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História da Ginástica: concepções, métodos e escolas APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo! A Ginástica, sendo usada como uma ferramenta para trabalhar o corpo, aperfeiçoar a aptidão física ou mesmo melhorar as capacidades cognitivas e comportamentais, com caráter competitivo ou não, data de muitos séculos atrás. Durante a Antiguidade, a Ginástica começou a ser usada como forma de exercitar o corpo independentemente de uma necessidade de sobrevivência. Ideia essa que evoluiu cada vez mais dentro da sociedade, até que a Ginástica fosse inserida em escolas e clubes esportivos, além de espaços criados especificamente para esse fim, recebendo a influência de diversos métodos de sistematização oriundos de países europeus. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará a evolução histórica da Ginástica e sua relação com a Educação Física. Além disso, conhecerá e aprenderá a classificar os diferentes métodos de Ginástica, bem como as principais escolas europeias e suas particularidades. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a construção histórica da Ginástica e sua relação com a Educação Física.• Elencar as principais escolas europeias de Ginástica e suas características. • Enumerar e classificar os diferentes métodos de Ginástica. • DESAFIO Conhecer a história da Ginástica, como e por que ela era realizada é importante para compreendermos melhor a forma como ela é encarada hoje. A Ginástica foi moldada ao longo de diversos períodos históricos, sofrendo mudanças na forma como era encarada e nos objetivos que levavam as pessoas a realizá-la. Um ponto de extrema importância é o surgimento das escolas europeias que influenciaram na maneira como a Ginástica foi implantada no Brasil e em como ela funciona até os dias de hoje. Durante uma aula na disciplina de Ginástica Básica de sua instituição de ensino, foi realizada uma visita de campo a um projeto voltado para a prática de exercícios físicos para o público da terceira idade da comunidade. O intuito da visita de campo era entrevistar alguns dos indivíduos acerca da prática de exercícios na época em que eram mais jovens. De acordo com as respostas, temos: Qual(is) escola(s) europeia(s) influenciou(aram) as instituições em que esses idosos realizavam exercícios físicos na época em que eram jovens? Quais características levaram a sua conclusão? INFOGRÁFICO Você sabe identificar os períodos e as civilizações que influenciaram no surgimento da Ginástica? Este infográfico poderá auxiliá-lo a entender a evolução histórica dessa atividade de forma simples e direta. CONTEÚDO DO LIVRO A Ginástica como conhecemos hoje sofreu a influência da realização de exercícios físicos em variados períodos da História. Seus primórdios, principais influências, métodos e inserção nos currículos de ensino regular poderão ser melhor compreendidos no capítulo História da Ginástica: concepções, métodos e escolas, do livro Fundamentos ginásticos da atividade física, que serve de base teórica para esta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. Fundamentos Ginásticos da Atividade Física Rodrigo de Azevedo Franke História da ginástica: concepções, métodos e escolas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a construção histórica da ginástica e sua relação com a educação física. � Elencar as principais escolas europeias de ginástica e suas principais características. � Enumerar e classificar os diferentes métodos da ginástica. Introdução A ginástica como ferramenta para trabalhar o corpo, aperfeiçoar a apti- dão física ou até mesmo melhorar capacidades cognitivas e comporta- mentais, com caráter competitivo ou não, data de muitos anos atrás. Na antiguidade, a ginástica começou a ser usada como forma de exercitar o corpo independentemente de uma necessidade de sobrevivência. Essa ideia evoluiu de tal modo dentro da sociedade que a ginástica foi inserida dentro das escolas e clubes esportivos, além de espaços criados especificamente para ela, passando, assim, a sofrer influência de diversos métodos de sistematização oriundos de países europeus. Neste capítulo, você vai estudar a evolução histórica da ginástica