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Teoria do Fato Jurídico - Direito Civil

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Aula 05
Direito Civil p/ Magistratura Estadual
2021 (Curso Regular)
Autor:
Paulo H M Sousa
Aula 05
27 de Janeiro de 2021
 
 
 
Sumário 
Considerações iniciais ........................................................................................................................................ 3 
IV. Teoria do fato jurídico................................................................................................................................... 5 
1. Noções gerais ............................................................................................................................................. 5 
2. Estrutura do suporte fático ........................................................................................................................ 8 
3. Classificação dos fatos jurídicos ............................................................................................................... 10 
3.1. Fatos jurídicos em sentido amplo (lato sensu) ...................................................................................... 11 
Fato jurídico em sentido estrito (stricto sensu) .............................................................................................................. 11 
Atos-fatos jurídicos (atos reais) ...................................................................................................................................... 11 
Atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu) ................................................................................................................ 12 
3.2. Fatos ilícitos em sentido amplo (lato sensu) ......................................................................................... 14 
Fato ilícito em sentido estrito (stricto sensu) ................................................................................................................. 14 
Ato-fato ilícito ................................................................................................................................................................. 14 
Ato ilícito em sentido amplo (lato sensu) ....................................................................................................................... 14 
3.3. Pré-excludentes de juridicização ........................................................................................................... 15 
Legítima defesa ............................................................................................................................................................... 15 
Exercício regular de direito ............................................................................................................................................. 16 
Estado de necessidade ................................................................................................................................................... 16 
4. Eficacização do negócio jurídico .............................................................................................................. 17 
5. Provas ........................................................................................................................................................... 24 
5.1. Noções gerais ........................................................................................................................................ 24 
5.2. Espécies ................................................................................................................................................. 26 
Confissão ........................................................................................................................................................................ 26 
Documento ..................................................................................................................................................................... 27 
Testemunha .................................................................................................................................................................... 29 
Paulo H M Sousa
Aula 05
Direito Civil p/ Magistratura Estadual 2021 (Curso Regular)
www.estrategiaconcursos.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Presunção ....................................................................................................................................................................... 31 
Perícia ............................................................................................................................................................................. 32 
Legislação Pertinente ....................................................................................................................................... 32 
Teoria do fato jurídico .................................................................................................................................. 32 
Jurisprudência Correlata .................................................................................................................................. 33 
Provas ........................................................................................................................................................... 33 
Jornadas de Direito Civil ................................................................................................................................... 33 
Teoria do fato jurídico .................................................................................................................................. 33 
Provas ............................................................................................................................................................................. 35 
Considerações finais ......................................................................................................................................... 36 
Questões Comentadas ..................................................................................................................................... 36 
Lista de Questões ............................................................................................................................................. 61 
Gabarito............................................................................................................................................................ 72 
 
 
Paulo H M Sousa
Aula 05
Direito Civil p/ Magistratura Estadual 2021 (Curso Regular)
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Inicialmente, lembro que sempre estou disponível, para você, aluno Estratégia, no Fórum de Dúvidas do 
Portal do Aluno e, alternativamente, também, nas minhas redes sociais: 
 
prof.phms@estrategiaconcursos.com.br 
 
prof.phms 
 
prof.phms 
 
prof.phms 
 
Fórum de Dúvidas do Portal do Aluno 
A Teoria Geral do Direito Civil continua nesta aula, agora com a Teoria do Fato Jurídico. Pela complexidade e 
extensão, eu vou desdobrar os temas em duas aulas. Aqui, você verá a primeira parte. 
Nessa primeira parte, eu tratarei do assunto a partir da teoria criada por Francisco Cavalcanti Pontes de 
Miranda, de maneira inédita no mundo. A teoria ponteana não encontra paralelo igual no Direito pelo 
rigorismo técnico-científico e pela capacidade de se compreender uma vasta gama de fenômenos e institutos 
do Direito Privado (mas não só) a partir de uma “lógica” quase matemática. 
É na obra de Pontes de Miranda que eu me inspiro a tentar traduzir para você a “lógica” dos ramos e 
institutos de Direito Civil. Isso porque esse autor teve a grandeza de compreender o Direito Privado com um 
grau de profundidade incomparável. 
Como ele se aprofundou absurdamente, conseguiu captar as nuances do funcionamento das regras do 
Código. Isso permitiu a construção de um sistema jurídico de Direito Privado que obedece a premissas 
“lógicas”. Parte fundamental desse trabalhosem paralelo está assentado precisamente na Teoria do Fato 
Jurídico por Pontes de Miranda criada. 
Eu, evidentemente, não me aprofundarei com o mesmo grau dele no tema. Isso porque isso tomaria tempo 
em demasia de alguém que está se preparando para um certame. De qualquer forma, eu indico fortemente 
que, se for o caso, você, tendo disponibilidade de tempo, estude a teoria a partir da obra de Marcos 
Bernardes de Mello, em sua trilogia sobre o fato jurídico. Vale a pena. 
No mais, as provas não cobrarão a teoria em si, mas suas consequências. Compreender bem a teoria 
ponteana, porém, facilita enormemente sua tarefa, já que ela, ao captar a “lógica” fundamental do Direito, 
permite enxergar os fenômenos jurídicos de maneira... “lógica”, evitando que você tenha que decorar muitos 
dispositivos legais. 
 
Paulo H M Sousa
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E qual é o ponto do seu Edital que eu analisarei nesta aula? Veja: 
Fato jurídico 
 
 
Paulo H M Sousa
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TEORIA GERAL 
IV. TEORIA DO FATO JURÍDICO 
1. NOÇÕES GERAIS 
Essa parte da disciplina não costuma cair isoladamente nas provas, à exceção dos chamados vícios de 
vontade e da prescrição e da decadência. Ainda assim, a compreensão adequada da Teoria do Fato Jurídico 
fará você compreender com muito mais facilidade a sequência do Direito Civil. Por isso, é muito importante 
retomarmos algumas noções gerais do fato jurídico. 
Dentro do mundo fático, alguns fatos são adjetivados pela incidência da norma jurídica e se tornam fatos 
especiais: são os fatos jurídicos. A norma jurídica imputa efeitos a determinados fatos, portanto. Por isso, 
um mesmo fato pode ter diferentes efeitos, a depender de certos fatores. 
Cuidado para não inverter o raciocínio. Frequentemente eu escuto que “certos fatos são irrelevantes, pelo 
que o ordenamento...”. Ora, esse é um juízo de valor incompatível com a Teoria do Fato Jurídico. 
Determinado fato pode ser socialmente muito relevante, mas juridicamente irrelevante, ou vice-versa. 
Vide o exemplo das uniões homoafetivas. Relevantíssimas socialmente, mas por muito tempo relegadas a 
um plano de irrelevância jurídica. Ao contrário, o perdão da vítima (mulher), por crime de violência, 
relevantíssimo socialmente, mas irrelevante na persecução criminal do ofensor. 
Por vezes, mesmo dentro do ordenamento jurídico um fato perde importância num ramo, mas não em outro. 
“Pular a cerca” já foi muito importante para o Direito Penal (tipo penal) e para o Direito de Família (causa 
para o divórcio); hoje, porém, limita-se à Responsabilidade Civil. 
Ou seja, para a Teoria do Fato Jurídico, se os fatos são ou não relevantes para fora do Direito isso é 
irrelevante. O Direito, por razões extrajurídicas, capta determinados fatos do mundo concreto e os eleva à 
categoria “jurídica”, mas não faz isso com todos eles. 
A responsabilidade civil é profícua a respeito, já que frequentemente a jurisprudência é chamada a responder 
à questão: “essa conduta é relevante juridicamente?”; vale dizer, criará ela o dever de indenizar? Talvez para 
a pessoa em questão ter sido barrada na festa porque o segurança disse que sua roupa era inapropriada ao 
recinto tenha efetivamente sido motivo de desgosto; para o Direito, porém, não. 
Como eu disse, o mesmo fato pode ter variadas consequências jurídicas. Por exemplo, entregar um presente 
a alguém tem, em geral, determinados efeitos previstos no contrato de doação; presentear um juiz, dias 
antes do meu julgamento, tem outros efeitos; presentear alguém com um bem de uma pessoa jurídica que 
se encontra em processo falimentar, outros efeitos; presentear um amigo com uma cartela de ecstasy, 
outros; presentar minha mãe com o produto de um crime, outros; presentear um consumidor com um 
produto defeituoso, outro, completamente diferente; e assim por diante. 
Paulo H M Sousa
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Segundo a Teoria do Fato Jurídico trazida por Marcos Bernardes de Mello, a partir da obra de Francisco 
Cavalcanti Pontes de Miranda, a inserção dos fatos no mundo jurídico ocorre na seguinte sequência: 
a) Definição, pela norma, das hipóteses fáticas 
Trata-se da definição normativa hipotética do fato jurídico. Ou seja, a lei prevê, hipoteticamente, 
determinados eventos. 
b) Concreção da hipótese no mundo fático 
Independentemente da definição normativa, o fato ocorre no mundo real, já que os fatos concretos ocorrem 
existindo ou não previsão legal a respeito do assunto. 
c) Consequente juridicização pela incidência da norma (imputação) e entrada do fato no plano da 
existência no mundo jurídico 
Em outras palavras, a norma jurídica incide sobre o fato que ocorreu no mundo real, tornando aquele fato 
um fato jurídico e levando-o ao mundo jurídico. É precisamente aqui que se vê a quais fatos o Direito dá 
relevância ou não. A juridicização é destinada apenas àqueles fatos concretos que o Direito decotou da 
realidade. 
d) Passagem do fato (juridicamente) existente ao plano da validade 
O fato pode ser válido, nulo ou anulável. Em outras palavras, o fato real (que existe no mundo real apenas), 
passa a existir e valer dentro do mundo jurídico (existe juridicamente falando, não apenas na realidade). 
e) Chegada do fato jurídico existente e válido ao plano da eficácia 
Aqui, haverá a verificação dos efeitos que o fato terá, pela adjetivação jurídica. O fato, agora jurídico, já existe 
e é válido, mas eu ainda preciso verificar se ele realmente produz o efeito jurídico que eu desejei, ou se 
produz, ao menos, algum efeito jurídico outro, ainda que não desejado. 
Cuidado! Não confunda eficácia (que é a imposição de determinados efeitos pelo Direito) com efetividade 
(que é o fato de os efeitos prescritos serem respeitados pela comunidade). Por exemplo, diz-se que a norma 
jurídica que prescreve dada punição ao jogo do bicho tem eficácia (produz determinados efeitos, como, por 
exemplo, a possibilidade de o Estado perseguir o contraventor e tomar seus bens), mas não efetividade 
(apesar de o Estado poder fazer isso, não faz). 
 
