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Gestão de áreas degradadas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Bianca Mayumi Silva Kida Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos O Solo 5 • Introdução • Formação dos solos • Propriedades do solo • Sistemas de classificação de solos • Aplicações dos conhecimentos de estudos do solo em Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) Os objetivos desta unidade são: · Apresentar o estudo do solo de forma que o aluno tenha conhecimento para embasar os estudos e projetos de recuperação de áreas degradadas; · Ampliar a visão do aluno quanto à complexidade do solo, composição, estrutura e importância em se conhecer as suas características para os projetos de recuperação de áreas degradadas; · Introduzir as características do solo, tais como a sua composição, formação e estrutura; · Relacionar o estudo do solo com a multidisciplinaridade dos projetos de Recuperação de Áreas Degradadas; · Apresentar, de forma geral, a dinâmica do solo, para instigar o aluno a buscar mais informações sobre o assunto em questão. Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, veremos as características do solo quanto à sua formação, composição e estrutura e, assim, as suas características físicas, químicas e biológicas. Esse é um assunto complexo e que exigirá empenho e atenção, pois o conhecimento da dinâmica do solo é essencial para a aplicação em um projeto de Recuperação de Áreas Degradadas, e permite que o projeto seja desenvolvido de forma segura e com menos custos. Portanto, os conhecimentos básicos se tornam indispensáveis para um projeto multidisciplinar como o de gestão de áreas degradadas. Não deixe de explorar os outros materiais, pesquise e busque saber mais, pois esse assunto é muito importante para as próximas unidades. Bons estudos! O Solo 6 Unidade: O Solo Contextualização Com base nos estudos que estamos acompanhando, a degradação dos solos é um problema recorrente e crítico na sociedade atual, e a sua recuperação é um processo lento, que exige empenho e dedicação daqueles que dele participam, assim como investimentos de tempo e dinheiro. Ao analisar os fatores de degradação dos solos, podemos perceber que esse problema atinge não só o solo em si, mas gera consequências drásticas no clima, perda de diversidade biológica e produtividade, por exemplo. Assim, nota-se que o solo não é um sistema isolado, e que qualquer alteração pode gerar grandes mudanças na dinâmica dos ecossistemas e dos organismos. Visto que o solo representa tal importância para a preservação ambiental, o seu conhecimento detalhado é essencial para que haja a preservação, assim como a remediação de forma eficaz e correta. Em vista disso, a gestão de áreas degradadas é complexa e exige a colaboração de especialistas das mais diversas áreas a fim de garantir a integridade dos solos. Logo, conhecimentos sobre a formação, composição, estrutura e dinâmica do solo são necessários para os profissionais que contribuem para um projeto de recuperação de áreas degradadas, tornando-o um profissional preparado para colaborar e discutir com as mais diversas áreas de atuação que têm o mesmo objetivo de restabelecer um solo degradado e torná-lo produtivo novamente. Vamos pensar sobre algumas questões antes de iniciar a unidade: como os solos são formados? O que compõe um solo? Toda degradação causa o mesmo efeito, independente do tipo de solo? Todo processo de recuperação é igual, independente do solo? 7 Introdução O solo é definido como uma camada fina logo acima das rochas e é constituído por vários tipos de minerais que se formaram com o intemperismo. Seus principais compostos são minerais (areia, argila e minerais), matéria orgânica (fertilidade do solo), água (dissolução dos nutrientes) e ar (trocas gasosas). Glossário Intemperismo: alterações físicas e químicas a que estão sujeitas as rochas na superfície da Terra. Esse fenômeno é de grande importância para a formação e constante mudança no relevo terrestre, junto com a erosão, além de ser muito importante na formação