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DIREITO PENAL PROF. DR. FERNANDO AMORAS DIREITO PENAL: PARTE GERAL CONCEITO DE DIREITO PENAL: É o ramo do direito público que trata do estudo das normas que ligam o crime a pena, disciplinando as relações jurídicas daí resultantes. Poderíamos defini-lo também como o conjunto de leis que pretende tutelar bens jurídicos, cuja violação denomina-se crime e importa uma coerção jurídica particularmente grave, cuja imposição propõe-se a evitar que o autor cometa novas violações. INFRAÇÃO PENAL: CONCEITO A infração penal pode ser conceituada segundo três critérios distintos: formal, material e analítico. a) Pelo critério formal, a infração penal é aquela definida pelo direito positivo, que corresponde ao fato ao qual a ordem jurídica associa a sanção penal como conseqüência. b) Segundo o conceito material, infração penal é a conduta humana que gera lesão ou perigo a um interesse penalmente relevante. O conceito material enfatiza a proteção ao bem jurídico. c) Pelo conceito analítico, decompõe-se a infração penal em suas partes constitutivas –fato típico, antijurídico e culpável (para alguns autores, adeptos da teoria finalista da ação, o crime seria apenas fato típico e antijurídico, pois a culpabilidade seria pressuposto de aplicação da pena). Classificação das infrações Adota-se a divisão bipartida. Há dois tipos de infração penal: a) Crime ou delito; b) Contravenção Não há diferença ontológica entre crime e contravenção. A distinção é puramente formal, presente no art. 1º do Decreto-Lei 3.914/41. Crime ou delito é a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, isolada ou cumulativamente com a pena de multa. Contravenção é a infração penal a que a lei comina pena de prisão simples ou de multa, quer isoladamente, ou alternativa ou cumulativamente. Dentre as peculiaridades das contravenções, destaca-se o fato da mesma não admitir tentativa, na forma expressa do art. 4º da Lei das contravenções (Decreto-Lei 3.688/41). CONCEPÇÃO ANALÍTICA DE DELITO Pode-se identificar como elementos constitutivos de crime: a) Conduta humana (não há crime sem conduta humana – ação ou omissão); b) Tipicidade – consequência do princípio da legalidade. A tipicidade cria o mandamento proibitivo, prevendo abstratamente as condutas puníveis; c) Antijuridicidade. Contrariedade formal e material ao direito; d) Culpabilidade. Antigamente concebido como dolo e culpa, atualmente é concebido como um juízo de censura sobre o agente. Além dos elementos ditos genéricos do crime, existem elementos taxados como específicos, que são os elementos ou elementares ou, segundo o art. 30, CP, as “circunstâncias elementares” (várias formas que assumem os requisitos genéricos nos diferentes tipos penais). CIRCUNSTÂNCIAS ELEMENTARES Além dos elementos ditos genéricos do crime, existem elementos taxados como específicos, que são os elementos ou elementares ou, segundo o art. 30, CP, as “circunstâncias elementares” (várias formas que assumem os requisitos genéricos nos diferentes tipos penais). Requisitos e circunstâncias do crime: “A ação humana, para ser criminosa, há de corresponder objetivamente à conduta descrita pela lei, contrariando à ordem jurídica e incorrendo seu autor no juízo de censura ou reprovação social.” (Magalhães Noronha) - Requisitos genéricos: antijuridicidade (contrário ao direito) e a tipicidade (previsto em lei como crime - nullum crimen, nulla poena sine praevia lege). - Requisitos específicos: * elementos objetivos, descritivos ou circunstâncias elementares: São os verbos que descrevem a conduta, o objeto material, os sujeitos ativo e passivo inscritos na figura penal. Inexistindo um elemento qualquer da definição legal não há crime. * elementos subjetivos do tipo ou elementos subjetivos do injusto ou elementos subjetivos especiais: referem-se a certas particularidades psíquicas da ação. Estão além do dolo (ver item 13) e referem-se a um motivo, tendência ou dado intelectual/psíquico do agente (ex.: fim libidinoso do art. 219, fim de lucro do art. 141) * elementos normativos do tipo: expressões usadas pela lei e que necessitam de avaliação de seu significado jurídico (Ex.: conceito de cheque, de ato obsceno, de mulher honesta, etc.) - circunstâncias: são os dados que adicionados a figura típica, têm a função de aumentar ou diminuir as suas conseqüências jurídicas, em especial a pena. Ex.: crime contra ascendente