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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E JURÍDICAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO A Economia Solidária: como resposta ao desemprego BOA VISTA 2008 2 ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO A Economia Solidária: como resposta ao desemprego Monografia apresentada à coordenação do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Economia. Orientador: Prof. Dr. Genival Ferreira. BOA VISTA 2008 3 ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO A Economia Solidária: como resposta ao desemprego Monografia apresentada à coordenação do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Economia. BANCA EXAMINADORA _____________________________ Prof. Dr. Genival Ferreira 1º Examinador _____________________________ Prof. Esp. Romanul de Souza Bispo 2º Examinador ________________________________ Prof. Msc Ana Zuleide Barroso da Silva 3º Examinador 4 Dedico primeiramente a Deus que me ajudou na realização deste trabalho e também aos meus pais pela dedicação e apoio que sempre me deram em relação aos meus estudos. 5 AGRADECIMENTOS Em especial ao Professor Genival Ferreira, pelo interesse e dedicação que mostrou na execução deste trabalho. Aos meus pais pelo incentivo e apoio na elaboração deste projeto. Ao amigo Alexandre Bruno pela ajuda e suporte técnico no desenvolvimento deste trabalho. 6 “O temor do Senhor é o principio da sabedoria.” Pv. 9:10 7 RESUMO Esta monografia foi elaborada com a perspectiva de compreender o fenômeno da economia solidária que esta acontecendo nos mais variados níveis: local, nacional e mundial. O presente trabalho se desenvolve analisando a economia solidária em seu desenvolvimento no Brasil, e a importância das instituições para o seu desenvolvimento, além de identificar algumas diferenças da economia solidária e da capitalista. Apresenta a sua relevância na questão do desemprego. Os Empreendimentos de Economia Solidária caracterizam-se como um conjunto de empreendimentos produtivos organizados de maneira coletiva e autogestionária, que apresentam o cooperativismo como modelo de organização democrática e igualitária, remunerando o trabalhado de forma privilegiada em relação ao capital, seja no campo ou na cidade. Palavras-chave: economia solidária, autogestão. 8 ABSTRACT This monograph was elaborated with the perspective of understanding the phenomenon of the solidarity economy that this happening in the most varied levels: place, national and world.O present work if it develops analyzing the solidarity economy in his/her development in Brazil, and the importance of the institutions for his/her development, besides identifying some differences of the solidary economy and of the capitalist. It presents his/her relevance in the subject of the unemployment. The Enterprises of Solidarity Economy are characterized as a group of organized productive enterprises in a collective way and autogestionária, that present the cooperativismo as model of democratic and equalitarian organization, remunerating him/it worked in privileged way in relation to the capital, be in the field or in the city. Word-key: solidarity economy, self-management. . 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................10 1. CONHECENDO A ECONOMIA SOLIDARIA 1.1 Histórico da Economia.....................................................................................12 1.2 Conceito...........................................................................................................15 1.3 Princípios da Economia Solidária....................................................................20 1.4 Economia Solidária no Brasil..........................................................................22 1.5 Entidades de Fomento a Economia Solidária..................................................26 1.5.1 ANTEG....................................................................................................27 1.5.2 SENAES.................................................................................................28 1.5.3 ITCPs......................................................................................................29 1.5.4 ADS........................................................................................................30 1.5.5 FETRABALHO .......................................................................................31 1.6 As dificuldades da Economia Solidária............................................................31 1.7 Economia Solidária a partir da falência ou crise de empregos........................35 2. ECONOMIA SOLIDARIA COMO RESPOSTA AO DESEMPREGO 2.1. Desemprego no Brasil.....................................................................................38 2.2. As possíveis soluções para o desemprego.....................................................41 2.3.Economia Solidária no combate ao desemprego.............................................43 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................51 10 INTRODUÇÃO O desemprego atualmente tem sido um dos principais problemas enfrentados pela população. É crescente o numero de pessoas que não conseguem inserir-se no mercado de trabalho. O desemprego é um fenômeno fortemente relacionado à organização mundial da economia, e que atinge diversos países de forma interligada, interferindo na vida de milhões de trabalhadores. A oferta de postos de trabalho está ligada ao processo de globalização econômica, à inserção de novas tecnologias produtivas, à disputa de mercados pelo capital internacional e à transferência das empresas para regiões nas qual o valor dos impostos é menor, diminuindo assim, os custos de produção. A revolução industrial e o surgimento da globalização causaram efeitos fortes e longos acentuando o desemprego e provocando o aumento da exclusão social. A extinção de postos de trabalho ou o baixo poder de criação de postos significam subtração de poder de compra e piora distributiva. Os trabalhadores substituídos por máquinas ficam sem trabalho e, portanto, reduz de forma intensa seu gasto, o que faz com que os trabalhadores que produziam o que eles deixam de comprar também percam seus empregos. Estes também cortam seus gastos, o que acarreta novo desemprego e assim por diante. Com essas mudanças no mercado de trabalho e com uma conjuntura desfavorável aos trabalhadores nascem importantes iniciativas na área da economia solidária e da autogestão, como resistências à exclusão, dentre elasestão as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares. Elas iniciam como projetos, programas ou órgãos das universidades com o intuito de dar suporte à construção e ao desenvolvimento de cooperativas populares elaboradas por iniciativa de grupos de desempregados ou daqueles que passam por situações de precariedade do trabalho. O objetivo é concentrar a atenção em uma forma de organização econômica que seja viável e emancipável e na quais os princípios fundamentais sejam: a solidariedade, autogestão e democracia. A economia solidária apresentou-se como alternativa para as pessoas que tiveram os seus postos de trabalho destruídos. Essa economia é representada pelo conjunto de atividades econômicas (produção, distribuição, consumo, poupança e credito) organizada sob a forma de autogestão. Procura recuperar de maneira melhorada princípios cooperativistas e autogestionários que surgiram das experiências associativas obtidas pelos trabalhadores europeus no século XIX. 11 As atividades econômicas que envolvem princípios solidários já acontecem há muito tempo, mas nas ultimas décadas adquiriu interesse especial. O mais importante é que este tipo de empreendimento, constituído por renovados atores comprometidos e empenhados em seu sucesso tornando essa atividade não só viável como sustentável ao longo do tempo provocando, portanto, o desenvolvimento econômico e social. Existem diversas formas econômicas onde as pessoas se associam para produzir e reproduzir meios de ganhos com base em relações solidárias. A forma típica é cooperativa sendo a mesma de propriedade dos trabalhadores que produzem e gerenciam democraticamente, conhecidas como cooperativa de produção ou de trabalho. Os outros tipos de cooperativas são de consumo, credito distribuição ou seguros. Para que a economia solidária se concretize é fundamental a existência de duas dimensões: a econômica e a política. A atividade econômica é de que as atividades econômicas garantam meios de vida. E neste sentido, o presente trabalho se desenvolve explicando como nasceu à economia solidária, como aconteceu sua trajetória histórica, quais os motivos para que os empreendimentos solidários cresçam, como essa nova ideologia pode ajudar amenizar o problema do desemprego. Pretende analisar como a economia solidária pode amenizar o desemprego atual. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho baseia-se na pesquisa bibliografia e analítica mediante a seleção de livros, artigos e sites de pesquisa. Na primeira parte deste trabalho veremos as definições, histórico e características que marcam esses empreendimentos, que vêem crescendo nas ultimas décadas, nascendo na Europa e se espalhando pelo resto do mundo. Na Segunda parte será abordada a intenção da economia solidária em relação aos desempregados quanto à geração de emprego e renda. 