e sua relação com a educação física, conhecer e classificar os diferentes métodos de ginástica, bem como as principais escolas europeias e suas particularidades. A construção histórica da ginástica e sua relação com a educação física Podemos dizer que a ginástica tem seus primeiros registros na Pré-história, período em que as práticas corporais eram usadas para fins de sobrevivência. Exercícios como escaladas, arremessos, golpes e saltos eram realizados para aperfeiçoar a caça e a pesca, além do cultivo na agricultura. A melhora na aptidão física era crucial, já que a necessidade de ataque e defesa era vital e diária. Com a evolução do tempo e da estrutura da sociedade, a ginástica passou a ser planejada com o objetivo de exercitar o corpo para diversos fins, e não somente visando à sobrevivência. Na Grécia Antiga, o termo “ginástica” é criado (gymnastiké: forma de fortalecer o corpo; gymnádzein: treinar nu, forma como os gregos se exercitavam), referindo-se à arte de treinar o corpo e melhorar as capacidades físicas, com diferentes objetivos: desempenho militar, rituais culturais, competições esportivas, atividade estética, dentre outros. Era dada grande importância à formação humana dos indivíduos e, por isso, muitos professores buscavam aliar formação intelectual e exercícios, numa relação de associação entre corpo e mente. Na Grécia Antiga, com o nascimento dos Jogos Olímpicos, a ginástica passou a ser utilizada pela primeira vez como uma atividade esportiva, a fim de atestar qual atleta obtinha o melhor desempenho dentro de uma determinada modalidade. Na Figura 1, o estádio olímpico de Atenas, local onde eram realizadas as competições. Figura 1. Estádio olímpico de Atenas. Fonte: hurricanehank/Shutterstock.com. História da ginástica: concepções, métodos e escolas2 Na Roma Antiga, a ginástica era encarada de uma forma bem diferente. Seu o objetivo único e exclusivo eram os treinamentos militares. O culto ao corpo, as competições e o caráter pedagógico dos exercícios gímnicos per- deram espaço, já que a intenção era preparar os soldados e a população em geral para as guerras, comuns no período e na região, através de exercícios que fortalecessem o corpo e simulassem golpes de combate corpo a corpo, além do manuseio de armas. No período histórico seguinte, com a queda do Império Romano e a ins- tauração da Idade Média, os valores que regiam a sociedade da época estavam fortemente ligados à Igreja Católica. Naquele momento, o corpo tinha conotação pecaminosa, e por isso o culto à beleza não era aceito. Por essa razão, a prática de exercícios estava intimamente ligada ao desenvolvimento de valências físicas para a guerra e à consequente conquista de novos territórios (Cruzadas). Os Jogos Olímpicos, inclusive, foram proibidos em determinado momento da Idade Média e só foram retomados próximo ao século XX. Após o período da Idade Média surgiu o Renascimento, um movimento cultural que substituiu de forma profunda os valores medievais vigentes, reincorporando os padrões vigentes na Antiguidade com as sociedades greco- -romanas, tais como: o culto ao corpo belo, à estética e à beleza, além dos procedimentos gímnicos como forma de trabalhar o corpo não somente visando a luta e a guerra, mas também o bem-estar e a evolução intelectual. Avançando nessa linha do tempo, nos séculos XVIII e XIX a ginástica passa a ter maior importância dentro da sociedade. O desenvolvimento da área na Europa é grande, principalmente em países como França, Suécia e Alemanha, centros que seriam referência mundial no que diz respeito à evo- lução da ginástica e à forma como ela deveria ser ensinada para a população. O processode imigração foi fundamental para o crescimento das escolas de ginástica europeias. Conforme a sistematização e a implementação da ginástica evoluíam muito nos grandes centros europeus, os imigrantes que colonizavam outros países, como os do continente americano, influenciavam na forma como a ginástica era vista e vivida nesses lugares antes mesmo da prática ganhar relevância mundial. 