Paulo H M Sousa
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Matematicamente, para Pontes de Miranda: 
 
 
Se ocorre um determinado fato no mundo real (por exemplo, eu assino um documento), e esse fato é o 
suporte fático suficiente (esse papel é um contrato de locação, na forma da lei), há a incidência da norma e 
criam-se consequentes efeitos, pelo preceito (eu passo a dever aluguel, conforme o art. 565 do CC/2002: 
“Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e 
gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição”). 
Em outras palavras, se o fato da vida real é suficiente para preencher um suporte, eu aplico o 
preceito (a norma jurídica): é suficiente que eu assine o tal documento para que o art. 565 seja 
aplicado? Sim. Então, aplique! 
Agora, nem sempre um fato que existe na realidade fática (eu doei a minha casa para você, 
mediante um aperto de mão), atrairá a aplicação de um preceito (art. 538 do CC/2002: 
“Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou 
vantagens para o de outra”). 
definição, pela norma, das hipóteses fáticas
concreção da hipótese no mundo fático
consequente juridicização pela incidência da norma
passagem do fato (juridicamente) existente ao plano da validade 
chegada do fato jurídico existente e válido ao plano da eficácia
se SF (suporte 
fático)
então
deve ser P 
(preceito)
Paulo H M Sousa
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Por quê? Pois o fato do mundo real não chegou a entrar no mundo jurídico porque ele não foi suficiente 
para preencher o suporte fático exigido no art. 541 do CC/2002 (“A doação far-se-á por escritura pública ou 
instrumento particular”). Mas, o que acontece com essa “doação” que eu fiz? 
E eu te respondo te perguntando: se o fato do mundo real não conseguiu fazer com que a norma jurídica da 
doação fosse aplicada, esse fato existe, no mundo jurídico? Claro que não, pois a norma nem chegou a incidir, 
e se a norma não incidiu, o fato não existe para o Direito. Ela existe no mundo fático? Existe; mas não no 
mundo jurídico. 
Porém, curiosamente, esse meu aperto de mão pode significar outra coisa. Como? Apesar de não ser suporte 
fático suficiente para o art. 541, o meu aperto de mão, com a entrega da chave da minha casa a você, pode 
ser suporte fático suficiente para a aplicação de outro artigo, o art. 462 (“O contrato preliminar, exceto 
quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado”). 
Assim, eu não fiz uma doação, mas um contrato preliminar de doação, ou uma “promessa de doação”, que 
atrai a indecência das normas sobre o pré-contrato. 
Agora, e se eu pensei em doar minha casa a você, disse a um vizinho que doaria a casa a 
você, mandei uma mensagem para a minha esposa falando que iria doar a casa a você, 
mas não falei nada para você? Nesse caso, todos esses fatos não são suficientes nem para 
aplicar o art. 541 nem para aplicar o art. 462. Ou seja, não existe nem doação, nem 
promessa. Existe alguma coisa no mundo jurídico? Não, apesar de no mundo fático 
existir muita coisa. 
Essa é a dificuldade que você deve superar: compreender que quando se fala, na Teoria do Fato Jurídico, que 
o fato é “inexistente”, não significa dizer que nada existiu, de fato. Significa apenas que juridicamente aquilo 
não existiu. Compreender que o mundo fático, concreto, real, nem sempre corresponde ao mundo jurídico 
é fundamental! Entender isso facilita o trabalho de compreender a “lógica” que está por trás de toda a Teoria 
do Fato Jurídico. 
2. ESTRUTURA DO SUPORTE FÁTICO 
O fato (evento ou conduta) caracteriza o suporte fático. Em cada ramo do Direito há nomes diferentes para 
essa mesma coisa: fattispecie, fato gerador, fato imponível, tipo legal, pressuposto de incidência, ou, o 
clássico e fundamental, suporte fático. 
O suporte fático divide-se em dois elementos: 
1. subjetivo: o suporte fático tem de referir-se a um sujeito de direitos 
Parte importante é que se o sujeito do fato não for o sujeito da norma não há incidência. Assim, por exemplo, 
eu não pago IPVA porque não tenho carro, ou não devo IPVA porque o carro não está no meu nome, pelo 
que não há suporte fático suficiente para que eu me enquadre no suporte de contribuinte. Igualmente, o 
Banco do Brasil SA não pode ser considerado consumidor, porque não consegue se incluir no suporte fático 
de uma relação de consumo. 
Paulo H M Sousa
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2. objetivo: podem servir de suporte fático quaisquer bens da vida, exceto os bens pré-excluídos ou 
inapropriáveis pelo homem 
Se o elemento for parte do núcleo ou um elemento completante, o fato jurídico será inexistente sem que 
estejam esses elementos presentes. Exemplo é o art. 481 do CC/2002: se não existir preço num contrato de 
compra e venda, não existe contrato de compra e venda. Posso pensar em algum efeito? Não, porque não 
existe coisa alguma. 
Se o elemento for complementar, ele se refere ao aperfeiçoamento do fato jurídico. Assim, se ele não 
estiver presente, o fato jurídico existe, mas será defeituoso. Os elementos complementares dividem-se em 
três: 
a. sujeito: capacidade, legitimação e perfeição da manifestação (sem vícios) 
b. objeto: licitude, possibilidade, determinação 
c. forma: prescrita ou não defesa em lei 
Se o elemento foi integrativo, falamos apenas de uma carga eficacial especial geralmente não prevista nas 
situações comuns. Esses elementos são exclusivos dos negócios jurídicos. Um exemplo é o registro do 
imóvel. Se a pessoa não fizer o registro, o contrato de compra e venda existe, vale e é plenamente eficaz 
entre os contratantes. Mas, em geral, os contratantes, em casos como esse, querem que o contrato tenha 
efeito apenas entre eles? 
Evidente que não; quer-se que tenha efeitos em relação a terceiros. Como se faz isso? Com um elemento 
integrativo do registo da transferência junto à matrícula do imóvel, que dá uma eficácia real sobre a eficácia 
obrigacional comum. 
Assim, nessa ordem, podemos pensar no exemplo de um contrato de compra e venda celebrado por 
nascituro (que será inexistente), por incapaz (será nulo ou anulável, a depender de ser o incapaz 
relativamente ou absolutamente, respectivamente), a non domino (ineficaz mesmo entre partes) ou por 
capaz que não registra o imóvel na matrícula (eficaz entre as partes, mas ineficaz perante terceiros). 
 