agravante genérico. homicídio por asfixia circunstância qualificadora; crime sob a influência de multidão, que não provocou, atenuante; prática de homicídio por relevante valor moral causa diminuição de pena. Elementos do crime: Subjetivo é a culpabilidade, é a vontade dirigida para o ato considerado crime, em razão de: a) Dolo: deseja e quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo, é um defeito de vontade ou sentimento. Elementos do Dolo: consciência da conduta e do resultado; consciência da relação causal entre a conduta e o resultado; vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. b) Culpa: não há vontade, há falta de cuidados, o agente age com imprudência, negligência ou imperícia. Elementos da Culpa: conduta humana voluntária de fazer ou não fazer; inobservância do cuidado objetivo manifestado pela negligência, imprudência ou imperícia; resultado involuntário; nexo de causalidade, tipicidade. Objetivo: é constituído pelos atos preparatórios para fase de execução (início da execução), ou seja, pelas ações ou omissões do agente (elemento externo). obs.: O crime precisa apresentar-se com seus dois elementos para ser considerado como tal. Nas contravenções basta tão-somente que tenha sido voluntária a ação ou omissão do agente. - especial: é precisamente a interrupção por motivos alheios à vontade do agente ou a não-consumação do crime por motivos alheios à vontade do agente. - Ex. de tentativa: A deseja e atira para matar B, mas C segura a mão de A e o tiro não atinge B. A entra na casa de B para furtar seu cofre. Quanto procura arrombar o cofre, B e C o impedem de faze-lo. - normativo: figura central (sem funcionário público não há o crime de peculato. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS 1- Princípio da Intervenção Mínima 2- Princípio da Lesividade 3-Princípio da Adequação Social 4- Princípio da Fragmentariedade 5- Princípio da Insignificância 6- Princípio da Individualização da Pena 7- Princípio da Proporcionalidade 8- Princípio da Responsabilidade Social 9- Princípio da Limitação da Pena 10- Princípio da Culpabilidade 11- Princípio da Legalidade 12- Princípio da Extra-atividade da Lei Penal 13- Princípio da Territorialidade 14- Princípio da Extraterritorialidade 1-Princípio da Intervenção Mínima - O Direito Penal só deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. 2- Princípio da Lesividade- Esclarece quais as condutas que devem ser incriminadas pela Lei Penal. 3-Princípio da Adequação Social – Sensibilidade para distinguir as condutas socialmente aceitas daquelas que merecem a reprimenda do Direito Penal. 4- Princípio da Fragmentariedade – Uma vez escolhidos os bens fundamentais, eles gozarão da proteção de Direito Penal. 5- Princípio da Insignificância- o legislador deverá considerar apenas bens relevantes existentes em nossa sociedade. 6- Princípio da Individualização da Pena- a Lei regulará a individualização da pena ( privação ou restrição da liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa, suspensão ou interdição dos Direitos). 7- Princípio da Proporcionalidade – Deve existir um juízo de ponderação entre o bem lesionado e o bem que alguém pode ser privado. 8- Princípio da Responsabilidade Social – somente o condenado deve se submeter à sanção que o Estado lhe impõe. Determina o inciso XLV do art. 5º da Constituição Federal: “ Nenhuma pena passará da pessoado condenado podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento dos bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do patrimônio transferido” Somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado 9- Princípio da Limitação da Pena – Não haverá penas: de morte, perpétua, forçada, banimento e cruel. 10- Princípio da Culpabilidade- diz respeito a um juízo de censura, a reprovabilidade, que se faz sobre a conduta típica e ilícita de um agressor. 11- Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal “Não há crime sem lei que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” (CP - art. 1°). Tal princípio assegura que ninguém seja punido por fato atípico. Típico é o fato que se molda a conduta descrita na lei penal. Daí decorre que o conjunto de normas penais incriminadoras é taxativo e não exemplificativo. 12- Princípio da Extra-atividade da Lei Penal- A Lei Penal mesmo depois de revogada pode continuar a regular fatos ocorridos durante a vigência ou retroagir para alcançar aqueles que aconteceram anteriormente a sua entrada em vigor. 