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a economia solidaria-como resposta ao desemprego

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
CENTRO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E JURÍDICAS 
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Economia Solidária: como resposta ao desemprego 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA 
2008 
 
 
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ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Economia Solidária: como resposta ao desemprego 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à coordenação do Curso de 
Ciências Econômicas da Universidade Federal de 
Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a 
obtenção do grau de Bacharel em Economia. 
 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Genival Ferreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA 
2008 
 
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ELDA DANIELE OLIVEIRA CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
A Economia Solidária: como resposta ao desemprego 
 
 
 
 
 
 Monografia apresentada à coordenação do Curso de Ciências Econômicas da 
Universidade Federal de Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a 
obtenção do grau de Bacharel em Economia. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
_____________________________ 
Prof. Dr. Genival Ferreira 
1º Examinador 
 
 
 
 
 
 
_____________________________ 
Prof. Esp. Romanul de Souza Bispo 
2º Examinador 
 
 
 
 
 
________________________________ 
Prof. Msc Ana Zuleide Barroso da Silva 
3º Examinador 
 
 
 
 
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Dedico primeiramente a Deus que me ajudou na 
realização deste trabalho e também aos meus 
pais pela dedicação 
e apoio que sempre me deram em relação aos 
meus estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Em especial ao Professor Genival Ferreira, pelo interesse e dedicação que 
mostrou na execução deste trabalho. 
Aos meus pais pelo incentivo e apoio na elaboração deste projeto. 
Ao amigo Alexandre Bruno pela ajuda e suporte técnico no desenvolvimento 
deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“O temor do Senhor é o principio da sabedoria.” 
Pv. 9:10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 
Esta monografia foi elaborada com a perspectiva de compreender o fenômeno da 
economia solidária que esta acontecendo nos mais variados níveis: local, nacional e 
mundial. O presente trabalho se desenvolve analisando a economia solidária em 
seu desenvolvimento no Brasil, e a importância das instituições para o seu 
desenvolvimento, além de identificar algumas diferenças da economia solidária e da 
capitalista. Apresenta a sua relevância na questão do desemprego. Os 
Empreendimentos de Economia Solidária caracterizam-se como um conjunto de 
empreendimentos produtivos organizados de maneira coletiva e autogestionária, que 
apresentam o cooperativismo como modelo de organização democrática e 
igualitária, remunerando o trabalhado de forma privilegiada em relação ao capital, 
seja no campo ou na cidade. 
 
Palavras-chave: economia solidária, autogestão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This monograph was elaborated with the perspective of understanding the 
phenomenon of the solidarity economy that this happening in the most varied levels: 
place, national and world.O present work if it develops analyzing the solidarity 
economy in his/her development in Brazil, and the importance of the institutions for 
his/her development, besides identifying some differences of the solidary economy 
and of the capitalist. It presents his/her relevance in the subject of the unemployment. 
The Enterprises of Solidarity Economy are characterized as a group of organized 
productive enterprises in a collective way and autogestionária, that present the 
cooperativismo as model of democratic and equalitarian organization, remunerating 
him/it worked in privileged way in relation to the capital, be in the field or in the city. 
 
Word-key: solidarity economy, self-management. 
 
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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10 
1. CONHECENDO A ECONOMIA SOLIDARIA 
1.1 Histórico da Economia.....................................................................................12 
1.2 Conceito...........................................................................................................15 
1.3 Princípios da Economia Solidária....................................................................20 
1.4 Economia Solidária no Brasil..........................................................................22 
1.5 Entidades de Fomento a Economia Solidária..................................................26 
1.5.1 ANTEG....................................................................................................27 
1.5.2 SENAES.................................................................................................28 
1.5.3 ITCPs......................................................................................................29 
1.5.4 ADS........................................................................................................30 
1.5.5 FETRABALHO .......................................................................................31 
1.6 As dificuldades da Economia Solidária............................................................31 
1.7 Economia Solidária a partir da falência ou crise de empregos........................35 
2. ECONOMIA SOLIDARIA COMO RESPOSTA AO DESEMPREGO 
2.1. Desemprego no Brasil.....................................................................................38 
2.2. As possíveis soluções para o desemprego.....................................................41 
2.3.Economia Solidária no combate ao desemprego.............................................43 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 48 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
O desemprego atualmente tem sido um dos principais problemas enfrentados 
pela população. É crescente o numero de pessoas que não conseguem inserir-se no 
mercado de trabalho. O desemprego é um fenômeno fortemente relacionado à 
organização mundial da economia, e que atinge diversos países de forma 
interligada, interferindo na vida de milhões de trabalhadores. A oferta de postos de 
trabalho está ligada ao processo de globalização econômica, à inserção de novas 
tecnologias produtivas, à disputa de mercados pelo capital internacional e à 
transferência das empresas para regiões nas qual o valor dos impostos é menor, 
diminuindo assim, os custos de produção. 
A revolução industrial e o surgimento da globalização causaram efeitos fortes 
e longos acentuando o desemprego e provocando o aumento da exclusão social. A 
extinção de postos de trabalho ou o baixo poder de criação de postos significam 
subtração de poder de compra e piora distributiva. Os trabalhadores substituídos por 
máquinas ficam sem trabalho e, portanto, reduz de forma intensa seu gasto, o que 
faz com que os trabalhadores que produziam o que eles deixam de comprar também 
percam seus empregos. Estes também cortam seus gastos, o que acarreta novo 
desemprego e assim por diante. 
 Com essas mudanças no mercado de trabalho e com uma conjuntura 
desfavorável aos trabalhadores nascem importantes iniciativas na área da economia 
solidária e da autogestão, como resistências à exclusão, dentre elasestão as 
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares. Elas iniciam como projetos, 
programas ou órgãos das universidades com o intuito de dar suporte à construção e 
ao desenvolvimento de cooperativas populares elaboradas por iniciativa de grupos 
de desempregados ou daqueles que passam por situações de precariedade do 
trabalho. O objetivo é concentrar a atenção em uma forma de organização 
econômica que seja viável e emancipável e na quais os princípios fundamentais 
sejam: a solidariedade, autogestão e democracia. 
A economia solidária apresentou-se como alternativa para as pessoas que 
tiveram os seus postos de trabalho destruídos. Essa economia é representada pelo 
conjunto de atividades econômicas (produção, distribuição, consumo, poupança e 
credito) organizada sob a forma de autogestão. Procura recuperar de maneira 
melhorada princípios cooperativistas e autogestionários que surgiram das 
experiências associativas obtidas pelos trabalhadores europeus no século XIX. 
11 
 
As atividades econômicas que envolvem princípios solidários já acontecem há 
muito tempo, mas nas ultimas décadas adquiriu interesse especial. O mais 
importante é que este tipo de empreendimento, constituído por renovados atores 
comprometidos e empenhados em seu sucesso tornando essa atividade não só 
viável como sustentável ao longo do tempo provocando, portanto, o 
desenvolvimento econômico e social. 
Existem diversas formas econômicas onde as pessoas se associam para 
produzir e reproduzir meios de ganhos com base em relações solidárias. A forma 
típica é cooperativa sendo a mesma de propriedade dos trabalhadores que 
produzem e gerenciam democraticamente, conhecidas como cooperativa de 
produção ou de trabalho. Os outros tipos de cooperativas são de consumo, credito 
distribuição ou seguros. 
Para que a economia solidária se concretize é fundamental a existência de 
duas dimensões: a econômica e a política. A atividade econômica é de que as 
atividades econômicas garantam meios de vida. 
E neste sentido, o presente trabalho se desenvolve explicando como nasceu 
à economia solidária, como aconteceu sua trajetória histórica, quais os motivos para 
que os empreendimentos solidários cresçam, como essa nova ideologia pode ajudar 
amenizar o problema do desemprego. Pretende analisar como a economia solidária 
pode amenizar o desemprego atual. 
 A metodologia utilizada para a realização deste trabalho baseia-se na 
pesquisa bibliografia e analítica mediante a seleção de livros, artigos e sites de 
pesquisa. 
 Na primeira parte deste trabalho veremos as definições, histórico e 
características que marcam esses empreendimentos, que vêem crescendo nas 
ultimas décadas, nascendo na Europa e se espalhando pelo resto do mundo. 
Na Segunda parte será abordada a intenção da economia solidária em 
relação aos desempregados quanto à geração de emprego e renda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
1. CONHECENDO A ECONOMIA SOLIDÁRIA 
 
 
1.1 HISTÓRICOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA 
 
A Economia Solidária originou-se na Revolução Industrial, como reação dos 
artesãos expulsos dos mercados pelo advento da máquina a vapor na passagem do 
século XVIII ao XIX, surge na Grã-Bretanha às primeiras Uniões de Ofícios (Trade 
Unions) e as primeiras cooperativas. Com a fundação da cooperativa de consumo o 
cooperativismo de consumo se consolida em grandes empreendimentos e se 
espalha pela Europa primeiro e depois pelos demais continentes, a partir de 1980, a 
exclusão de grande número de trabalhadores do mercado se repete, surgi um novo 
cooperativismo, bem parecido o de suas origens históricas. Novas formas 
institucionais de autogestão são inventadas e passam a ser conhecida como 
"economia solidária". 
É na história da classe operária inglesa, segundo Singer, que se forma o 
caráter do cooperativismo em suas origens, nascido das greves dos trabalhadores, 
reflexo da conjuntura econômica excludente e desigual provocada pelo grande 
empobrecimento dos artesões, o crescimento do desemprego e a exploração sem 
limites nas fábricas, com ausência de condições mínimas de proteção ao trabalho, 
jornadas de trabalho exageradas, exploração do trabalho infantil, “debilitamento” 
físico dos trabalhadores e sua elevada morbidade e mortalidade” (SINGER, 2002, p. 
24). Singer1 afirma que: 
“a economia solidária foi inventada por operários, nos 
primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza 
e ao desemprego resultantes da difusão ‘desregulamentada’ 
das máquinas-ferramenta e do motor a vapor no início do 
século XIX. As cooperativas eram tentativas por parte dos 
trabalhadores de recuperar trabalho e autonomia econômica, 
aproveitando as novas forças produtivas”. 
 
