PRÁTICA VASCULARIZAÇÃO DA MEDULA RENAL • Vasa reta: Ou vasos retos, é a porção da artéria renal que vai irrigar a medula, pobremente vascularizada. NÉFRON: É a unidade celular/funcional renal! • Corpúsculo de Malpighi + Sistema tubular • Rins possuem cerca de 0,5-6,4 mi de néfrons • Glomérulo: É um conjunto de alças capilares da arteríola aferente que se enovelam envolvidos pela cápsula de Bowman. o No glomérulo circula sangue arterial: A pressão hidrostática é controlada pela arteríola eferente (+ musculatura lisa). o Membrana basal: Estrutura logo acima do endotélio fenestrado, com importantes funções no filtrado. • Mesângio: Tecido conjuntivo de sustenta-ção que preenche o espaço entre as alças capilares do glomérulo (matriz mesangial). • Cápsula de Bowman: “Bacia” responsável por captar o filtrado do glomérulo, protege e também faz parte do processo de filtração. Divide-se em: o Folheto externo (parietal): Forma uma espécie de cálice, é um epitélio simples pavimentoso apoiado em uma membrana basal que faz o revestimento do corpúsc. o Folheto interno/Podócitos: Células tipo “Venom”, emitem prolongamentos ditos primários (no sentido radial) e secundários (abraçam as alças), quando se cruzam, delimitam um espaço importante chama- do de fenda de filtração. São os podócitos que dão a barreira mecânica inicial da filtração glomerular. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Espaço capsular: Espaço entre os folhetos da cápsula, é ali que o filtrado vai ficar para ser conduzido aos túbulos. PODÓCITOS REPRESENTAÇÃO LONGITUDINAL DAS “CAMADAS” DO TUFO GLOMERULAR • Note a importância da membrana basal: Ela é a única barreira de filtração contínua. TUFO GLOMERULAR: CORTE TRANSVERSAL • Túbulo contorcido proximal: É aquele que recebe o filtrado glomerular, possui ramos S1, S2 e S3. • Alça de Henle: Porção do néfron localizada dentro da medula, possui ramos descendente fino, ascendente fino e ascendente espesso, com dife- rentes funções absortivas. • Túbulo contorcido distal: Possui uma porção em íntimo contato com a a. aferente (logo a seguir). • Ducto coletor: Não possui função de secreção ou reabsorção, apenas conduzir a urina para excretar. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Células justaglomerulares: São células especiais, modificadas da arteríola aferente, que fazem contato com a mácula densa. • Mácula densa: Porção do túbulo contorcido distal que faz íntimo contato com a arteríola aferente, tendo sua parede modificada. *O aparelho justaglomerular é o grande responsável pelo feedback tubuloglomerular, que induz a vasodi- latação ou a vasoconstrição da artéria aferente. ASPECTOS FISIOLÓGICOS PRINCÍPIOS BÁSICOS • Filtração glomerular: Formação do filtrado nos corpúsculos de Malpighi. A função renal é propor- cional à formação desse filtrado, e pode ser quantificada pela Taxa de Filtração Glomerular. • Reabsorção tubular: É por esse mecanismo que os rins “processam” e elaboram a urina, eliminando a quantidade necessária de água, eletrólitos, o próprio equilíbrio hidroeletrolítico é mantido por essa função. • Secreção tubular: Algumas substâncias como o potássio, hidrogênio e ácido úrico passam direto dos capilares para o túbulo (sem serem filtrados), sem a secreção não iríamos conseguir esse ajustes e depurar os elementos adequadamente. FILTRADO GLOMERULAR • Formado pela ação da pressão hidrostática no interior das alças capilares, em oposição a diver- sas outras forças (oncótica, pressão do líquido nos túbulos e do interstício renal) • Autorregulação da taxa de filtração glomerular: Diversos mecanismos usados pelo rim para manter a pressão constante nas alças glomerulares. • Autorregulação do fluxo sanguíneo renal: Se mantém pela adaptação do tônus da arteríola aferente (vasodilatação e constricção), consegue manter variações de pressão média de 80 mmHg até 200 mmHg. o Mecanismo: Receptores de estiramento presentes nos miócitos da arteríola aferen- te, respondendo a isso. AUTORREGULAÇÃO DA TFG: 4 MECANISMOS 1. Vasoconstição da arteríola eferente: Mais muscu- losa que a arteríola aferente, age em resposta à liberação sistêmica de angiotensina II, em situação de baixo fluxo renal, o que ativa o sistema renina- angiotensina-aldosterona. 