12 1. CONHECENDO A ECONOMIA SOLIDÁRIA 1.1 HISTÓRICOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA A Economia Solidária originou-se na Revolução Industrial, como reação dos artesãos expulsos dos mercados pelo advento da máquina a vapor na passagem do século XVIII ao XIX, surge na Grã-Bretanha às primeiras Uniões de Ofícios (Trade Unions) e as primeiras cooperativas. Com a fundação da cooperativa de consumo o cooperativismo de consumo se consolida em grandes empreendimentos e se espalha pela Europa primeiro e depois pelos demais continentes, a partir de 1980, a exclusão de grande número de trabalhadores do mercado se repete, surgi um novo cooperativismo, bem parecido o de suas origens históricas. Novas formas institucionais de autogestão são inventadas e passam a ser conhecida como "economia solidária". É na história da classe operária inglesa, segundo Singer, que se forma o caráter do cooperativismo em suas origens, nascido das greves dos trabalhadores, reflexo da conjuntura econômica excludente e desigual provocada pelo grande empobrecimento dos artesões, o crescimento do desemprego e a exploração sem limites nas fábricas, com ausência de condições mínimas de proteção ao trabalho, jornadas de trabalho exageradas, exploração do trabalho infantil, “debilitamento” físico dos trabalhadores e sua elevada morbidade e mortalidade” (SINGER, 2002, p. 24). Singer1 afirma que: “a economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego resultantes da difusão ‘desregulamentada’ das máquinas-ferramenta e do motor a vapor no início do século XIX. As cooperativas eram tentativas por parte dos trabalhadores de recuperar trabalho e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas”. Nesse aspecto, torna-se importante citar a ação desempenhada por Robert Owen, proprietário de um complexo têxtil em New Lanark, na Grã-Bretanha, que veio a inspirar outros pensadores. No início do século XIX, Owen restringiu a jornada de trabalho, proibiu o emprego de crianças e construiu escolas, proporcionando um tratamento correto aos seus trabalhadores. Com ganhos de produtividade, alcançou também respeito e consideração. 1 Paul Singer é um dos maiores defensores da Economia Solidária no Brasil 13 A economia britânica estava em profunda depressão quando ele apresenta um plano para a construção de Aldeias Cooperativas, em que os 1.200 habitantes, trabalhando na terra e nas indústrias, produziriam sua própria subsistência, trocando os excedentes entre as Aldeias e ativando novamente o fluxo do trabalho e da produção. Após a rejeição do Governo em implementar suas propostas, as idéias de Owen seriam retomadas de outra forma pelos seus adeptos, a de formação de sociedades cooperativas, coincidindo com uma nova propagação dos sindicatos e de organizações laborais que lutavam para “eliminar o assalariamento e substituí-lo por autogestão” (SINGER, 2002, p. 29). De acordo com Singer (2002, p. 29,30), Ao lado das cooperativas operárias havia sociedades de propaganda owenista, que tinham como objetivo fundar Aldeias Cooperativas, atualmente chamadas de “cooperativas integrais”, pois organizavam globalmente produção e consumo. Daí se originava volta e meia os armazéns cooperativos que passaram a adquirir produtos das cooperativas operárias e distribuí-los, transformando-se em núcleo de escambo da produção cooperativa, denominados Exchange Bazaars (bazares de troca) ou Equitable Labour Changes (bolsas eqüitativas de trabalho). Sem intermediários esse tipo de comércio, apresenta viabilidade econômica aos seus participantes, além de atender boa parte da produção das cooperativas operárias, oferecendo um mercado onde todos pudessem trocar seus produtos. Essa característica se reproduziu na criação, por Owen, do National Eqüitable Labour Exchange (Bolsa Nacional de Trabalho Eqüitativo), que inseriu uma moeda própria, as notas de trabalho, medido pelo tempo médio gasto por um operário padrão na produção de um determinado item, sendo desconsiderado o lucro na formação de seu preço. Da experiência do cooperativismo de consumo dos Pioneiros Eqüitativos de Rochdale, um importante centro têxtil no norte da Inglaterra, foi adotado princípios que alem de universal seriam a base para o cooperativismo. Relata Singer (2002, p. 39,40): 1º) que nas decisões a serem tomadas cada membro teria direito a um voto, independentemente de quanto investiu na cooperativa; 2º) o número de membros da cooperativa era aberto, sendo em princípio aceito quem desejasse aderir,. Por isso, esse princípio é conhecido como o da “porta aberta”; 14 3º) sobre o capital emprestado a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa; 4º) as sobras seriam divididas entre os membros em proporção às compras de cada um na cooperativa; 5º) as compras na cooperativa seriam sempre à vista; 6º) os produtos vendidos pela cooperativaseriam sempre puros (isto é, não adulterados); 7º) a cooperativa se empenharia na educação dos cooperativados; 8º) a cooperativa manter-se-ia sempre neutra em questões religiosas e políticas. Desses princípios surgiram outras formas de cooperativas (agrícolas, de compra e venda, de produção, etc.), onde se ressaltam as cooperativas de crédito, nascidas seis anos após a Cooperativa de Rochdale, tendo como diferença, além da guarda e administração de valores, o fornecimento de empréstimos aos sócios. A idéia de cooperativas de crédito aparece na Alemanha, organizadas por Schulze- Delitzsch e Wilhelm Raffeisen, após a ocorrência de duas grandes tragédias naturais, a perda das safras de cereais e um inverno rígido, que atingiu de maneira dura os produtores e conduziram ambos à “procurarem remédios institucionais para a vulnerabilidade dos que vivem do próprio trabalho”. (SINGER, 2002, p. 60). Após um momento de relativa expansão econômica, em especial após a Segunda Guerra Mundial, onde ocorreu o aumento dos direitos sociais e trabalhistas, há certa retração e desinteresse pela economia solidária, quando os trabalhadores se habituam ao pleno emprego dos países centrais no período de 1940 a 1970 e se acomodam ao assalariamento, conforme Singer (2004) Essa situação se transforma a partir de meado da década de 1970, com a crescente automatização dos países centrais acabando com milhões de postos de trabalho formal e provocando um desemprego em massa. A flexibilidade produtiva consentiu às empresas deslocarem territorialmente seu processo de produção, procurando mercados com vantagens locacionais e de custo da mão-de-obra. Em articulação com essa forma externa de flexibilização, as empresas operam também de uma forma interna, onde ocorre uma influência em favor da redução da proteção social relativa ao trabalho. Como exemplos disso, as relações interindustriais combinariam não apenas organizações produtivas de tipos e em regiões diferentes, como também diversas formas de gestão da mão-de-obra. As tarefas gerais e desqualificadas são transferidas para as pequenas empresas, sob um regime 15 escasso de trabalho, permanecendo as grandes com o trabalho especializado e qualificado, em um regime formal. Da acumulação de fatores decorrentes do colapso do regime de acumulação, há uma recuperação da linha neoliberal, somadas a um forte atraso nas políticas sociais e recuo significativo da força política do sindicalismo - junto a uma clara alteração de ênfase da proteção ao trabalhador não pela defesa de seu salário, mas sobre a defesa do emprego. Nos países do terceiro mundo, conclui-se, então, que ter um emprego formal simplesmente, por mais difícil que seja, é uma vantagem de poucos. Sobre o mesmo assunto, Bertucci (2005, p.29) registra que a reestruturação econômica e o reajustamento social sucedida da flexibilização do mercado e dos procedimentos de trabalho nas décadas de 70 e 80 tendem para uma gradual desmontagem do estado do bem-estar e para um crescente aumento do desemprego estrutural, do trabalho informal e precário, da subcontratação e dos contratos temporários. É dessa forma que ressurge com força a Economia Solidária, se fortalecendo num contexto de tensão do mundo do trabalho, se apresentando como alternativa dos trabalhadores à precarização de direitos sociais e trabalhistas, conforme manifesta Alves (2004, p.6): 1.2 Conceito A Economia Solidária é um conjunto de atividades econômicas (produção, distribuição, consumo, poupança e crédito) que geram trabalho e renda, regida por princípios de autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação no trabalho, sustentabilidade, desenvolvimento integral e compromisso social. A economia solidária se compõe das empresas que praticam os princípios do cooperativismo, ou seja, a autogestão. Ela é muito heterogênea, visto que é formada de indivíduos oriundos de diversas áreas de conhecimento ou profissão, que se ajuntam em associações e cooperativas específicas ou clubes de troca, embora o motivo que os une, que leva ao projeto coletivo, seja um só. É uma estratégia que nasceu das oposições e lutas sociais contra o desemprego e a pobreza, formada por atividades sócio-econômicas, de maneira associativa e autogestionária. As atividades de Economia Solidária têm garantido a reprodução da vida de centenas de pessoas marginalizadas do mercado de 16 trabalho. São formas de trabalho diferenciadas, buscam a cidadania e a realização humana. Elas implicam transformações na sociedade, que criam espaços de solidariedade dentro do sistema capitalista. Essa economia