Nesse aspecto, torna-se importante citar a ação desempenhada por Robert 
Owen, proprietário de um complexo têxtil em New Lanark, na Grã-Bretanha, que veio 
a inspirar outros pensadores. No início do século XIX, Owen restringiu a jornada de 
trabalho, proibiu o emprego de crianças e construiu escolas, proporcionando um 
tratamento correto aos seus trabalhadores. Com ganhos de produtividade, alcançou 
também respeito e consideração. 
 
1 Paul Singer é um dos maiores defensores da Economia Solidária no Brasil 
13 
 
A economia britânica estava em profunda depressão quando ele apresenta 
um plano para a construção de Aldeias Cooperativas, em que os 1.200 habitantes, 
trabalhando na terra e nas indústrias, produziriam sua própria subsistência, trocando 
os excedentes entre as Aldeias e ativando novamente o fluxo do trabalho e da 
produção. Após a rejeição do Governo em implementar suas propostas, as idéias de 
Owen seriam retomadas de outra forma pelos seus adeptos, a de formação de 
sociedades cooperativas, coincidindo com uma nova propagação dos sindicatos e 
de organizações laborais que lutavam para “eliminar o assalariamento e substituí-lo 
por autogestão” (SINGER, 2002, p. 29). 
 De acordo com Singer (2002, p. 29,30), Ao lado das cooperativas operárias 
havia sociedades de propaganda owenista, que tinham como objetivo fundar Aldeias 
Cooperativas, atualmente chamadas de “cooperativas integrais”, pois organizavam 
globalmente produção e consumo. 
Daí se originava volta e meia os armazéns cooperativos que passaram a 
adquirir produtos das cooperativas operárias e distribuí-los, transformando-se em 
núcleo de escambo da produção cooperativa, denominados Exchange Bazaars 
(bazares de troca) ou Equitable Labour Changes (bolsas eqüitativas de trabalho). 
Sem intermediários esse tipo de comércio, apresenta viabilidade econômica 
aos seus participantes, além de atender boa parte da produção das cooperativas 
operárias, oferecendo um mercado onde todos pudessem trocar seus produtos. 
Essa característica se reproduziu na criação, por Owen, do National Eqüitable 
Labour Exchange (Bolsa Nacional de Trabalho Eqüitativo), que inseriu uma moeda 
própria, as notas de trabalho, medido pelo tempo médio gasto por um operário 
padrão na produção de um determinado item, sendo desconsiderado o lucro na 
formação de seu preço. 
Da experiência do cooperativismo de consumo dos Pioneiros Eqüitativos de 
Rochdale, um importante centro têxtil no norte da Inglaterra, foi adotado princípios 
que alem de universal seriam a base para o cooperativismo. Relata Singer (2002, p. 
39,40): 
1º) que nas decisões a serem tomadas cada membro teria direito a um voto, 
independentemente de quanto investiu na cooperativa; 
2º) o número de membros da cooperativa era aberto, sendo em princípio aceito 
quem desejasse aderir,. Por isso, esse princípio é conhecido como o da “porta 
aberta”; 
14 
 
3º) sobre o capital emprestado a cooperativa pagaria uma taxa de juros fixa; 
4º) as sobras seriam divididas entre os membros em proporção às compras de cada 
um na cooperativa; 
5º) as compras na cooperativa seriam sempre à vista; 
6º) os produtos vendidos pela cooperativaseriam sempre puros (isto é, não 
adulterados); 
7º) a cooperativa se empenharia na educação dos cooperativados; 
8º) a cooperativa manter-se-ia sempre neutra em questões religiosas e políticas. 
Desses princípios surgiram outras formas de cooperativas (agrícolas, de 
compra e venda, de produção, etc.), onde se ressaltam as cooperativas de crédito, 
nascidas seis anos após a Cooperativa de Rochdale, tendo como diferença, além da 
guarda e administração de valores, o fornecimento de empréstimos aos sócios. A 
idéia de cooperativas de crédito aparece na Alemanha, organizadas por Schulze-
Delitzsch e Wilhelm Raffeisen, após a ocorrência de duas grandes tragédias 
naturais, a perda das safras de cereais e um inverno rígido, que atingiu de maneira 
dura os produtores e conduziram ambos à “procurarem remédios institucionais para 
a vulnerabilidade dos que vivem do próprio trabalho”. (SINGER, 2002, p. 60). 
Após um momento de relativa expansão econômica, em especial após a 
Segunda Guerra Mundial, onde ocorreu o aumento dos direitos sociais e 
trabalhistas, há certa retração e desinteresse pela economia solidária, quando os 
trabalhadores se habituam ao pleno emprego dos países centrais no período de 
1940 a 1970 e se acomodam ao assalariamento, conforme Singer (2004) 
Essa situação se transforma a partir de meado da década de 1970, com a 
crescente automatização dos países centrais acabando com milhões de postos de 
trabalho formal e provocando um desemprego em massa. A flexibilidade produtiva 
consentiu às empresas deslocarem territorialmente seu processo de produção, 
procurando mercados com vantagens locacionais e de custo da mão-de-obra. Em 
articulação com essa forma externa de flexibilização, as empresas operam também 
de uma forma interna, onde ocorre uma influência em favor da redução da proteção 
social relativa ao trabalho. Como exemplos disso, as relações interindustriais 
combinariam não apenas organizações produtivas de tipos e em regiões diferentes, 
como também diversas formas de gestão da mão-de-obra. As tarefas gerais e 
desqualificadas são transferidas para as pequenas empresas, sob um regime 
15 
 
escasso de trabalho, permanecendo as grandes com o trabalho especializado e 
qualificado, em um regime formal. 
Da acumulação de fatores decorrentes do colapso do regime de 
acumulação, há uma recuperação da linha neoliberal, somadas a um forte atraso 
nas políticas sociais e recuo significativo da força política do sindicalismo - junto a 
uma clara alteração de ênfase da proteção ao trabalhador não pela defesa de seu 
salário, mas sobre a defesa do emprego. Nos países do terceiro mundo, conclui-se, 
então, que ter um emprego formal simplesmente, por mais difícil que seja, é uma 
vantagem de poucos. 
Sobre o mesmo assunto, Bertucci (2005, p.29) registra que a reestruturação 
econômica e o reajustamento social sucedida da flexibilização do mercado e dos 
procedimentos de trabalho nas décadas de 70 e 80 tendem para uma gradual 
desmontagem do estado do bem-estar e para um crescente aumento do 
desemprego estrutural, do trabalho informal e precário, da subcontratação e dos 
contratos temporários. 
É dessa forma que ressurge com força a Economia Solidária, se 
fortalecendo num contexto de tensão do mundo do trabalho, se apresentando como 
alternativa dos trabalhadores à precarização de direitos sociais e trabalhistas, 
conforme manifesta Alves (2004, p.6): 
 
1.2 Conceito 
A Economia Solidária é um conjunto de atividades econômicas (produção, 
distribuição, consumo, poupança e crédito) que geram trabalho e renda, regida por 
princípios de autogestão, democracia, participação, igualitarismo, cooperação no 
trabalho, sustentabilidade, desenvolvimento integral e compromisso social. A 
economia solidária se compõe das empresas que praticam os princípios do 
cooperativismo, ou seja, a autogestão. Ela é muito heterogênea, visto que é formada 
de indivíduos oriundos de diversas áreas de conhecimento ou profissão, que se 
ajuntam em associações e cooperativas específicas ou clubes de troca, embora o 
motivo que os une, que leva ao projeto coletivo, seja um só. 
 É uma estratégia que nasceu das oposições e lutas sociais contra o 
desemprego e a pobreza, formada por atividades sócio-econômicas, de maneira 
associativa e autogestionária. As atividades de Economia Solidária têm garantido a 
reprodução da vida de centenas de pessoas marginalizadas do mercado de 
16 
 