2. Vasodilatação da arteríola aferente: Também mediado pelo hipofluxo, estimula a liberação de substâncias vasodilatadoras (PGE2, cininas e óxido nítrico), aumentando o fluxo e a pressão. 3. Feedback tubuloglomerular: As células da mácula densa estão em pleno contato com a arteríola aferente, sendo capaz de ajustar a filtração de acordo com a reabsorção de cloreto pelas células da mácula densa. Ou seja, quando passa pouco cloro, os rins entendem que estão filtrando pouco, gerando vasodilatação aferente e aumentando a filtração. Se passa muito NaCl, eles entendem que estão filtrando muito, fazendo vasoconstrição aferente. 4. Retenção hidrossalina e natriurese: Situações de baixa perfusão ativam o sistema renina-angiotensi- na-aldosterona, que age aumentando a reabsor- ção de sódio e água e excretando potássio, fazendo com que a TFG e o fluxo restaurem. Já em situação de alto fluxo, o organismo inibe o sistema renina e aumenta a liberação de Peptídeo Natriurético Atri- al (PNA), que induz a excreção de sódio e água. AÇÕES NO TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL (TCP) • O TCP é a draga do sistema tubular: Ele que absorve o grosso do filtrado(cerca de 65%), o que equivale a 90L/dia! • Reabsorção de sódio: É o principal eletrólito reabsorvido, esse transporte acontece de forma V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ativa, pela enzima NaK-ATPase presente na mem- brana basolateral das células tubulares. • A reabsorção de sódio tem que ser acompanhada pela reabsorção de ânions: Para manter o equilí- brio eletroquímico no lúmen tubular. o Bicarbonato (HCO3-): Principal ânion a ser reabsorvido na primeira porção do TCP. o Cloreto (Cl-): Principal ânion a ser reabsorvido na segunda porção do TCP. • Reabsorção de água: Por osmose! Passam pelos espaços intercelulares e levam consigo outros eletrólitos (convecção ou solvente drag), principal- mente o potássio, sódio e cloreto. • Reabsorção de solutos → Glicose, aminoácidos, fosfato e ácido úrico: Atrelada à reabsorção de sódio através de carreadores duplos. REABSORÇÃO DE BICARBONATO • Via indireta: A célula tubular não possui carreador específico pra ela. • Para entrar, precisa ser convertido em CO2 e água: Utilizando o H+ secretado no lúmen em troca de sódio, a enzima anidrase carbônica junta esses dois, formando ácido carbônico (H2CO3), que vai ser clivado em CO2 + H2O e reabsorvido. • Volta a ser bicarbonato na célula tubular: Pela ação da anidrase carbônica intracelular, que faz a reação inversa (da direita pra esquerda) abaixo. *A Acetazolamida (Diamox) tem seu efeito baseado na inibição da anidrase carbônica, inibindo a reabsorção de bicarbonato e sódio (ou seja, alcalinização urinária). AÇÕES NA ALÇA DE HENLE • Reabsorção de 25% de sódio filtrado • Controle da osmolaridade urinária: Através do mecanismo de contracorrente, que vai manter um interstício hiperosmolar e um fluido tubular hipo- osmolar. MECANISMO DE CONTRACORRENTE • O filtrado glomerular inicial será uma osmolarida- de semelhante ao do plasma: 300 mOsm/L. • A porção descendente é permeável à água e impermeável aos solutos: Promovendo aumento da tonicidade do fluido (1000 mOsm). • Na porção ascendente não há reabsorção de água e há reabsorção de solutos: Através do carreador Na-K-2Cl, que vai levar soluto pro interstício, fazen- do com que tenhamos uma