Paulo H M Sousa
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3. CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS 
Um suporte fático pode conter inúmeros fatos jurídicos diferentes ou um único fato jurídico ser uma 
complexidade de fatos que seja unitária. A classificação é feita pelos os elementos nucleares do fato: 
1. a conformidade ou contrariedade com o direito 
2. a presença ou não de ato humano de vontade 
Vale lembrar que o cerne tratado aqui é o elemento nuclear do suporte fático hipotético previsto na norma 
jurídica e não o suporte fático advindo do mundo real. Ou seja, não importa o nome que as pessoas dão a 
esse fato no mundo real, mas como o Direito o classifica. Assim, a compra e venda de um bem sem a 
previsão de preço não torna aquele contrato um contrato de compra e venda; ele será um contrato de 
doação. Não existe contrato de compra e venda sem preço, e ponto. 
Igualmente, não interessam outros fatos, por mais importantes que sejam, mas que nada têm a ver com a 
incidência da norma. Por exemplo, a causa da morte não interessa à transmissão da propriedade aos 
herdeiros. Morreu, transfere e pronto. Porém, a causa da morte pode ser relevante para outros fatos 
jurídicos, como para a anulação de uma doação realizada pelo morto à pessoa que o matou (art. 557, inc. I). 
Partindo da classificação do suporte fático a respeito da conformidade/contrariedade ao Direito e 
presença/ausência de ato humano de vontade, pode-se analisar cada um dos fatos jurídicos. Vou começar 
com os fatos jurídicos conforme o Direito, ou seja, as espécies lícitas. 
Su
p
o
rt
e 
Fá
ti
co
Núcleo Inexistente
Elemento completante Inexistente
Elemento complementar
a. sujeito: capacidade, 
legitimação e perfeição da 
manifestação
Defeito
b. objeto: licitude, 
possibilidade, 
determinação
Defeito
c. forma: prescrita ou não 
defesa em lei
Defeito
Elemento integrativo Carga eficacial especial
Paulo H M Sousa
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3.1. FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO (LATO SENSU) 
Fato jurídico em sentido estrito (stricto sensu) 
É todo fato que independe da conduta humana na composição do suporte fático. Cuidado! A 
conduta humana pode estar presente, mas ela não interessa. Por exemplo, a frutificação de 
uma árvore ou o nascimento de uma criança, a maioridade e a morte. 
Em qualquer caso, o ato humano não é elemento necessário à composição do suporte fático 
suficiente, daí nominá-los de eventos, pois ocorrerão independentemente da vontade humana, 
naturalmente. 
Cuidado! Geralmente se chamam esses fatos de “naturais”. Não confunda com atos da natureza, eles são 
naturais porque são independentes da vontade humana. 
Atos-fatos jurídicos (atos reais)Outros fatos dependem de conduta humana para a concreção do suporte fático. Nos fatos jurídicos em 
sentido estrito não existia conduta humana nenhuma; aqui, existe conduta humana, mas a vontade humana 
não é relevante, pelo que são considerados condutas avolitivas (sem vontade ou com vontade irrelevante). 
Temos, por exemplo, a caça ou a pesca, bem como a tomada de posse ou o descobrimento do tesouro. 
Precisa-se de uma conduta humana, ou o peixe ou o pássaro não se tornarão propriedade de ninguém, mas 
a vontade não interessa. Se eu queria apenas retirar o peixe do rio, mas não o tomar como minha 
propriedade, isso não importa; se eu pesquei, pesquei e adquiri propriedade. 
O atos-fatos jurídicos podem ser: 
 
• Ato humano com eficácia jurídica, como a ocupação, a caça, a pesca, que independem
da capacidade/legimitidade (o peixe pescado pelo menor de 16 anos lhe gera direito de
propriedade)
Atos reais/materiais
• Ato humano lícito que gera prejuízo a terceiro e consequente dever de indenizar, como o
exercício regular de direito ou o estado de necessidade que gera dano a terceiro
Atos-fatos indenizativos
• Fatos jurídicos de eficácia extintiva, determinados em razão da passagem do tempo,
independentemente da vontade do titular quanto ao fluir temporal, como a prescrição e
a decadência
Atos-fatos caducificantes/extintivos
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Atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu) 
Conforme explica Marcos Bernardes de Mello, ato jurídico é o fato jurídico cujo suporte fático 
tem como núcleo uma exteriorização consciente de vontade, que tenha por objeto obter 
um resultado juridicamente protegido ou não proibido e possível. 
Em outras palavras, o suporte fático deve ser composto, primeiro, por uma exteriorização da 
vontade. Caso a pessoa não exteriorize a vontade, inexiste o ato jurídico. Por exemplo, tenho 
vontade de comprar um carro, mas não exteriorizo, não contrato; tenho vontade de matar, mas não mato. 
Essa exteriorização se externa de determinada forma, ou através de uma manifestação de vontade (passar 
o cartão do ônibus na catraca) ou de uma declaração de vontade (afirma que vai se divorciar, acena com a 
mão num leilão). 
Segundo, o suporte fático deve ser composto pela consciência na vontade exteriorizada. A pessoa deve fazer 
a exteriorização com intuito de realizar aquela conduta relevante; se não há vontade de realizar aquele ato, 
ele é inexistente. Por exemplo, o aceno que eu fiz no leilão foi resultado de um espasmo muscular; não houve 
sinal, pelo que não houve aceitação da compra. 
Havendo tais elementos, o suporte fático se compõe, produzindo duas situações distintas: 
1. Ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu – ato não negocial) 
O direito acolhe a manifestação de vontade e pré-determina os efeitos que ela terá. Tais 
efeitos são inafastáveis e invariáveis, ou seja, são efeitos necessários, constituindo a chamada 
eficácia ex lege. Por exemplo, o art. 304 do CC/2002: 
Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos 
meios conducentes à exoneração do devedor. 
O pagamento é um ato jurídico em sentido estrito, por quê? 
Não há necessidade de declarar, nem é necessário que queira constituir e nem se pode escolher efeitos 
outros que não previstos em lei. Se há um pagamento, inúmeros efeitos jurídicos se criam, 
independentemente da vontade das partes e mesmo contra a vontade das partes. Pagou, não ocorrem mais 
os efeitos da mora, e ponto. 
2. Negócio jurídico (ato negocial) 
A manifestação de vontade não é apenas elemento do núcleo do suporte fático, mas se 
reconhece o poder de autorregulamento, dentro de certos limites, de modular os efeitos. São 
os chamados efeitos voluntários, ou eficácia ex voluntatae. 
É fácil visualizar o que isso significa na prática. Você, na fila do Subway, pode escolher variados 
ingredientes para colocar no seu sanduíche, incluindo o tamanho do sanduíche e do que ele é 
feito. Posso escolher salada, mas não brigadeiro. Apesar de poder autorregulamentar meu pão, há limites. 
Paulo H M Sousa
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O mesmo ocorre nos negócios jurídicos. Posso escolher variadas categorias eficaciais, mas isso não significa 
que há liberdade plena de modulação. 
Nesses atos, o sistema jurídico não predetermina os efeitos do fato jurídico, ou seja, podem as pessoas 
escolher livremente a eficácia jurídica de sua atuação. Exemplo: no contrato de compra e venda a minha 
vontade é relevante para saber quais bens acessórios acompanharão o bem principal, como deixa claro o 
art. 94: 
Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se 
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. 
Se as partes quiserem que as pertenças acompanhem, elas acompanham; se não, não acompanham. Podem, 
portanto, autorregularem-se. 
O ato negocial pode gerar-se de emanação de vontade de apenas um agente; são os chamados atos 
unilaterais. A vinculação dependerá da anuência da contraparte, mas isso são significa que o ato não 
produza, desde já, efeitos na esfera jurídica alheia. A exemplo, o art. 854: 
Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar, a quem 
preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o 
prometido. 
Os negócios jurídicos podem ser classificados quanto ao seu aperfeiçoamento. Assim, são unilaterais os 
negócios jurídicos nos quais se exige apenas uma manifestação de vontade para sua perfectibilização, 
como ocorre com a aceitação da herança ou a instituição de uma fundação. Esses negócios podem exigir 
conhecimento da contraparte, no caso da denúncia contratual (negócio jurídico unilateral receptício), ou 
não, como ocorre na confissão de dívida (negócio jurídico unilateral não-receptício). 
Serão bilaterais os negócios jurídicos nos quais se exige a manifestação de vontade recíproca das partes, 
a exemplo do contrato de compra e venda. Plurilaterais os negócios jurídicos que exigem uma pluralidade 
de manifestações de vontade, como, por exemplo, o contrato social de uma sociedade empresária. 
 