trabalho. São formas de trabalho diferenciadas, buscam a cidadania e a realização 
humana. Elas implicam transformações na sociedade, que criam espaços de 
solidariedade dentro do sistema capitalista. 
Essa economia foi idealizada por operários, no inicio do capitalismo industrial, 
como resposta à pobreza e ao desemprego decorrente da introdução das máquinas 
no processo produtivo, no início do século XIX. As cooperativas, a forma mais típica 
de economia solidária, era tentativa por parte de trabalhadores de recuperar trabalho 
e autonomia econômica, aproveitando as novas forças produtivas. Sua estruturação 
satisfazia aos valores básicos do movimento operário de igualdade e democracia. O 
primeiro grande espaço do cooperativismo de produção foi contemporânea, na Grã 
Bretanha, da expansão dos sindicatos. 
A empresa solidária nega a separação do trabalho e posse dos meios de 
produção, que é reconhecidamente como o alicerce do capitalismo. A empresa 
capitalista é de propriedade dos investidores, dos que forneceram o dinheiro para 
adquirir os meios de produção e é por isso que seu único objetivo é dar lucro a eles, 
o maior lucro possível em relação ao capital investido. A administração, na empresa 
capitalista, está concentrada totalmente nas mãos dos capitalistas ou dos gerentes 
por eles contratados. 
Já nos empreendimentos solidária a administração e gerenciamento são 
baseados na democracia e na igualdade de direitos e responsabilidades; sociedades 
econômicas cuja natureza jurídica caracteriza-se por ser sociedade de pessoas, as 
cooperativas. 
O capital da empresa solidária é possuído pelos que nela trabalham e apenas 
por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos os que trabalham são 
proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem na empresa. E a 
propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores, para que 
todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela. Empresas solidárias são, em 
geral, administradas por sócios eleitos para a função e que se pautam pelas 
diretrizes aprovadas em assembléias gerais ou, quando a empresa é grande demais, 
em conselhos de delegados eleitos por todos os trabalhadores. Nos EES, quem 
participa dos processos decisórios são os trabalhadores, os donos dos meios de 
produção. As principais decisões são tomadas em assembléias ou reuniões gerais, 
democraticamente votadas. Cada participante tem direito a um voto, portanto, todos 
os participantes têm direito a optar sobre os rumos do empreendimento. Isso não 
17 
 
significa dizer que todas as decisões referentes ao empreendimento necessitem ser 
levadas à votação, isso poderia dificultar muito o andamento das atividades 
cotidianas de produção. As decisões de cunho técnico, ligadas à produção, podem 
ser tomadas pelos trabalhadores designados a determinada área (dependendo do 
tamanho do empreendimento), eleitos por meio do voto. O excedente anual - 
chamado “sobras” nas cooperativas - tem a sua destinação decidida pelos 
trabalhadores. Uma parte, em geral, destina-se ao reinvestimento e podendo ser 
depositada num fundo (indivisível), que pertence aos ao coletivo, e não ao sócio 
individual. Outra parte, também é reinvestida, pode aumentar o valor das cotas dos 
sócios, que têm o direito de sacá-las quando se retiram da empresa. O restante das 
sobras é em geral destinado a um fundo de educação, a outros fundos sociais e 
eventualmente à repartição entre os sócios, por critérios acatadospor eles. Portanto, 
o capital da empresa solidária não é remunerado, sob qualquer pretexto, e por isso 
não há lucro, pois este é tanto jurídica como economicamente o rendimento 
proporcionado pelo investimento de capital. 
Dependendo das referências conceituais utilizadas, umas experiências têm 
sido mais, outras menos bem sucedidas, e outras ainda fracassaram, encerrando 
suas atividades. Sucumbiram economicamente por inúmeras e variadas razões, 
tanto conjunturais como estruturais. 
A cooperativa de produção é a modalidade básica da economia solidária. A 
cooperativa de comercialização é composta por produtores autônomos, individuais 
ou familiares (camponeses, taxistas, profissionais liberais, artesãos, etc.) que fazem 
suas compras em comum e, quando cabe, também suas vendas. Sendo a produção 
individual, o ganho também é e as sobras das operações comerciais são em geral 
distribuídas entre os cooperadores em proporção ao montante comprado e vendido 
por cada um através da cooperativa. 
Outra modalidade de empresa solidária é a cooperativa de consumo, que é 
possuída pelos que consomem seus produtos ou serviços. A finalidade dela é 
proporcionar a máxima satisfação ao menor custo aos cooperadores. Mas, para ser 
empresa solidária, não pode haver separação entre trabalho e capital. Muitas 
cooperativas de consumo empregam trabalho assalariado, o que acende lutas de 
classe em seu interior. Por isso não fazem parte da economia solidária. Só 
pertencem a ela as cooperativas de consumo que tornam seus trabalhadores 
membros plenos. Alguns a denominam por isso de cooperativas mistas. 
18 
 
O mesmo acontece com as cooperativas de crédito. Estas são empresas de 
intermediação financeira possuídas pelos depositantes. Para que sejam solidárias, é 
preciso que os trabalhadores que as operam profissionalmente sejam sócios delas. 
As cooperativas de crédito comunitárias, formadas por moradores da mesma cidade 
ou membros do mesmo sindicato, etc. aplicam os depósitos em empréstimos 
pessoais aos cooperadores. Isso se chama crédito rotativo e retira pessoas de baixo 
pode aquisitivo das garras da agiotagem, já que os bancos comerciais estão quase 
sempre fechados para ela. As empresas solidárias tendem a se crescer, formando 
associações locais, regionais, nacionais e internacionais. O que estimula esta 
tendência é o mesmo conjunto de fatores que produz a centralização dos capitais 
em grandes empresas multinacionais e conglomerados: os ganhos de escala que 
permitem reduzir custos; a necessidade de juntar recursos para desenvolver nova 
tecnologia e difundir a melhor tecnologia, além de outros empreendimentos de alto 
custo e alto risco. 
Uma modalidade recente de economia solidária é o clube de trocas 
(chamado de Lets em inglês, cujas iniciais significam Sistemas Locais de Trocas e 
Comércio). Os clubes são formados por microprodutores e prestadores de serviços, 
a maioria desempregados e com falta de clientes. Eles compõem uma associação 
que inventa uma moeda própria (conhecida como "moeda social"), que pode ter a 
forma de notas de papel ou de registro em computador. Cada sócio recebe de 
entrada um valor inicial da moeda do clube, o que lhe permite comprar serviços ou 
bens dos outros sócios. O clube organiza reuniões regulares em que os membros 
anunciam ou mostram o que têm para vender e informam o que precisam comprar. 
Há clubes que publicam periódicos em que as ofertas e demandas são divulgadas 
como anúncios. 
Cada clube de trocas é administrado por sócios eleitos e todas as 
transações efetuadas no clube podem ser conhecidas pelos membros. Os clubes de 
troca na Argentina são hoje milhares, tendo em conjunto centenas de milhares de 
membros que realizam transações no valor de bilhões de dólares anualmente, já 
formam uma grande rede, em que a moeda dum clube serve para fazer compras em 
outro, o que aumenta o potencial de criação de mercado de todos eles. Eles são 
conhecidos também nos países de língua inglesa e começam a se expandir no 
Brasil. 
19 
 
Muitas empresas que nasceram como solidárias acabam por se adaptar ao 
capitalismo e por isso deixam de ser solidárias. O caso mais notório foi o das 
cooperativas de consumo, que alcançaram grande importância na Europa, e que 
optaram por assalariar os seus trabalhadores e administradores. Esta decisão 
provocou grande resistência por parte dos cooperadores mais antigos. O conflito foi 
travado em relação às cooperativas de produção criadas pelas cooperativas de 
consumo e, sobretudo pela grande central cooperativa atacadista inglesa, que 
abastecia as demais. Os trabalhadores destas indústrias cooperativas tinham 
participação no capital, nas sobras e nas instâncias diretivas, além de dificilmente 
perderem o trabalho, mesmo em épocas de crise. Aos olhos dos demais 
trabalhadores, associados das cooperativas de consumo e, portanto donos das 
cooperativas de produção, os que trabalhavam nelas estavam sendo privilegiados 
em relação à condição deles, de meros assalariados (Cole 1944: Cap. IX). 
A economia solidária se compõe das empresas que efetivamente praticam 
os princípios do cooperativismo, ou seja, a autogestão. Ela faz parte, portanto da 
economia cooperativa ou social, sem, no entanto se confundir com as cooperativas 
que empregam assalariados. Na realidade, a grande maioria das empresas 
apresenta graus muito variados de autogestão, não apenas de cooperativa para 
cooperativa, mas para a mesma cooperativa em diferentes momentos. 
Essa economia estabelece um modo de produção que, ao lado de diversos 
outros modos de produção - o capitalismo, a pequena produção de mercadorias, a 
produção estatal de bens e serviços, a produção privada sem fins de lucro -, compõe 
a formação social capitalista, que é capitalista porque o capitalismo não só é o maior 
dos modos de produção, mas molda a superestrutura legal e institucional de acordo 
com os seus valores e interesses. 
Os Empreendimentos Solidários podem ser classificados quanto a natureza 
e quanto a variedade de funções. Em relação à natureza podem ser definidos como: 
Associações, Grupos e Cooperativas de Distribuição ou Serviços; Cooperativas, 
Associações e Grupos Solidários de Produção e trabalho ou como Trabalho 
Comunitário, mutirão e grupos Voluntários. Em relação a variedade de funções 
podem ser conhecidas como: Empreendimentos Solidários Unifuncionais, 
Empreendimentos Solidários Multifuncionais ou como Associações Comunitárias e 
Cooperativas Integrais 
 
20 
 
 
1.3 Princípios da Economia Solidária 
Para que um empreendimento seja considerado solidário o mesmo tem que 
obedecer alguns princípios. Segundo Gaiger2 (2004, p. 11), 
“As propriedades de um EES giram em torno de oito 
princípios, que se espera ver internalizados na 
compreensão e na prática das experiências associativas: 
autogestão, democracia, participação, igualitarismo, 
cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento humano e 
responsabilidade social.” 
 