foi idealizada por operários, no inicio do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego decorrente da introdução das máquinas no processo produtivo, no início do século XIX. As cooperativas, a forma mais típica de economia solidária, era tentativa por parte de trabalhadores de recuperar trabalho e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas. Sua estruturação satisfazia aos valores básicos do movimento operário de igualdade e democracia. O primeiro grande espaço do cooperativismo de produção foi contemporânea, na Grã Bretanha, da expansão dos sindicatos. A empresa solidária nega a separação do trabalho e posse dos meios de produção, que é reconhecidamente como o alicerce do capitalismo. A empresa capitalista é de propriedade dos investidores, dos que forneceram o dinheiro para adquirir os meios de produção e é por isso que seu único objetivo é dar lucro a eles, o maior lucro possível em relação ao capital investido. A administração, na empresa capitalista, está concentrada totalmente nas mãos dos capitalistas ou dos gerentes por eles contratados. Já nos empreendimentos solidária a administração e gerenciamento são baseados na democracia e na igualdade de direitos e responsabilidades; sociedades econômicas cuja natureza jurídica caracteriza-se por ser sociedade de pessoas, as cooperativas. O capital da empresa solidária é possuído pelos que nela trabalham e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos os que trabalham são proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem na empresa. E a propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores, para que todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela. Empresas solidárias são, em geral, administradas por sócios eleitos para a função e que se pautam pelas diretrizes aprovadas em assembléias gerais ou, quando a empresa é grande demais, em conselhos de delegados eleitos por todos os trabalhadores. Nos EES, quem participa dos processos decisórios são os trabalhadores, os donos dos meios de produção. As principais decisões são tomadas em assembléias ou reuniões gerais, democraticamente votadas. Cada participante tem direito a um voto, portanto, todos os participantes têm direito a optar sobre os rumos do empreendimento. Isso não 17 significa dizer que todas as decisões referentes ao empreendimento necessitem ser levadas à votação, isso poderia dificultar muito o andamento das atividades cotidianas de produção. As decisões de cunho técnico, ligadas à produção, podem ser tomadas pelos trabalhadores designados a determinada área (dependendo do tamanho do empreendimento), eleitos por meio do voto. O excedente anual - chamado “sobras” nas cooperativas - tem a sua destinação decidida pelos trabalhadores. Uma parte, em geral, destina-se ao reinvestimento e podendo ser depositada num fundo (indivisível), que pertence aos ao coletivo, e não ao sócio individual. Outra parte, também é reinvestida, pode aumentar o valor das cotas dos sócios, que têm o direito de sacá-las quando se retiram da empresa. O restante das sobras é em geral destinado a um fundo de educação, a outros fundos sociais e eventualmente à repartição entre os sócios, por critérios acatadospor eles. Portanto, o capital da empresa solidária não é remunerado, sob qualquer pretexto, e por isso não há lucro, pois este é tanto jurídica como economicamente o rendimento proporcionado pelo investimento de capital. Dependendo das referências conceituais utilizadas, umas experiências têm sido mais, outras menos bem sucedidas, e outras ainda fracassaram, encerrando suas atividades. Sucumbiram economicamente por inúmeras e variadas razões, tanto conjunturais como estruturais. A cooperativa de produção é a modalidade básica da economia solidária. A cooperativa de comercialização é composta por produtores autônomos, individuais ou familiares (camponeses, taxistas, profissionais liberais, artesãos, etc.) que fazem suas compras em comum e, quando cabe, também suas vendas. Sendo a produção individual, o ganho também é e as sobras das operações comerciais são em geral distribuídas entre os cooperadores em proporção ao montante comprado e vendido por cada um através da cooperativa. Outra modalidade de empresa solidária é a cooperativa de consumo, que é possuída pelos que consomem seus produtos ou serviços. A finalidade dela é proporcionar a máxima satisfação ao menor custo aos cooperadores. Mas, para ser empresa solidária, não pode haver separação entre trabalho e capital. Muitas cooperativas de consumo empregam trabalho assalariado, o que acende lutas de classe em seu interior. Por isso não fazem parte da economia solidária. Só pertencem a ela as cooperativas de consumo que tornam seus trabalhadores membros plenos. Alguns a denominam por isso de cooperativas mistas. 18 O mesmo acontece com as cooperativas de crédito. Estas são empresas de intermediação financeira possuídas pelos depositantes. Para que sejam solidárias, é preciso que os trabalhadores que as operam profissionalmente sejam sócios delas. As cooperativas de crédito comunitárias, formadas por moradores da mesma cidade ou membros do mesmo sindicato, etc. aplicam os depósitos em empréstimos pessoais aos cooperadores. Isso se chama crédito rotativo e retira pessoas de baixo pode aquisitivo das garras da agiotagem, já que os bancos comerciais estão quase sempre fechados para ela. As empresas solidárias tendem a se crescer, formando associações locais, regionais, nacionais e internacionais. O que estimula esta tendência é o mesmo conjunto de fatores que produz a centralização dos capitais em grandes empresas multinacionais e conglomerados: os ganhos de escala que permitem reduzir custos; a necessidade de juntar recursos para desenvolver nova tecnologia e difundir a melhor tecnologia, além de outros empreendimentos de alto custo e alto risco. Uma modalidade recente de economia solidária é o clube de trocas (chamado de Lets em inglês, cujas iniciais significam Sistemas Locais de Trocas e Comércio). Os clubes são formados por microprodutores e prestadores de serviços, a maioria desempregados e com falta de clientes. Eles compõem uma associação que inventa uma moeda própria (conhecida como "moeda social"), que pode ter a forma de notas de papel ou de registro em computador. Cada sócio recebe de entrada um valor inicial da moeda do clube, o que lhe permite comprar serviços ou bens dos outros sócios. O clube organiza reuniões regulares em que os membros anunciam ou mostram o que têm para vender e informam o que precisam comprar. Há clubes que publicam periódicos em que as ofertas e demandas são divulgadas como anúncios. Cada clube de trocas é administrado por sócios eleitos e todas as transações efetuadas no clube podem ser conhecidas pelos membros. Os clubes de troca na Argentina são hoje milhares, tendo em conjunto centenas de milhares de membros que realizam transações no valor de bilhões de dólares anualmente, já formam uma grande rede, em que a moeda dum clube serve para fazer compras em outro, o que aumenta o potencial de criação de mercado de todos eles. Eles são conhecidos também nos países de língua inglesa e começam a se expandir no Brasil. 19 Muitas empresas que nasceram como solidárias acabam por se adaptar ao capitalismo e por isso deixam de ser solidárias. O caso mais notório foi o das cooperativas de consumo, que alcançaram grande importância na Europa, e que optaram por assalariar os seus trabalhadores e administradores. Esta decisão provocou grande resistência por parte dos cooperadores mais antigos. O conflito foi travado em relação às cooperativas de produção criadas pelas cooperativas de consumo e, sobretudo pela grande central cooperativa atacadista inglesa, que abastecia as demais. Os trabalhadores destas indústrias cooperativas tinham participação no capital, nas sobras e nas instâncias diretivas, além de dificilmente perderem o trabalho, mesmo em épocas de crise. Aos olhos dos demais trabalhadores, associados das cooperativas de consumo e, portanto donos das cooperativas de produção, os que trabalhavam nelas estavam sendo privilegiados em relação à condição deles, de meros assalariados (Cole 1944: Cap. IX). A economia solidária se compõe das empresas que efetivamente praticam os princípios do cooperativismo, ou seja, a autogestão. Ela faz parte, portanto da economia cooperativa ou social, sem, no entanto se confundir com as cooperativas que empregam assalariados. Na realidade, a grande maioria das empresas apresenta graus muito variados de autogestão, não apenas de cooperativa para cooperativa, mas para a mesma cooperativa em diferentes momentos. Essa economia estabelece um modo de produção que, ao lado de diversos outros modos de produção - o capitalismo, a pequena produção de mercadorias, a produção estatal de bens e serviços, a produção privada sem fins de lucro -, compõe a formação social capitalista, que é capitalista porque o capitalismo não só é o maior dos modos de produção, mas molda a superestrutura legal e institucional de acordo com os seus valores e interesses. Os Empreendimentos Solidários podem ser classificados quanto a natureza e quanto a variedade de funções. Em relação à natureza podem ser definidos como: Associações, Grupos e Cooperativas de Distribuição ou Serviços; Cooperativas, Associações e Grupos Solidários de Produção e trabalho ou como Trabalho Comunitário, mutirão e grupos Voluntários. Em