13- Princípio da Territorialidade – É a aplicação da Lei Brasileira sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional ao crime praticado em território nacional. 14- Princípio da Extraterritorialidade- É a aplicação da Lei Penal Brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros. Não é qualquer lei penal que recebe esse mandato de garantia, mas somente as LEIS PENAIS INCRIMINADORAS, ou seja, as que definem os crimes e cominam as respectivas sanções. Além dessas, temos LEIS PENAIS NÃO INCRIMINADORAS, que são as que disciplinam a aplicação e os limites das leis incriminadoras (normas integrantes ou de segundo grau). Podem ser: Permissivas, quando definem isenções de pena ou exclusão de crime (ex. art. 22 e 23 do Código Penal). Explicativas, quando esclarecem o conteúdo de outras leis ou enunciam conceitos e princípios gerais (ex. arts. 18 e 327). Não basta existir lei incriminadora para atender ao mandato de garantia. Para tanto, é preciso extrair os seguintes corolários (ou conseqüências): Proibição da retroatividade.: A Lei Incriminadora deve ser anterior. Ninguém pode ser punido por um fato que não era crime na época em que o realizou. Como já vimos, esta é a função "histórica" e está ligada à origem do princípio. A tal ponto que o Código Penal chega a epigrafar o artigo 1º com o nomen juris "anterioridade". Proibição do costume. A Lei incriminadora deve ser escrita. Proibição da analogia e de medidas de outra natureza. A Lei incriminadora deve ser estrita (= resultado de um processo válido de elaboração, que assegure sua legitimidade). Vedada a analogia in malan partem ou a adoção de OUTRAS regras jurídicas (=medidas provisórias) para definir crimes. Proibição de incriminações vagas ou indeterminadas. A Lei deve ser certa, vedada a indeterminação ou a imprecisão. É o chamado "mandato de certeza". A Lei Incriminadora não deve conter as denominadas "cláusulas gerais do tipo" , que são expressões ambíguas ou vazias de conteúdo. A LEI PENAL NO TEMPO De acordo com o princípio tempus regit actum, a lei rege, em geral, os fatos praticados durante a sua vigência. Não pode, em tese, alcançar fatos ocorridos em período anterior ao início de sua vigência nem ser aplicada àqueles ocorridos após a sua revogação. Entretanto, por disposição expressa do próprio diploma legal, é possível a ocorrência da retroatividade e da ultratividade da lei. Denomina-se retroatividade o fenômeno pelo qual uma norma jurídica é aplicada a fato ocorrido antes do início de sua vigência e ultratividade à aplicação dela após a sua revogação. PRINCÍPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA A primeira hipótese trata da lei nova que torna típico fato anteriormente não incriminado. Nessa hipótese a lei penal e irretroativa. ABOLITIO CRIMINIS Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, que se presume ser mais perfeita que a anterior, demonstrando não haver mais, por parte do estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. Não há abolitio criminis se a conduta praticada pelo acusado e prevista na lei revogada ;e ainda submissível a outra lei penal em vigor. Pela abolitio criminis se fazem desaparecer o delito e todos os seus reflexos penais, permanecendo apenas os civis. NOVATIO LEGIS IN PEJUS A terceira hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior. Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da lei penal “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS A última hipótese é a da lei nova mais favorável que a anterior. Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. TEMPO DO CRIME Necessário se torna saber qual é o tempo do crime, ou seja, a ocasião, o momento, a data em que se considera praticado o delito para a aplicação da lei penal a seu autor. Três são as teorias a respeito da determinação do tempo do crime. Pela teoria da atividade, considera-se como tempo do crime o momento da conduta (ação ou omissão). Pela teoria do resultado (ou do efeito), considera-se tempo do crime o momento de sua consumação, não se levando em conta a ocasião em que o agente praticou a ação. Por fim, a teoria mista considera como tempo do crime tanto o momento da conduta como o resultado. Art. 4º “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. Quanto ao termo inicial do prazo de prescrição, determina-se que a prescrição começa a correr do dia em que o crime se consumou. Na decadência, o