Estes princípios certamente refletem características de um EES, alguns 
podem estar mais ou menos intensos no cotidiano das atividades de cada 
empreendimento. 
Os princípios de “autogestão”, “democracia” e “participação” parecem 
indissociáveis entre si e referem-se a questão de tomada de decisão democrática no 
interior dos empreendimentos, onde todos os trabalhadores têm a oportunidade de 
participar. O exercício da democracia e da autogestão enfrentam dificuldades na 
implementação. “Os processos participativos pressupõem esforço e trabalho por 
parte dos participantes e constituem, em si, uma forma de aprendizado [...].” 
(GUTIERREZ, 2004, p. 12), porém possuem papel central no funcionamento de 
qualquer empreendimento. 
A auto-sustentação diz respeito à autonomia financeira do empreendimento. 
Para tanto o empreendimento deve se dedicar a produzir bens ou prestar serviços 
de modo a não depender financeiramente de nenhuma outraentidade, sua produção 
deve ser responsável pela sua viabilidade econômica em curto e longo prazos. Esse 
é um dos principais desafios enfrentados. 
O “Desenvolvimento humano”, “cooperação” e “igualitarismo” estão ligados 
ao caráter humanístico dessas iniciativas. 
Os integrantes das organizações desenvolvem as práticas participativas de 
autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos 
empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e 
interesses, etc. Os auxílios externos, de assistência técnica e gerencial, de 
capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos 
verdadeiros sujeitos da ação. 
 
2 Doutor em Sociologia e membro da Coordenação Nacional do Programa de Economia Solidária da Rede 
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas (Unitrabalho). 
21 
 
O princípio da autogestão torna-se uma dinâmica geradora da inclusão, na 
medida em que supera ações individualistas e outras que regem o trabalho 
subalterno. 
O diferencial, contudo, desses empreendimentos está na forma (e natureza) 
da gestão, que é assentada em princípios de democracia, igualdade e solidariedade, 
que consagra os ganhos de sinergia gerados no processo, e também na 
caracterização de uma sociedade de pessoas. 
O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes 
dimensões: na justa repartição dos resultados alcançados; nas oportunidades que 
levam a ampliação de capacidades e do progresso das condições de vida dos 
participantes; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na 
participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, 
regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de 
caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e 
consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. 
A Economia Solidária possui uma finalidade multidimensional, isto é, 
envolve a dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. Isto porque, 
além da visão econômica de geração de trabalho e renda, as experiências de 
Economia Solidária se projetam no espaço público, no qual estão inseridas, tendo 
como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável; 
vale ressaltar: a Economia Solidária não se confunde com o chamado "Terceiro 
Setor" que substitui o Estado nas suas obrigações legais e inibe a emancipação de 
trabalhadoras e trabalhadores, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A 
Economia Solidária reafirma, assim, a emergência de atores sociais, ou seja, a 
emancipação de trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos históricos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
1.4 A Economia Solidária no Brasil 
 
O termo “economia solidária” surgiu, no Brasil, em 1996, citado por Paul 
Singer no artigo “Economia solidária contra o desemprego”, publicado pelo jornal 
“Folha de São Paulo” (PINTO, 2006). Segundo Lisboa (2003), as primeiras reflexões 
sobre a economia solidária, no Brasil, foram produzidas no início dos anos 90 por 
José Fernandes Dias, que já trabalharia a questão a partir do termo “Produção 
Comunitária”. 
A economia solidária no Brasil é formada por trabalhadores no geral 
eliminados do mercado de trabalho, passa ser vista como opção econômica e social 
na década de 80, e ganha espaço nas publicações acadêmicas a partir da segunda 
metade da década de 90. 
Atuam do movimento de Economia Solidária no Brasil hoje: 
- Cooperativas industriais; 
- Empreendimentos populares; 
- Movimentos sociais; 
- Sindicatos; 
- Fóruns Municipais, Estaduais e Fórum Brasileiro de Economia Solidária, 
- Políticas públicas de fomento à Economia Solidária; 
- Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). 
No ano de 2005, segundo dados da Secretaria Nacional de Economia 
Solidária – SENAES, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, existiam cerca de 
15.000 empreendimentos que produzem de acordo com princípios da economia 
solidária, no país. 
Os empreendimentos econômicos solidários desenvolvem suas atividades 
em vários segmentos da economia. De acordo com o SIES, eles foram organizados 
nos seguintes setores: produção, agropecuária, extrativismo e pesca; produção e 
serviço de alimentos e bebidas; produção de artefatos artesanais; produção têxtil e 
confecções; prestação de serviços (diversos); produção industrial (diversos); serviço 
de coleta e reciclagem de materiais; produção de fitoterápicos, limpeza e higiene; 
serviços relacionados a crédito e finanças; produção mineral (diversa); produção e 
serviços diversos. Os resultados estão demonstrados na Figura 1: 
23 
 
 
Figura 1 – Motivações para criação de EES. 
Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 
 
De acordo com o gráfico, percebe-se que a maior concentração de 
empreendimentos solidários está ligada às atividades agropecuária, extrativista e de 
pesca, porém, nesse primeiro item estão enquadradas todas as atividades ligadas 
ao setor primário de produção, enquanto os setores secundário e terciário de 
produção estão distribuídos entre as demais atividades consideradas. É importante 
destacar que as atividades realizadas pelo maior número de empreendimentos são 
as que exigem baixo investimento e são intensivas em mão-de-obra, com destaque 
para a produção têxtil e de confecções. 
Em relação à organização, cada unidade de produção pode ser legalizada, 
na forma de cooperativas, associações ou empresas (que operam internamente de 
acordo com a autogestão); ou não legalizados, trabalhando como grupos informais, 
conforme mostra a Figura 2. 
24 
 
 
Figura 2: Forma de Organização de EES 
Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 
 
Apesar da história do cooperativismo no mundo e no Brasil se confundirem 
com a história da economia solidária, as cooperativas representam apenas 11% do 
total dos empreendimentos solidários, enquanto os grupos informais representam 
33% e as associações, 54%. Essa situação é explicada pela dificuldade legal ou 
burocrática de se registrar uma cooperativa, ou pelo custo que é necessário tanto no 
processo de legalização quanto o de produzir dentro da legalidade, com todas as 
taxas e impostos a serem pagos. 
Dentre das barreiras legais que aumentam os números da informalidade, 
pode se enfatizar a dificuldade de se registrar uma cooperativa que necessita de 20 
sócios, o que pode inviabilizar alguns empreendimentos, por exemplo; ou ainda, o 
caso das associações, às quais são permitidas, por lei, a prestação de serviços, 
porém não a produção de bens. 
A Economia Solidária apresentou enorme expansão nas últimas décadas, 
sendo que além dos empreendimentos e entidades de apoio, uma série de novos 
atores – como a própria Secretaria Nacional de Economia Solidária – passou a fazer 
parte deste mapa. A figura abaixo, reflete a abrangência da Economia Solidária no 
Brasil, oferecendo uma pequena amostra de sua dimensão e potencialidade de 
25 
 
expansão contínua nos próximos anos. Segundo dados do Atlas da Economia 
Solidária no Brasil de 2005, o campo da Economia Solidária no Brasil é o seguinte: 
 
Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL - 2005 
 
Segundo nesse mesmo Trabalho foi examinado os aspecto dos 
empreendimentos solidários do Brasil. Na época foram identificados 14.954 
Empreendimentos Econômicos Solidários em 2.274 municípios do Brasil (o que 
corresponde a 41% dos municípios brasileiros)1. Considerando a distribuição 
territorial, há uma maior concentração dos EES na região Nordeste, com 44%. Os 
restantes 56% estão distribuídos nas demais regiões: 13% na região Norte, 14% na 
região Sudeste, 12% na região Centro-oeste e 17% na região Sul. 
 
26 
 
 
 
Quantidade e percentual de Empreendimentos Solidários por unidade da federal 
Fonte: ATLAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL- 2005 
 
 1.5 Entidades de Fomento a Economia Solidária 
 
O surgimento e evolução das experiências despertou a sensibilidade de 
intelectuais e ativistas, que se tiveram interesse em conhecer e apoiar as 
manifestações de economia solidária no Brasil. Organizações não governamentais e 
núcleos universitários passaram a apoiar o movimento em atividades de formação 
27 
 
para a autogestão, construção de políticas públicas e de capacitação gerencial, 
sendo denominados assessores do movimento. 
No Brasil existem entidades que agregam atividades econômicas coletivas 
como a ANTEG - Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas 
Autogestionárias, as ITCPs - Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, 
Rede UNITRABALHO Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o 
Trabalho, a ADS Agencia de Desenvolvimento Solidário, a FETRABALHO -
Federação das Cooperativas de Trabalho e outras, que aparecem diversifivando-se 
por Estados da Federação. Temos em nível Federal de Governo, a Secretaria 
Nacional de Economia Solidária, que visa formular e articular políticas de fomento à 
economia solidária. Estas entidades nascem da demanda crescente de 
trabalhadores que procuram formar de modo coletivo, empreendimentos solidários, 
que estão se multiplicando em todo o País. As entidades, cumprem um papel 
importante, à medida que se torna um espaço de troca de experiências em 
autogestão e autodeterminação na concretização desses empreendimentos. 
Auxiliam a concretização de estratégias para unir empreendimentos solidários de 
produção, serviços, comercialização, financiamento, consumidores e outras 
organizações. 
 