relação a variedade de funções podem ser conhecidas como: Empreendimentos Solidários Unifuncionais, Empreendimentos Solidários Multifuncionais ou como Associações Comunitárias e Cooperativas Integrais 20 1.3 Princípios da Economia Solidária Para que um empreendimento seja considerado solidário o mesmo tem que obedecer alguns princípios. Segundo Gaiger2 (2004, p. 11), “As propriedades de um EES giram em torno de oito princípios, que se espera ver internalizados na compreensão e na prática das experiências associativas: autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento humano e responsabilidade social.” Estes princípios certamente refletem características de um EES, alguns podem estar mais ou menos intensos no cotidiano das atividades de cada empreendimento. Os princípios de “autogestão”, “democracia” e “participação” parecem indissociáveis entre si e referem-se a questão de tomada de decisão democrática no interior dos empreendimentos, onde todos os trabalhadores têm a oportunidade de participar. O exercício da democracia e da autogestão enfrentam dificuldades na implementação. “Os processos participativos pressupõem esforço e trabalho por parte dos participantes e constituem, em si, uma forma de aprendizado [...].” (GUTIERREZ, 2004, p. 12), porém possuem papel central no funcionamento de qualquer empreendimento. A auto-sustentação diz respeito à autonomia financeira do empreendimento. Para tanto o empreendimento deve se dedicar a produzir bens ou prestar serviços de modo a não depender financeiramente de nenhuma outraentidade, sua produção deve ser responsável pela sua viabilidade econômica em curto e longo prazos. Esse é um dos principais desafios enfrentados. O “Desenvolvimento humano”, “cooperação” e “igualitarismo” estão ligados ao caráter humanístico dessas iniciativas. Os integrantes das organizações desenvolvem as práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc. Os auxílios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação. 2 Doutor em Sociologia e membro da Coordenação Nacional do Programa de Economia Solidária da Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas (Unitrabalho). 21 O princípio da autogestão torna-se uma dinâmica geradora da inclusão, na medida em que supera ações individualistas e outras que regem o trabalho subalterno. O diferencial, contudo, desses empreendimentos está na forma (e natureza) da gestão, que é assentada em princípios de democracia, igualdade e solidariedade, que consagra os ganhos de sinergia gerados no processo, e também na caracterização de uma sociedade de pessoas. O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa repartição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam a ampliação de capacidades e do progresso das condições de vida dos participantes; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. A Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, além da visão econômica de geração de trabalho e renda, as experiências de Economia Solidária se projetam no espaço público, no qual estão inseridas, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável; vale ressaltar: a Economia Solidária não se confunde com o chamado "Terceiro Setor" que substitui o Estado nas suas obrigações legais e inibe a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A Economia Solidária reafirma, assim, a emergência de atores sociais, ou seja, a emancipação de trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos históricos. 22 1.4 A Economia Solidária no Brasil O termo “economia solidária” surgiu, no Brasil, em 1996, citado por Paul Singer no artigo “Economia solidária contra o desemprego”, publicado pelo jornal “Folha de São Paulo” (PINTO, 2006). Segundo Lisboa (2003), as primeiras reflexões sobre a economia solidária, no Brasil, foram produzidas no início dos anos 90 por José Fernandes Dias, que já trabalharia a questão a partir do termo “Produção Comunitária”. A economia solidária no Brasil é formada por trabalhadores no geral eliminados do mercado de trabalho, passa ser vista como opção econômica e social na década de 80, e ganha espaço nas publicações acadêmicas a partir da segunda metade da década de 90. Atuam do movimento de Economia Solidária no Brasil hoje: - Cooperativas industriais; - Empreendimentos populares; - Movimentos sociais; - Sindicatos; - Fóruns Municipais, Estaduais e Fórum Brasileiro de Economia Solidária, - Políticas públicas de fomento à Economia Solidária; - Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). No ano de 2005, segundo dados da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, existiam cerca de 15.000 empreendimentos que produzem de acordo com princípios da economia solidária, no país. Os empreendimentos econômicos solidários desenvolvem suas atividades em vários segmentos da economia. De acordo com o SIES, eles foram organizados nos seguintes setores: produção, agropecuária, extrativismo e pesca; produção e serviço de alimentos e bebidas; produção de artefatos artesanais; produção têxtil e confecções; prestação de serviços (diversos); produção industrial (diversos); serviço de coleta e reciclagem de materiais; produção de fitoterápicos, limpeza e higiene; serviços relacionados a crédito e finanças; produção mineral (diversa); produção e serviços diversos. Os resultados estão demonstrados na Figura 1: 23 Figura 1 – Motivações para criação de EES. Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 De acordo com o gráfico, percebe-se que a maior concentração de empreendimentos solidários está ligada às atividades agropecuária, extrativista e de pesca, porém, nesse primeiro item estão enquadradas todas as atividades ligadas ao setor primário de produção, enquanto os setores secundário e terciário de produção estão distribuídos entre as demais atividades consideradas. É importante destacar que as atividades realizadas pelo maior número de empreendimentos são as que exigem baixo investimento e são intensivas em mão-de-obra, com destaque para a produção têxtil e de confecções. Em relação à organização, cada unidade de produção pode ser legalizada, na forma de cooperativas, associações ou empresas (que operam internamente de acordo com a autogestão); ou não legalizados, trabalhando como grupos informais, conforme mostra a Figura 2. 24 Figura 2: Forma de Organização de EES Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 Apesar da história do cooperativismo no mundo e no Brasil se confundirem com a história da economia solidária, as cooperativas representam apenas 11% do total dos empreendimentos solidários, enquanto os grupos informais representam 33% e as associações, 54%. Essa situação é explicada pela dificuldade legal ou burocrática de se registrar uma cooperativa, ou pelo custo que é necessário tanto no processo de legalização quanto o de produzir dentro da legalidade, com todas as taxas e impostos a serem pagos. Dentre das barreiras legais que aumentam os números da informalidade, pode se enfatizar a dificuldade de se registrar uma cooperativa que necessita de 20 sócios, o que pode inviabilizar alguns empreendimentos, por exemplo; ou ainda, o caso das associações, às quais são permitidas, por lei, a prestação de serviços, porém não a produção de bens. A Economia Solidária apresentou enorme expansão nas últimas décadas, sendo que além dos empreendimentos e entidades de apoio, uma série de novos atores – como a própria Secretaria Nacional de Economia Solidária – passou a fazer parte deste mapa. A figura abaixo, reflete a abrangência da Economia Solidária no Brasil, oferecendo uma pequena amostra de sua dimensão e potencialidade de 25 expansão contínua nos próximos anos. Segundo dados do Atlas da Economia Solidária no Brasil de 2005, o campo da Economia Solidária no Brasil é o seguinte: Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 Segundo nesse mesmo Trabalho foi examinado os aspecto dos empreendimentos solidários do Brasil. Na época foram identificados 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários em 2.274 municípios do Brasil (o que corresponde a 41% dos municípios brasileiros)1. Considerando a distribuição territorial, há uma maior concentração dos EES na região Nordeste, com 44%. Os restantes 56% estão distribuídos nas demais regiões: 13% na região Norte, 14% na região Sudeste, 12% na região Centro-oeste e 17% na região Sul. 26 Quantidade e percentual de Empreendimentos Solidários por unidade da federal Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL- 2005 1.5 Entidades de Fomento a Economia Solidária O surgimento e evolução das experiências despertou a sensibilidade de intelectuais e ativistas, que se tiveram interesse em conhecer e apoiar as manifestações de economia solidária no Brasil. Organizações não governamentais e núcleos universitários passaram a apoiar o movimento em atividades de formação 27 para a autogestão, construção de políticas públicas e de capacitação gerencial, sendo denominados assessores do movimento. No Brasil existem entidades que agregam atividades econômicas coletivas como a ANTEG - Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas Autogestionárias, as ITCPs - Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, Rede UNITRABALHO Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho, a ADS Agencia de Desenvolvimento Solidário, a FETRABALHO - Federação das Cooperativas de Trabalho e outras, que aparecem diversifivando-se por Estados da Federação. Temos em nível Federal de Governo, a Secretaria Nacional de Economia Solidária, que visa formular e articular políticas de fomento à economia solidária. Estas entidades nascem da demanda crescente de trabalhadores que procuram formar de modo coletivo, empreendimentos solidários, que estão se multiplicando em todo o País. As entidades, cumprem um papel importante, à medida que se torna um espaço de troca de experiências em autogestão e autodeterminação na concretização desses empreendimentos. Auxiliam a concretização de estratégias para unir empreendimentos solidários de produção, serviços, comercialização, financiamento, consumidores e outras organizações. 