Espécies lícitas
Fato jurídico em 
sentido estrito
Atos-fatos jurídicos
Atos jurídicos em 
sentido amplo
Ato jurídico em sentido estrito 
(ato não negocial)
Negócio jurídico (ato negocial)
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3.2. FATOS ILÍCITOS EM SENTIDO AMPLO (LATO SENSU) 
Marcos Bernardes de Mello aponta que as espécies ilícitas se classificam da mesma forma que as lícitas. 
Partindo dessa classificação, vou mostrar a você, agora, cada uma das situações em que o fato está contrário 
ao Direito, as espécies lícitas. Em resumo, as espécies ilícitas são idênticas às lícitas, exceto em relação à 
conformidade/contrariedade com o Direito. 
Fato ilícito em sentido estrito (stricto sensu) 
Os fatos ilícitos em sentido estrito são as situações em que há imputabilidade de uma conduta a alguém, 
independentemente de ação ou culpa. São os casos de caso fortuito e força maior. Exemplo: o art. 1.251 
estabelece que: 
Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a 
outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro. 
Ou seja, eu não tenho nada a ver com o fato de um pedaço de terra ter se grudado ao meu, mas ainda assim 
eu terei de indenizar (fato ilícito). 
Muito cuidado aqui, pois nisso o Direito Civil é radicalmente diferente do Direito Penal, cuja ilicitude 
depende de comportamento humano (noção comum de delito: conduta típica, antijurídica e culpável). 
Ato-fato ilícitoO ato-fato ilícito é o ato humano cuja vontade é abstraída pela norma jurídica, ou seja, a vontade é 
irrelevante. O exemplo são todos os danos causados por menores, pois, segundo o ECA, os menores são 
inimputáveis, mas, para o Direito Civil, a vontade é irrelevante, gerando-se o dever de indenizar. 
Ato ilícito em sentido amplo (lato sensu) 
O elemento distintivo do ato ilícito em sentido amplo é a “vontade determinante da conduta”. Essa conduta 
pode ser tanto uma ação como uma omissão. Segundo o art. 186 do CC/2002: 
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Há de se cuidar porque a culpa não é elemento necessário da ilicitude, como dito. Veja-se a 
conhecida “culpa objetiva”, presumida ou invertida, ou a chamada responsabilidade civil sem 
culpa, ou responsabilidade civil objetiva. Cuidado! A vontade de conduta é necessária, não a 
vontade de causar dano. 
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Veja-se que o ato ilícito é uma conduta antijurídica, que não se circunscreve apenas ao Direito Civil. Segundo 
Cezar Fiúza: 
No Direito Civil, pode-se falar em ilícito na esfera dos contratos, da família, da propriedade, da 
posse etc. [...] Restringindo-se à esfera civil, os atos ilícitos podem ser contratuais, quando 
consistirem na conduta antijurídica na celebração ou execução de um contrato [...] Há alguns 
atos que são ilícitos intrinsecamente e desde o início. Também estes são ilícitos para o Direito 
Civil na medida em que causem danos ressarcíveis. Exemplos seriam o homicídio, as lesões 
corporais, uma batida de carros, o estilhaçar de uma vidraça etc. 
Aqui, eu tratei do ato ilícito apenas dentro da classificação da Teoria do Fato Jurídico, para 
distingui-lo das demais situações de ilicitude. Mais detalhes a respeito desse tema são 
vistos na responsabilidade civil apenas. Isso porque é nesse ramo do Direito Civil que a 
ilicitude tem maior relevância. 
Atenção! O abuso de direito não serve como excludente de ilicitude (pré-excludente de 
juridicização), pelo que ele gera dever de indenizar e é ilícito. O art. 187 do CC/2002 assim 
o delimita: 
Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
Mesmo o silêncio pode ser encarado como abuso de direito, como, por exemplo, na venda de produto que 
se sabe que não poderá ser comercializado, tendo agido o vendedor com dolo. Quais são as situações em 
que se exclui a ilicitude (pré-exclui a antijuridicidade)? Vejamos: 
3.3. PRÉ-EXCLUDENTES DE JURIDICIZAÇÃO 
Legítima defesa 
O art. 188, inc. I, do CC/2002, prevê a legítima defesa na seara privada: 
Não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um 
direito reconhecido. 
Espécies Ilícitas 
Fato ilícito em 
sentido estrito
Ato-fato ilícito
Ato ilícito em 
sentido amplo
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É a chamada autotutela ou autodefesa, numa quebra do monopólio estatal do uso da violência. Segundo 
Pontes de Miranda, é a aplicação da lei pelo próprio interessado, em substituição ao juiz, quando o sujeito 
não respeita a norma. 
A legítima defesa real exime o violador de indenização, mas não a legítima defesa putativa 
(achei que ele iria me atacar e causei um dano a ele, mas ele não me atacaria) e nem a legítima 
defesa excessiva (na defesa, me empolguei e causei mais dano do que o necessário). 
Exercício regular de direito 
O art. 188, inc. I, do CC/2002, prevê o exercício regular de direito na seara privada: 
Não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um 
direito reconhecido. 
A rigor, exercer seu direito não causa dano. Há um exercício sem fim danoso, com exercício legítimo, 
responsabilidade e moderação do próprio direito. Quais são os limites ao exercício do direito? Geralmente, 
a jurisprudência os fixa através da hierarquia de direitos. Assim, protestar o devedor não é abuso, mas 
utilizar um carro de som em frente ao seu local de trabalho é. 
Estado de necessidade 
O art. 188, inc. II, do CC/2002 prevê o estado de necessidade : 
Não constituem atos ilícitos a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a 
fim de remover perigo iminente. 
A remoção de perigo iminente ocasiona destruição da coisa alheia; porém, o ato será legítimo somente 
quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo, segundo o parágrafo único do mesmo dispositivo. 
 