1.5.1. ANTEAG 
A ANTEAG é um órgão de representação das empresas de autogestão, 
criada em 1994 e designada à produção e à propagação de conhecimento e 
informação sobre processos gerenciais em um contexto multidisciplinar a serviço dos 
interesses dos trabalhadores em empresas autogeridas. A ANTEAG é uma entidade 
sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, constituída por ex-sindicalistas do 
Sindicato dos Químicos de São Paulo, que, junto com técnicos do Dieese, o 
economista Paul Singer, o sociólogo Betinho, o fundo de greve da Associação 
Comunitária de São Bernardo do Campo e outros adotaram a causa da autogestão. 
Atua mais especialmente no setor industrial. Iniciou seus trabalhos nos setor têxtil e 
calçado, abrange atualmente, além destes, os setores químicos, os de confecções, 
metal-mecânico, metalúrgico, de máquinas e o de extração mineral. 
A principal função da ANTEAG é estudar e monitorar projetos para que 
sejam plausíveis e possam conservar o trabalho e renda dos trabalhadores. E 
também acompanhar e construir novos projetos, a partir de ação pública ou popular. 
28 
 
O trabalho da ANTEAG tem como objetivo viabilizar projetos de autogestão. Se os 
trabalhadores estão dispostos a assumir o controle coletivo da empresa, ela 
desenvolve o projeto. A decisão é dos trabalhadores e a execução do projeto é feita 
em parceria com a ANTEAG. Nos últimos dez anos a ANTEAG esteve presente em 
640 empresas em situação de falência ou pré-falimentar em varias regiões do País 
 Apostando na combinação entre propriedade coletiva, reorganização do 
modo de produção e democracia de gestão, a ANTEAG busca, no campo das 
relações intra-fábrica, compor modelos de empresas que, “mesmo implantadas num 
mercado competitivo, tem no seu interior relações de transparência e solidariedade. 
Nelas, o individualismo dará lugar ao companheirismo e à troca de 
experiências”(Anteag: s/d). 
 
1.5.2. (SENAES) Secretaria Nacional de Economia Solidária 
Criada em junho de 2003, é fruto da proposta da sociedade civil e da 
decisão de governo federal, faz parte da história de mobilização e articulação deste 
movimento social existente no Brasil. A SENAES tem como objetivo viabilizar e 
coordenar atividades de apoio à economia solidária em todo o território nacional. 
Implantou o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento (PESD) que tem 
como objetivo gerar o fortalecimento e a divulgação da economia solidária, mediante 
políticas integradas, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à 
promoção do desenvolvimento justo e solidário. Propôs-se, assim, à divulgação de 
informações sistematizadas a respeito da economia solidária, para tornar seu perfil, 
abrangência e potencialidades visíveis à sociedade, tomando como referencia 
indicadores quantitativos e qualitativos de sua existência no País. 
Para a SENAES, a economia solidária corresponde ao conjunto de 
atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito 
organizadas sob a forma de autogestão, isto é, com o domínio coletivo dos meios de 
produção e participação democrática nas decisões dos membros da organização ou 
empreendimento. 
A SENAES realizou em 2005 o mapeamento dos empreendimentos 
solidários em todos os estados brasileiros. O mapeamento possibilitou a criação do 
Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), constituído por 
uma base nacional de informações, que proporcionou a visibilidade da economia 
29 
 
solidária vem oferecendo subsídios aos governos e entidades da sociedade civil 
para a formulação de políticas públicas. O veículo escolhido para difundir a base de 
dados foi o Atlas da Economia Solidária no Brasil, publicado pela SENAES, em 
parceria com o FBES, em abril de 2006. 
 
 1.5.3 ITCPs 
ITCPs são Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, criadas 
em importantes Universidades públicas, a UNITRABALHO Fundação 
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho, assistem 
empreendimentos de trabalhadores através dos Núcleos Locais distribuídos em todo 
o país. A Rede Unitrabalho como um todo, interliga universidades e instituições de 
ensino superior, que se agrupam em regionais e seus respectivos Núcleos Locais 
multidisciplinares. As ITCPs são projetos de extensão universitária e trabalham 
especialmente com comunidades vizinhas às universidades. O processo de 
construção das incubadoras de empreendimentos solidários no Brasil iniciou-se com 
a fundação em 1995 da primeira incubadora universitária de cooperativas populares, 
a ITCP/COPPE-UFRJ. Nos últimos anos, graças aos esforços de professores e 
alunos de diversas universidades e ao apoio recebido (especialmente a partir de 
2003) do PRONINC (Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas), esse 
processo tem se expandido consideravelmente. 
Atualmente existem cerca de 80 incubadoras universitárias de 
empreendimentos solidários ligadas ao PRONINC, além de outras que ainda não se 
vincularam ao programa. 
O processo de incubação dar início com um contato entre a incubadora e as 
pessoas interessadas em montar uma cooperativa. A postura é abertamente política. 
"A marca das ITCPs é um posicionamento político de atuar junto à população 
excluída, lutando pela transformação social através de outro modo de organização 
do trabalho", (Maria Paula Patrone Regules, coordenadora da incubadora da USP). 
A incubação começa pela formação do cooperado. "O curso tem de ser 
transformador, um embrião da cooperativa. A questão central é construir um grupo 
coeso, resgatando experiências individuais de cooperação. Primeiramente é 
abordando formas de se organizar conjuntamente, diferenças entre o trabalho 
coletivo e o trabalho individual e o papel de cada um no conjunto. 
30 
 
 Terminada essa fase, é a vez de decidir se o grupo quer ou não formar 
uma cooperativa. 
 
Etapas do processo de incubação 
 
Etapas Desenvolvimento 
 
Etapas Desenvolvimento 
 
Pré-incubação 
Atividades relativas à elaboração do projeto do empreendimento 
e aproximação dos conhecimentos sobre ES e das atividades 
econômicas do grupo. 
 
Incubação 
Cursos, projetos, treinamento e articulações que desenvolvam o 
empreendimento, buscando a sua autonomia e sustentabilidade.Desincubação 
Momento final da incubação, quando o empreendimento se 
desliga do acompanhamento constante da incubadora. 
 
Fonte: KRUPPA; SANCHEZ, 2001. 
 O tempo de duração de cada etapa é variável nos procedimento de cada 
incubadora, bem como o período total de acompanhamento do grupo. Em algumas 
incubadoras, acontece uma etapa anterior à pré-incubação que era voltado para a 
mobilização de grupos dentro de comunidades. Depois criados grupos que seriam 
assessorados nos primeiros anos de existência. Esta noção é característica da 
concepção “incubadora”, na qual é oferecido acompanhamento constante para 
aquele que acabou de nascer e necessita de um espaço específico para se 
fortalecer. 
Os grupos têm procurado a universidade em busca de assessoria, pois 
conhecem o trabalho realizado pela incubadora, seja em função do histórico de 
atuação da universidade ou por meio de divulgação de outros empreendimentos ou 
entidades. Por este caminho, grupos urbanos têm sido privilegiados no acesso às 
incubadoras. Em levantamento realizado entre vinte incubadoras18, verificou-se que 
na metade delas a incubação inicia-se pela procura dos empreendimentos pela 
incubadora, sendo que os grupos incubados estão localizados no meio urbano. 
 
1.5.4. ADS 
Agência de Desenvolvimento Social, criada na segunda metade dos anos 
90, formada com representação da CUT, DIEESE e UNITRABALHO. Foi criada em 
1999 pela CUT juntamente com a Unitrabalho, DIEESE, FASE e outras 
organizações da sociedade. Constitui uma nova fase para os trabalhadores, a busca 
31 
 
de novos referenciais de geração de trabalho e renda e de alternativas de 
desenvolvimento. 
A ADS vem consolidando suas ações na promoção da economia solidária e 
no desenvolvimento sustentável para o fortalecimento e constituição de cooperativas 
e de empreendimentos coletivos solidários como um meio de gerar trabalho e renda 
para trabalhadores que buscam formas alternativas de inserção social. 
 Sua Missão é de promover a constituição, fortalecimento e articulação de 
empreendimento autogestionários, buscando a geração de trabalho e renda, através 
da organização econômica, social e política dos trabalhadores, inseridos num 
processo de desenvolvimento sustentável e solidário. 
 Têm a Visão de contribuir para a construção de uma sociedade 
democrática, organizada de forma solidária e participativa, voltada para satisfazer as 
condições de vida, considerando seus aspectos sociais, ambientais, políticos, 
sindicais, culturais e econômicos. 
 
1.5.5. FETRABALHO 
FETRABALHO - Federação das Cooperativas de Trabalho que surgem em 
alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, até 1997. 
No âmbito nacional, as Federações de Trabalho estaduais estão 
organizadas através da Confederação Brasileira de Cooperativas de Trabalho 
(COOTRABALHO) que, por sua vez, está ligada à Organização das Cooperativas 
Brasileiras (OCB), que é o organismo de representação nacional de todos os ramos 
cooperativistas. 
 