3História da ginástica: concepções, métodos e escolas A ginástica foi, portanto, inserida aos poucos no currículo escolar como parte da formação intelectual dos cidadãos. No Brasil não foi diferente. A reforma Couto Ferraz, realizada em 1851, marcou o início da obrigatoriedade do ensino de educação física nas escolas que pertenciam ao município da corte. O momento foi delicado, pois os pais não aprovaram a medida por acreditar que a disciplina não tinha grande exigência intelectual. Apesar da resistência, a medida foi mantida e a ginástica passou a fazer parte do currículo escolar. Influenciada por diferentes escolas europeias, era a base das aulas de educação física, sendo muitas vezes tratada como um sinônimo dessa disciplina. O grande objetivo da implementação da ginástica era formar indivíduos fortes e capacitados para as mais diferentes atividades, fossem elas laborais ou esportivas. Além disso, havia também o desejo de desenvolver um padrão moral pautado no perfil europeu, que era baseado na disciplina e no trabalho. Entretanto, com o passar dos anos, a ginástica perdeu força nas aulas de educação física, que passaram a ser, cada vez mais, guiadas pela prática de esportes, sobretudo os coletivos. Essa mudança ocorreu principalmente por causa da expansão e popularização desses esportes, além do fato de as aulas de ginástica envolverem muitos exercícios de repetição, o que tornava as aulas entediantes e monótonas quando comparadas com o caráter competitivo e dinâmico que envolvia a prática de esportes. Dessa forma, como podemos perceber, a ginástica foi moldada ao longo dos diversos períodos históricos, sofrendo mudanças na forma como era encarada e nos objetivos que levavam as pessoas a praticá-la. Um ponto de extrema importância e que deve ser detalhado é o surgimento das escolas europeias que influenciaram a forma como a ginástica foi implantada e funciona no Brasil até hoje. No próximo tópico, explicaremos como surgiram essas escolas, quais eram os países envolvidos e quais as características de cada uma. As conquistas da seleção brasileira de futebol em 1958, 1962 e 1970 tiveram grande influência na mudança do perfil das aulas de educação física no país, que passaram a adotar cada vez mais o perfil desportista, devido ao clamor popular e ao sentimento de euforia e patriotismo perante as conquistas da equipe. História da ginástica: concepções, métodos e escolas4 As principais escolas europeias e suas características A ginástica, tal qual a conhecemos hoje, com suas diversas variações, surgiu na Europa durante o século XIX. Três centros foram mais relevantes no seu processo de inserção: a França, com o movimento do oeste; a Alemanha, com o movimento do centro; e a Suécia, com o movimento do norte (VIEIRA et al., 2013). A união dos métodos criados por cada um desses movimentos sustenta, até hoje, as bases da ginástica no mundo. Isso porque, apesar de apresentarem particularidades e diferenças entre si, também tinham algumas características em comum, como almejar o aumento da força, o perfil higiênico e a melhora da disposição na vida cotidiana. A Inglaterra também teve papel importante nesse período; contudo, o perfil da escola inglesa era voltado para a prática de esportes e jogos coletivos, tendo papel fundamental na implantação e criação das regras de diversos esportes, difundidos pelo mundo inteiro e populares até hoje. O diretor da escola de rugby na Inglaterra, Thomas Arnold, é considerado o “pai” do esporte por ter criado normas para a prática de várias atividades esportivas e formalizado a organização de clubes e associações (SCARSI, 2012). Alguns valores eram considerados muito importantes, como a colaboração entre companheiros e o respeito às normas de cada modalidade e aos adversários. Cabe também mencionar também a Dinamarca, que seguiu o movimento do norte juntamente com a Suécia, na Escandinávia, já que, graças a Franz Nachtegall, esse país foi o primeiro a considerar a ginástica como disciplina integrante do currículo escolar. Como as principais escolas europeias responsáveis pelo desenvolvimento da ginástica e sua influência no Brasil foram a alemã, a sueca e a francesa, veremos, agora, uma descrição mais detalhada de cada uma delas. A escola alemã de ginástica Nascida entre o final do século XVIII e início do século XIX, a escola alemã de ginástica