dos solos. Os solos apresentam diversas funções estruturais, como suporte físico dos ecossistemas, e constitui diversas funcionalidades ecológicas, como a produção biológica e a regulação do ciclo hidrológico de superfície. Além disso, constituem um importante meio fixador de carbono e depurador de efluentes, minimizando possíveis impactos ambientais (Tavares, 2008), embora essa sua capacidade esteja diminuindo devido a inúmeros fatores de degradação. Dias e Griffith (1998) definem a qualidade de um solo como a sua capacidade de manter o crescimento vegetal, o que inclui fatores como conteúdo de matéria orgânica, profundidade, capacidade de retenção de água, taxa de infiltração, capacidade tampão de pH, disponibilidade de nutrientes, entre outros fatores essenciais para o sucesso biológico vegetal dos solos e para manter a sua integridade de forma geral. A formação dos solos ou a gênese dos solos decorre de processos físicos, químicos e biológicos que transformam os materiais de origem e recebe o nome de pedogênese, palavra de origem grega que significa criação ou formação dos solos. 8 Unidade: O Solo Formação dos solos Ao estudar os fatores ambientais que condicionam a formação dos solos, Jenny (1941) postulou que a formação dos solos ocorre em função de cinco fatores principais: clima, organismos, relevo, material de origem e tempo. A seguir falaremos um pouco mais sobre eles. O clima é um dos fatores que mais exerce influência na formação dos solos, pois este condiciona os fluxos de energia e matéria necessários para os processos intempéricos e pedogenéticos que ocorrem na formação dos solos. Os fatores do clima que influenciam sobre o solo são: radiação solar, pluviosidade e pressão atmosférica. Você sabia? Os solos de regiões onde o clima apresenta temperaturas médias mais elevadas e alta pluviosidade tendem a ter maior evolução pedogenética em comparação com os solos de regiões onde o clima apresenta baixa umidade, pois quanto maior a quantidade de água, mais completo é o processo de intemperismo, seja ele físico ou químico. Os organismos vivos também têm grande importância na formação dos solos, principalmente pelos processos de adição de compostos orgânicos. São representados pela micro e macro fauna e micro e macro flora, além do homem, e são responsáveis pelos processos de complexação de compostos químicos, além do metabolismo desses organismos atuarem sobre as condições químicas da fase edáfica, ou seja, conjuntos de organismos que dependem diretamente do solo e colaboram para a decomposição e mineralização da matéria orgânica, assim como na reciclagem de nutrientes e na composição do ar do solo (Oliveira et al, 1992). Já o relevo é considerado um fator de controle, pois sua ação se reflete sobre a dinâmica da água, tanto no sentido de infiltração e percolação dentro do perfil de solo quanto no controle da erosão. Está intimamente relacionado com a composição do solo e, de forma pontual, o relevo também exerce forte influência no clima, atuando sobre a temperatura e regime pluviométrico de uma determinada região (Tavares, 2008). Já o material de origem é o material intemperizado, de natureza mineral ou orgânica que deu origem aos solos por processos pedogenéticos. Este é responsável por determinar a morfologia dos solos, a partir da textura, a cor e os constituintes minerais de um solo, que veremos com mais detalhes adiante. O tempo, no sentido de duração cronológica, também pode atuar na formação dos solos, uma vez que este atua em conjunto com os demais fatores, e por ser um processo lento, é um fator passivo essencial para a formação dos solos. Portanto, o processo de formação dos solos é uma ação integrada de todos os fatores supramencionados, que devem ser considerados de uma forma relacionada e são responsáveis pela diferenciação dos solos, assim como seus horizontes, que apresentam características morfológicas distintas,das quais falaremos a seguir. É muito importante que esses processos sejam entendidos, pois, ao entender a dinâmica do solo, o processo de Recuperação de Áreas Degradadas se torna mais completo e efetivo. 