(CESPE / PC-GO - 2017) Um oficial do corpo de bombeiros arrombou a porta de determinada 
residência para ingressar no imóvel vizinho e salvar uma criança que corria grave perigo em razão de 
um incêndio. A respeito dessa situação hipotética e conforme a doutrina dominante e o Código Civil, 
assinale a opção correta. 
a) O oficial tem o dever de indenizar o proprietário do imóvel danificado, devendo o valor da 
indenização ser mitigado em razão da presença de culpa concorrente. 
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b) O ato praticado pelo oficial é ilícito porque causou prejuízo ao dono do imóvel, inexistindo, 
entretanto, o dever de indenizar, dada a ausência de nexo causal. 
c) Não se aplica ao referido oficial a regra do Código Civil segundo a qual o agente que atua para 
remover perigo iminente pode ser chamado a indenizar terceiro inocente. 
d) Conforme disposição do Código Civil, o oficial teria o dever de indenizar o dono do imóvel no valor 
integral dos prejuízos existentes, tendo direito de regresso contra o responsável pelo incêndio. 
e) Não se pode falar em responsabilidade civil nesse caso, pois, na hipótese de estado de necessidade, 
o agente causador do dano nunca terá o dever de indenizar. 
Comentários 
A alternativa A está incorreta, já que, a rigor, não se verifica culpa concorrente do proprietário do 
imóvel danificado, pois o exercício nada mencionou a respeito. 
A alternativa B está incorreta, já que pela conjugação do art. 188, inc. II (“Não constituem atos ilícitos 
a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente”) 
com o art. 929 (“Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem 
culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram”, o ato, apesar de 
lícito, poderia gerar indenização. 
A alternativa C está correta, porque, nesse caso, havia dever legal de agir, como prevê, em linhas 
gerais, o art. 24, §§, do Código Penal. 
A alternativa D está incorreta, mas, se aplicável fosse o CC/2002, estaria correta, na conjugação dos 
supracitados arts. 188, inc. II, e 929. 
A alternativa E está incorreta, como se viu nas assertivas B e C. 
4. EFICACIZAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO 
Eventualmente, há a subordinação de um negócio jurídico a um elemento eficacial. A doutrina menos 
técnica chama esses elementos de elementos acidentais do negócio jurídico. De modo sucinto, o CC/2002, 
introdutoriamente, estabelece três elementos eficaciais que nos interessam: a condição, o termo e o 
encargo. Mas, como distingui-los? Primeiro, a condição está claramente disposta no Código: 
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, 
subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 
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(CESPE/ PGE-SE - 2017) Assinale a opção que apresenta o conceito de condição, no âmbito dos 
negócios jurídicos. 
A. Cláusula que sujeita o negócio ao emprego das técnicas de domínio do devedor. 
B. Cláusula que submete a eficácia do negócio jurídico a determinado acontecimento. 
C. Acontecimento futuro e certo que suspende a eficácia de um negócio jurídico. 
D. Imposição de obrigação ao beneficiário de determinada liberalidade. 
E. Cláusula que visa eliminar um risco que pesa sobre o credor. 
Comentários 
A alternativa A está incorreta, estabelecendo a alternativa conceito vazio de conteúdo. 
A alternativa B está correta, como se extrai do art. 121: “Considera-se condição a cláusula que, 
derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento 
futuro e incerto”. 
A alternativa C está incorreta, já que evento futuro e certo é termo, não condição. 
A alternativa D está incorreta, sendo esse o conceito de encargo, não de condição. 
A alternativa E está incorreta, talvez pretendendo o examinador aqui conceituar a cláusula del credere 
de determinados contratos. 
A condição se caracteriza, portanto, pela incerteza. Mas essa incerteza pode ser mais ou menos incerta. Na 
condição incertus an incertus há absoluta incerteza em relação à ocorrência do evento futuro e incerto; já na 
condição incertus an certus se verifica hipótese na qual não se sabe se o evento efetivamente irá ocorrer, 
mas se acontecer, deve sê-lo em um prazo determinado. 
No entanto, não é qualquer condição que pode ser estipulada pelas partes. Ao contrário, o art. 
122 estabelece que a condição não pode violar a lei, a ordem pública e os bons costumes. Ainda, 
são proibidas as condições que privem de todo efeito o negócio jurídico, ou que o sujeitem ao 
puro arbítrio de uma das partes. 
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A doutrina aponta que a condição potestativa (em sentido amplo) é aquela imposta pelo arbítrio das 
partes. Distinguem-se, então, as condições potestativas inseridas num negócio jurídico em condições 
simplesmente potestativas e condições puramente potestativas. 
As condições simplesmente potestativas – ou meramente potestativas – são lícitas, já que exigem da parte 
um certo esforço, ou determinado trabalho. Vale dizer, a eficácia do negócio jurídico depende da 
manifestação de vontade de apenas uma das partes, mas também a um evento outro. Assim, “se, enquanto 
eu viajar, ficar num hotel de valor inferior a...” constitui condição simplesmente potestativa, válida. 
Já as condições puramente potestativas, por deixarem a eficácia do negócio jurídico ao arbítrio puro de uma 
das partes invalidam, tornam nulo, o negócio. Exemplo é o contrato de compra e venda no qual eu estipulo 
que “quando quiser, farei o pagamento” (em outras palavras, se quiser, eu pago), que é, ao fim e ao cabo, 
nulo. 
Há ainda as condições mistas, que dependem tanto de um ao humano volitivo quanto de um evento alheio 
à conduta humana. Exemplo é a situação na qual “se estiver chovendo enquanto você é aplaudido 
cantando...”. 
O art. 123, por sua vez, estabelece que invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: 
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; 
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; 
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. 
Se a condição for impossível, preste atenção. Invalidam o negócio jurídico as condições impossíveis se elas 
forem suspensivas; contrariamente se a condição for resolutiva, será tida ela simplesmente como 
inexistente (art. 124), mantendo-se os efeitos do negócio. 
As condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita são afastadas por violarem o ordenamento jurídico, a moral ou 
os bons costumes. Por isso, é proibido condicionar o negócio à mudança de religião, à renúncia ao direito de 
se casar ou quaisquer outras que frustrem as liberdades individuais. Nada impede, porém, que se condicione 
o negócio a que a contraparte contraia núpcias com certa e determinada pessoa. São inválidas, portanto, as 
condições ilícitas absolutas, mas não as relativas. 
Além disso, são também invalidantes as condições perplexas, assim chamadas aquelas incompreensíveis ou 
contraditórias. É o caso do comodato clausulado com a condição de que o comodatário não pode usar o 
bem. A cláusula é invalidante porque priva o negócio jurídico precisamente dos atos que são esperados. 
Igualmente perplexa a condição incompreensível, resultado, em geral, de redação defeituosa. 
 