tinha como principal objetivo o desejo de formar indivíduos fortes e capazes, tomados por um espírito patriótico e nacionalista. Havia a crença de que a prática de exercícios físicos estava estritamente relacionada com o processo de educação, pois exercia grande influência sobre a mente 5História da ginástica: concepções, métodos e escolas e as atitudes dos cidadãos. Pautados nas ciências biológicas como forma de embasar a ginástica e formar indivíduos capazes, podemos destacar dois criadores do método alemão de ginástica: Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839) e Friedrich Ludwig Christoph Jahn (1778-1852). Guts Muths acreditava que a ginástica deveria ser realizada todos os dias e por todos os indivíduos, inclusive mulheres e crianças, uma vez que elas representavam, respectivamente, as geradoras dos filhos da pátria e o futuro da nação. O governo seria o responsável por organizar a ginástica, como forma de educar as pessoas sobre seus corpos e sobre o ambiente em que vivem. Por sua vez, Jahn incorpora, além disso, um forte caráter militar à ginástica alemã. Seu método, conhecido como “Turnen”, logo ganha a admiração da classe governante, justamente por ter caráter patriótico, exigir execuções ordenadas e trabalhar com uma forte relação de disciplina e subordinação por parte dos praticantes com o responsável por ministrar os exercícios. Por acreditar na possibilidade real do acontecimento de uma guerra, Jahn estimulava a prática de jogos e lutas, além de implantar equipamentos para a prática dos exercí- cios, fato que o levou a ser considerado o criador da ginástica com aparelhos (SOARES, 2001). Tanto Guts Muths quanto Jahn tinham por objetivo atingir grandes massas com sua metodologia de ginástica e, a partir desse ponto, formar o caráter e o ideal patriótico dos cidadãos alemães. Com uma abordagem um pouco distinta, podemos destacar outro importante incentivador da ginástica na Alemanha: Karl Adolf Spiess (1810-1858). Spiess preocupou-se de forma mais contundente com a inserção da ginástica nas escolas. A seu ver, deveria existir um momento próprio para a prática dessas atividades, que respeitavam uma sequência lógica e específica: exercícios livres, exercícios de suspensão, exercícios de apoio e ginástica coletiva. Para Spiess, essas atividades seriam a melhor forma das crianças alcançarem o equilíbrio entre aptidão física e suas almas. No Brasil, a metodologia da ginástica alemã foi uma das primeiras a ser reproduzida. Isso ocorreu principalmente por conta do processo de imigração na região sul do país, pois, uma vez que os imigrantes tinham a ginástica como um hábito de vida, esse hábito foi levado para as regiões em que passaram a viver. Além disso, o método alemão norteou as práticas corporais no exército brasileiro de 1860 até 1912, quando foi substituído por outra escola europeia de ginástica: a francesa. Nas escolas, a ginástica alemã foi incorporada em 1870 e perdurou até meados de 1920, quando também foi substituída por outra metodologia de ensino da ginástica: a sueca. História da ginástica: concepções, métodos e escolas6 A escola sueca de ginástica A escola sueca de ginástica tinha um viés um pouco diferenteda escola alemã, principalmente pelo fato de envolver um maior caráter pedagógico, e não autoritário. As duas escolas tinham pontos em comum, como a formação de cidadãos mais capazes (servir à nação) e com boa aptidão física (ameaça de guerras), entretanto, a escola sueca tinha como objetivo maior formar indiví- duos livres de vícios, como o alcoolismo, que era um problema presente na sociedade da época, e trabalhar aspectos mentais e morais. Dessa forma, seria possível ter uma população capaz de servir ao país da melhor forma possível, o que era fundamental naquele momento, uma vez que a Suécia passava por um processo de desenvolvimento industrial e a mão de obra da população era a peça-chave para garantir o sucesso dessa fase e a evolução do país. Pehr Henrik Ling (1776-1839) é o responsável por ditar as ideias por trás do método sueco de ginástica. Baseado em um espírito nacionalista, forma- dor e anatômico, Ling considera que a ginástica sueca pode ser dividida em quatro tipos. � Ginástica