9 Portanto, os solos constituem sistemas físicos que apresentam três fases distintas: uma fase sólida, composta de material mineral e orgânico; uma fase líquida, que se refere à água do solo ou solução do solo; e uma fase gasosa, que compõe o ar do solo (Tavares, 2008). A fase sólida formada de matéria inorgânica e orgânica é chamada de matriz do solo. A porção mineral do solo é constituída de partículas de dimensões variadas chamadas de frações granulométricas, resultantes da desagregação e da decomposição das rochas que deram origem ao solo. Essas partículas inorgânicas possuem natureza mineralógica diversa, e dependendo da resistência ao intemperismo, são encontradas em maiores ou menores proporções. Já a matéria orgânica tem sua origem, principalmente, no acúmulo dos resíduos vegetais em diferentes estágios de decomposição. A decomposição desses resíduos depende de alguns fatores, como natureza dos compostos orgânicos, condições climáticas, aeração e drenagem dos solos, e organismos vivos para que haja a formação de material humificado (ácidos húmicos, fúlvicos, hêmicos) e turfoso. Quanto à sua composição, os solos são basicamente formados por areia, argila e silte (Tavares, 2008). O arranjo tridimensional da matriz do solo resultante das diferentes frações granulométricas gera os espaços porosos, que em função de suas dimensões são chamados de micro e macroporosidade, ocupados pela água e/ou ar (Figura 1). O componente líquido, que é a água ou solução do solo, contém gases e sais solúveis em dissolução, cuja concentração e composição química, em um mesmo solo, variam com as estações do ano, presença ou tipo de vegetação e organismos (Kiehl, 1979). Figura 1 – Porosidade do solo Você já reparou que quando se observa um solo, este é formado por diferentes camadas com características distintas? Segundo Tavares (2008), perfil do solo é a Seção vertical que, partindo da superfície, aprofunda-se até o contato lítico ou rocha intemperizada, mostrando uma série de subseções dispostas paralelamente à superfície do terreno, chamadas de horizontes pedogenéticos que possuem atributos morfológicos resultantes dos efeitos combinados dos processos de formação do solo. 10 Unidade: O Solo Portanto, os horizontes ou camadas são definidos com uma seção horizontal e paralela ao perfil do solo, individualizadas de acordo com as variações morfológicas (cor, estrutura, textura, consistência). As camadas, então, são divididas nas seguintes denominações (Figura 2): Figura 2 – Perfil do solo com características dos horizontes O Horizonte ou camada orgânica superficial, constituída por resíduos vegetais e substâncias húmicas acumuladas na superfície; A Horizonte mineral superficial onde ocorre grande atividade biológica e grande quantidade de matéria orgânica, conferindo a essa camada uma coloração escurecida; B Horizonte de maior desenvolvimento pedogenético com maior concentração de compostos de ferro e argilo-minerais e menor quantidade de matéria orgânica; C Horizonte mineral com material inconsolidado, ou seja, pouco afetado por processos pedogenéticos e com características morfológicas herdadas do material de origem; R Camada mineral de material consolidado, constituído pela rocha-mãe que deu origem ao solo. 11 Propriedades do solo Cor O solo pode ser considerado uma mistura de partículas minerais e orgânicas que parcialmente absorvem e dispersam a luz incidente. A cor apresenta grande importância na caracterização e diferenciação do solo pela facilidade na sua identificação. A cor constitui um atributo que é referência obrigatória para a descrição morfológica dos perfis de solo nos vários sistemas de classificação (Barrón; Torrent, 1986). Além de ser um atributo de fácil percepção, a cor se relaciona com a maioria das características mineralógicas, físicas e químicas do solo, permitindo estabelecer inferências a respeito da natureza constitutiva do solo ou sobre as condições químicas as quais os constituintes estiveram ou ainda estão submetidos (Tavares, 2008). Por exemplo, as cores