prazo é contado do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime ou, em se tratando de ação privada subsidiária, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. A LEI PENAL NO ESPAÇO Pode um crime violar interesses de dois ou mais países, quer por ter sido a ação praticada no território de um e a consumação dar-se em outro. PRINCÍPIOS DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO O Princípio da Territorialidade prevê a aplicação da lei nacional ao fato praticado no território do próprio país. O Princípio da Nacionalidade (ou de personalidade) cogita da aplicação da lei do país de origem do agente, pouco importando o local onde o crime foi praticado. O Estado tem o direito de exigir que o seu cidadão no estrangeiro tenha determinado comportamento (nacionalidade ativa - somente se considera, se o autor do delito é nacional, sem se cogitar da vítima; nacionalidade passiva - exige, para a aplicação da lei penal, que sejam nacionais o autor e o ofendido do ilícito penal. Pelo Princípio da Proteção (da competência real, de defesa), aplica-se a lei do país ao fato que atinge bem jurídico nacional, sem qualquer consideração a respeito do local onde foi praticado o crime ou da nacionalidade do agente. Pelo Princípio da Competência Universal (ou da justiça cosmopolita), o criminoso deve ser julgado e punido onde for detido, segundo as leis deste país, não se levando em conta o lugar do crime, a nacionalidade do autor ou o bem jurídico lesado. Por fim há o Princípio da Representação, subsidiário, que determina a aplicação da lei do país quando, por deficiência legislativa ou desinteresse de outro que deveria reprimir o crime, este não o faz, e diz respeito aos delitos cometidos em aeronaves ou embarcações. LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS De acordo com o art. 3º do CP, a lei excepcional ou temporária embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstânciasque as determinaram, aplicas-se ao fato praticado ao fato praticado durante sua vigência. Leis temporárias são as que possuem vigência previamente fixada pelo legislador. Leis excepcionais são as que vigem durante situações de emergência. Essas espécies de lei tem ultratividade, ou seja, aplicam-se ao fato cometido sob o seu império, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional. TERRITORIALIDADE Prevê o art. 5º do CP: “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. É evidente, portanto, que a nossa legislação consagra, como base para a aplicação da lei penal no espaço, o princípio da territorialidade. CONCEITO DE TERRITÓRIO Em sentido estrito (material), território abrange o solo (e subsolo) sem solução de continuidade e com limites reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma continental e o espaço aéreo. Território por extensão (ou ficção) - para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto mar. LUGAR DO CRIME Para a aplicação da regra da territorialidade é necessário entretanto, que se esclareça qual é o lugar do crime: teoria da atividade (ou da ação), em que o lugar do crime é o local da conduta criminosa (ação ou omissão); a teoria do resultado (ou do efeito), em que se considera para a aplicação da lei o local da consumação (ou do resultado) do crime; a teoria da ubiqüidade (ou da unidade mista), pela qual se entende como lugar do crime tanto o local da conduta como o do resultado. BIS IN IDEM Ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Determinada circunstância não pode ser empregada duas vezes em relação ao mesmo crime, quer para agravar, quer para reduzir a pena. CONCEITO MATERIAL DE CRIME Toda norma penal incriminadora tutela um valor, político e ético, que justifica as regras e as sanções nela prescritas. Este valor é chamado de bem jurídico. A norma que incrimina a corrupção passiva, por exemplo, dispõe: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumiu-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena- Reclusão de um a oito anos, e multa” (art. 317, do CP). Tutela-se com esta norma a administração pública, especialmente a sua moralidade. No crime de injúria (art. 140): a honra subjetiva; no furto (art. 155): o patrimônio; no estupro (art. 213): a liberdade sexual da mulher. Embora o Código Penal não defina o que seja crime, materialmente, o crime é definido como a violação ou exposição a perigo de um bem jurídico protegido penalmente. CONCEITO FORMAL DE CRIME: é