pedagógica ou educativa: considerada a forma mais de- mocrática da atividade, pois não tinha restrição quanto à idade, sexo, capacidade física ou condição social. Seu principal objetivo era formar indivíduos livres de vícios, doenças e com bom padrão postural. � Ginástica militar: baseada na ginástica pedagógica, visava exercitar gestos de luta e combate, como a manipulação de espadas de esgrima e o manuseio de armas de fogo, para que os cidadãos fossem capazes de combater em uma possível guerra. � Ginástica médica ou ortopédica: também era embasada na ginástica pedagógica e tinha como objetivo prevenir ou até mesmo curar doenças e vícios através de exercícios específicos para cada condição. � Ginástica estética: assim como os demais tipos, trabalha o aspecto pedagógico de maneira contundente. Nesse tipo de ginástica, eram priorizados movimentos leves e a dança, que agregavam beleza e har- monia aos corpos. No Brasil, a escola sueca de ginástica foi incorporada por Rui Barbosa, que refutou a prática alemã de ginástica em detrimento da sueca. Logo houve receptividade positiva por camadas importantes da sociedade, como políticos e intelectuais, já que a fundamentação pedagógica dessa escola era conside- 7História da ginástica: concepções, métodos e escolas rada a mais adequada para a formação das crianças das escolas primárias e secundárias. A escola francesa de ginástica Por fim, a escola francesa de ginástica foi idealizada por Francisco Amorós y Ondeano (1770-1847) com forte ideal higiênico, a fim de formar pessoas saudáveis. O método pedagógico, com forte caráter de organização e disciplina (GOELLNER, 1992), se baseava em atividades simples e naturais, como nadar, correr e saltar, além da prática de hipismo, ciclismo, dança e exercícios calistênicos de repetição. Um dos principais objetivos do método francês era construir um homem idealizado, amplamente evoluído em diversos aspectos de sua formação ética, intelectual, social e física. Portanto, o método tinha por base dois alicerces: o ideal higiênico e o ideal militar. Aspectos psicológicos ou sociais eram, de certa forma, ignorados na condução das aulas. Dentre outras características dessa escola, podemos ressaltar também a intenção de atuar no processo educativo e na potencialização da produtivi- dade dos cidadãos, formando sujeitos completos (militarmente, moralmente e socialmente) e que servissem como uma boa força de trabalho no processo de industrialização que se instaurava. No Brasil, o método francês de ginástica foi amplamente utilizado no exército, substituindo o método alemão. Entretanto, por ser considerado um método com fundamentação científica, foi defendido por intelectuais como uma forma de ensino e como uma influência a ser adotada por professores modernos. Sendo assim, o método foi amplamente utilizado na década de 1940 no ensino primário, secundário e até mesmo superior. A ginástica francesa foi a primeira metodologia legalmente reconhecida e adotada nos currículos escolares brasileiros no ano de 1931, através do Regulamento Número 7 da Educação Física, numa tradução do Règlement Général d’Éducation Physique. Além disso, o método tinha forte caráter nacionalista, o que era visto como um ponto positivo para a sua aplicação no Brasil. Isso porque alguns intelectuais acreditavam que era preciso forjar a identidade do brasileiro, a fim de formar uma nação mais coesa e que empregasse maior energia para o desenvolvimento econômico. Como é possível observar, apesar de algumas características peculiares a cada uma das escolas europeias de ginástica, um objetivo é claro e comum a História da ginástica: concepções, métodos e escolas8 todas elas: a formação de sujeitos fortes e com bom desenvolvimento intelectual, capazes de produzir e fomentar a economia do país, bem como defendê-lo frente a determinadas situações. Além disso, essas escolas europeias fundamentaram o surgimento de diferentes métodos de ginástica e, consequentemente, esportes gímnicos que se consolidaram como modalidades esportivas tradicionais e que são populares até hoje. Vamos falar sobre eles no próximo tópico. No vídeo disponível no link a seguir, de autoria de Ronald Turíbio, podemos ter um