marrom, vermelha ou amarela dos perfis dos solos bem drenados são resultados da presença de óxidos de ferro, em maior ou menor intensidade, ou expressa a combinação desses minerais presentes no material constitutivo dos solos, e essa informação permite estimar a quantidade desses óxidos no solo, assim como outras informações sobre as propriedades do solo (Figura 3) (Cornell; Schwertmann, 1996). Figura 3 – Diferentes cores do solo em diferentes camadas Fonte: marianaideiasforadacaixa.files.wordpress.com 12 Unidade: O Solo Textura O solo é constituído de partículas minerais de diferentes tamanhos. A textura, então, consiste na proporção relativa das frações granulométricas existentes em um solo, ou seja, o quanto se tem de areia, silte e argila em uma amostra de solo, classificando o solo quanto à proporção desses componentes, o que determina, então, um solo argiloso, quando este apresenta uma maior proporção de argila; um solo arenoso, com grandes quantidades de areia; um solo siltoso, com altas concentrações de silte; e assim por diante. A textura é um dos atributos físicos mais importantes do solo, pois possui a capacidade de influenciar na maioria dos atributos e propriedades físicas e químicas de um solo, e assim no comportamento do solo a partir da associação com teores de matéria orgânica e composição mineralógica, uma vez que este sofre poucas alterações ao longo do tempo, salvo quando há interferências antrópicas (Tavares, 2008). De um modo geral, solos arenosos são considerados mais leves para o preparo de solo, apresentam baixa capacidade de retenção de água, são bem drenados e apresentam elevada susceptibilidade à erosão (Figura 4). Já os argilosos, apresentam propriedades opostas, pois são considerados mais pesados para o preparo de solo, apresentam elevada retenção de água e baixa susceptibilidade à erosão (Figura 5). E os solos siltosos são formados principalmente por silte, e este é um pó semelhante à argila, no entanto não apresenta uma coesão apreciável, tornando os solos siltosos sujeitos à erosão e desagregação natural, o que requer cuidado e manutenção constante desse tipo de solo (Figura 6). Figura 4 – Solo arenoso Fonte: Nair Helena de C. Arriel Figura 5 – Solo argiloso Fonte: ARSantos Figura 6 – Solo siltoso Fonte: cprm.gov.br 13 Cerosidade A cerosidade (Figura 7) é uma característica morfológica que é usada como critério diagnóstico para caracterizar um mecanismo de formação de solos conhecido como eluviação-iluviação, que constitui na translocação de material coloidal suspenso de um horizonte a outro. Esse processo confere às unidades estruturais um brilho ceroso, justificando o nome de cerosidade, e se apresenta tanto mais evidente quanto mais intenso for o processo de translocação de material coloidal revestindo as estruturas ou partículas. Porosidade A definição da porosidade total é dada pela proporção percentual de poros em relação ao volume de solo. As proporções de micro e macroporos definem a microporosidade e macroporosidade, causadas pela interação da matriz sólida e das fases líquida e gasosa do solo, o que compreende a formação desses poros. O conhecimento das proporções de micro e macroporosidade de um solo são de fundamental relevância para a compreensão do comportamento físico-hídrico do solo e as suas condições edáficas para o desenvolvimento ideal dos vegetais (Tavares, 2008). Densidade do solo A densidade do solo considera a relação entre a massa e o volume real, considerando os volumes da matriz sólida e da porosidade total. Em outras palavras, é a densidade de uma amostra de solo onde se preserva a estrutura e a porosidade real do solo (Tavares, 2008). A densidadedo solo constitui um atributo significativamente instável, dependente do grau de compactação e de desestruturação causado pelo manejo do solo relacionado ao sistema de cultivo empregado (Kiehl, 1979). Consistência A consistência ocorre por atuação das forças de adesão e coesão entre as partículas do solo, que variam com o grau de umidade do solo. A avaliação da consistência do solo é importante na descrição