1.5.1. ANTEAG A ANTEAG é um órgão de representação das empresas de autogestão, criada em 1994 e designada à produção e à propagação de conhecimento e informação sobre processos gerenciais em um contexto multidisciplinar a serviço dos interesses dos trabalhadores em empresas autogeridas. A ANTEAG é uma entidade sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, constituída por ex-sindicalistas do Sindicato dos Químicos de São Paulo, que, junto com técnicos do Dieese, o economista Paul Singer, o sociólogo Betinho, o fundo de greve da Associação Comunitária de São Bernardo do Campo e outros adotaram a causa da autogestão. Atua mais especialmente no setor industrial. Iniciou seus trabalhos nos setor têxtil e calçado, abrange atualmente, além destes, os setores químicos, os de confecções, metal-mecânico, metalúrgico, de máquinas e o de extração mineral. A principal função da ANTEAG é estudar e monitorar projetos para que sejam plausíveis e possam conservar o trabalho e renda dos trabalhadores. E também acompanhar e construir novos projetos, a partir de ação pública ou popular. 28 O trabalho da ANTEAG tem como objetivo viabilizar projetos de autogestão. Se os trabalhadores estão dispostos a assumir o controle coletivo da empresa, ela desenvolve o projeto. A decisão é dos trabalhadores e a execução do projeto é feita em parceria com a ANTEAG. Nos últimos dez anos a ANTEAG esteve presente em 640 empresas em situação de falência ou pré-falimentar em varias regiões do País Apostando na combinação entre propriedade coletiva, reorganização do modo de produção e democracia de gestão, a ANTEAG busca, no campo das relações intra-fábrica, compor modelos de empresas que, “mesmo implantadas num mercado competitivo, tem no seu interior relações de transparência e solidariedade. Nelas, o individualismo dará lugar ao companheirismo e à troca de experiências”(Anteag: s/d). 1.5.2. (SENAES) Secretaria Nacional de Economia Solidária Criada em junho de 2003, é fruto da proposta da sociedade civil e da decisão de governo federal, faz parte da história de mobilização e articulação deste movimento social existente no Brasil. A SENAES tem como objetivo viabilizar e coordenar atividades de apoio à economia solidária em todo o território nacional. Implantou o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento (PESD) que tem como objetivo gerar o fortalecimento e a divulgação da economia solidária, mediante políticas integradas, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à promoção do desenvolvimento justo e solidário. Propôs-se, assim, à divulgação de informações sistematizadas a respeito da economia solidária, para tornar seu perfil, abrangência e potencialidades visíveis à sociedade, tomando como referencia indicadores quantitativos e qualitativos de sua existência no País. Para a SENAES, a economia solidária corresponde ao conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito organizadas sob a forma de autogestão, isto é, com o domínio coletivo dos meios de produção e participação democrática nas decisões dos membros da organização ou empreendimento. A SENAES realizou em 2005 o mapeamento dos empreendimentos solidários em todos os estados brasileiros. O mapeamento possibilitou a criação do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), constituído por uma base nacional de informações, que proporcionou a visibilidade da economia 29 solidária vem oferecendo subsídios aos governos e entidades da sociedade civil para a formulação de políticas públicas. O veículo escolhido para difundir a base de dados foi o Atlas da Economia Solidária no Brasil, publicado pela SENAES, em parceria com o FBES, em abril de 2006. 1.5.3 ITCPs ITCPs são Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, criadas em importantes Universidades públicas, a UNITRABALHO Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho, assistem empreendimentos de trabalhadores através dos Núcleos Locais distribuídos em todo o país. A Rede Unitrabalho como um todo, interliga universidades e instituições de ensino superior, que se agrupam em regionais e seus respectivos Núcleos Locais multidisciplinares. As ITCPs são projetos de extensão universitária e trabalham especialmente com comunidades vizinhas às universidades. O processo de construção das incubadoras de empreendimentos solidários no Brasil iniciou-se com a fundação em 1995 da primeira incubadora universitária de cooperativas populares, a ITCP/COPPE-UFRJ. Nos últimos anos, graças aos esforços de professores e alunos de diversas universidades e ao apoio recebido (especialmente a partir de 2003) do PRONINC (Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas), esse processo tem se expandido consideravelmente. Atualmente existem cerca de 80 incubadoras universitárias de empreendimentos solidários ligadas ao PRONINC, além de outras que ainda não se vincularam ao programa. O processo de incubação dar início com um contato entre a incubadora e as pessoas interessadas em montar uma cooperativa. A postura é abertamente política. "A marca das ITCPs é um posicionamento político de atuar junto à população excluída, lutando pela transformação social através de outro modo de organização do trabalho", (Maria Paula Patrone Regules, coordenadora da incubadora da USP). A incubação começa pela formação do cooperado. "O curso tem de ser transformador, um embrião da cooperativa. A questão central é construir um grupo coeso, resgatando experiências individuais de cooperação. Primeiramente é abordando formas de se organizar conjuntamente, diferenças entre o trabalho coletivo e o trabalho individual e o papel de cada um no conjunto. 30 Terminada essa fase, é a vez de decidir se o grupo quer ou não formar uma cooperativa. Etapas do processo de incubação Etapas Desenvolvimento Etapas Desenvolvimento Pré-incubação Atividades relativas à elaboração do projeto do empreendimento e aproximação dos conhecimentos sobre ES e das atividades econômicas do grupo. Incubação Cursos, projetos, treinamento e articulações que desenvolvam o empreendimento, buscando a sua autonomia e sustentabilidade.Desincubação Momento final da incubação, quando o empreendimento se desliga do acompanhamento constante da incubadora. Fonte: KRUPPA; SANCHEZ, 2001. O tempo de duração de cada etapa é variável nos procedimento de cada incubadora, bem como o período total de acompanhamento do grupo. Em algumas incubadoras, acontece uma etapa anterior à pré-incubação que era voltado para a mobilização de grupos dentro de comunidades. Depois criados grupos que seriam assessorados nos primeiros anos de existência. Esta noção é característica da concepção “incubadora”, na qual é oferecido acompanhamento constante para aquele que acabou de nascer e necessita de um espaço específico para se fortalecer. Os grupos têm procurado a universidade em busca de assessoria, pois conhecem o trabalho realizado pela incubadora, seja em função do histórico de atuação da universidade ou por meio de divulgação de outros empreendimentos ou entidades. Por este caminho, grupos urbanos têm sido privilegiados no acesso às incubadoras. Em levantamento realizado entre vinte incubadoras18, verificou-se que na metade delas a incubação inicia-se pela procura dos empreendimentos pela incubadora, sendo que os grupos incubados estão localizados no meio urbano. 1.5.4. ADS Agência de Desenvolvimento Social, criada na segunda metade dos anos 90, formada com representação da CUT, DIEESE e UNITRABALHO. Foi criada em 1999 pela CUT juntamente com a Unitrabalho, DIEESE, FASE e outras organizações da sociedade. Constitui uma nova fase para os trabalhadores, a busca 31 de novos referenciais de geração de trabalho e renda e de alternativas de desenvolvimento. A ADS vem consolidando suas ações na promoção da economia solidária e no desenvolvimento sustentável para o fortalecimento e constituição de cooperativas e de empreendimentos coletivos solidários como um meio de gerar trabalho e renda para trabalhadores que buscam formas alternativas de inserção social. Sua Missão é de promover a constituição, fortalecimento e articulação de empreendimento autogestionários, buscando a geração de trabalho e renda, através da organização econômica, social e política dos trabalhadores, inseridos num processo de desenvolvimento sustentável e solidário. Têm a Visão de contribuir para a construção de uma sociedade democrática, organizada de forma solidária e participativa, voltada para satisfazer as condições de vida, considerando seus aspectos sociais, ambientais, políticos, sindicais, culturais e econômicos. 