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(FAPEC / MPE-MS - 2015) Em relação à Parte Geral do Código Civil, analise os seguintes enunciados: 
I - As fundações, conhecidas como universitas bonorum, resultam da afetação de um patrimônio para 
a realização de uma finalidade ideal, sendo que ao Ministério Público Federal, no âmbito do Distrito 
Federal e Territórios, e, em relação aos demais Estados, ao respectivo Ministério Público do Estado, 
onde situadas, cabe o papel de fiscalizá-las e, inclusive, poderá a instituição ministerial formular o 
estatuto em havendo omissão do instituidor. 
II - O bem de família pode ser: a) voluntário, decorrente da manifestação da vontade dos interessados 
e observados os requisitos legais do Código Civil; b) legal, oriundo da própria força da Lei nº 8.009/90, 
sem qualquer ato voluntário do interessado. Contudo, quanto ao bem de família legal, mostra-se 
impossível a aplicação de tal proteção jurídica, proveniente da Lei nº 8.009/90, em relação às penhoras 
realizadas anteriormente à vigência da lei especial, sob pena de se ofender o ato jurídico perfeito. 
III - Sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes 
contra a outra, razão pela qual, comprovado o vício, é nulo o contrato “vaca-papel". 
IV - A condição perplexa pode ser definida como sendo contraditória em seus próprios termos, 
culminando por privar o negócio jurídico de seus efeitos; enquanto a condição simplesmente 
potestativa é aquela subordinada ao exclusivo arbítrio de uma das partes, sendo que tanto a condição 
perplexa quanto a simplesmente potestativa são ilícitas. 
Assinale a alternativa correta: 
a) Somente o enunciado III está correto. 
b) Somente o enunciado IV está correto. 
c) Somente os enunciados I e III estão corretos. 
d) Somente o enunciado II está correto. 
e) Somente os enunciados I, II e IV estão corretos. 
Comentários 
O item I está incorreto, na conjugação do art. 66 (“Velará pelas fundações o Ministério Público do 
Estado onde situadas”) com seu §1º (“Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o 
encargo ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios”). 
O item II está incorreto, segundo a Súmula 205 do STJ: “A Lei nº 8.009/90 aplica-se à penhora realizada 
antes de sua vigência”. 
O item III está correto, já que esse tipo de contrato é um mútuo a juros dissimulado de parceria rural: 
“Cuida-se do conhecido "vaca-papel", contrato onzenário através do qual o emprestador do dinheiro 
cobra juros acima do permitido na lei, simulando um contrato de parceria, com a obrigação de 
devolução em dobro de cabeças de gado após um certo tempo, e, em caso de mora, a obrigação de 
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pagar os frutos da produção normal do rebanho. Isto é, uma obrigação em dinheiro foi transformada 
em dívida de valor, com ofensa ao disposto no art. 1º do Decreto 22.626/33, e desvirtuado o contrato 
de parceria pecuária, previsto nos arts. 4º e 5º do Decreto 59.566/66, sem nenhum risco para o 
emprestador, ou seja, o contrato em exame violou duas vezes a legislação federal, sendocontrato nulo 
porque realizado com fraude à lei (REsp nº 196319/MS, 4ª Turma, voto-vista, DJ 04/09/2000)”. 
O item IV está incorreto, porque em que pese as condições perplexas gerarem a nulidade do negócio 
jurídico, as simplesmente potestativas são lícitas. Ilícitas são as puramente potestativas, por deixarem 
a eficácia do negócio jurídico ao arbítrio puro de uma das partes. 
A alternativa A está correta, portanto. 
A condição será resolutiva quando por fim ao negócio, extingui-lo. Assim, por exemplo, doarei mensalmente 
a você uma quantia em dinheiro enquanto você estiver na faculdade. No momento em que você sai da 
faculdade, resolve-se o negócio. A condição suspensiva, por sua vez, subordina a eficácia do negócio. Assim, 
por exemplo, doarei uma quantia em dinheiro a você se você passar na prova. 
Se a condição for suspensiva, se adquire o direito apenas quando de seu implemento, conforme regra do 
art. 125. Se for resolutiva, o direito já se adquiriu, vigorando até sua resolução, de acordo com o art. 127. 
Por isso, segundo o art. 128: 
Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; 
mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo 
disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis 
com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé. 
Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, tome cuidado. Ainda pendente a condição, e a 
pessoa fizer quanto à coisa novas disposições, essas novas disposições valerão apenas se forem compatíveis 
com a condição inicialmente prevista. Realizada a condição, as adições não terão valor, se forem 
incompatíveis com aquela, trata o art. 126. 
Aqui se distinguem as condições pelo estado. A condição pode ser pendente, implementada ou cumprida e 
frustrada ou descumprida. A condição pendente é aquela na qual não se verificou o evento ainda; 
implementa, quando já efetivado o evento e; frustrada, quando o evento não tem mais possiblidade de ser 
implementado e a condição cumprida. 
No entanto, mesmo que pendente condição suspensiva ou resolutiva, permite-se que o titular desse direito 
ainda eventual pratique os atos destinados a conservar tal direito (art. 130). Do contrário, se o titular do 
direito individual não pudesse fazê-lo, poderia vir a perder esse direito sem que pudesse sequer defendê-lo. 
Por fim, se aquele que estipulou a condição manipula de má-fé a situação, de modo que a condição não se 
implemente, presume-se o implemento dessa condição em favor do outro. Ao contrário, se aquele a quem 
aproveita a condição age de má-fé para que ela se implemente, perderá o direito, por força do art. 129. 
O termo, por sua vez, é aquilo que chamamos de “prazo” (na verdade, o prazo é o espaço de tempo entre o 
termo inicial – dies a quo – e o termo final – dies ad quem). É, portanto, um evento futuro e certo. Pode o 
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termo ser inicial (“início do prazo”) ou final (“fim do prazo”). Como se trata de evento certo, o termo inicial 
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. 
Aqui há uma semelhança e uma diferença importantes entre a condição e o termo. Por isso, segundo o art. 
135, ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e 
resolutiva. 
Isso porque a condição suspensiva se assemelha ao termo inicial e a condição resolutiva ao 
termo final. Qual a diferença? A CERTEZA! O termo é certo; a condição, incerta. É por isso que 
na condição suspensiva suspende-se a aquisição do direito e no termo inicial não; porque na 
condição eu não sei se a condição vai se implementar, no termo eu sei que ele vai ocorrer. Não 
há como se “fugir” do termo... 
Se houver uma condição resolutiva, o negócio será eficaz, tornando-se ineficaz quando do evento. A 
condição resolutiva, portanto, subordina a ineficácia do negócio a um evento (que é futuro e incerto). O 
mesmo ocorre em relação ao termo final, que subordina a ineficácia do negócio a um evento (que é futuro 
e certo, ao contrário da condição resolutiva). 
Já se houver uma condição suspensiva, o negócio será ineficaz, tornando-se eficaz quando do evento. A 
condição suspensiva, portanto, subordina a eficácia do negócio a um evento (que é igualmente futuro e 
incerto). O mesmo ocorre em relação ao termo inicial, que subordina a eficácia do negócio a um evento 
(que é futuro e certo, ao contrário da condição suspensiva). 
Talqualmente à condição, apesar de ser certo, o termo também comporta certa incerteza. Quanto à certeza 
da ocorrência, o termo classifica-se em termo certus an certus (certo ou determinado), quando a prefixação 
do termo é certa quanto ao fato e ao tempo de duração. Exemplo de termo certo é o “próximo equinócio de 
primavera”, ou 1º/01/2020. Já o termo certus an incertus (incerto ou indeterminado) se verifica quando o 
termo é certo quanto ao fato, mas incerto quanto à duração. Exemplifico com a morte; a morte é certa, mas 
incerta quanto à ocorrência específica. 
O tempo pode ser visto ainda a partir de sua essencialidade. Termo essencial é a cláusula acessória inserida 
no negócio jurídico em que não se permite o seu cumprimento fora do advento do termo fixado, por não 
mais interessar (juridicamente) ao credor. Será o termo essencial relevante, por exemplo, nas questões que 
envolvem o inadimplemento das obrigações. 
O termo pode ser fixado pelas próprias partes, termo convencional, ou mesmo previsto em lei, termo legal. 
Há termo convencional na regra que limita a prestação de serviços a quatro anos, por exemplo. 
O CC/2002, além de regular o termo, também regula os prazos. Segundo o art. 132, salvo disposição em 
contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento: 
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte 
dia útil. 
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. 
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§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se 
faltar exata correspondência. 
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. 
Caso não esteja previsto prazo, os negócios jurídicos entre vivos devem ser executados logo, exceto se a 
execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo (art. 134). 
O encargo, ou modo, fardo, ônus, por sua vez, impõe ao beneficiário de uma liberalidade uma dada 
obrigação. Por exemplo, eu doarei meu apartamento a você, desde que você cuide do cachorro da família 
até sua morte; ou eu doarei um terreno para você para que seja edificado um museu; ou eu doarei meu 
patrimônio a você com a obrigação de que você não derrube a casa de meus pais. 
Por isso, o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, por força do art. 136 
do CC/2002. No entanto, há exceção: quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo 
disponente, como condição suspensiva. Aí, na realidade, a situação mais parecerá uma condição 
do que um encargo propriamente dito. 
Caso se estabeleça encargo ilícito ou impossível, ele será simplesmente considerado não 
escrito. A exceção fica para o caso de o encargo ilícito ou impossível constituir o motivo determinante da 
liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico (art. 137). 
 
 
 
(FCC / TJ-PI - 2015) Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Advinhas por quê. 
Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o 
capital inteiro, especificados os bens, casa na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do 
Banco do Brasil e de outrasinstituições, joias, dinheiro amoedado, livros − tudo finalmente passava 
às mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só 
condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, 
nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha. Exigia do dito Rubião que o tratasse 
como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o de 
moléstias, de fugas, de roubo ou de morte que lhe quisessem dar por maldade; cuidar finalmente 
como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando morresse o 
cachorro, de lhe dar sepultura decente, em terreno próprio, que cobriria de flores e plantas 
cheirosas; e mais desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e os 
recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa. (Assis, 
Machado de. Quincas Borba. p. 25. Saraiva, 2011). 
As exigências feitas a Rubião consubstanciam 
a. termo final. 
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b. condição resolutiva. 
c. condição suspensiva. 
d. termo inicial. 
e. encargo. 
Comentários 
A alternativa E está correta, já que o recebimento da herança não se subordinava a evento futuro, 
certo ou incerto, mas a cláusula acessória que impunha a Rubião uma obrigação em contemplação ao 
recebimento da herança. 
As alternativas A, B, C e D estão incorretas, consequentemente. 
Por isso, se estabeleço que doarei um carro a você SE você for aprovado na prova, sua 
aprovação é uma condição para o negócio jurídico. Se estabeleço que doarei meu carro 
a você QUANDO você fizer 18 anos, seu aniversário é um termo para o negócio jurídico. 
Se estabeleço que doarei o carro a você DESDE QUE você o mantenha original, a 
manutenção da originalidade constitui um encargo do negócio jurídico. 
 
5. PROVAS 
5.1. NOÇÕES GERAIS 
Quando falei, no início dessa aula, sobre o plano da existência dos fatos jurídicos, algumas coisas talvez 
chamaram sua atenção. Como, por exemplo, as situações em que o fato existe na realidade social, mas não 
existe para o Direito, por numerosas razões. 
Uma delas é, assim, pela ausência de prova. Se você, num lugar sem câmeras, testemunhas ou qualquer 
outro meio de prova, me promete um bem, estamos diante de uma doação. Agora, na hora em que eu exijo 
a doação, você simplesmente pode dizer que nunca doou. Como eu farei para demonstrar a existência dessa 
doação? Por meio de provas. 
Condição (SE)
Resolutiva Suspensiva
Termo (QUANDO)
Inicial Final
Encargo (DESDE 
QUE)
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Se você não confessar, nem houver situação de presunção legal, dificilmente conseguirei provar que você 
efetivamente me doou algo. A doação existiu, no mundo fático, mas não no mundo jurídico, porque a 
incidência da norma nunca ocorrerá... 
Mas, então, como se prova um fato jurídico? Primeiro, tenho de atentar se o negócio jurídico 
não exige alguma forma especial; se exige, tenho de observar aquela forma. Se o negócio 
jurídico não exige forma especial ou em se tratando dos demais fatos jurídicos, segundo o 
art. 212 do CC/2002, prova-se mediante: 
I - confissão; 
II - documento; 
III - testemunha; 
IV - presunção; 
V - perícia. 
 