dos perfis de solo, indicando as condições adequadas de manejo do solo, assim como a vulnerabilidade à erosão e movimento de massa (Tavares, 2008). Figura 7 – Superfície alisada e lustrosa, caracterizada pela cerosidade Fonte: agencia.cnptia.embrapa.br 14 Unidade: O Solo Retenção de água no solo A retenção de água está ligada à capacidade do solo em reter a água, podendo ser influenciada principalmente pela textura e estrutura do solo. O solo com matéria orgânica apresenta elevada capacidade de retenção de água. Solos compactados retêm água com mais energia, com baixa drenagem e em menor quantidade que solos com estrutura natural. Para o entendimento do desenvolvimento das plantas nos solos, é necessário compreender alguns conceitos de retenção de água nos solos, como Capacidade de Campo (CC), Ponto de Murcha Permanente (PM) e Água Disponível (AD). A capacidade de campo é a quantidade de água retida pelo solo após a drenagem ter ocorrido ou cessado em um solo previamente saturado por chuva ou irrigação. O ponto de murcha permanente é o ponto em que a água está retida com elevada energia que a planta não consegue absorver e perde sua turgidez, ou seja, murcha. E a água disponível é a água retida entre a capacidade de campo e ponto de murchamento (Tavares, 2008). A determinação da retenção de água no solo é importante para a irrigação e na determinação da lâmina de água, uma vez que solos com baixa retenção de água vão necessitar de uma lâmina maior de água ou irrigações mais frequentes que solos com alta retenção de água. Nesta figura podemos observar a diferença da retenção de água e infiltração de um solo compactado para um solo descompactado, indicando a diferença de volume de água necessário para que haja a infiltração de água no solo (Figura 8): Figura 8 – Esquema da capacidade de infiltração e retenção de água de um solo descompactado e compactado Fonte: bibocaambiental.blogspot.com.br 15 Componentes minerais dos solos A composição mineralógica do solo constitui um atributo fundamental que influencia a maioria dos fenômenos físicos e químicos que ocorrem no solo. Sendo assim, a composição mineralógica do solo possibilita o entendimento da evolução pedogenética e da morfologia, uma vez que os minerais são indicadores dos processos de intemperismo e pedogênese que atuam para a formação das paisagens atuais (Coelho; Vidal-Torrado, 2003). Compreendendo vários minerais, os óxidos de Fe constituem minerais secundários de grande importância na formação pedogenética dos solos tropicais (Pombo et al, 1982). Mesmo em concentrações baixas no solo, os óxidos de Fe podem influenciar, de forma significativa, muitas propriedades e atributos físico-químicos dos solos. Esses minerais têm alto poder de pigmentação, influenciando na coloração dos solos. Típicas dos solos brasileiros, as cores vermelhas, amareladas e intermediárias se devem principalmente à presença desses minerais (Tavares, 2008). A goethita, um mineral de óxido de ferro, ocorre em quase todos os tipos de solos e regiões climáticas e é responsável pela cor amarelada dos solos. Em solos avermelhados, a goethita, normalmente, encontra-se associada à hematita, que é o segundo óxido de ferro mais abundante nos solos. Portanto, podemos considerar que a cor do solo constitui um indicador importante da constituição mineralógica desses solos (Fontes, 2002). Outros minerais secundários de grande importância são os óxidos de alumínio, como a gibsita (Al2O3 . 3H2O), cuja ocorrência natural nos solos reflete processos de intensa intemperização, originando solos ácidos, formados em clima quente e úmido com alta precipitação e boa drenagem. (Tavares, 2008). Componentes orgânicos dos solos São aqueles constituídos por materiais orgânicos, originários de resíduos vegetais em diferentes estágios de decomposição, fragmentos de carvão, substâncias húmicas, biomassa meso e microbiana, entre outros compostos orgânicos naturalmente presentes no solo, associados ao material mineral em proporções variáveis (Tavares, 2008). O conteúdo de matéria orgânica depende não só do aporte e natureza da matéria orgânica, mas também de diversas condições ambientais, como o clima e as características físico-químicas dos solos. Do ponto de vista do manejo e fertilidade do solo, a matéria orgânica e os coloides orgânicos dos solos são de imensa importância para inúmeras propriedades dos solos, como: a estabilidade de agregados e estrutura do solo, retenção de água, reciclagem de nutrientes, dentre outras (Tavares, 2008). 