breve resumo sobre o surgimento do método de ginástica europeu. https://goo.gl/xx2v8b Os diferentes métodos de ginástica Com a consolidação da ginástica como uma forma de exercício físico e sua consequente popularização, surgiram diferentes métodos de ginástica, com diferentes características e objetivos a serem trabalhados. A ginástica passou a ser utilizada em programas de condicionamento físico, como ferramenta de formação ou como modalidade esportiva. Dentre as importantes vertentes dessa atividade, podemos destacar as seguintes: ginástica de condicionamento físico; ginástica para todos (ginástica geral); ginástica natural; e ginástica competitiva. Ginástica de condicionamento físico Mais abrangente e popular, é o método que utiliza a ginástica para o de- senvolvimento das valências físicas, melhora do condicionamento físico e funcionamento adequado do corpo. Engloba exercícios práticos, seja em espaços propícios, como academias de ginástica, ou em locais públicos, como parques e praças. Uma de suas principais características é a sistematização do exercício físico através do controle de variáveis como repetições, número de séries, intensidade do estímulo, frequência de treinos, intervalos de descanso, entre outros. 9História da ginástica: concepções, métodos e escolas Devido ao diferente perfil das pessoas que buscam se exercitar, surgiram diferentes modalidades de ginástica para o condicionamento físico. Muitas se tornaram extremamente populares e são realizadas por uma grande parcela da população. Dentre elas, podemos destacar: � ginástica calistênica: exercícios gímnicos que envolvem o peso do pró- prio corpo como resistência, como suspensões em barra, por exemplo; � ginástica de academia: aulas normalmente desenvolvidas em grupo, podendo ter diferentes enfoques, como flexibilidade, condicionamento cardiorrespiratório ou reforço muscular; � ginástica local: exercícios de resistência que trabalham segmentos específicos do corpo, de acordo com a condução do professor; � ginástica em meio aquático: exercícios resistidos conduzidos em piscinas, com menor grau de impacto, como jogging aquático e hidroginástica. Como exemplo de atividade de ginástica de condicionamento, temos: aulas em grupo ministradas em academia (spinning, jump, funcional, crossfit, alon- gamento, grupo de corrida), musculação, aulas de treino resistido localizado, exercícios com peso do corpo e natação. Ginástica para todos (ginástica geral) A ginástica para todos, conhecida antigamente como ginástica geral, é um método extremamente democrático e abrangente, pois envolve elementos de diversas vertentes da ginástica: artística, rítmica e de trampolim, além de dança, expressões rítmicas eatividades livres e espontâneas dos participantes. Respeitando a individualidade e o limite de cada um, esse método não possui contraindicação, visto que não é preciso grande capacidade técnica para executar os gestos e nem uma grande aparelhagem para realizar a aula. Como exemplo de ginástica para todos, basta pensarmos em uma aula que englobe diversas influências dos métodos competitivos de ginástica, expressões de dança e folclore, presença (ou não) de música, que envolva a utilização de materiais e uma coreografia. História da ginástica: concepções, métodos e escolas10 Ginástica natural A ginástica natural envolve atividades consideradas básicas e que podem ser realizadas com qualquer habilidade motora elementar e em qualquer ambiente. Como exemplo, podemos citar jogos lúdicos. Além disso, esse tipo de ginástica pode ter uma relação entre prática corporal e o meio no qual o sujeito está inserido, com técnicas de relaxamento e respiração. É um bom método para ser trabalhado com crianças e adolescentes, em escolas ou parques, ou, ainda, uma forma de realizar práticas que exijam autocontrole, autoconhecimento e concentração. Alguns elementos de lutas orientais, como o judô e o jiu-jitsu, bem como atividades de meditação e autoconhecimento, são bons exemplos de atividades de ginástica natural. Atividades com elementos da ioga ou tai chi chuan, em contato com a natureza, são bons exemplos de prática de ginástica natural. Ginástica competitiva A ginástica competitiva é um método