(TRT 2ª Região / TRT 2ª Região - 2016) É INCORRETO afirmar que, não havendo imposição legal de 
forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante: 
a) Confissão. 
b) Presunção. 
c) Testemunha. 
d) Dedução 
e) Perícia. 
Comentários 
A alternativa A está correta, art. 212, inc. I: “Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato 
jurídico pode ser provado mediante confissão”. 
A alternativa B está correta, art. 212, inc. IV: “Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato 
jurídico pode ser provado mediante presunção”. 
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A alternativa C está correta, art. 212, inc. III: “Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato 
jurídico pode ser provado mediante testemunha”. 
A alternativa D está incorreta, já que “dedução” não está no rol do art. 212. 
A alternativa E está correta, art. 212, inc. V: “Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato 
jurídico pode ser provado mediante perícia”. 
Vou analisar detidamente cada uma dessas modalidades de prova, agora. 
5.2. ESPÉCIES 
Confissão 
A confissão é a “rainha” das provas e, por isso, é irrevogável. Confessou, não pode mais voltar atrás. Daí 
nasce a regra relativa à paternidade, por exemplo. Aquele que reconhece a paternidade de um filho fora do 
casamento não pode posteriormente “voltar atrás”, pois esse reconhecimento é como uma confissão. 
Claro que se decorreu de erro de fato ou de coação, estaremos diante de um vício de consentimento, que 
permite anulação desse reconhecimento, mas será necessário prová-lo. Veja-se que a anulação é limitada 
ao erro de fato, não se podendo anular a confissão decorrente de erro de direito. 
Assim, se confesso que te vendi um bem, não posso querer anular essa confissão porque não sabia que, ao 
confessar a venda, eu reconheço que realizei uma fraude contra credores. Esse é um erro de direito, não de 
fato. 
Além disso, o art. 214 do CC/2002 limita a anulação da confissão apenas ao erro e à coação, 
mas se entende também que o dolo é apto a anular a confissão (já que o dolo é “induzir alguém 
em erro”, resumidamente). 
O art. 213 do CC/2002, por sua vez, estabelece uma regra óbvia: 
Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que se 
referem os fatos confessados. 
Pois bem. Você celebrou um contrato de doação com um terceiro. Posso eu confessar alguma coisa sobre 
essa negociação? Não! Pois eu não posso dispor desse direito. Posso, na qualidade de testemunha, 
testemunhar sobre a situação, mas nunca confessar. 
Quem confessa é aquele que pode dispor do direito, apenas. Por isso, a confissão feita pelo representante 
somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o representado. Se outrem me representa num 
dado negócio jurídico, não poderá confessar fatos alheios a essa negociação. Se eu sou seu procurador para 
fechar a venda de um apartamento, não posso confessar sua paternidade/maternidade de uma criança, pois 
alheia à representação, por exemplo. 
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(CESPE / PGE-AM - 2016) A confissão como instrumento de prova de fato jurídico pode ser firmada 
pela parte ou por seu representante ou pode, ainda, ser obtida por intermédio de testemunha. 
Comentários 
O item está incorreto, porque a confissão pode, segundo o art. 213, parágrafo único do CC/2002 ser 
realizada por representante (“Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos limites 
em que este pode vincular o representado”). No entanto, não existe confissão que não pela própria 
parte ou pelo representante dela, ou seja, testemunha não confessa. 
Documento 
Pode-se provar, e é o mais comum na realidade processual brasileira pouco acostumada e um tanto reticente 
à prova oral, através de documento. Os documentos podem ser públicos ou particulares. 
Quando você escuta alguém falando numa “escritura pública de compra e venda” a pessoa nada mais está 
do que falando de um contrato de compra e venda feito sob forma escrita perante uma autoridade pública 
investida no poder estatal de dar àquele documento fé pública. 
Quando o CC/2002 trata da escritura, ele trata daquela lavrada no cartório de notas. Nesse caso, segundo o 
art.215, essa escritura constituirá um documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. A rigor, a 
escritura pública deve conter: 
I - data e local de sua realização; 
II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao 
ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; 
III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais 
comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome 
do outro cônjuge e filiação; 
IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes; 
V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; 
VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos 
a leram; 
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VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu 
substituto legal, encerrando o ato. 
 
(FCC / TJ-SE - 2015) A escritura pública lavrada em notas de Tabelião, 
a) faz prova plena, mas não é documento dotado de fé pública, podendo ser impugnada por qualquer 
interessado. 
b) é documento dotado de fé pública, mas não faz prova plena, porque o convencimento do juiz é livre. 
c) é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. 
d) firma presunção absoluta de veracidade do que nele constar, por ser documento dotado de fé 
pública. 
e) é documento público, mas não dotado de fé pública, porque o Tabelião exerce suas funções em 
caráter privado, por delegação do Estado, por isso, também, não faz prova plena. 
Comentários 
A alternativa A está incorreta, segundo o art. 215: “A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, 
é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena”. 
A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões supramencionadas. 
A alternativa C está correta, igualmente, pela previsão literal do ar. 215 supracitado. 
A alternativa D está incorreta, já que sua forma pública lhe dota de presunção relativa de veracidade, 
que pode ser infirmada pelo interessado. 
A alternativa E está incorreta, mais uma vez, pela previsão do mencionado art. 215. 
Como todo documento público, em regra, a escritura deverá ser redigida na língua nacional. Por isso, os 
documentos redigidos em língua estrangeira devem ser traduzidos para o português para ter efeitos legais 
no Brasil. 
Mesmo os analfabetos ou aqueles que, por alguma outra razão, não podem escrever, podem celebrar 
negócios por meio de escritura pública. Nesse caso, a assinatura será a rogo (assinatura feita por terceiro a 
pedido da pessoa). 
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Mesmo que não saiba português, pode fazer a escritura, explicando o tabelião a ela o que se fez, em sua 
língua. Por exemplo, se o tabelião sabe alemão e um alemão compra uma casa, o alemão pode assinar a 
escritura, caso o tabelião lhe explique o teor. Mas e se o tabelião não sabe alemão? 
Nesse caso, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete à pessoa. Se, no lugar (uma cidade 
muito pequena do interior distante, por exemplo), não houver tradutor público, será indicada outra pessoa 
capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes. 
Tamanha é a força desses documentos públicos, por conta da fé pública, que têm a mesma força probante 
os traslados e as certidões, extraídos pelo tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos 
lançados em suas notas, segundo aponta o art. 217. Eles, inclusive, serão considerados instrumentos 
públicos, se os originais se houverem produzido em juízo como prova de algum ato. 
Os atos judiciais, por sua vez, também se consideram documentos públicos. Por isso, fazem a mesma prova 
que os originais as certidões textuais de qualquer peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro 
qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele, e por ele subscritas, assim como os traslados de 
autos, quando por outro escrivão consertados. 
Já o instrumento particular não exige a formalidade dos documentos públicos. A rigor, suas 
formalidades são bem pequenas, já constituindo meio de prova daquilo que foi convencionado. 
Se lhe faltar algum elemento, não perde o valor completamente, pois a prova do instrumento 
particular pode ser suprida por outras de caráter legal, como a confissão, o testemunho, a 
perícia etc., segundo o parágrafo único do art. 221 do CC/2002. 
Já os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu 
favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. A 
prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito 
particular revestido de requisitos especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão 
dos lançamentos. 
Testemunha 
O NCPC revogou o art. 227 do CC/2002, em boa hora. Exemplificando o absurdo, 
anteriormente, se você emprestasse, para um amigo R$10.000,00, sendo que vocês dois estão 
com 45 pessoas ao redor, todas prestando atenção ao ato, segundo esse artigo você não poderia 
tentar provar esse empréstimo a ele! O NCPC, porém, manteve o parágrafo único, que 
estabelece que a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova 
por escrito qualquer que seja o valor do negócio jurídico. 
Mas quem pode ser testemunha? O art. 228 do CC/2002 estabelece o rol dos “intestemunháveis”. Aqui, 
cuidado, novamente, pois a Lei 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência revogou uma série de 
dispositivos. A rigor, as pessoas com deficiência não eram admitidas como testemunhas, já que eram 
absolutamente incapazes. Como o Estatuto acabou com essa noção, acabou também, consequentemente, 
com a noção geral de “incapacitação para testemunhar”. 
Mas, e como ficará o depoimento das pessoas com deficiência, eventualmente prejudicado exatamente pela 
deficiência? O §2º do art. 228 estabelece que a pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade 
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de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva. Ou 
seja, não simplesmente dispense a pessoa com deficiência, mas lhe dê meios para colaborar! 
Não podem ser admitidos como testemunhas: 
I - os menores de dezesseis anos; 
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; 
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma 
das partes, por consanguinidade, ou afinidade. 
Excepcionalmente, porém, para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento 
das pessoas a que se refere esse artigo. Nada mais justo e óbvio, não? Imagine que só o seu filho de 12 anos 
viu você entregando dinheiro para alguém. Como você vai provar que emprestou dinheiro para o seu amigo, 
se não com o testemunho do seu filho? Logicamente que o juiz analisará as coisas com ressalvas, mas 
analisará. 
 