16 Unidade: O Solo Sistemas de classificação de solos Por isso a classificação pedológica é realizada a partir da aquisição dos dados morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos do perfil do solo. Além disso, os aspectos ambientais, como local do perfil, clima, vegetação, relevo, material de origem, condições hídricas e relações solo- paisagem, também são importantes. A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo desenvolveu um sistema de classificação dos solos brasileiros, os quais se diferenciam quanto a características pedológicas e sua composição, que caracterizam os diferentes solos brasileiros. Portanto, seguem as principais características desses solos, segundo Silva et al (2005): Argissolos Solos bem desenvolvidos, e se diferenciam dos latossolos por apresentar um gradiente de textura em profundidade como consequência de acúmulo de argila nos horizontes superiores. Geralmente são profundos, mas em regiões semiáridas podem se apresentar rasos e poucos profundos, facilitando o processo de erosão (Figura 9). Figura 9 – Perfil de argissolo Fonte: Tony Jarbas F. Cunha, 2010 Cambissolos São solos poucos desenvolvidos, com horizontes ainda em formação, e podem ser rasos até profundos. Diferenciam-se dos latossolos, pois não apresentam materiais primários em sua composição. Quanto à sua textura, não apresentam distinção entre os horizontes A e B, distinguindo-se, então, dos argissolos, e têm como característica textura de média a argilosa (Figura 10). Figura 10 – Perfil de cambissolo Fonte: geografia.seed.pr.gov.br 17 Latossolos Apresentam coloração avermelhada, alaranjada ou amarelada, são muito profundos, porosos, de textura variável, com argila de atividade baixa, fortemente intemperizados, e devido a isso apresentam uma morfologia muito uniforme ao longo do perfil. São pobres em nutrientes e susceptíveis ao endurecimento. Figura 11 – Perfil de latossolo Fonte: plantiodireto.com.br Você sabia? Os latossolos são os solos predominantes no Brasil e representam cerca 300 milhões de hectares no território. Luvissolos Solos minerais pouco profundos, com argila de atividade alta, com horizonte A de consistência dura a muito dura quando secos, seguida por um horizonte B pouco espesso realçado pela cor vermelha, geralmente com mudança textural abrupta (entre o horizonte A e o B). São solos que apresentam uma tendência muito forte à erosão e ocorrência de forte pedregosidade na superfície. Figura 12 – Perfil de luvissolo Fonte: pedologiafacil.com.br 18 Unidade: O Solo Neossolos Solos constituídos por material mineral ou orgânico pouco espesso, cerca de 50 cm, com pequena expressão dos processos pedogenéticos que não causaram uma modificação expressiva do material de origem, seja pela resistência ao intemperismo, seja pela composição química ou do relevo, que podem limitar a evolução desse tipo de solo. Figura 13 – Perfil de neossolo litólico Fonte: agencia.cnptia.embrapa.br Planossolos Solos minerais hidromórficosou não, com mudança textural abrupta, sendo que o horizonte A de textura arenosa ou média está sobre um horizonte B de textura argilosa. A mudança textural abrupta é de tal forma marcante que se forma, no solo seco, uma superfície dita de fraturamento entre o horizonte B e o A. Figura 14 – Perfil de planossolo Fonte: colecaomateusrosas.com.br 19 Plintossolos Solos minerais hidromórficos ou com séria restrição à percolação de água. Apresentam horizonte plíntico, ou seja com a presença do mineral plintita, dentro dos 40 cm ou a maiores profundidades quando subsequente a outros horizontes. Além disso, são fortemente ácidos. Figura 15 – Perfil de