1.5.5. FETRABALHO FETRABALHO - Federação das Cooperativas de Trabalho que surgem em alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, até 1997. No âmbito nacional, as Federações de Trabalho estaduais estão organizadas através da Confederação Brasileira de Cooperativas de Trabalho (COOTRABALHO) que, por sua vez, está ligada à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que é o organismo de representação nacional de todos os ramos cooperativistas. 1.6 As dificuldades da Economia Solidária São muitas as dificuldades dos que buscam a associação produtiva como alternativa. Ainda há muita carência de políticas públicas específicas para esses empreendimentos, sobretudo com relação a crédito. De acordo com o SIES, as principais dificuldades enfrentadas pelos empreendimentos, apontadas através entrevistas, são: a comercialização (61%), o acesso a crédito (49%) e os acompanhamentos, apoio e assistência técnica (27%). No caso da comercialização, ser por causa da baixa qualidade dos produtos e serviços dos empreendimentos frente aos similares ofertados por empresas 32 capitalistas convencionais. Pela própria falta de capital de giro, ou ainda um problema de gestão que poderia envolver questões como desconhecimento do mercado, falha na definição do produto, problemas logísticos ou deficiência na divulgação dos produtos. Razões que também poderiam ser encontradas em empresas capitalistas convencionais, porém, no caso dos empreendimentos solidários, a situação mais acentuada é o nível de escolaridade, e freqüente falta de preparo dos sócios para questões ligadas à gestão do empreendimento. A falta de acesso ao crédito, segunda maior dificuldade enfrentada pelos empreendimentos, demonstra, o desinteresse do sistema bancário em financiar a atividade de empreendimentos de pequeno porte. Esta postura é percebida pela quantidade de recursos destinados às linhas do segmento e, mais ainda, pelo tratamento dispensado a este público. Muitas vezes os candidatos a tomadores não tem os requisitos necessários para obter o crédito ( comprovação de renda,patrimônio, renda mínima e etc.) sendo considerados como de alto risco para a consentimento de empréstimos segundo os mesmos critérios adotados para empréstimos. Sem acesso ao crédito, não há como adquirir equipamentos e nem construir sedes para os empreendimentos (investimento), impede até mesmo a obtenção de capital de giro (custeio), o que limita a produção ao montante que for possível levantar com sócios ou ao que se consegue realizar com compras a prazo, financiadas, via de regra, junto aos próprios fornecedores, a taxas de juros exorbitantes. Já a falta de assistência técnica, terceira dificuldade mais comumente enfrentada pelos empreendimentos solidários pode ser interpretada como uma deficiência das políticas públicas voltadas a esta área. Mas não se trata de um problema pontual, se tivesse acesso à educação de qualidade para a população de baixa renda, que geralmente é a que integra a esses empreendimentos, não haveria necessidade de assistência técnica externa, pois esses profissionais seriam os próprios trabalhadores. Segundo o Relatório de Diagnóstico e Impacto do PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (programa no qual o governo federal fomenta as atividades de incubação de empreendimentos solidários em diversas áreas do país), a maior parte dos trabalhadores participantes possui escolaridade muito baixa, como mostra a Figura 3: 33 Figura 3: Grau de Escolaridade dos participantes do PRONINC Fonte: Federação dos Órgãos para Assistência Social – FASE Pode-se verificar que mais de 55% dos integrantes não concluiu o ensino fundamental, então será necessário, para o êxito do empreendimento, assistência técnica externa, em diversas áreas, principalmente em relação a atividades ligadas à gestão do empreendimento. Nos casos de empreendimentos originados da falência de empresas capitalistas, ou do arrendamento de empreendimento em processo falimentar, algumas outras dificuldades são ainda encontradas com freqüência, e merecem atenção. As empresas, não obtiveram sucesso no mercado e faliu, o que significa que tem dificuldades a serem vencidas. Devem ser promovidas, então, mudanças para mudar o quadro que levou a empresa à falência pelos trabalhadores que assumem a massa falida, sem experiência em gestão. Essas empresas contraem dívidas com bancos e com outras empresas antes de fecharem as portas. Quando a empresa passa ao controle dos trabalhadores, transferem-se também as dívidas, que deverão ser administradas e pagas. Por causa delas, também é difícil conseguir, no início, a confiança das empresas com quem irão se relacionar – em especial os fornecedores. A nova empresa autogestionária fica então entregue aos trabalhadores que costumavam executar apenas tarefas operacionais, que têm que aprender a administrar o empreendimento em tempo de não perder a confiança do mercado em que opera. 34 A falta costume de gestão coletiva e solidária é outra dificuldade ainda enfrentada nestes casos. Em um curto espaço de tempo, os trabalhadores, acostumados a um regime patronal de trabalho, devem aprender, dentro do mesmo espaço e com muitas das mesmas pessoas, a trabalhar de maneira autogestionária. Segundo Lisboa (2004), “...poradvirem do fechamento das fabricas, as EAg [empresas de autogestão] estão menos propicias ao principio do solidarismo: em geral seus integrantes foram obrigados pelas circunstâncias a participar do projeto autogestionário. Este não nasce de uma escolha, mas da busca pela preservação dos seus postos de trabalho”.(Lisboa) A falta de motivação para a autogestão também pode ser facilmente notada nos demais empreendimentos solidários, como explica Singer (2002b, p. 20): “A prática autogestionária corre o perigo de ser corroída pela lei do menor esforço”. Para o autor, as pessoas desde crianças estão habituadas, a serem reprimidas e a obedecer e temer os “superiores”, sendo, portanto, uma questão cultural implantada na sociedade em que vivemos e que embaraça o desenvolvimento de atividades que concede maior autonomia ao trabalhador, como é o caso da autogestão. O trabalhador que já participou do processo produtivo convencional, onde costumava apenas receber ordens e executar tarefas terá mais dificuldade de aceitará sem oposição ou estranhamento um processo participativo onde ele também é responsável pela tomada de decisões. O aprendizado da autogestão é, em si, uma dificuldade enfrentada pelos empreendimentos, que pode não afetar os resultados econômicos dessas empresas, mas tranqüilamente comprometer seu êxito no que diz respeito ao resgate da auto- estima e desenvolvimento da autonomia (e todas as suas conseqüências) dos trabalhadores. São as dificuldades de comercialização, acesso a crédito e assistência técnica, baixa escolaridade, a falta de costume para autogestão, assim como as dificuldades próprias dessas empresas originados de massa falida, os principais entraves ao avanço dos empreendimentos. Algumas iniciativas conseguem alcançar êxito econômico, além de obter conquistas não-econômicas como autonomia, resgate da auto - estima e solidariedade entre os trabalhadores. Como solução desses impasses, os empreendimentos solidários podem se organizar em redes solidárias ou em cadeias produtivas solidárias e contar, se possível, com o crescente número de consumidores interessados em promover 35 maior justiça social, dispostos, portanto, a fomentar atividades solidárias de produção por meio da compra de produtos que obedecem aos princípios da economia solidária na sua elaboração. 1.7 Economia Solidária a partir da falência ou crise de empresas A economia solidária surge no Brasil como resposta à crise de 1981/1983, onde muitas indústrias, de pequeno e de grande porte, pedem concordata e entram em processo falência, como foi o caso da indústria Wallig de fogões, em Porto Alegre, a Cooperminas, que explorada uma mina de carvão falida em Criciúma (Santa Catarina) e da antiga Tecelagem Parahyba de cobertores. Nesta época foram formadas, pelos trabalhadores, cooperativas que assumiram essas empresas. O fechamento de empresas e a demissão de numerosos trabalhadores aconteceu durante os anos 80 e 90. Os sindicatos, como representante legal dos trabalhadores, intervém perante a justiça e promove a formação de associação dos empregados da firma que desaparece depois de ser substituída por uma cooperativa. O ponto mais importante era de motivar os trabalhadores a utilizar os princípios da economia solidária, convencendo-los a constituir uma empresa onde todos são proprietários, onde cada cabeça representa um voto nas decisões, empenhados solidariamente em transformar um patrimônio sucateado em um novo empreendimento viável. O convencional seria criar uma outra empresa capitalista, administrada pelos mais antigos e melhor remunerados, donos dos maiores créditos trabalhistas e, portanto proprietários das maiores cotas de capital e não por todos os trabalhadores como sugere a economia solidária. Em 1991, em função da abertura do mercado interno às importações, entra em crise uma grande fábrica de sapatos, a Makerly de Franca (SP), que possuía 482 empregados. O Sindicato dos Sapateiros se empenha em impedir que tantos trabalhadores percam seus empregos e convida Cido Faria, então do DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos Sociais e Econômicos) para transformar a empresa em vias de falir numa fábrica de trabalhadores. O DIEESE, uma antiga instituição de apoio aos sindicatos, contribuiu também com