 
 
(CESPE / PC-BA - 2013) Considere que Pedro seja filho de Lúcia e primo de Maria e que ele pretenda 
provar determinado fato jurídico. Nessa situação hipotética, Maria poderá testemunhar, mas Lúcia 
somente poderá ser testemunha se for a única conhecedora do fato além de Pedro. 
Comentários 
O item está correto. Primeiramente, a questão foi muito criticada porque se alegou que Lúcia poderia 
“depor” e não “testemunhar”. Vale destacar que testemunhar e depor são sinônimos; quem depõe, 
depõe como testemunha. O depoente depõe porque testemunhou um fato. Além disso,se a 
testemunha não presta compromisso legal, ela é ouvida “na qualidade de informante”; veja que a 
expressão omite, propositadamente, a primeira parte: “a testemunha é ouvida na qualidade de 
informante”, ou seja, testemunha é e, portanto, testemunha, depõe. Informante é qualidade de uma 
testemunha que tem restrição quanto à dizer a verdade; e ponto. A parte, igualmente, depõe (“põe 
em juízo”), ainda que não seja testemunha, evidentemente, pois é parte. 
O CPC e o CPP assim tratam da situação. Por isso, indevida a gritaria pela anulação da questão ou pela 
sua formulação inadequada. Inadequado é o “senso comum jurídico” que, pelo uso corrente do termo, 
estabelece que “depoente” não é testemunha. 
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O próprio CC/2002 é bastante claro a respeito, quando se vê, pelo art. 228, §1º que “pode o juiz admitir 
o depoimento das pessoas a que se refere este artigo”. Quem são essas pessoas? As testemunhas. Ora, 
por lógica, a testemunha (substantivo) testemunha (verbo), e o faz mediante depoimento. 
Quanto à questão em si, Maria, parenta em quarto grau, pode prestar depoimento livremente, ao 
passo que Lúcia só pode testemunhar em juízo excepcionalmente, já que parenta em primeiro grau. É 
a conjugação do art. 228, inc. V (“Não podem ser admitidos como testemunhas os cônjuges, os 
ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por 
consangüinidade, ou afinidade”) com seu § 1º (“Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o 
juiz admitir o depoimento das pessoas a que se refere este artigo”). 
Presunção 
Existem duas presunções no Direito. 
De um lado, as presunções relativas (juris tantum), que admitem prova em contrário. Assim é, por exemplo, 
a presunção de inocência do Direito Penal; presume-se inocente até que o Ministério Público prove que é 
culpado. O marido presume-se pai dos filhos na constância do casamento, até que DNA prove que ele não é 
o pai. 
Outro exemplo é o constante no art. 219: 
As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos 
signatários. 
No entanto, o próprio parágrafo único desse artigo já traz exceção, ou seja, nem sempre tudo o que estiver 
escrito se presume verdadeiro em relação ao signatário: 
Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com a legitimidade das partes, 
as declarações enunciativas não eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-
las. 
Além disso, outras fontes de prova como áudios, textos, imagens, vídeos (Facebook, Whatsapp, Instagram, 
por exemplo), também servem de meio de prova, conforme estabelece o art. 225. Porém, a contraparte 
pode impugnar essas provas, e, aí, a solução é, em geral, pericial. 
De outro lado, existem as presunções absolutas (juris et de jure), que não admitem prova em contrário. O 
Direito Civil é pobre em presunções absolutas, assim como o Direito em geral. Via de regra, admite-se que 
se prove em contrário. A presunção de maternidade, por exemplo, era uma das poucas presunções absolutas 
que tínhamos: nasceu daquela barriga, aquela é a mãe (mater semper certa est). No entanto, com o 
desenvolvimento científico, a maternidade por substituição (a popular barriga de aluguel) fez essa presunção 
absoluta se tornar relativa; se nasceu daquela barriga, mas há maternidade por sub-rogação, ela não é a 
mãe... 
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Perícia 
Por fim, o CC/2002 tem duas regras sobre perícia, apenas. 
Primeiro, diferentemente do Direito Penal, no qual o sujeito não é obrigado a fazer prova contra 
si, o art. 231 estabelece que aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não 
poderá aproveitar-se de sua recusa. 
É por isso que o pretenso pai que se nega a fazer o teste de DNA é presumido pai, por extensão 
dessa regra (há regra própria em lei especial, mas ela segue exatamente o mesmo raciocínio desta). Por isso, 
como consequência, se eu queria provar algo que depende dessa perícia e a pessoa se nega a se submeter a 
ela, não preciso mais provar aquilo por outros meios de prova: 
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia 
obter com o exame. 
LEGISLAÇÃO PERTINENTE 
TEORIA DO FATO JURÍDICO 
Atente para as disposições finais do CC/2002 que impactam análise dos fatos jurídicos ocorridos na 
“transição” dos Códigos de 1916 e 2002. Especial atenção ao art. 2.035, que traz disposição de retroação, 
em contrariedade ao art. 6º da LINDB, pelo que foi reputado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, 
em uma oportunidade: 
Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, 
bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 
2007. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos 
políticos. 
Art. 2.032. As fundações, instituídas segundo a legislação anterior, inclusive as de fins diversos 
dos previstos no parágrafo único do art. 62, subordinam-se, quanto ao seu funcionamento, ao 
disposto neste Código. 
Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das pessoas 
jurídicas referidas no art. 44, bem como a sua transformação, incorporação, cisão ou fusão, 
regem-se desde logo por este Código. 
Art. 2.034. A dissolução e a liquidação das pessoas jurídicas referidas no artigo antecedente, 
quando iniciadas antes da vigência deste Código, obedecerão ao disposto nas leis anteriores. 
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Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em 
vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus 
efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se 
houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais 
como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos 
contratos. 
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA 
PROVAS 
O STJ já decidiu que a gravação de áudio e/ou imagem por um dos interlocutores da conversa, sem o 
conhecimento do outro, é lícita, tanto no processo penal quanto no processo civil, ainda que obtida sem 
autorização judicial. Por isso, nada impede que ela seja utilizada como meio de prova no processo: 
PENAL E PROCESSUAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. OPERAÇÃO 
"URAGANO". CORRUPÇÃO ATIVA. GRAVAÇÃO AMBIENTAL. CAPTAÇÃO DE ÁUDIO E IMAGEM 
REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES. DESCONHECIMENTO DO OUTRO (ORA PACIENTE). 
CONVERSA GRAVADA NA RESIDÊNCIA DO ACUSADO. LICITUDE DA PROVA. TRANCAMENTO DA 
AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. O acórdão 
hostilizado encontra-se em harmonia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no 
sentido de que a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, sem o consentimento 
do outro, é lícita, ainda que obtida sem autorização judicial, podendo ser validamente utilizada 
como elemento de prova, uma vez que a proteção conferida pela Lei n. 9.296/1996 se restringe 
às interceptações de comunicações telefônicas. No caso, a gravação ambiental ocorreu no 
domicílio do paciente, com o conhecimento de um dos interlocutores ex-secretário de governo 
que agiu na condição de informante e colaborador, sendo realizada com a devida autorização 
judicial. Na ocasião, o acusado convidou o servidor público municipal a entrar e permanecer na 
sua residência, não restando

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