toda conduta proibida por lei sob a ameaça de uma pena. Analiticamente, duas correntes estudam tal conceito: Definição Bipartida: “CRIME É O FATO TÍPICO E ANTIJURÍDICO” Definição Tripartida: “CRIME É O FATO TÍPICO, ANTIJURÍDICO E CULPÁVEL” ELEMENTOS DO CRIME FATO TÍPICO - é o comportamento humano (ação ou omissão) que provoca um resultado (no sentido normativo do termo), e é previsto como infração penal. É constituído, pois, pela Conduta + Resultado + Nexo Causal + Tipicidade. RESULTADO (dano efetivo ou perigo) TIPICIDADE (Adequação da conduta à lei) CONDUTA (ação ou omissão) NEXO CAUSAL (liame) Para Teoria Finalista da ação, adotada pelo nosso Código Penal, a conduta (ação ou omissão) é o comportamento humano dirigido a determinada finalidade. O resultado (inerente à maioria dos crimes), é, no sentido natural: a alteração do mundo exterior provocada pelo agente; e no sentido normativo: é a lesão ou perigo de lesão do bem jurídico. A relação de causalidade é o liame entre a conduta e o resultado, no sentido de causa e efeito. Tipicidade é a adequação perfeita entre o fato concreto e a descrição abstrata contida na lei penal. Assim sendo, a tipicidade tem duas funções, quais sejam: a de garantia (como aperfeiçoamento e sustentação do Princípio da Legalidade); e de indicar a antijuridicidade (presunção que cessa quando existir uma causa que exclusa a ilicitude). FATO ANTIJURÍDICO – é a conduta contrária ao ordenamento jurídico (por não estar protegida pela lei penal com a exclusão da ilicitude). É um juízo de valor negativo ou desvalor que qualifica o fato como contrário ao Direito. Em regra, onde há tipicidade há antijuridicidade. Entretanto, a tipicidade, por si só, não é suficiente para constituir o delito. O art. 121 do CP, por exemplo, tipifica a conduta de “matar alguém”. Todavia, nem sempre que um ser humano mata outro pratica um crime. A ação típica não será ilícita se o agente estiver amparado por quaisquer das causas excludentes da antijuridicidade (ou ilicitude) previstas no art. 23, CP. Tanto a tipicidade como a antijuridicidade são juízos sobre a conduta humana. CULPABILIDADE – é a contrariedade entre a vontade do agente e a vontade da norma penal, considerada como a reprovação da ordem jurídica em face de estar ligado o homem a um fato típico e antijurídico, é em suma. Consiste, pois, um juízo sobre o autor da conduta. Obs: É excluída, segundo o Direito Moderno, pelo Princípio da Insignificância (ou da Bagatela). ANTIJURIDICIDADE - CONCEITO Diz-se que a conduta é antijurídica ou ilícita quando em contrariedade com alguma norma do Direito. Pode-se dizer que é uma relação de desconformidade entre a conduta e o direito. A tipicidade, como visto, é elemento indiciário da antijuridicidade. Em outras palavras, toda conduta típica é, em regra, contrária ao direito. Mas nem toda a violação a bem jurídico descrito no tipo penal constitui crime. Se o tipo penal descreve a violação de um bem jurídico, a antijuridicidade vai representar uma valoração a esta violação. TIPICIDADE É o nome que se dá ao enquadramento da conduta concretizada pelo agente na norma penal descrita em abstrato. Para que haja crime é necessário que o sujeito realize, no caso concreto, todos os elementos componentes da descrição típica (definição llegal do delito). Quando ocorre este enquadramento, existe a tipicidade. CULPABILIDADE Segundo a Teoria Normativa Pura, que é a defendida pela Escola Finalista (atualmente adotada por nossa legislação penal), o DOLO e a CULPA da culpabilidade para a conduta (primeiro elemento do fato típico). O conteúdo da culpabilidade fica esvaziado com a retirada do dolo e da culpa, passando a constituir mero juízo de reprovação ao autor da infração. Para essa teoria, a culpabilidade não é requisito do crime, mas simples pressuposto da aplicação da pena, possui os seguintes elementos: a) Imputabilidade; b) Potencial consciência da ilicitude; c) Exigibilidade de conduta diversa. CRIME DOLOSO TEORIAS SOBRE O DOLO Três são as teorias que procuram estabelecer o conteúdo do dolo: a da vontade, a da representação e a do assentimento. Para a teoria da vontade, age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente. Para a teoria da representação, o dolo é a simples previsão do resultado. Embora não se negue a existência da vontade na ação, o que importa para essa posição é a consciência de que a conduta provocará o resultado. Para a teoria do