plintossolo Fonte: colecaomateusrosas.com.br Vertissolos Solos que apresentam a coloração cinza escuro, preto ou marrom, são argilosos a muito argilosos, com elevado teor de argilas do tipo 2:1, que se caracterizam por provocarem expansões e contrações, respectivamente quando úmidos e secos. Em consequência da contração das argilas na estação seca, a superfície desses solos apresenta uma grande quantidade de fendilhamentos, o que se torna uma característica desse tipo de solo. Figura 16 – Perfil de vertissolo Fonte: Sebastião Calderano/Acervo da Embrapa Solos Atenção Pesquise mais sobre os tipos de solos. Este link traz de forma detalhada as características dos diferentes tipos de solo: http://www.agrolink.com.br/downloads/sistema-brasileiro-de-classificacao-dos-solos2006.pdf 20 Unidade: O Solo Aplicações dos conhecimentos de estudos do solo em Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) Diante do exposto nesta unidade, todos os fatores referentes ao solo são muito importantes e essenciais no momento de tomar decisão na hora de analisar um solo degradado. O solo é dinâmico e varia de acordo com o clima, o relevo, o material de origem, tempo, e organismos que habitam o local. Portanto, os danos que ocorrem são particulares de cada tipo de solo; logo, o processo de recuperação tem que ser bem analisado e aplicado de acordo com as necessidades do local. Por exemplo, fatores como porosidade e densidade do solo são parâmetros que controlam as relações volumétricas entre as fases, água e ar, e indicam as condições para o desenvolvimento e penetração das raízes, servindo de orientação para o manejo do solo. Uma vez que os valores de densidade do solo se encontram elevados, isso pode causar um impedimento mecânico para o crescimento de raízes e, consequentemente, para o desenvolvimento das plantas. Além disso, o conhecimento de física do solo pode ser usado para verificar o momento adequado em função do teor de água para o preparo do solo, evitando, assim, a degradação da sua estrutura. Sendo assim, essa informação se torna muito importante na seleção de espécies para recuperação de áreas degradadas, que são específicas para cada tipo de solo e se adaptam às condições impostas pelo solo. Uma análise detalhada de alguns fatores como espécies de plantas, tipo de solo, tipo de relevo, clima da região se faz necessária para um projeto de RAD, entre outras que serão discutidas na próxima unidade. Projetos de Recuperação A partir do tipo de degradação do solo, soluções serão analisadas a partir de um diagnóstico. Com isso, serão tomadas as decisões adequadas para a recuperação do local, que envolve alguns tópicos, como: a definição do momento adequado de umidade do solo ou substrato para o preparo do plantio de mudas; a seleção de espécies vegetais para um reflorestamento; o manejo e manutenção do solo; entre outros. O ideal de todo esse processo seria que o uso do solo fosse sustentável, como, por exemplo, cultivo alternado, policultura, que impedisse o uso exploratório das terras e assim estivesse voltado à sua conservação. Isso, além de preservar o ambiente, geraria menos custos econômicos e despenderia menos mão de obra e tempo. 21 A Geomorfologia em RAD O estudo do solo, como já dito, é complexo e engloba diversas áreas para uma ação eficaz de recuperação. Sendo assim, a Geomorfologia complementa os estudos pedológicos e inclui o estudo do relevo, que “constituem os pisos sobre os quais se fixam as populações humanas e são desenvolvidas suas atividades derivando daí valores econômicos e sociais que lhe são atribuídos” (Marques, 2001). Glossário Geomorfologia: área que estuda as formas da superfície terrestre, determinando os aspectos morfológicos, cronológicos, genéticos e dinâmicos do relevo atual e na sua formação. Segundo Araújo et al (2009), “a Geomorfologia, juntamente com a Pedologia, têm um papel importante no diagnóstico de áreas degradadas, pois todas, ou quase todas, as atividades que os seres humanos desenvolvem na superfície terrestre estão sob alguma forma de relevo ou algum tipo de solo”. Portanto, o