literatura sobre os ESOPs (Employee Stock Ownership Plans), que são planos de participação dos empregados no capital acionário das empresas, nos Estados Unidos, onde recebem incentivos por lei e tem se difundido bastante. Em São Paulo não se 36 conhecia, até então, qualquer experiência de empresas falidas que passaram a ser administrada por antigos empregados organizados em associação. Os trabalhadores adotaram com todas as forças a idéia do sindicato e procuram comprar o maquinário dos donos da Makerly por 600000 dólares. Foi necessária intensa luta política para conseguir o crédito correspondente do Banespa, tiveram que ocupar a sede do Banespa em Franca e após 91 dias de pressão e negociações, assinou-se um acordo como garantia do empréstimo, 49% das ações da empresa ficaram com o banco. Por esse acordo, a Makerly teve de continuar sendo uma sociedade anônima e não uma cooperativa. Controlada pelos trabalhadores, a empresa funcionou nos anos seguintes com êxito, até que em Março de 1995 o governo federal interveio no Banespa e suspendeu a linha de crédito à Makerly, o que impôs o encerramento de suas atividades. A experiência da Makerly foi o alicerce que consentiu criar uma metodologia de transferência de empresas capitalistas a seus empregados. Pessoas de todo o país das mais diversas áreas do conhecimento como, sindicalistas, políticos, trabalhadores, imprensa, iam até Franca para conhecer a experiência que eles denominaram ‘fábrica de trabalhador’ (Anteag, 2000: 56). Outras empresas, em geral grandes e antigas, entraram em crise e se acabaram tornando autogestionárias: Cobertores Parahyba, Facit , Hidro-Phoenix, etc. Em 1994, foi realizado em São Paulo o 1º Encontro dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão, em que participaram representantes de seis empresas. Neste encontro decidiu-se criar a Anteag (Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária). A Anteag surge não só para ajudar a luta dos trabalhadores pela preservação dos seus postos de trabalho e ao mesmo tempo pelo fim de sua subordinação ao capital, mas também para assessorar as novas empresas solidárias. “Quando os trabalhadores adquiriam o controle das empresas passavam enfrentar inúmeras questões, que não eram conhecidas por eles, algumas referentes ao mercado e à comercialização dos produtos, ao acesso a crédito e controle orçamentário da empresa, à organização do trabalho e da produção, à tecnologia, à legislação. Se, por um lado, as relações de solidariedade entre trabalhadores, o apoio de alguns sindicatos às suas iniciativas eram fundamentais, outro não eram suficientes. Havia necessidade de articular pessoas e instituições, democratizar informações, criar um espaço para o debate e produção de alternativas. Enfim, havia 37 a necessidade de uma entidade que assumisse esses papéis. Era o começo da Anteag” (Nakano3, 2000: 68) Nesse processo de transformação duma empresa falida ou em vias de falir numa empresa solidária, há uma série de etapas cruciais. A primeira é a aceitação dos próprios trabalhadores, que precisam consentir trocar seus créditos trabalhistas por cotas de capital da nova empresa, isso só pode acontecer se eles acreditarem que são capazes de administrar coletivamente a empresa em crise e reabilitá-la.A alternativa é deixar que a empresa seja fechada pela justiça e assim fique até que vá a leilão, quando do valor arrecadado eles receberão uma fração de seus créditos. Em geral esse período é longo as instalações e o maquinário sofre desvalorização quase total. Logo, nesta opção, grande dos créditos rescisórios se perdem, ao passo que se forem investidos numa cooperativa, sempre há a possibilidade de que preservem seu valor e até de que este aumente. A segunda etapa é obter posse do patrimônio da firma para os trabalhadores associados, o que requer um crédito, sendo que a garantia é o próprio patrimônio transacionado. Em geral, crédito volumoso de prazo longo só pode ser obtido em bancos oficiais, o que depende de uma decisão política de sua direção. Conseguir tal decisão exige em geral forte mobilização e intensa pressão sobre ela, que no caso da Makerly (como vimos) tomou a forma de ocupação da sede do banco. Tudo isso conta como meio para viabilizar a futura cooperativa que, para seguir operando, tem que continuar com o apoio tanto da justiça, como do banco. A terceira etapa é a viabilização da nova empresa mediante a recuperação da clientela, dos fornecedores e dos créditos da antiga empresa. Nos primeiros meses os trabalhadores têm de acumular capital de giro, o que significa que durante certo período eles não vão ter a retirada (nível almejado de ganho mensal, em geral igual ao que tinham quando empregados), mas muito menos. É o chamado período heróico, que pode durar meses, em que os trabalhadores às vezes não conseguem sequer um rendimento de subsistência. Uma vez superado esse período crítico, grande parte da antiga clientela volta e uma nova clientela é conquistada, os fornecedores adquirem confiança na cooperativa e a retirada se torna cada vez maior. É só a partir deste momento que a empresa solidária entra em sua normalidade. Os trabalhadores com funções 3 Marilena Nakaro é Doutora em educação e assessora educacional da Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionaria (Anteg). 38 gerenciais fazem cursos e com o tempo vão adquirindo novas habilidades. O costume de fazer assembléias vai se consolidando e os trabalhadores que continuam nas linhas de produção se acostumam a tomar conhecimento das dificuldades sofridas e a decidir em conjunto à direção do empreendimento. Grande parte das tentativas de transformar firmas meio ou inteiramente falidas em empresas solidárias tem obtido sucesso. Ele se explica pelos sacrifícios feitos pelos cooperadores, que se propõem a trabalhar durante meses por ganhos mínimos, ou por troca de cestas básicas. Justifica também pela dedicação e amor ao trabalho não mais alienado, do que resultam aumentos inesperados de produtividade e grande redução de perdas e desperdícios. E finalmente pelo aprendizado dos novos administradores das técnicas da gestão de comprar e vender, de receber e dar crédito, de inovar produtos e processos e de tecer relações solidárias com outras autogestões. 2 . ECONOMIA SOLIDARIA COMO RESPOSTA AO DESEMPREGO 2.1 Desemprego no Brasil O emprego é a função ou condição na qual os indivíduos trabalham em caráter temporário ou permanente, em qualquer forma de atividade econômica. Desemprego é a situação onde as pessoas incluídas na faixa das idades ativas estejam, por determinado prazo, sem realizar trabalho em qualquer tipo de atividade econômica. Esse fenômeno alcançar de maneira generalizada todas as esferas sociais, passando pelos jovens com baixa escolaridade, até os jovens com alta escolaridade (nove anos de estudo), pessoas com mais de 40 anos, homens e famílias pequenas que se reproduzem mais rapidamente nas grandes capitais. Existem alguns tipos de desemprego, que são: Desemprego estrutural: é uma característica dos países subdesenvolvidos. Acontece devido o excesso de mão-de-obra empregada na agricultura e atividades correlatas e pela deficiência em numero de equipamentos de base que geram à criação cumulativa de emprego. Desemprego tecnológico: ocorre particularmente nos países mais desenvolvidos. É o resultado da substituição do homem pela máquina sendo representado pela maior procura de técnicos e especialistas e pela queda em grande proporção da procura dos trabalhos conhecidos como braçais. 39 Desemprego conjuntural: também denominado de desemprego cíclico, próprio da depressão, quando os bancos contrair os créditos, desestimulando os investimentos, e o poder de compra dos assalariados cai em conseqüência da elevação de preços. Desemprego friccional: determinado pela mudança de emprego ou atividade dos indivíduos. É o tipo de desemprego de menor significação econômica. Desemprego temporário: forma de subemprego comum nas regiões agrícolas, motivado pelo caráter sazonal do trabalho em certos setores agrícolas. O aumento do desemprego no Brasil apresenta três explicações fundamentais: fatores estruturais, conjunturais e sazonais. Em virtude dos fatores estruturais, o Brasil sofre efeitos de três fatores nocivos: baixo crescimento, educação insuficiente e legislação inflexível. Destes fatores, a educação insuficiente desde a infância é responsável direta ou indiretamente pela baixa qualificação da mão de obra no Brasil e apresenta-se como um dos pontos críticos para o país. Pode se observar que boa parte dos problemas como desemprego no país é causado pela baixa qualificação da mão-de-obra existente, procedente de uma educação precária e insuficiente. Aumenta a complexidade da tecnologia utilizada à medida que as empresas se modernizam que passam requer, então, maiores habilidades técnicas e pessoais e, assim, a cada dia mais pessoas são consideradas desqualificadas para os cargos ofertados nas empresas, caso o sistema de ensino existente não ofereça formação adequada. No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores, dos sindicatos, das autoridades e dos estudiosos de problemas sociais, sendo este problema também mundial. Em qualquer família existe alguém desempregado. O desemprego gera vários problemas: para o desempregado, para a família e para o Estado. Para o cidadão desempregado e sua família, o desemprego provoca insegurança, a indignidade, aquela sensação de inutilidade para o mundo social. Os economistas clássicos ou monetaristas dizem que o desemprego baseia- se no funcionamento do mercado e no desejo dos trabalhadores de receberem salários excessivamente altos. Assim, o desemprego acima do friccional é devido a uma política de salários inadequada. Sendo esse desemprego qualificado como voluntário. Já para os economistas keynesianos, o desemprego deve-se fundamentalmente ao nível insuficiente da demanda agregada por bens e serviços. 