assentimento (ou do consentimento) faz parte do dolo a previsão do resultado a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira. Como será visto, o CP brasileiro adotou a teoria da vontade quanto ao dolo direto e a teoria de assentimento ao conceituar o dolo eventual. CONCEITO E ELEMENTOS DO DOLOAo se examinar a conduta, verifica-se que, segundo a teoria finalista, é ela um comportamento voluntário (não reflexo) e que o conteúdo da vontade é o seu fim. Nessa concepção, a vontade é o componente subjetivo da conduta, faz parte dela e dela é inseparável. A vontade é querer alguma coisa e o dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal. Assim, pode-se definir o dolo como a consciência e a vontade na realização da conduta típica, ou a vontade da ação orientada para a realização do tipo. São elementos do dolo, portanto: - a consciência - conhecimento do fato - que constitui a ação típica; e - a vontade - elemento volitivo de realizar este fato. O dolo inclui não só o objetivo que o agente pretende alcançar, mas também os meios empregados e as consequências secundárias de sua atuação. Há duas fases na conduta: uma interna e outra externa. A interna opera-se no pensamento do autor (e se não passa disso é penalmente indiferente), e consiste em: propor-se a um fim (matar um inimigo, por exemplo); selecionar os meios para realizar essa finalidade (escolher um explosivo, por exemplo); e considerar os efeitos concomitantes que se unem ao fim pretendido (a destruição da casa do inimigo, a morte de outras pessoas que estejam com ele etc.). A segunda fase consiste em exteriorizar a conduta, numa atividade em que se utilizam os meios selecionados conforme a normal e usual capacidade humana de previsão. Caso o sujeito pratique a conduta nessas condições, age com dolo e a ele se podem atribuir o fato e suas consequências diretas (morte do inimigo e de outras pessoas, a demolição da casa, o perigo para os transeuntes, etc.). DOLO NO CÓDIGO PENAL Reza o art. 18, inciso I, do CP: “Diz-se o crime: doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.” Como resultado deve-se entender a lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico. Na primeira parte do dispositivo a lei refere-se ao agente que quer o resultado. É o que se denomina dolo direto; o agente realiza a conduta com o fim de obter o resultado. Na segunda parte do inciso em estudo, a lei trata do dolo eventual. Nessa hipótese, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo. Age também com dolo eventual o agente que, na dúvida a respeito de um dos elementos do tipo, se arrisca em concretizá-lo. ESPÉCIES DE DOLO Distingue-se na doutrina o dolo direto ou determinado do dolo indireto ou indeterminado. No primeiro, o agente quer determinado resultado, como a morte da vítima, por exemplo no homicídio. No segundo, o conteúdo do dolo não é preciso, definido. Neste caso, poderá existir, o dolo alternativo, em que o agente quer, entre dois ou mais resultados (matar ou ferir, por exemplo), qualquer deles ou o dolo eventual. Refere-se ainda a doutrina ao dolo de dano, em que o agente quer ou assume o risco de causar lesão efetiva e ao dolo de perigo, em que o autor da conduta quer apenas o perigo. Distinção da doutrina tradicional é aquela que separa as espécies de dolo em dolo genérico e dolo específico. Dolo genérico é a vontade de realizar o fato descritivo na lei, em seu núcleo. Dolo específico é a vontade de realizar o fato com um fim especial. Foi visto, entretanto, que a distinção é falha, pois o que existe são os elementos subjetivos do tipo. Fala-se por fim em dolo geral. Existe este nos casos em que o agente, supondo ter conseguido o resultado pretendido, pratica nova ação que, esta sim, vem a resultar no evento. CRIME CULPOSO CONCEITO DE CULPA Tem-se conceituado na doutrina o crime culposo como a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado. São assim, elementos do crime culposo: a conduta; a inobservância do dever de cuidado objetivo; o resultado lesivo involuntário; a previsibilidade; e a tipicidade. CONDUTA Enquanto nos crimes dolosos a vontade está dirigida à realização de resultados objetivos ilícitos, os tipos culposos ocupam-se não com o fim da conduta, mas com as conseqüências anti-sociais que a conduta vai produzir; no crime culposo o que importa não é o fim do agente (que é normalmente lícito), mas o modo e a forma imprópria com que atua. Os tipos