conhecimento em conjunto dessas duas áreas permite não só diagnosticar danos ambientais, mas também utilizar esses conhecimentos no prognóstico desses processos, assim como tornar o processo de recuperação mais efetivo, vista a extensão de conhecimentos da área em estudo. No estudo de formas e dos processos associados, devem ser levados em conta também os materiais que constituem tais formas de relevo e que são trabalhados pela ação dos processos geomorfológicos, de forma que a Geomorfologia contribui em projetos de recuperação de áreas degradadas, através da atuação de grupos interdisciplinares, em que o geomorfólogo possa contribuir com conhecimentos na área de relevo, solo e hidrologia sobre o terreno onde a obra será realizada, evitando maiores custos à obra e para garantir o sucesso do projeto. Portanto, diante de tudo que foi visto nesta unidade, podemos embasar os estudos de recuperação de áreas degradadas de forma específica, com dados que são importantes para a elaboração de um projeto, que será discutido nas próximas unidades. Não se esqueça de conferir o material complementar e as atividades. 22 Unidade: O Solo Material Complementar Vídeos: Earth Revealed – Weathering and soils (Intemperismo e solos (Pedologia)) – Produzido e dirigido por Robert Lattanzio. Escrito por David Stansfield. https://www.youtube.com/watch?v=nyl0z_1Xbo4 Acesso em: 27 jul. 2015. Em inglês. Conhecendo o solo. Realização da TV Paulo Freire em colaboração com o Programa Solo na Escola/ UFPR. https://www.youtube.com/watch?v=E-xUoRqi7eQ Acesso em: 27 jul. 2015. Vídeo educacional sobre o solo. http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/swf/solo/3_1/01_erosao.swf Acesso em: 27 jul. 2015. Sites: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. http://www.sbcs.org.br/?post_type=noticia_geral&p=3810 Acesso em: 27 jul. 2015. Carta de Brasília da Conferência sobre Governança do Solo. http://www.governancadosolo.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24C00AE30014C5BEAAA3D64FE 23 Referências Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Disponível em: <http://www.agencia. cnptia.embrapa.br/>. Acesso em: 15 jun. 2015. Araújo, G. H. S., Almeida, J. R., Guerra, A. J. T. Gestão ambiental de áreas degradadas. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 320 p. Coelho, M. R., Vidal-Torrado, P. Caracterização e gênese de perfis plínticos desenvolvidos de arenito do Grupo Bauru. II - Mineralogia. Revista Brasileira de Ciências do Solo, 27: 495 – 507, 2003. Cornell, R. M., Schwertmann, U. The iron oxides: structure, properties, reactions, occurrence and uses. Weinheim, VCH, 1996. 573 p. Dias, L. E., GRIFFITH, J. J. Conceituação e caracterização de áreas degradadas. In: Dias, L. E., Mello, J. W. Recuperação de Áreas Degradadas. SOBRADE/FINEP, Viçosa, MG., 1 – 7, 1998. Fontes, M. P. F. Mineralogia do solo (versão resumida). Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa, 2002. Não paginado. Jenny, H. Factors of soil formation, a system of quantitative pedology. McGraw - Hill: New York, 1941. 281 p. Kiehl, E. J. Manual de edafologia. São Paulo: Agronômica Ceres, 1979. 262 p. Marques, J. S. Ciência geomorfológica. In: Geomorfologia – Uma atualização de bases e conceitos.Guerra, A. J. T., Cunha, S. B. (orgs.). Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2001. 4. ed., 24 - 50. Oliveira, J. B., Jacomine, P. K. T., Camargo, M. N. Classes gerais de solos do Brasil: guia auxiliar para o seu reconhecimento. Jaboticabal, SP. 2. ed., Jaboticabal, FUNEP, 1992. 201 p. Pombo, L. C. A., Klamt, E., Kunrath, L., Gianluppi, D. I. Identificação de óxidos de ferro na fração argila de latossolo roxo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 6, n. l, 1982, 12 - 18. Tavares, S. R. L. 2008. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da Ciência do solo no contexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monitoramento e estratégias de recuperação. Rio de Janeiro: Embrapa Solo, 2008. 228 p. 24 Unidade: O Solo Anotações
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