1.6 As dificuldades da Economia Solidária 
 
São muitas as dificuldades dos que buscam a associação produtiva como 
alternativa. Ainda há muita carência de políticas públicas específicas para esses 
empreendimentos, sobretudo com relação a crédito. 
De acordo com o SIES, as principais dificuldades enfrentadas pelos 
empreendimentos, apontadas através entrevistas, são: a comercialização (61%), o 
acesso a crédito (49%) e os acompanhamentos, apoio e assistência técnica (27%). 
No caso da comercialização, ser por causa da baixa qualidade dos produtos 
e serviços dos empreendimentos frente aos similares ofertados por empresas 
32 
 
capitalistas convencionais. Pela própria falta de capital de giro, ou ainda um 
problema de gestão que poderia envolver questões como desconhecimento do 
mercado, falha na definição do produto, problemas logísticos ou deficiência na 
divulgação dos produtos. Razões que também poderiam ser encontradas em 
empresas capitalistas convencionais, porém, no caso dos empreendimentos 
solidários, a situação mais acentuada é o nível de escolaridade, e freqüente falta de 
preparo dos sócios para questões ligadas à gestão do empreendimento. 
A falta de acesso ao crédito, segunda maior dificuldade enfrentada pelos 
empreendimentos, demonstra, o desinteresse do sistema bancário em financiar a 
atividade de empreendimentos de pequeno porte. Esta postura é percebida pela 
quantidade de recursos destinados às linhas do segmento e, mais ainda, pelo 
tratamento dispensado a este público. Muitas vezes os candidatos a tomadores não 
tem os requisitos necessários para obter o crédito ( comprovação de 
renda,patrimônio, renda mínima e etc.) sendo considerados como de alto risco para 
a consentimento de empréstimos segundo os mesmos critérios adotados para 
empréstimos. Sem acesso ao crédito, não há como adquirir equipamentos e nem 
construir sedes para os empreendimentos (investimento), impede até mesmo a 
obtenção de capital de giro (custeio), o que limita a produção ao montante que for 
possível levantar com sócios ou ao que se consegue realizar com compras a prazo, 
financiadas, via de regra, junto aos próprios fornecedores, a taxas de juros 
exorbitantes. 
Já a falta de assistência técnica, terceira dificuldade mais comumente 
enfrentada pelos empreendimentos solidários pode ser interpretada como uma 
deficiência das políticas públicas voltadas a esta área. Mas não se trata de um 
problema pontual, se tivesse acesso à educação de qualidade para a população de 
baixa renda, que geralmente é a que integra a esses empreendimentos, não haveria 
necessidade de assistência técnica externa, pois esses profissionais seriam os 
próprios trabalhadores. Segundo o Relatório de Diagnóstico e Impacto do PRONINC 
– Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (programa no qual 
o governo federal fomenta as atividades de incubação de empreendimentos 
solidários em diversas áreas do país), a maior parte dos trabalhadores participantes 
possui escolaridade muito baixa, como mostra a Figura 3: 
33 
 
 
Figura 3: Grau de Escolaridade dos participantes do PRONINC 
Fonte: Federação dos Órgãos para Assistência Social – FASE 
Pode-se verificar que mais de 55% dos integrantes não concluiu o ensino 
fundamental, então será necessário, para o êxito do empreendimento, assistência 
técnica externa, em diversas áreas, principalmente em relação a atividades ligadas à 
gestão do empreendimento. 
Nos casos de empreendimentos originados da falência de empresas 
capitalistas, ou do arrendamento de empreendimento em processo falimentar, 
algumas outras dificuldades são ainda encontradas com freqüência, e merecem 
atenção. 
As empresas, não obtiveram sucesso no mercado e faliu, o que significa que 
tem dificuldades a serem vencidas. Devem ser promovidas, então, mudanças para 
mudar o quadro que levou a empresa à falência pelos trabalhadores que assumem a 
massa falida, sem experiência em gestão. 
Essas empresas contraem dívidas com bancos e com outras empresas 
antes de fecharem as portas. Quando a empresa passa ao controle dos 
trabalhadores, transferem-se também as dívidas, que deverão ser administradas e 
pagas. Por causa delas, também é difícil conseguir, no início, a confiança das 
empresas com quem irão se relacionar – em especial os fornecedores. A nova 
empresa autogestionária fica então entregue aos trabalhadores que costumavam 
executar apenas tarefas operacionais, que têm que aprender a administrar o 
empreendimento em tempo de não perder a confiança do mercado em que opera. 
34 
 
A falta costume de gestão coletiva e solidária é outra dificuldade ainda 
enfrentada nestes casos. Em um curto espaço de tempo, os trabalhadores, 
acostumados a um regime patronal de trabalho, devem aprender, dentro do mesmo 
espaço e com muitas das mesmas pessoas, a trabalhar de maneira autogestionária. 
Segundo Lisboa (2004), 
“...poradvirem do fechamento das fabricas, as EAg [empresas 
de autogestão] estão menos propicias ao principio do 
solidarismo: em geral seus integrantes foram obrigados pelas 
circunstâncias a participar do projeto autogestionário. Este não 
nasce de uma escolha, mas da busca pela preservação dos 
seus postos de trabalho”.(Lisboa) 
 
A falta de motivação para a autogestão também pode ser facilmente notada 
nos demais empreendimentos solidários, como explica Singer (2002b, p. 20): “A 
prática autogestionária corre o perigo de ser corroída pela lei do menor esforço”. 
Para o autor, as pessoas desde crianças estão habituadas, a serem reprimidas e a 
obedecer e temer os “superiores”, sendo, portanto, uma questão cultural implantada 
na sociedade em que vivemos e que embaraça o desenvolvimento de atividades que 
concede maior autonomia ao trabalhador, como é o caso da autogestão. 
O trabalhador que já participou do processo produtivo convencional, onde 
costumava apenas receber ordens e executar tarefas terá mais dificuldade de 
aceitará sem oposição ou estranhamento um processo participativo onde ele 
também é responsável pela tomada de decisões. 
O aprendizado da autogestão é, em si, uma dificuldade enfrentada pelos 
empreendimentos, que pode não afetar os resultados econômicos dessas empresas, 
mas tranqüilamente comprometer seu êxito no que diz respeito ao resgate da auto-
estima e desenvolvimento da autonomia (e todas as suas conseqüências) dos 
trabalhadores. 
São as dificuldades de comercialização, acesso a crédito e assistência 
técnica, baixa escolaridade, a falta de costume para autogestão, assim como as 
dificuldades próprias dessas empresas originados de massa falida, os principais 
entraves ao avanço dos empreendimentos. Algumas iniciativas conseguem alcançar 
êxito econômico, além de obter conquistas não-econômicas como autonomia, 
resgate da auto - estima e solidariedade entre os trabalhadores. 
Como solução desses impasses, os empreendimentos solidários podem se 
organizar em redes solidárias ou em cadeias produtivas solidárias e contar, se 
possível, com o crescente número de consumidores interessados em promover 
35 
 
maior justiça social, dispostos, portanto, a fomentar atividades solidárias de 
produção por meio da compra de produtos que obedecem aos princípios da 
economia solidária na sua elaboração. 
 
1.7 Economia Solidária a partir da falência ou crise de empresas 
A economia solidária surge no Brasil como resposta à crise de 1981/1983, 
onde muitas indústrias, de pequeno e de grande porte, pedem concordata e entram 
em processo falência, como foi o caso da indústria Wallig de fogões, em Porto 
Alegre, a Cooperminas, que explorada uma mina de carvão falida em Criciúma 
(Santa Catarina) e da antiga Tecelagem Parahyba de cobertores. Nesta época foram 
formadas, pelos trabalhadores, cooperativas que assumiram essas empresas. 
O fechamento de empresas e a demissão de numerosos trabalhadores 
aconteceu durante os anos 80 e 90. Os sindicatos, como representante legal dos 
trabalhadores, intervém perante a justiça e promove a formação de associação dos 
empregados da firma que desaparece depois de ser substituída por uma 
cooperativa. 
O ponto mais importante era de motivar os trabalhadores a utilizar os 
princípios da economia solidária, convencendo-los a constituir uma empresa onde 
todos são proprietários, onde cada cabeça representa um voto nas decisões, 
empenhados solidariamente em transformar um patrimônio sucateado em um novo 
empreendimento viável. O convencional seria criar uma outra empresa capitalista, 
administrada pelos mais antigos e melhor remunerados, donos dos maiores créditos 
trabalhistas e, portanto proprietários das maiores cotas de capital e não por todos os 
trabalhadores como sugere a economia solidária. 
Em 1991, em função da abertura do mercado interno às importações, entra 
em crise uma grande fábrica de sapatos, a Makerly de Franca (SP), que possuía 482 
empregados. O Sindicato dos Sapateiros se empenha em impedir que tantos 
trabalhadores percam seus empregos e convida Cido Faria, então do DIEESE 
(Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos Sociais e Econômicos) para 
transformar a empresa em vias de falir numa fábrica de trabalhadores. O DIEESE, 
uma antiga instituição de apoio aos sindicatos, contribuiu também com literatura 
sobre os ESOPs (Employee Stock Ownership Plans), que são planos de participação 
dos empregados no capital acionário das empresas, nos Estados Unidos, onde 
recebem incentivos por lei e tem se difundido bastante. Em São Paulo não se 
36 
 