40 Assim, defende-se que o desemprego acima do friccional é involuntário e ocorre porque o nível da demanda agregada é insuficiente. Apesar disso, os custos mais graves do desemprego são para os que sofrem seus impactos, pois muitas pessoas não têm acesso ao seguro desemprego. E, para aqueles que se mantêm empregados, fica a obrigação de pagar parte dos custos do desemprego por meio de impostos ou contribuições sociais mais elevadas. Nesta situação, o desemprego traz conseqüências humilhantes, prejudicando os bons hábitos de trabalho e a produtividade dos trabalhadores. Pode-se afirmar que o desemprego é o primeiro fator causador da pobreza. A taxa de desemprego ou de desocupação no Brasil é determinada mensalmente pela Pesquisa Mensal do Emprego, coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números da pesquisa em questão são determinados a partir de estudos feitos a cada mês com a População Economicamente Ativa (PEA) das seis maiores regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvadore Recife). O IBGE classifica como pessoas desempregadas ou desocupadas aquelas que não estavam trabalhando, estavam disponíveis para trabalhar e tomaram alguma providência efetiva para conseguir trabalho nos trinta dias anteriores à semana em que responderam à pesquisa. A maior taxa de ocupação registrada foi a do mês de abril de 2004 (13,1%) e a menor foi a de dezembro de 2007 (7,4%). Somente uma vez, em 2006, a taxa subiu em relação ao ano anterior. Fonte: site do IBGE – pagina visitada em 29 de maio de 2008 Ano Taxa de desocupação (%) 2003 12,317 2004 11,470 2005 9,825 2006 9,975 2007 9,291 http://pt.wikipedia.org/wiki/Desemprego http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Geografia_e_Estatística http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Geografia_e_Estatística http://pt.wikipedia.org/wiki/População_em_Idade_Ativa http://pt.wikipedia.org/wiki/População_em_Idade_Ativa http://pt.wikipedia.org/wiki/Região_metropolitana http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Paulo_(cidade) http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Paulo_(cidade) http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(cidade) http://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Alegre http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_(Bahia) http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife http://pt.wikipedia.org/wiki/2004 http://pt.wikipedia.org/wiki/2007 http://pt.wikipedia.org/wiki/2006 41 Dados do IBGE dos ultimos meses: Fonte: site do IBGE – pagina visitada em 29 de maio de 2008 Em abril de 2008, a taxa de desocupação foi estimada em 8,5% para o agregado das seis regiões abrangidas pela pesquisa, assinalando estabilidade na comparação com março (8,6%), pois a variação de 0,1 ponto percentual não é estatisticamente significativa. Em abril, o contingente de ocupados (21,4 milhões) no total das seis Regiões Metropolitanas, não mostrou variação em relação com o mês anterior. Apesar de um decréscimo nas taxas de desemprego apresentadas em pesquisa é necessário políticas para a geração de empregos. 2.2 As possíveis soluções para o desemprego A primeira atitude tomada para minimizar o desemprego no Brasil seria a restabelecimento do crescimento econômico. O crescimento econômico sustentável é forma fundamental para criar mais empregos. Com economia estagnada, as demais políticas de emprego não são eficazes. Em segundo lugar, é necessário orientar o crescimento econômico, de forma que promova os setores apropriados para amparar uma parcela expressiva da população desempregada ou marginalizada. Desenvolvendo política de crédito e política industrial convenientes. O Brasil, diverso de outros países de economia mais madura, ainda pode associar seu crescimento econômico a um projeto mais audaz 42 de inclusão social, pois dispõe de setores de infra-estrutura social e econômica - como a construção civil, a agricultura, o saneamento, a educação etc. - com enorme déficit de investimentos. Terceiro passo é promover uma revolução educacional, em todos os graus, acabar com o analfabetismo, universalizar o acesso ao ensino fundamental e médio, expandir o ingresso ao ensino universitário e gerar programas de educação profissionalizante, especialmente para as classes sociais menos favorecidas. Em quarto lugar preciso construir uma forte base exportadora, invertendo o atual modelo exportador de emprego e causador de vulnerabilidades externas ao país; Além disso, é necessário organizar o problema das dívidas e dos déficits internos e externos, que são as grandes fontes atuais de fragilidades econômicas do País. Deve-se combater a sonegação, a fuga e a omissão fiscais; aperfeiçoar a qualidade do gasto público e priorizar os gastos que diminuem a desigualdade social e que promovam o desenvolvimento; redirecionar a política de crédito para beneficiar as pequenas e micro-empresas; Deve-se repensar a forma de inserção na economia global, amenizando os efeitos cruéis e se eleve ao máximo os efeitos benéficos de uma maior integração econômica, que não deve ser conduzida apenas sob pressupostos econômico- competitivos. O processo de internacionalização da economia deve ser político e economicamente ajustado e orientado para provocar capacidade técnica e sistêmica interna que permita ao país alcançar os mercados globais. Caso contrário, esse processo de internacionalização poderá ser abortado, mais cedo ou mais tarde. Os municípios, os Estados e o governo federal têm uma responsabilidade em relação à situação econômica de miséria. A maior responsabilidade do governo federal é fazer o país crescer. O que se exige que o Estado faça é dar uma oportunidade para que as pessoas miseráveis possam deixar de ser miseráveis pelo seu próprio esforço, não dando dinheiro apenas. Enquanto isso algumas medidas que podem ser tomadas para amenizar a questão. Não só auxiliando os cidadãos no ingresso ao mercado, mas também, garantindo a dignidade daqueles que estão no desemprego. Entra em cena, então, a Economia Solidária. 43 2.3 A Economia Solidaria no combate ao desemprego Com o desemprego uma parte cada vez maior da população abrigou-se em vários tipos de ocupações informais, para ter no mínimo como sobreviver. Ultimamente o excedente de mão-de-obra organizou-se, na forma de cooperativas de trabalho, e os seus serviços começaram a ser demandados pelas empresas interessadas em terceirizar parte da sua força de trabalho. Para Singer a solução é a solidariedade, mais precisamente a economia solidária: “Dadas estas dificuldades, a solidariedade é a solução racional: um conjunto de produtores autônomos se organiza para trocar seus produtos entre si, o que dá a todos e a cada um a maneira de escoar a produção sem ser de imediato aniquilado pela superioridade dos que já estão estabelecidos“ (SINGER: 2000:132). Com a formação de cooperativas de produção e de consumo os cooperados estabelecem uma “rede de solidariedade”. Dando prioridade as relações mercantis entre si, e assim os produtores autônomos se protegem do grande mercado. Quanto mais empresas cooperadas concorrerem entre si, quanto maior o número de empresas da cooperativa, tanto melhores suas chances de sucesso, maior a possibilidade deste mercado acender e ficar no mesmo patamar com o mercado capitalista: “Será importante que haja várias empresas competindo pelos consumidores em cada ramo de produção dentro do setor, para que cada uma delas seja estimulada a melhorar a qualidade e baixar os custos. Só que a pequena nova empresa, criada por ex desempregados, estará competindo com outras da mesma origem, sendo protegida da concorrência da grande empresa capitalista, do produto importado e inclusive de pequenas empresas estabelecidas há tempo” (SINGER, 2000: 123). Diversos estudos realizados pelos defensores da economia solidária apontam as dificuldades de vários empreendimentos solidários para constituírem-se como empreendimentos viáveis. Dentre as dificuldades destacam-se: a impossibilidade de concorrência com as empresas capitalistas; pouca solidariedade entre os cooperados, uma vez que ainda não perderam idéia de serem empregados subordinados a um patrão; a pouca credibilidade em adquirir nova clientela, dentre outros. Mas isso, como entende Cattani, não prejudica a alternativa como um todo, pois na balança, entre o que se ganha e perde o saldo ainda é positivo: 44 “A partir do acompanhamento e avaliação de experiências concretas, de modo geral, os autores ou equipes de pesquisa, identificam os problemas internos e aqueles originados na relação com o ‘mundo exterior’ indiferente ou, eventualmente, refratários aos novos empreendimentos. No balanço de ganhos e perdas, o resultado é interpretado como positivo, indicando a pertinência social, política e econômica das iniciativas que, devidamente
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