urina hipo-osmolar (100 mOsm/L) e um interstício hiperosmolar. • Essa tonicidade é fundamental para o ADH diluir ou concentrar a urina: Uma medula renal hipotôni- ca vai inibir a ação do ADH, estimulando a diurese. *A inibição do carreador de Na-K-2Cl é o mecanismo de ação dos diuréticos de alça (Furosemida): Essa inibição acaba com o mecanismo de contracorrente e promoverá a diurese. AÇÕES NO TÚBULO CONTORCIDO DISTAL (TCD) • Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados • Carreador Na-Cl: Presente na membrana do TCD, é nesse carreador que agem os diuréticos tiazídicos. • É no TCD que está a mácula densa: Sendo ele responsável pelo feedback tubuloglomerular. • É o principal sítio de reabsorção tubular de cálcio: Mediado pelo PTH. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O AÇÕES NO TÚBULO COLETOR (TC) • Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados • O néfron distal (TCD + TC) é responsável pelos ajustes finos na reabsorção e secreção: Essa área responde à ação de vários hormônios reguladores. • Duas porções → Cortical e Medular: A porção cortical é responsiva à aldosterona! MECANISMO DA ALDOSTERONA (PORÇÃO CORTICAL) • Reabsorção de sódio eletrogênica: Diferente de todas, nessa porção o sódio é reabsorvido sem um ânion o acompanhando, gerando um potencial negativo intraluminal que atrai K+ e H+. o Célula principal: É o nome dado à célula tubular responsiva à aldosterona. o Célula intercalada: Ao lado da célula prin- cipal, é encarregada da secreção de H+. • A aldosterona estimula a célula principal: O que aumenta a expressão de NaK-ATPase da membra- na basolateral, aumentando K+ no interior da célu- la, estimula também os canais de Na+ e K+ da membrana luminal, aumentando a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ pela célula principal. • Secreção de H+ na célula intercalada: Via um carreador H+-ATPase, secretando hidrogênio contra um amplo gradiente de concentração. Essa enzima consegue acidificar a urina até 4,5 (pH). INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE • As acidoses metabólicas cursam classicamente com hipercalemia: Por aumento na reabsorção desse eletrólito. Regra geral: A cada 0,1 de pH que cai, deve-se esperar um aumento de 0,5 mEq de potássio no sangue. • Qual a principal alteração ácido-básica da hiper- tensão renovascular? Alcalose metabólica hipoca- lêmica! (Aumento do SRAA) • Qual a principal alteração ácido-base do hipoal- dosteronismo primário: Ácidose metabólica hiper- calêmica! (Inibição do SRAA) • Qual um possível efeito adverso ácido-base do Captopril (IECA)? Acidose metabólica hipercalê- mia também, por inibição do SRAA. AÇÕES DA PORÇÃO MEDULAR (ADH) • Interstício medular hiperosmolar: Pela ação da N- K-2Cl, que vimos anteriormente (1.200 mOsm). • O ADH aumenta a permeabilidade à água nesse segmento: Aumentando a expressão de aquapori- nas, a água sai do menos concentrado para o mais. ASPECTOS PATOLÓGICOS DOENÇAS RENAIS COSTUMAM SER CLASSIFICADAS DE ACORDO COM OS SEUS “ALVOS” PRIMÁRIOS 1. Glomérulos 2. Túbulos e interstício 3. Vasos sanguíneos 4. Sistema uroexcretor *Apesar disso, todas as formas de doença renal crônica levam a um denominador comum, que é o estado de “rim terminal”. PONTOS IMPORTANTES DAS PATOLOGIAS RENAIS • DRC costumam apresentar rins com tamanho reduzido: Com exceção da doença renal policística, diabetes mellitus, amiloidose, anemia falciforme, nefropatia obstrutiva, esclerodermia e HIV. • A presença de necrose de papila limita o diagnós- tico a cinco doenças principais: Diabetes mellitus, nefropatia obstrutiva, pielonefrite, anemia falcifor- me e nefropatia analgésica. • A presença de deformidade calicial (cicatrizes fi- bróticas) quase sempre indica pielonefrite crônica
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