conhecia, até então, qualquer experiência de empresas falidas que passaram a ser 
administrada por antigos empregados organizados em associação. 
Os trabalhadores adotaram com todas as forças a idéia do sindicato e 
procuram comprar o maquinário dos donos da Makerly por 600000 dólares. Foi 
necessária intensa luta política para conseguir o crédito correspondente do 
Banespa, tiveram que ocupar a sede do Banespa em Franca e após 91 dias de 
pressão e negociações, assinou-se um acordo como garantia do empréstimo, 49% 
das ações da empresa ficaram com o banco. Por esse acordo, a Makerly teve de 
continuar sendo uma sociedade anônima e não uma cooperativa. Controlada pelos 
trabalhadores, a empresa funcionou nos anos seguintes com êxito, até que em 
Março de 1995 o governo federal interveio no Banespa e suspendeu a linha de 
crédito à Makerly, o que impôs o encerramento de suas atividades. 
A experiência da Makerly foi o alicerce que consentiu criar uma metodologia 
de transferência de empresas capitalistas a seus empregados. Pessoas de todo o 
país das mais diversas áreas do conhecimento como, sindicalistas, políticos, 
trabalhadores, imprensa, iam até Franca para conhecer a experiência que eles 
denominaram ‘fábrica de trabalhador’ (Anteag, 2000: 56). 
Outras empresas, em geral grandes e antigas, entraram em crise e se 
acabaram tornando autogestionárias: Cobertores Parahyba, Facit , Hidro-Phoenix, 
etc. Em 1994, foi realizado em São Paulo o 1º Encontro dos 
Trabalhadores em Empresas de Autogestão, em que participaram representantes de 
seis empresas. Neste encontro decidiu-se criar a Anteag (Associação Nacional dos 
Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária). A Anteag 
surge não só para ajudar a luta dos trabalhadores pela preservação dos seus postos 
de trabalho e ao mesmo tempo pelo fim de sua subordinação ao capital, mas 
também para assessorar as novas empresas solidárias. 
“Quando os trabalhadores adquiriam o controle das empresas passavam 
enfrentar inúmeras questões, que não eram conhecidas por eles, algumas referentes 
ao mercado e à comercialização dos produtos, ao acesso a crédito e controle 
orçamentário da empresa, à organização do trabalho e da produção, à tecnologia, à 
legislação. Se, por um lado, as relações de solidariedade entre trabalhadores, o 
apoio de alguns sindicatos às suas iniciativas eram fundamentais, outro não eram 
suficientes. Havia necessidade de articular pessoas e instituições, democratizar 
informações, criar um espaço para o debate e produção de alternativas. Enfim, havia 
37 
 
a necessidade de uma entidade que assumisse esses papéis. Era o começo da 
Anteag” (Nakano3, 2000: 68) 
Nesse processo de transformação duma empresa falida ou em vias de falir 
numa empresa solidária, há uma série de etapas cruciais. A primeira é a aceitação 
dos próprios trabalhadores, que precisam consentir trocar seus créditos trabalhistas 
por cotas de capital da nova empresa, isso só pode acontecer se eles acreditarem 
que são capazes de administrar coletivamente a empresa em crise e reabilitá-la.A 
alternativa é deixar que a empresa seja fechada pela justiça e assim fique até que vá 
a leilão, quando do valor arrecadado eles receberão uma fração de seus créditos. 
Em geral esse período é longo as instalações e o maquinário sofre desvalorização 
quase total. Logo, nesta opção, grande dos créditos rescisórios se perdem, ao passo 
que se forem investidos numa cooperativa, sempre há a possibilidade de que 
preservem seu valor e até de que este aumente. 
A segunda etapa é obter posse do patrimônio da firma para os trabalhadores 
associados, o que requer um crédito, sendo que a garantia é o próprio patrimônio 
transacionado. Em geral, crédito volumoso de prazo longo só pode ser obtido em 
bancos oficiais, o que depende de uma decisão política de sua direção. Conseguir 
tal decisão exige em geral forte mobilização e intensa pressão sobre ela, que no 
caso da Makerly (como vimos) tomou a forma de ocupação da sede do banco. Tudo 
isso conta como meio para viabilizar a futura cooperativa que, para seguir operando, 
tem que continuar com o apoio tanto da justiça, como do banco. 
A terceira etapa é a viabilização da nova empresa mediante a recuperação 
da clientela, dos fornecedores e dos créditos da antiga empresa. Nos primeiros 
meses os trabalhadores têm de acumular capital de giro, o que significa que durante 
certo período eles não vão ter a retirada (nível almejado de ganho mensal, em geral 
igual ao que tinham quando empregados), mas muito menos. É o chamado período 
heróico, que pode durar meses, em que os trabalhadores às vezes não conseguem 
sequer um rendimento de subsistência. 
Uma vez superado esse período crítico, grande parte da antiga clientela 
volta e uma nova clientela é conquistada, os fornecedores adquirem confiança na 
cooperativa e a retirada se torna cada vez maior. É só a partir deste momento que a 
empresa solidária entra em sua normalidade. Os trabalhadores com funções 
 
3 Marilena Nakaro é Doutora em educação e assessora educacional da Associação Nacional dos Trabalhadores 
em Empresas de Autogestão e Participação Acionaria (Anteg). 
38 
 
gerenciais fazem cursos e com o tempo vão adquirindo novas habilidades. O 
costume de fazer assembléias vai se consolidando e os trabalhadores que 
continuam nas linhas de produção se acostumam a tomar conhecimento das 
dificuldades sofridas e a decidir em conjunto à direção do empreendimento. 
Grande parte das tentativas de transformar firmas meio ou inteiramente 
falidas em empresas solidárias tem obtido sucesso. Ele se explica pelos sacrifícios 
feitos pelos cooperadores, que se propõem a trabalhar durante meses por ganhos 
mínimos, ou por troca de cestas básicas. Justifica também pela dedicação e amor ao 
trabalho não mais alienado, do que resultam aumentos inesperados de 
produtividade e grande redução de perdas e desperdícios. E finalmente pelo 
aprendizado dos novos administradores das técnicas da gestão de comprar e 
vender, de receber e dar crédito, de inovar produtos e processos e de tecer relações 
solidárias com outras autogestões. 
 
2 . ECONOMIA SOLIDARIA COMO RESPOSTA AO DESEMPREGO 
 
2.1 Desemprego no Brasil 
O emprego é a função ou condição na qual os indivíduos trabalham em 
caráter temporário ou permanente, em qualquer forma de atividade econômica. 
Desemprego é a situação onde as pessoas incluídas na faixa das idades ativas 
estejam, por determinado prazo, sem realizar trabalho em qualquer tipo de atividade 
econômica. Esse fenômeno alcançar de maneira generalizada todas as esferas 
sociais, passando pelos jovens com baixa escolaridade, até os jovens com alta 
escolaridade (nove anos de estudo), pessoas com mais de 40 anos, homens e 
famílias pequenas que se reproduzem mais rapidamente nas grandes capitais. 
Existem alguns tipos de desemprego, que são: 
Desemprego estrutural: é uma característica dos países subdesenvolvidos. 
Acontece devido o excesso de mão-de-obra empregada na agricultura e atividades 
correlatas e pela deficiência em numero de equipamentos de base que geram à 
criação cumulativa de emprego. 
Desemprego tecnológico: ocorre particularmente nos países mais 
desenvolvidos. É o resultado da substituição do homem pela máquina sendo 
representado pela maior procura de técnicos e especialistas e pela queda em 
grande proporção da procura dos trabalhos conhecidos como braçais. 
39 
 
Desemprego conjuntural: também denominado de desemprego cíclico, 
próprio da depressão, quando os bancos contrair os créditos, desestimulando os 
investimentos, e o poder de compra dos assalariados cai em conseqüência da 
elevação de preços. 
Desemprego friccional: determinado pela mudança de emprego ou atividade 
dos indivíduos. É o tipo de desemprego de menor significação econômica. 
Desemprego temporário: forma de subemprego comum nas regiões 
agrícolas, motivado pelo caráter sazonal do trabalho em certos setores agrícolas. 
O aumento do desemprego no Brasil apresenta três explicações 
fundamentais: fatores estruturais, conjunturais e sazonais. 
Em virtude dos fatores estruturais, o Brasil sofre efeitos de três fatores 
nocivos: baixo crescimento, educação insuficiente e legislação inflexível. Destes 
fatores, a educação insuficiente desde a infância é responsável direta ou 
indiretamente pela baixa qualificação da mão de obra no Brasil e apresenta-se como 
um dos pontos críticos para o país. Pode se observar que boa parte dos problemas 
como desemprego no país é causado pela baixa qualificação da mão-de-obra 
existente, procedente de uma educação precária e insuficiente. 
Aumenta a complexidade da tecnologia utilizada à medida que as empresas 
se modernizam que passam requer, então, maiores habilidades técnicas e pessoais 
e, assim, a cada dia mais pessoas são consideradas desqualificadas para os cargos 
ofertados nas empresas, caso o sistema de ensino existente não ofereça formação 
adequada. 
No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores, dos sindicatos, das 
autoridades e dos estudiosos de problemas sociais, sendo este problema também 
mundial. Em qualquer família existe alguém desempregado. O desemprego gera 
vários problemas: para o desempregado, para a família e para o Estado. Para o 
cidadão desempregado e sua família, o desemprego provoca insegurança, a 
indignidade, aquela sensação de inutilidade para o mundo social. 
Os economistas clássicos ou monetaristas dizem que o desemprego baseia-
se no funcionamento do mercado e no desejo dos trabalhadores de receberem 
salários excessivamente altos. Assim, o desemprego acima do friccional é devido a 
uma política de salários inadequada. Sendo esse desemprego qualificado como 
voluntário. Já para os economistas keynesianos, o desemprego deve-se 
fundamentalmente ao nível insuficiente da demanda agregada por bens e serviços. 
40 
 