seletivo, que tem como objetivo atestar, por meio de eventos esportivos e campeonatos, aqueles indivíduos que conse- guem apresentar melhor desempenho dentro de uma determinada modalidade. Não se trata de um método democrático como a ginástica para todos, já que normalmente é utilizado em clubes que visam o bom desempenho em competições. Por conta do insucesso, algumas pessoas não evoluem dentro de uma determinada modalidade. Como formas de ginástica competitiva, podemos citar: � ginástica artística: engloba exercícios com diferentes aparelhos (argolas, barras e cavalo) ou apresentação no solo; � ginástica rítmica: trabalha com diferentes artefatos (arco, bola, bastão ou corda) em uma coreografia; 11História da ginástica: concepções, métodos e escolas � ginástica acrobática: envolve a realização de exercícios de agilidade, força e equilíbrio ritmados por uma música; � ginástica de trampolim: envolve a realização de uma série de saltos com o implemento de um trampolim; � ginástica aeróbica: combina elementos de ginástica clássica com dança e resistência. O site da Confederação Brasileira de Ginástica reúne informações sobre eventos e regulamento de cada uma das modalidades competitivas da ginástica, além de infor- mações sobre as seleções das modalidades artística, rítmica e de trampolim. Confira! http://www.cbginastica.com.br/ Neste capítulo, foi possível ter uma visão mais abrangente sobre a evolução histórica da ginástica, desde os seus primórdios até os dias atuais. É difícil precisar quando essa modalidade de fato “nasceu”; contudo, sua evolução a partir da Antiguidade já pode ser mais bem analisada. A Europa foi onde os métodos foram criados e difundidos em outras regiões do mundo, não sendo diferente no Brasil. Esse processo foi muito forte no início do século XX e abriu as portas para a implantação da ginástica nas escolas através das aulas de educação física. Posteriormente, surgiram diferentes métodos de ginás- tica, inclusive os competitivos, que se tornaram mais populares. Cabe, então, salientar a importância de conhecer o processo histórico do nascimento de uma modalidade de exercício para que seja possível compreender melhor a forma como esse mesmo método funciona nos dias atuais. GOELLNER, S. V. O método francês e a educação física no Brasil: da caserna à escola. 1992. 223 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano)– Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1992. Disponível em: <http://www.lume. ufrgs.br/handle/10183/1322>. Acesso em: 15 jun. 2018. História da ginástica: concepções, métodos e escolas12 SCARSI, D. Ginástica escolar: a prática da ginástica escolar nas aulas de Educação Física. 2012. 38 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura no Curso de Educa- ção Física)–Universidade do Extemo Sul Catarinense, Criciúma, 2012. Disponível em: <http://repositorio.unesc.net/handle/1/1119>. Acesso em: 15 jun. 2018. SOARES, C. Educação física: raízes europeias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 2001. 143 p. VIEIRA, M. B. et al. A importância da ginástica enquanto conteúdo da Educação Física escolar. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, año 18, n. 180, mayo 2013. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd180/a-importancia-da-ginastica. htm>. Acesso em: 15 jun. 2018. Leitura recomendada BREGOLATO, R. A. Cultura corporal da ginástica. 3. ed. São Paulo: Ícone, 2008. 232 p. (Coleção educação física escolar: no princípio da totalidade e na concepção histórico- crítico-social, 2). 13História da ginástica: concepções, métodos e escolas DICA DO PROFESSOR A Ginástica desenvolveu ao longo do tempo diferentes métodos de aplicação prática. Vamos elencar os principais, que são a Ginástica de Condicionamento, a Ginástica para Todos, a Ginástica Natural e a Ginástica Competitiva, bem como detalhar suas principais características, com alguns exemplos de sua aplicabilidade. No entanto, o foco desta dica será com relação às diferentes modalidades da Ginástica Competitiva. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) De acordo com a relação da Ginástica na Grécia Antiga e na Roma Antiga, é correto afirmar que: A) a Ginástica passou a ser reconhecida como atividade esportiva somente após a queda do Império Romano. B) em ambas as civilizações, o caráter militar era empregado nos exercícios de Ginástica. C) na Roma Antiga, a Ginástica era encarada como uma forma de relacionar o corpo e a mente dos praticantes. D) o caráter militar dos exercícios gímnicos era exclusivo na Grécia Antiga, devido às constantes guerras por domínio territorial. E) em ambas as civilizações não existia relação entre festividades culturais e atividades de ginástica. 2) Sobre o surgimento da Ginástica no Brasil, qual das afirmações abaixo está correta? A) A Escola Sueca de Ginástica foi adotada nas escolas brasileiras a partir da reforma Couto Ferraz no ano de 1851. B) Houve grande influência das Escolas Inglesa, Alemã e Sueca na forma como a Ginástica era conduzida no país. C) O processo de imigração não teve papel importante na disseminação das diferentes Escolas de Ginástica no Brasil. D) A obrigatoriedade da Ginástica e da Educação Física no currículo escolar teve boa receptividade por parte da sociedade. E) As escolas europeias de Ginástica influenciaram somente as redes de ensino. 3) Dentro do método de Ginástica Competitiva existem diversas modalidades de ginástica. Qual delas pertence a esse método? A) Ginástica para Todos. B) Ginástica Artística. C) Ginástica Natural. D) Ginástica de Academia. E) Ginástica em Meio Aquático. 4) Dentre as escolas europeias de Ginástica, qual tinha como característica uma abordagem pedagógica mais forte do que as demais? A) Escola Francesa. B) Escola Alemã. C) Escola Inglesa. D) Escola Dinamarquesa. E) Escola Sueca. 5) Sobre as três principais escolas europeias de Ginástica, é correto afirmar que: A) o alemão Johann Christoph Friedrich Guts Muths introduziu o uso de aparelhos na Ginástica. B) A Escola Francesa de Ginástica foi idealizada pelo espanhol Francisco Amoros. C) Rui Barbosa influenciou na substituição da Escola Sueca pela Escola Alemã nas escolas brasileiras. D) A Escola Francesa tinha forte caráter pedagógico no processo de ensino e aprendizado dos alunos. E) A Escola Sueca foi de suma importância para o surgimento dos esportes. NA PRÁTICA A forma como aGinástica foi estabelecida e criada, através de diferentes escolas, métodos e objetivos, ainda exerce influência em programas de treinamento. Em escolas ou mesmo no exército, eram utilizados diversos exercícios de aquecimento e mobilidade articular que visavam a preparar o corpo para a prática das aulas de Ginástica. Esses exercícios ainda são empregados hoje de forma muito semelhante, apesar do passar dos anos. Podemos manter a mesma lógica para os exercícios de alongamento muscular, muito comuns na época da implantação da Ginástica e ainda muito popularmente realizados antes ou após as atividades. Algumas escolas europeias ainda ressaltavam a importância de trabalhar com exercícios e atividades naturais e formas básicas de movimento. Nada de muito diferente do que vemos em diversas modalidade contemporâneas de exercício, como o crossfit e o treinamento funcional, que envolvem exercícios de suspensão, corridas, saltos, entre outros. Veja a seguir um exemplo de plano de aula de treinamento funcional que poderia ser ministrada em uma academia hoje, observando como diversos desses aspectos estão presentes. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Movimento Ginástico Europeu #02 (Método Alemão) Este vídeo, de Ronald Turíbio, aborda de forma resumida e direta a temática da Escola Alemã de Ginástica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O Método Francês e a Educação Física no Brasil: da caserna à escola Para maiores detalhes sobre a Escola Francesa de Ginástica, confira a dissertação de mestrado da professora Silvana Vilodre Goellner. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A importância da Ginástica enquanto conteúdo da Educação Física escolar Este artigo, de Martha Bezerra Vieira, discute a importância da Ginástica enquanto conteúdo da Educação Física. Contém informações bastante relevantes sobre o processo de surgimento da Ginástica até os dias mais atuais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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