culposos proíbem assim condutas em decorrência da forma de atuar do agente para um fim proposto e não pelo fim em si. O elemento decisivo da ilicitude do fato culposo reside não propriamente no resultado lesivo causado pelo agente, mas no desvalor da ação que praticou. A conduta culposa é, portanto, elemento do fato típico. DEVER DE CUIDADO OBJETIVO A cada homem, na comunidade social, incumbe o dever de praticar os atos da vida com as cautelas necessárias para que o seu atuar não resulte dano a bens jurídicos alheios. Assim, se o agente não observa estes cuidados indispensáveis, causando com isso dano a um bem jurídico alheio, responderá por ele. É a inobservância do cuidado objeto exigível do agente que torna a conduta antijurídica. RESULTADO Em si mesma, a inobservância do dever de cuidado não constitui conduta típica porque é necessário outro elemento do tipo culposo: o resultado. Só haverá ilícito penal culposo se da ação contrária ao cuidado resultar lesão a um bem jurídico. Se, apesar da ação descuidada do agente, não houver resultado lesivo, não haverá crime culposo. O resultado não deixa de ser um “componente de azar” da conduta humana no crime culposo. Não existindo resultado, não se responsabilizará por crime culposo o agente que inobservou o cuidado necessário, ressalvada a hipótese em que a conduta constituir, por si mesma, um ilícito penal. Não haverá crime culposo mesmo que a conduta contrarie os cuidados objetivos e se verifica que o resultado se produziria da mesma forma, independentemente da ação descuidada do agente. Assim, se alguém se atira sob as rodas do veículo que é dirigido pelo motorista na contramão de direção, não se pode imputar a este o resultado (morte do suicida). Trata-se, no caso, de mero caso fortuito. Evidentemente, deve haver no crime culposo, como me todo fato típico, a relação de causalidade entre a ação e o resultado, obedecendo-se ao que dispõe a lei brasileira no art. 13 do CP. PREVISIBILIDADE O tipo culposo é diverso do doloso. Há na conduta não uma vontade dirigida à realização do tipo, mas apenas um conhecimento potencial de sua concretização, vale dizer, uma possibilidade de conhecimento de que o resultado lesivo pode ocorrer. Esse aspecto subjetivo da culpa é a possibilidade de conhecer o perigo que a conduta descuidada do sujeito cria para os bens jurídicos alheios, e a possibilidade de prever o resultado conforme o conhecimento do agente. A essa possibilidade de conhecimento e previsão dá-se o nome de previsibilidade. A previsibilidade é a possibilidade de ser antevisto o resultado, nas condições me que o sujeito se encontrava. A condição mínima de culpa em sentido estrito é a previsibilidade; ela não existe se o resultado vai além da previsão. Diz-se que estão fora do tipo penal dos delitos culposos os resultados que estão fora da previsibilidade objetiva de um homem razoável, não sendo culposo o ato quando o resultado só teria sido evitado por pessoa extremamente prudente. Princípio direito risco tolerado - Há comportamentos perigosos imprescindíveis, que não podem ser evitados e, portanto, não podem ser tidos como ilícitos (médico que realiza uma cirurgia em circunstâncias precárias podendo causar a morte do paciente). A previsibilidade também está sujeita ao princípio da confiança. O dever objetivo de cuidado é dirigido a todos, de comportarem-se adequadamente, não se podendo exigir que as pessoas ajam desconfiando do comportamentodos seus semelhantes. TIPICIDADE Nos crimes culposos a ação não está descrita como nos crimes dolosos. São normalmente tipos abertos que necessitam de complementação de uma norma de caráter geral, que se encontra fora do tipo, e mesmo de elementos do tipo doloso correspondente. MODALIDADES DE CULPA As modalidades de culpa, ou formas de manifestação da falta do cuidado objetivo estão discriminadas no art. 18, inc. II: imprudência, negligência ou imperícia. A imprudência é uma atitude em que o agente atua com precipitação, inconsideração, com afoiteza, sem cautelas, não usando de seus poderes inibidores. A negligência é inércia psíquica, a indiferença do agente que, podendo tomar as cautelas exigíveis, não o faz por displicência ou preguiça mental. A imperícia é a incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos no exercício de arte ou profissão, não tomando o agente em consideração o que sabe ou deve saber.
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