Assim, defende-se que o desemprego acima do friccional é involuntário e 
ocorre porque o nível da demanda agregada é insuficiente. Apesar disso, os custos 
mais graves do desemprego são para os que sofrem seus impactos, pois muitas 
pessoas não têm acesso ao seguro desemprego. E, para aqueles que se mantêm 
empregados, fica a obrigação de pagar parte dos custos do desemprego por meio 
de impostos ou contribuições sociais mais elevadas. Nesta situação, o desemprego 
traz conseqüências humilhantes, prejudicando os bons hábitos de trabalho e a 
produtividade dos trabalhadores. Pode-se afirmar que o desemprego é o primeiro 
fator causador da pobreza. 
A taxa de desemprego ou de desocupação no Brasil é determinada 
mensalmente pela Pesquisa Mensal do Emprego, coordenada pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números da pesquisa em questão 
são determinados a partir de estudos feitos a cada mês com a População 
Economicamente Ativa (PEA) das seis maiores regiões metropolitanas do país (São 
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvadore Recife). O IBGE 
classifica como pessoas desempregadas ou desocupadas aquelas que não estavam 
trabalhando, estavam disponíveis para trabalhar e tomaram alguma providência 
efetiva para conseguir trabalho nos trinta dias anteriores à semana em que 
responderam à pesquisa. A maior taxa de ocupação registrada foi a do mês de abril 
de 2004 (13,1%) e a menor foi a de dezembro de 2007 (7,4%). Somente uma vez, 
em 2006, a taxa subiu em relação ao ano anterior. 
 
 
Fonte: site do IBGE – pagina 
visitada em 29 de maio de 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ano Taxa de desocupação (%) 
2003 12,317 
2004 11,470 
2005 9,825 
2006 9,975 
2007 9,291 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Desemprego
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Geografia_e_Estatística
http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Geografia_e_Estatística
http://pt.wikipedia.org/wiki/População_em_Idade_Ativa
http://pt.wikipedia.org/wiki/População_em_Idade_Ativa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Região_metropolitana
http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Paulo_(cidade)
http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Paulo_(cidade)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(cidade)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte
http://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Alegre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_(Bahia)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife
http://pt.wikipedia.org/wiki/2004
http://pt.wikipedia.org/wiki/2007
http://pt.wikipedia.org/wiki/2006
41 
 
 
 Dados do IBGE dos ultimos meses: 
 
 
Fonte: site do IBGE – pagina visitada em 29 de maio de 2008 
 
Em abril de 2008, a taxa de desocupação foi estimada em 8,5% para o 
agregado das seis regiões abrangidas pela pesquisa, assinalando estabilidade na 
comparação com março (8,6%), pois a variação de 0,1 ponto percentual não é 
estatisticamente significativa. Em abril, o contingente de ocupados (21,4 milhões) no 
total das seis Regiões Metropolitanas, não mostrou variação em relação com o mês 
anterior. Apesar de um decréscimo nas taxas de desemprego apresentadas em 
pesquisa é necessário políticas para a geração de empregos. 
 
2.2 As possíveis soluções para o desemprego 
 A primeira atitude tomada para minimizar o desemprego no Brasil seria a 
restabelecimento do crescimento econômico. O crescimento econômico sustentável 
é forma fundamental para criar mais empregos. Com economia estagnada, as 
demais políticas de emprego não são eficazes. 
Em segundo lugar, é necessário orientar o crescimento econômico, de forma 
que promova os setores apropriados para amparar uma parcela expressiva da 
população desempregada ou marginalizada. Desenvolvendo política de crédito e 
política industrial convenientes. O Brasil, diverso de outros países de economia mais 
madura, ainda pode associar seu crescimento econômico a um projeto mais audaz 
42 
 
de inclusão social, pois dispõe de setores de infra-estrutura social e econômica - 
como a construção civil, a agricultura, o saneamento, a educação etc. - com enorme 
déficit de investimentos. 
Terceiro passo é promover uma revolução educacional, em todos os graus, 
acabar com o analfabetismo, universalizar o acesso ao ensino fundamental e médio, 
expandir o ingresso ao ensino universitário e gerar programas de educação 
profissionalizante, especialmente para as classes sociais menos favorecidas. 
Em quarto lugar preciso construir uma forte base exportadora, invertendo o 
atual modelo exportador de emprego e causador de vulnerabilidades externas ao 
país; 
Além disso, é necessário organizar o problema das dívidas e dos déficits 
internos e externos, que são as grandes fontes atuais de fragilidades econômicas do 
País. Deve-se combater a sonegação, a fuga e a omissão fiscais; aperfeiçoar a 
qualidade do gasto público e priorizar os gastos que diminuem a desigualdade social 
e que promovam o desenvolvimento; redirecionar a política de crédito para beneficiar 
as pequenas e micro-empresas; 
Deve-se repensar a forma de inserção na economia global, amenizando os 
efeitos cruéis e se eleve ao máximo os efeitos benéficos de uma maior integração 
econômica, que não deve ser conduzida apenas sob pressupostos econômico-
competitivos. O processo de internacionalização da economia deve ser político e 
economicamente ajustado e orientado para provocar capacidade técnica e sistêmica 
interna que permita ao país alcançar os mercados globais. Caso contrário, esse 
processo de internacionalização poderá ser abortado, mais cedo ou mais tarde. 
Os municípios, os Estados e o governo federal têm uma responsabilidade 
em relação à situação econômica de miséria. A maior responsabilidade do governo 
federal é fazer o país crescer. 
 O que se exige que o Estado faça é dar uma oportunidade para que as 
pessoas miseráveis possam deixar de ser miseráveis pelo seu próprio esforço, não 
dando dinheiro apenas. 
Enquanto isso algumas medidas que podem ser tomadas para amenizar a 
questão. Não só auxiliando os cidadãos no ingresso ao mercado, mas também, 
garantindo a dignidade daqueles que estão no desemprego. Entra em cena, 
então, a Economia Solidária. 
 
43 
 
2.3 A Economia Solidaria no combate ao desemprego 
Com o desemprego uma parte cada vez maior da população abrigou-se em 
vários tipos de ocupações informais, para ter no mínimo como sobreviver. 
Ultimamente o excedente de mão-de-obra organizou-se, na forma de cooperativas 
de trabalho, e os seus serviços começaram a ser demandados pelas empresas 
interessadas em terceirizar parte da sua força de trabalho. 
Para Singer a solução é a solidariedade, mais precisamente a economia 
solidária: 
“Dadas estas dificuldades, a solidariedade é a 
solução racional: um conjunto de produtores 
autônomos se organiza para trocar seus produtos 
entre si, o que dá a todos e a cada um a maneira de 
escoar a produção sem ser de imediato aniquilado 
pela superioridade dos que já estão estabelecidos“ 
(SINGER: 2000:132). 
 
Com a formação de cooperativas de produção e de consumo os cooperados 
estabelecem uma “rede de solidariedade”. Dando prioridade as relações mercantis 
entre si, e assim os produtores autônomos se protegem do grande mercado. Quanto 
mais empresas cooperadas concorrerem entre si, quanto maior o número de 
empresas da cooperativa, tanto melhores suas chances de sucesso, maior a 
possibilidade deste mercado acender e ficar no mesmo patamar com o mercado 
capitalista: 
“Será importante que haja várias empresas 
competindo pelos consumidores em cada ramo de 
produção dentro do setor, para que cada uma delas 
seja estimulada a melhorar a qualidade e baixar os 
custos. Só que a pequena nova empresa, criada por 
ex desempregados, estará competindo com outras 
da mesma origem, sendo protegida da concorrência 
da grande empresa capitalista, do produto importado 
e inclusive de pequenas empresas estabelecidas há 
tempo” (SINGER, 2000: 123). 
 
Diversos estudos realizados pelos defensores da economia solidária 
apontam as dificuldades de vários empreendimentos solidários para constituírem-se 
como empreendimentos viáveis. Dentre as dificuldades destacam-se: a 
impossibilidade de concorrência com as empresas capitalistas; pouca solidariedade 
entre os cooperados, uma vez que ainda não perderam idéia de serem empregados 
subordinados a um patrão; a pouca credibilidade em adquirir nova clientela, dentre 
outros. Mas isso, como entende Cattani, não prejudica a alternativa como um todo, 
pois na balança, entre o que se ganha e perde o saldo ainda é positivo: 
44 
 
“A partir do acompanhamento e avaliação de 
experiências concretas, de modo geral, os autores 
ou equipes de pesquisa, identificam os problemas 
internos e aqueles originados na relação com o 
‘mundo exterior’ indiferente ou, eventualmente, 
refratários aos novos empreendimentos. No balanço 
de ganhos e perdas, o resultado é interpretado como 
positivo, indicando a pertinência social, política e 
econômica das iniciativas que, devidamente

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